domingo, 30 de maio de 2010

FICHAMENTO DO LIVRO "O PRÍNCIPE” DE MAQUIAVEL



REFERÊNCIA
NICOLAU, Maquiavel. O Príncipe. Trad. Maria Júlia Goldwasser. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996 – (clássicos)

Prefácio
- o príncipe é um livro cuja aparente clareza deslumbram e cujo mistério os eruditos e os simples leitores tentam em vão esclarecer. p. IX.
- numa nota de O contrato Social, Rousseau diz que Maquiavel era um homem honesto e um bom cidadão, mas estando ligado à casa dos Medici, era obrigado, em meio à opressão de sua pátria, a disfarçar o seu amor à liberdade. p. X.
- Maquiavel amava a liberdade e nem mesmo disfarçava seu amor. Mas, para fundar um principado novo ou livrar a Itália dos bárbaros, a liberdade de um povo corrompido teria sido impotente. p. X.
- toda resposta a uma questão suscita novas questões e talvez nos leve ao ponto de partida, à interrogação inicial formulada com mais sutileza. p. X.
- sendo os homens o que são, os preceitos que a experiência do mundo sugere não coincidem com o que os moralistas ensinam. p. XIII.
- o bem temporal em que frutifica a justiça do estado, o mal temporal em que frutifica sua iniqüidade, podem ser e na verdade são inteiramente diferentes dos resultados imediatos que o espírito humano podia prever e que os olhos humanos contemplam. p. XIV.
- a política é ação e a ação tende ao êxito. p. XIV.

Cronologia
1469, 3 de maio. Nasce Niccolò Machiavelli, filho de Bernardo, advogado, e de Bartolomea de Nelli, poetisa amadora. Terceiro de 4 filhos, Maquiavel é educado em um ambiente culto. Herdou do pai uma vocação para os estudo históricos e jurídicos.
1492. morre Lorenzo de Medici, sendo substituído por seu filho Piero (1471-1503). p. XVIII.
1494. setembro-dezembro, avançando suas pretensões sobre o reino de Nápoles, Carlos VIII, rei da França, chega a Itália e entra também em Florença. Piero de Medici é expulso da cidade sob a acusação de ter aceito, sem nenhuma hesitação, as onerosas exigências do soberano francês, e os habitantes de Florença proclama m a republica. Gerolamo Savonarola aproveita-se da situação para torna-se árbitro da vida florentina. p. XVIII
1498, 23 de maio. Acusado de heresia e excomungado, Savonarola é processado, enforcado e queimado na Piazza della Signoria. 19 de junho, Maquiavel é eleito secretário da república, oi seja, chefe da segunda chancelaria. p. XIX.
1512, 16 de setembro, o governo republicano é desfeito e, com o apoio do papa, os Medici voltam para a cidade. p. XXVIII.
1513, fevereiro, sob suspeita de participar de um complô contra os Médici, Maquiavel é preso e torturado. Reconhecido inocente e colocado em liberdade, retira-se para Sant’ Andrea in Percussina, na Villa conhecida como L’ Albergaccio. 10 de dezembro. numa carta ao embaixador florentino Francesco Vettori, Maquiavel anuncia: “Escrevi um livreto, De Principatibus (O Príncipe), onde me aprofundo o mais que posso nos argumentos do assunto acima, investigando o que é principado, de que espécie são, como se conquistam, como se mantém, porque se perdem”. A obra é dedicada a Lorenzo II de Medici. p. XXVIII.
1517. Maquiavel conclui a obra Discorsi sopra La prima deca di Tito Livio, iniciada em 1513 e interrompida para a execução de O Príncipe. p. XXIX
1527, 21 de junho. Despojado de todos os seus cargos da nova república, morre pobre em Florença, chorado apenas por poucos amigos do cenáculo dos Orti Oricellari. No dia seguinte, é enterrado em Santa Croce. p. XXXIII.



O PRÍNCIPE
CAP. I           
DE QUANTOS TIPOS SÃO OS PRINCIPADOS E DE QUE MODO SE ADQUIREM. P 3
- Todos os estados, todos os domínios que tiveram e têm poder sobre os homens foram e são ou republicas ou principados. Os principados ou são hereditários, nos quais o sangue de seu senhor vem governando há longo tempo, ou são novos. p. 3.
CAP. II
DOS PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS. P 5.
- Ocupar-me-ei somente dos principados e discutirei de que forma podem ser governados e mantidos. p. 5.
- Nos estados hereditários e acostumados à dinastia de seus príncipes são bem menores as dificuldades para se governar do que nos novos, pois, basta não descuidar da ordem instituída pelos seus antepassados. p. 5.
- O príncipe natural (hereditário) tem menos motivo e menos necessidade de ofender; daí resulta que seja mais amado. p. 5.
Sempre uma mudança deixa preparada as fundações da outra. p. 6.
CAP. III
DOS PRINCIPADOS MISTOS
- É no principado novo que estão as dificuldades. [...], que consiste no fato de os homens gostarem de mudar de senhor, acreditando com isso melhorar. Esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual. Só mais tarde percebem o engano, pela própria experiência deterem piorado. Isto decorre de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual sempre impõe ofender aqueles aquém se passa a governar. p. 7.
- Diante de uma rebelião, o senhor agirá com menos timidez para determinar a punição dos traidores, identificar os suspeitos e determinar seus pontos mais fracos. p. 8.
- Quem deseja conservar suas conquistas deve ter em mente duas precauções: uma é extinguir o sangue do antigo príncipe; outra é não alterar suas leis e impostos. p. 9.
- Não se deve jamais deixar uma desordem prosperar para evita uma guerra, porque uma guerra não se evita, somente se posterga com desvantagem para si mesmo. p. 15.
- Os franceses não entendiam de Estado porque, se entendessem, não teriam permitido que a igreja alcançasse tanta grandeza. p. 16
- Arruína-se quem é instrumento para que outro se torne poderoso, porque esse poder é dado ou pela astucia pela força e ambas são suspeitas a quem se torna poderoso. p. 16  
CAP. IV
POR QUE RAZÃO O REINO DE DARIO, OCUPADO POR ALEXANDRE, NÃO SE REBELOU CONTRA OS SUCESSORES DESTE APÓS A SUA MORTE
- Os principados dos quais se tem memória são governados de dois modos diversos: ou por príncipe de quem são servidores todos os outros, ou por um príncipe e barões que detém a sua não pela graça do senhor, mas pela antiguidade do sangue. p. 17.
- Nos estados governados por príncipes e seus servidores, o príncipe tem maior autoridade, por que em toda a província não há ninguém que se reconheça como superior a ele. p. 17
CAP. V
DE QUE MODO SE DEVEM GOVERNAR AS CIDADES OU PRINCIPADOS QUE, ANTES DE SEREM OCUPADOS, VIVIAM SOB SUAS PRÓPRIAS LEIS
- Quando os estado conquistados estão habituados a viver sob suas próprias leis e em liberdade[1], existem três maneiras de conservá-los: a primeira é destruí-los[2], a outra é ir pessoalmente residir neles, e a terceira é deixá-los viver sob suas próprias leis, impondo-lhes um tributo e criando dentro deles um governo de poucos, que se conserve teu amigo. p. 21.
- Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre, e não a destrói, será destruído por ela, porque ela sempre invocará, na rebelião, o nome de sua liberdade e de sua antiga ordem, as quais nem o passar do tempo, nem os benefícios jamais farão esquecer. p. 22.
- Quando as cidades ou as províncias estão habituadas a viver sob o governo de um príncipe e seu sangue desaparece, estando de um lado acostumados a obedecer e, de outro, não tendo mais esse antigo príncipe, não chegam a um acordo para eleger outro e não sabem viver em liberdade: por isso são mais lentos em tomar armas e com mais facilidade poderá um príncipe conquistá-las e conservá-las em seu poder. p. 22.
- Nas repúblicas há mais vida, mais ódio, mais desejo de vingança. Ali a recordação da liberdade não as pode deixar em paz e, por isso, o meio seguro para possuí-las é ou destruí-las é ou destruí-las ou ir habitá-las. p. 22.
CAP. VI
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM ARMAS PRÓPRIAS E COM VIRTÙ
- Os homens trilham quase sempre caminhos abertos por outros e pautam suas ações sobre essas imitações, embora não possam repetir tudo na vida dos imitados nem igualar sua virtù. p. 23.
- Um homem prudente deve sempre seguir os caminhos abertos pelos grandes homens e espelhar-se nos que foram excelentes. p. 23.
- Sem a ocasião a virtù se teria perdido, assim como sem virtù, a ocasião teria seguido em vão. p. 24.
- Era necessário que Moisés encontrasse no Egito o povo de Israel escravizado e que este se dispusesse a segui-lo [...] Era preciso que Ciro encontrasse os persas descontes com o império dos medas e estes debilitados e estes debilitados e afeminados pela longa paz. Não poderia Teseu demonstrar sua virtù se não tivesse encontrado os atenienses dispersos. Essas ocasiões, portanto, tornaram aqueles homens afortunados; enquanto sua excelente virtù fez com que reconhecessem a ocasião. Com isso trouxeram honra e felicidade a suas pátrias. p. 24-25.
- Aqueles que, por caminhos valorosos come estes, se tornam príncipes, conquistam o principado com dificuldade, mas o conservam com facilidade. As dificuldades que têm para conquistá-lo nascem em parte da nova ordem e dos novos métodos que são obrigados a introduzir para fundar seu estado e sua segurança. p. 25.
- Devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mas duvidosa de se alcançar, ou  mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam. p. 25.
- Essa timidez nasce em parte do medo dos adversários, que tem a lei ao seu lado, em parte da incredulidade dos homens, que só crêem na verdade das coisas novas depois de comprovadas por uma firme experiência. p. 25.
- É necessário, para bem compreender este assunto, examinar se estes inovadores dispõem de meios próprios ou dependem de outros, isto é, se para realizar a sua obra precisam pedir ou podem força. p. 25.
- No primeiro caso acabam sempre mal e não conseguem nada; mas quando dispõem de seus próprios meios e podem forçar, é raro que fracassem. p. 25.
- Todos os profetas armados vencem, enquanto os desarmados se arruínam. p. 25.
- Em nosso tempo, foi o que aconteceu ao frei Girolamo Savonarola, que se arruinou com sua ordem nova a partir do momento em que a multidão começou a não acreditar nela, pois ele não dispunha de meios nem para manter firme os que haviam acreditado, nem para fazer crer os descrentes. p. 26.
CAP. VII
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE CONQUISTAM COM AS ARMAS E A FORTUNA DE OUTREM
- Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito esforço se mantém. p. 27
- Os homens ferem ou por medo ou por ódio. E não encontram nele dificuldade no caminho porque passam voando por ele: mas todas as dificuldades surgem quando chegam ao destino. Isto se verifica quando um estado é concedido a alguém ou por dinheiro ou pelas graças de quem o concede. [...] eles se apóiam na vontade e na fortuna de quem lhes concedeu poder, que são coisas muito volúveis e instáveis, e não sabem nem podem manter o principado. p. 27.
CAP. VIII
DOS QUE CHEGARAM AO PRINCIPADO POR ATOS CRIMINOSOS

- São bem empregadas as crueldades que se fazem de uma só vez pela necessidade de garantir-se e depois não se insiste mais em fazer, mas rendem o Maximo possível de utilidade para os súditos. p. 41.
- Mal empregadas são aquelas que crescem com o tempo, ao invés de se extinguirem. p 41.
- Ao tomar um estado, o conquistado deve examinar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las todas de uma só vez e não ter que renová-las todos os dias. p. 41.
CAP. IX
DO PRINCIPADO CIVIL
- Quando um cidadão particular se torna príncipe de sua pátria, não por atos criminosos nem outras violências intoleráveis, mas pelo apoio de seus cidadãos (o que se pode chamar principado civil; para alcançá-lo, não é necessário ter muita virtù, nem muita fortuna, mas antes uma astucia afortunada), digo que se ascende a este principado ou pelo favor do povo ou pelo favor dos grandes. p. 43.
- Quando os grandes percebem que não pode resistir ao povo, começam a exaltar a fama de um deles e o tornam príncipe para poder, sob sua sombra, desafogar o apetite. p. 43.
- O povo também, quando percebe que não pode resistir aos grandes, dá reputação a alguém e o faz príncipe, para ser defendido por sua autoridade. p 43.
- Quem chega ao principado com a ajuda dos grandes mantém-se com mais dificuldades do que o que se torna príncipe com a ajuda do povo, porque o primeiro se vê cercado de muitos que parecem ser seus iguais, não podendo com isso, comandá-los nem manejá-los ao seu modo. P. 43-44.
- Quem chega ao principado com o favor popular encontra-se sozinho e não tem em torno de si ninguém ou pouquíssimos que não estejam prontos a obedecê-lo. p. 44.
- Um príncipe não pode jamais proteger-se contra a inimizade do povo, porque são muitos; no entanto, pode-se garantir contra os grandes porque são muitos. p. 44.
- Quem se tornar príncipe pelo favor do povo deverá manter sua amizade , o que será fácil, pois tudo que lhe pedem é não serem oprimidos. p. 45.
- Mas quem se tornar príncipe pelo favor dos grandes e contra o povo, deverá, antes de qualquer outra coisa, procurar conquistá-lo, o que também será fácil, se lhe der proteção. p 45.
- Como os homens se ligam mais ao seu benfeitor quando recebem o bem quando esperam o mal, neste caso, o povo se torna mais rapidamente favorável ao príncipe do que se ele tivesse sido conduzido ao principado graças ao seu apoio. p. 45.
- É necessário ao príncipe ter o povo como amigo; caso contrário, não terá remédio na adversidade. p. 45.
- Um príncipe sábio deve encontrar um modo pelo qual seus cidadãos, sempre e em qualquer tempo, tenham necessidade do estado e dele; assim sempre lhe serão fiéis. p. 47.
CAP. X
DE QUE FORMA SE DEVEM AVALIAR AS FORÇAS DE TODOS OS PRINCIPADOS
- Os príncipes que podem governa-se por si mesmos [...] são capazes de formar um exército bem proporcionado e travar batalhas com quem quer os ataque. p. 49.
- Um príncipe que tem uma cidade forte e não se faz odiar não pode ser atacado. p. 50.
- Um príncipe forte e corajoso sempre superará todas as dificuldades, dando a seus súditos a esperança de que o mal não será longo. p. 50.
- É da natureza dos homens deixar-se cativar tanto pelos benefícios feitos como pelos recebidos. p. 51.
- Não será difícil a um príncipe prudente manter firme o ânimo de que seus cidadãos antes e depois do assédio, desde que não lhes faltem alimentos nem meios de defesa. p. 50.
CAP. XI
DOS PRINCIPADOS ECLESIÁSTICOS
Somente eles (os príncipes eclesiástico) possuem estados e não os defendem; súditos, e não os governam ; e os estados por não serem defendidos, não lhes são tomados; e os súditos, por não serem governados, não cuidam, nem podem separa-se dele. Logo, só estes principados são seguros e felizes. p. 53.
CAP. XII
DE QUANTOS GÊNEROS HÁ DE MILÍCIAS E DE SOLDADOS MERCENÁRIOS
- Os principais fundamentos de todos os estados, tanto dos novos como dos velhos, ou dos mistos, são boas leis e boas armas. p. 57.
- Como não se podem ter boas leis, onde não existem boas armas, e onde são boas as armas costumam ser boas as leis, deixarei de refletir sobre as leis e falarei sobre as armas. p. 57.
- Quem tem o seu estado baseado em armas mercenárias jamais estará seguro e tranqüilo, por que elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, valentes entres os amigos e covardes entre os inimigos. p. 57.
- O príncipe apena terá adiada a sua derrota, pelo tempo que for adiado o ataque. p. 58.
- A ruína da Itália não tem outra razão senão está há muitos anos apoiada em armas mercenárias. p. 58.
- somente os príncipes e as republicas armadas fazem progresso imenso, enquanto os exércitos mercenários trazem apenas danos. p. 59.
Cap. XIII
DOS EXÉRCITOS AUXILIARES[3], MISTOS E PRÓPRIOS
- Os exércitos auxiliares, que são outra arma inútil, são as tropas de um poderoso chamado para te auxiliar e defender. p. 63.
- Esses exércitos podem ser úteis e bons para si mesmos, mas, para quem os chama, são quase sempre nocivos; quando perdem, és derrotado junto com eles e, quando vencem, te aprisionam. p. 63.
- oferecendo-se Davi a Saul para combater Golias, agitador filisteu, Saul equipou-o com suas armas para dar-lhe bom ânimo. Ao experimentá-las, porem, Davi as recusou, dizendo que com elas não poderia bem valer-se de si mesmo; em vez disso queria enfrentar o inimigo com sua funda e seu punhal. p. 65.
- Os exércitos dos outros ou te caem pelas costas, ou te pesam ou te apertam. p. 65.
- A pouco prudência dos homens começa uma coisa que, por ter bom sabor, não lhes permite notar o veneno que traz por baixo. p. 66.
- Se examinarmos a razão primeira da ruína do Império Romano, veremos que residiu tão-somente em ter começado a contratar os godos[4], porque, a partir desse início, começaram a debilitar-se as suas forças e toda a virtù que se tirava dele se transferia para os outros. p. 66.
- Sem armas próprias nenhum principado estará seguro. p. 66.
- As armas próprias são as composta ou de súditos, ou de cidadãos, ou de pessoas a quem conferistes poder. p. 67.
CAP. XIV
DO QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE ACERCA DA MILÍCIA
- deve portanto um príncipe não ter outro objetivo, nem pensamento, nem tomar como arte sua coisa alguma que não seja a guerra, sua ordem e disciplina, porque está é a única arte que compete a quem comanda. p. 69.
- A primeira razão que te leva a perder teu estado é negligenciar esta arte, e a razão que te faz conquistar é ser versado nela. p. 69.
- conhecer o país permite melhor planejar a sua defesa. p. 70.
- Filipêmenes, príncipe dos aqueus, nos tempos de paz não pensava senão nos métodos de guerra e, quando estava nos campos com os amigos, muitas vezes se perguntava: “se os inimigos estivessem em cima daquele monte e nós aqui em baixo, qual de nós estaria em vantagem? Como se poderia atacá-los, conservando a nossa formação? Se quiséssemos bater em retirada, como teríamos de fazer? Se eles batessem em retirada, como faríamos para persegui-los?  (não tinha imprevisto algum para o qual ele não tinha solução). p. 71.
- quanto aos exercícios da mente deve o príncipe ler as história e refletir sobre as ações dos homens excelentes, ver como se comportaram nas guerras, examinar as causas da vitória e derrotas a fim de poder escapar destas e imitar aquelas. p. 71
- Um príncipe sábio deve observar comportamentos semelhantes e jamais permanecer ocioso nos tempos de paz. p. 72.
CAP. XV
DAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS
- Resta agora ver como deve comportar-se um príncipe para com seus súditos e seus amigos. p. 73.
- Sendo meu intento escrever coisa útil para quem me lê, parece-me mais conveniente procurar a verdade efetiva da coisa[5] do que uma imaginação sobre ela. p. 73.
- Muitos imaginaram republicas e principados que jamais foram vistos e que nem se soube se existiram na verdade, porque há tamanha distancia entre como se vive e como se deveria viver, que, aquele que trocar o que se faz por aquilo que se deveria fazer aprende antes sua ruína que sua preservação; pois um homem que queira fazer em todas as coisas profissões de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons. Daí ser necessário a um príncipe, se quiser manter-se, aprender a poder não ser bom e a se valer ou não disto quando for preciso. p. 73.
- Por estarem em posição mais elevada, eles (os príncipes) se fazem notar por certas qualidades que lhe trazem reprovação ou louvor[6]. p. 74.
CAP. XVI
DA LIBERDADE E DA PARCIMÔNIA
- seria bom ser considerado liberal. No entanto, a liberalidade usada de maneira ostensiva te prejudica, mas usada com virtù, como deveria ser, não se torna notória e não te livra da infâmia de ser tido como o contrário. p. 75.
- Contudo, desejando manter diante dos homens a reputação de liberal, precisará não dispensar nenhuma espécie de suntuosidade, de tal modo que, nessas condições, um príncipe sempre gastará nessas obras todas as suas disponibilidades, necessitando ao fim, se quiser manter o conceito de liberal, onerar violentamente o povo, ser cruel nos impostos e fazer tudo o que for necessário para obter dinheiro. Isto começará a torná-lo odioso diante dos súditos e malquisto por todos, tornando-se pobre. p. 75.
- Assim, tendo com sua liberalidade ofendido a muitos e premiado a poucos, será atingido pelo primeiro revés e abalado pelo primeiro perigo que surgir. E, se tomar conhecimento disto e quiser voltar atrás, logo ocorrerá na fama de miserável. p. 75.
- Não podendo um príncipe usar da virtù da liberalidade sem prejuízo próprio e sem danos, de forma que seja divulgada, deverá, se for prudente, não se preocupar com fama de miserável, porque com o tempo será considerado cada vez mais liberal, ao verem que, graças à sua parcimônia, suas receitas lhe bastam, que pode defender-se dos que lhe movem guerras e realizar seus empreendimentos sem onera o povo. p. 75-76.
- Para não ter de roubar os súditos, poder defender-se e para não ficar pobre e desprezível, e para não ser obrigado a se tornar rapace[7], um príncipe deve temer pouco incorrer na fama de miserável, porque Este é um dos vícios que lhe permitem governar. p. 76.
- o príncipe gasta do que é seu e de seus súditos ou gasta do que é dos outros; no primeiro caso, deve ser parcimonioso, no outro, não deve deixar de lado nenhum indicio de liberalidade. p. 77.
- Dentre todas as coisas de que um príncipe deve guardar-se, a primeira é ser desprezível e odioso; a liberalidade conduz a uma ou outra coisa. p. 77.
- Gastar o que pertence aos outros não diminui a tua reputação, e sim a aumenta: só te é prejudicial gastar o que é teu. p. 77
- Portanto, é mais sábio ficar com a fama de miserável, que gera uma infâmia sem ódio, do que, por desejar o renome de liberal, precisar incorrer na fama de rapace, que gera uma infâmia com ódio. p. 77.     
CAP. XVII
DA CRUELDADE E DA PIEDADE E SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO OU MELHOR SER TEMIDO QUE AMADO
- Todo príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não cruel; entretanto, devo adverti-lo a não usar mal está piedade. p. 79.
- Cesare Borgia era tido como cruel; no entanto, com sua crueldade reergueu a Romanha, reunificou-a e restitui-lhe a paz e a lealdade, o que bem considerado, evidenciará que ele foi muito mais piedoso, do que o povo florentino, o qual, para evitar a fama de cruel, permitiu-lhe a destruição de Pistóia. p. 79.
- Um príncipe deverá, portanto, não se preocupar com a fama de cruel se desejar manter seus súditos unidos e obedientes. p. 79.
- Dando os pouquíssimos exemplos necessários, será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva piedade, deixam evoluir as desordens, das quais resultam assassínios e rapinas; porque estes costumam prejudicar uma universalidade inteira de cidadãos, enquanto as execuções ordenas pelo príncipe ofendem apenas um particular. p. 79.
- Dentre todos os príncipes, particularmente ao príncipe novo é impossível escapar a fama de cruel, por serem os novos estados repletos de perigos. p. 79.
- É melhor ser amado que temido, ou o inverso? A resposta é que seria desejável ser ambas as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se tem de desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se pode afirmar o seguinte a cerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar, enquanto lhes fazem o bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue o patrimônio, a vida e os filhos, desde que o perigo esteja distante; mas quando precisa deles, revoltam-se. p. 80.
- Os homens têm menos receio de ofender a quem se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido pelo vinculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te abandona. p. 80.
- é perfeitamente ser temido e são ser odiado ao mesmo tempo, o que conseguirá sempre (o príncipe) que se abstenha de se apoderar do patrimônio  e das mulheres de seus cidadãos e súditos. p. 81.
- Se precisar derramar o sangue de alguém, deve fazê-lo quando houver justificativa conveniente e causa manifesta. Mas, sobretudo, deverá respeitar o patrimônio alheio, porque os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio. p. 81.
- Aquele que começa a viver de rapina sempre encontra motivos para se apoderar violentamente do que pertence aos outros; enquanto as razões para matar são, ao contrário mais rápidas e terminam mais rapidamente. p. 81.
- sem a crueldade não basta a virtù para se conseguir realizar ações. p. 81.
- Sobre ser temido e amado, concluo que, como os homens amam segundo sua vontade e teme segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio. p. 82.
CAP. XVIII
DE QUE MODO DEVEM OS PRÍNCIPES MANTER A PALAVRA DADA
- Todos reconhecem o quanto é louvável que um príncipe mantenha a palavra empenhada e viva com integridade e não com astúcia. Entretanto, por experiência, vê-se, em nossos tempos, que fizeram grandes coisas os príncipes que tiveram em pouca conta a palavra dada e souberam, com astucia, rever a mente dos homens, superando, enfim, aqueles que se pautaram pela lealdade. p. 83.
- Devemos, pois, saber que existem dois gêneros de combate: um com as leis e outro com a força. O primeiro é próprio ao homem, o segundo é dos animais. p. 83.
- Como frequentemente o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto, é necessário ao príncipe saber usar tanto quanto o homem. p. 83.
- Ter um preceptor meio animal meio homem não quer dizer outra coisa senão que um príncipe deve saber usar ambas as naturezas e que uma sem a outra não é duradora. p. 83.
- um príncipe, se necessário, precisa saber usar bem a natureza animal, deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. p. 84.
- Um príncipe prudente não pode, nem deve, guardar a palavra dada, quando isso se torna prejudicial ou quando deixem de existir as razões que o haviam levado a prometer. p. 84.
- Se os homens fossem todos bons, este preceito não seria bom, mas, como são maus e não mantém sua palavra para contigo, não tens também a cumprir com a tua. p. 84.
- Quem melhor se sai é quem melhor sabe valer-se das qualidades da raposa. Mas é necessário saber disfarçar bem essa natureza e ser grande simulador e dissimulador, pois os homens são tão simples e obedecem as necessidades presentes, que o enganador encontrará sempre quem se deixe enganar. p. 84.
- precisa (o príncipe) não se afastar do bem, mas saber entrar no mal, se necessário. p. 85.
- Os homens, em geral, julgam as coisas mias pelos olhos que com as mãos, porque todos podem ver, mas poucos podem sentir. p. 85.
- Todos vêem aquilo que parece, mas poucos sentem o que é. p. 85.
CAP. XIX
COMO SE DEVE EVITAR SER DESPREZADO E ODIADO
- Torna-o (o príncipe), sobretudo, ser rapace e usurpador das coisas e das mulheres dos súditos, do que se deve abster, pois os homens em geral vivem contentes enquanto deles não se toma o patrimônio nem a honra, restando ao príncipe apenas ter que combater a ambição de uns poucos, a qual pode ser refreada de muitas maneiras e com facilidades. p. 87.
-Torna-o desprezível ser sido inconstante, leviano, efeminado, pusilânime, e irresoluto, coisa que um príncipe deve evitar como os escolhos, devendo empenhar-se para que em suas ações, se reconheça grandeza, ânimo ponderação e energia. p. 87.
- Em sua atuação junto à intriga privadas dos súditos, deve firmar suas decisões como irrevogáveis e manter sua posição de modo que ninguém pense em enganá-lo nem fazê-lo mudar de opinião. p. 87.
- Um príncipe deve ter dois receios: um interno, por conta de seus súditos; e outro externo por conta das potências estrangeiras. O meio de se defender destas são as boas armas e os bons amigos e sempre que tiver boas armas terá bons amigos. p. 88.
- Mesmo que ocorram agitações externas, se o príncipe for organizado, vivendo e não se entregar, sempre resistirá a qualquer ataque. p. 88.
- Um dos mais poderosos instrumentos de que dispõe um príncipe contra a conspiração é não ser odiado pela universalidade, visto que o conspirador sempre acredita poder satisfazer o povo com a morte do príncipe. p. 88.
- Quem conspira não pode agir sozinho, nem buscar aliança senão com quem julga descontente. p. 88.
- Aquilo que um conspirador tem a temer antes da execução do mal deve temê-lo mais ainda após o delito, se tiver como inimigo o povo e não puder, por isso, esperar refugio algum. P. 89.
- Um príncipe deve valorizar os grandes, mas não se fazer odiar pelo povo. p. 91.
- Enquanto nos demais principados basta lutar contra a ambição dos grandes e a insolência do povo, os imperadores romanos tinham uma terceira dificuldade a enfrentar: a crueldade e a ganância dos soldados. p. 91.
- Não podendo os príncipes deixar de ser odiados por alguém, devem, em principio, esforçar-se para não serem odiados pela comunidade e quando não o conseguem, devem se empenhar com todo engenho para evitar o ódio. p. 92.
- Os imperadores que tinham necessidades de favores extraordinários inclinavam-se mais porá os soldados que para o povo. p. 92.
- O ódio é provocado tanto pelas boas quanto pelas más ações. p. 92.
- Embora o príncipe seja novo, as instituições do estado são antigas e ordenadas de modo a recebê-lo como se fosse seu senhor hereditário. p. 97.
CAP. XX
SE AS FORTALEZAS E MUITAS OUTRAS COIAS QUE OS PRÍNCIPES FAZEM DIARIAMENTE SÃO ÚTEIS OU NÃO
- Para manter com segurança o seu estado, alguns príncipes desarmaram seus súditos, outros mantiveram os territórios divididos, alguns fomentaram inimizades contra si mesmos, outros procuraram conquistar os que lhes pareciam suspeitos no início de seu governo, alguns construíram fortalezas, outros as arruinaram e destruíram. p. 99.
- Jamais existiu um príncipe novo que desarmasse os seus súditos; pelo contrário, encontrando-os desarmados, sempre os arma, porque, ao lhes dar armas, estas armas tornam-se tuas; tornam-se fiéis os que te eram suspeitos, conservam-se leais o que já o eram e transformam-se os súditos em teus partidários. p. 99.
- Por isso um príncipe novo, em principado novo, sempre cria exércitos; as histórias estão repletas de exemplos disso. p. 100.
- Quando um príncipe conquista um estado novo, que é anexado ao seu estado antigo, faz-se necessário desarmar aquele estado, exceto os que te apoiaram na conquista. p. 100.
- Não creio que as divisões tragam jamais algum bem. p. 100.
- Quando o inimigo se aproxima, as cidades divididas costumam render-se logo, porque sempre a parte mais fraca se alia às forças externas e a outra não pode governar. p. 100.
- Sem dúvida, os príncipes se tornam grandes quando superam as dificuldades e oposições que lhes são feitas. p. 101.
- A fortuna cria-lhe inimigos e movimentos de oposição para que ele tenha oportunidade de superá-los e possa, por meio da escada colocada por seus inimigos, subir mais alto. p. 101.
- Tem sido costume dos príncipes, para manter com maior segurança o seu estado, construir fortalezas que sejam o bridão e freio dos que pretenderem opor-se a eles, alem de construírem um refugio seguro contra um ataque repentino. Aprovo este método, porque foi usado pelos antigos. p. 102.
- O príncipe que estiver mais medo do povo que dos estrangeiros deverá construir fortalezas; mas o que tiver mais medo de estrangeiros que do povo, deve deixá-los  da lado. p. 103.
- A melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo, porque ainda que tenhas fortaleza, se o povo te odiar, ela são te salvarão, pois jamais faltam aos povos sublevados estrangeiros que os auxiliem.  p. 103.  
CAP. XXI
O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE PARA SER ESTIMADO
- Nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes empreendimentos e dar de si raros exemplos. p. 105.
- Quando acontecer de alguém realizar uma coisa extraordinária, para o bem ou para o mal, na vida civil, deve-se encontrar um modo ou de premiá-lo ou de puni-lo que seja bastante comentado. p. 106.
- Acima de tudo, um príncipe deve procurar dar de si, em cada uma das suas ações, uma imagem de grandiosidade e de excelente engenho. p. 106.
- Um príncipe também é estimado quando é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando sem temor algum, declara-se a favor de um e contra outro. p. 106.
- O vencedor não vai querer amigos suspeitos que não o ajudaram na adversidade ao passo que o perdedor te rejeitará porque não quiseste, com as armas em punho, partilhar da sua sorte. P. 106.
- Foi Antioco chamado à Grécia pelos etólios para expulsar os romanos. Enviou então embaixador junto aos aqueus – que eram amigos dos romanos – para persuadi-los à neutralidade, enquanto, por outro lado, os romanos os incitavam a tomar armas. p. 107.
- Os que não são teus amigos sempre te pedirão neutralidade. p. 107.
- Os príncipes irresolutos que, para fugir dos perigos imediatos, seguem o mais das vezes as vias da neutralidade, quase sempre se arruínam. p. 107.
- Deve-se acentuar que um príncipe deve estar atento para não fazer jamais aliança com alguém mais poderoso do que ele. p. 108.
- [...] príncipes devem evitar ao máximo está sob dependência de outros. p. 108.
- A prudência consiste em saber reconhecer a natureza dos inconvenientes e tomar os menos maus como satisfatórios. p. 108.
- deve um príncipe ainda mostra-se amante da virtù, abrigando os homens valorosos e honrando os excelentes; deve estimular os seus concidadãos a desenvolverem suas atividades tanto no comércio como na agricultura ou em qualquer outro ramo; deve proporcionar prêmios a qualquer um que intente melhorar sua cidade e seu estado. Deve, ademais, manter o povo entretido com festas e espetáculos, nas épocas convenientes do ano. p. 109.

CAP. XXII
DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES MANTÊM JUNTO DE SI
- Há um modo infalível pelo qual um príncipe pode conhecer um ministro. Quando vês que um ministro pensa mais em si mesmo do que em ti e, em todas as ações, busca primeiro o seu próprio benefício, jamais será um bom ministro, e nunca poderás confiar nele, pois que tem em suas mãos o estado de outro não deve jamais pensar em si mesmo, mas no príncipe, nem ocupá-lo com coisas que não lhe diga respeito.
- O príncipe, para conservar sua lealdade,deve pensar no ministro, concedendo-lhe horárias e riquezas, obsequiando e compartilhando com ele as horas e funções [...] Portanto, enquanto os ministros agirem assim em relação aos príncipes e estes em relação aos ministros, poderão ambos confiar um no outro; caso contrário, sempre haverá um fim mau para um deles. p. 112.
CAP. XXIII
COMO EVITAR OS ADULADORES
- Não quero deixar de abordar um ponto importante e um erro do qual os príncipes dificilmente se defendem, quando não são muito prudentes e não sabem escolher bem. Trata-se dos aduladores. p. 113.
- Não há outro modo de proteger-se dos aduladores senão fazendo os homens entenderem que não te ofendem ao dizerem a verdade. p. 113.
- Deve, portanto, um príncipe prudente conduzir-se de um terceiro modo, escolhendo em seu estado homens sábios e somente a estes concedendo livre arbítrio para lhe dizer a verdade, e apenas sobre as coisas que o príncipe lhes perguntar, mais nada. p. 113.
- Deve o príncipe, porem, indagar-lhes sobre todas as coisas, e ouvir a sua opinião, para depois deliberar por si mesmo e ao seu modo. Deve, em relação a esses conselhos e a cada um dos seus conselheiros, portar-se de tal modo que todos saibam que, quanto mais livremente se expressar, tanto mais lhes será o príncipe agradecido; além deles, não deve ouvir mais ninguém; deve seguir as decisões tomadas e ser obstinado em suas deliberações. Quem age de outro modo é arruinado pelos aduladores ou muda constantemente de opinião, do que lhe resulta pouca estima. p. 113-114.
- Um príncipe, portanto, deve sempre procurar conselhos, mas quando ele próprio quer, e não quando os outros querem. [...] Deve também perguntar muito e, depois, ouvir pacientemente a verdade sobre as coisas indagadas. p. 114.
- [...] a regra geral que jamais falha é: se um príncipe não for sábio por si mesmo, não poderá ser bem aconselhado, a menos que a sorte o ponha nas mãos de um só homem muito prudente, que o oriente em tudo. p. 14-15.
- [...] aconselhando-se com vários, um príncipe que não seja sábio não poderá ,jamais unificar os conselhos, nem saberá por si mesmo integrá-los; cada um dos conselheiros vai agir de acordo com seus interesses, e ele não vai poder saber nem corrigir isso. p. 115.
- [...] os homens sempre te revelarão maus, se não forem forçados pela necessidade de serem bons. Daí se segue conclui que os bons conselhos, venham de onde vierem, devem brotar da prudência do príncipe, e não a prudência do príncipe dos bons conselhos. p. 115.
CAP. XXIV
POR QUE RAZÕES OS PRÍNCIPES DA ITÁLIA PERDERAM SEUS ESTADOS
- Um príncipe novo é muito mais observado em suas ações do que um hereditário e, quando suas virtudes são conhecidas, atrai um numero muito maior de súditos e muito maior lealdade do que a antiguidade do sangue. p. 117
- Os homens se ligam muito mais às coisas presentes do que às passadas e quando encontram o bem no presente apreciam-no e não procuram outra coisa. p. 117.
- Assim, terá o príncipe gloria dobrada: a de ter fundado um principado novo e a de tê-lo ornado e consolidado com boas leis, boas armas e bons exemplos; como também terão vergonha em dobro os que, tendo nascido príncipes, perderem seu reino devido à pouca prudência. p. 117.
- É um defeito comum entre os homens não levar em conta a tempestade durante a bonança. Quando chegam os tempos adversos, pensam em fugir e não em defender-se. p. 118.
- [...] não deves jamais quere cair por acreditar que encontrarás alguém para te reerguer, coisa que ou não acontece ou, quando acontece, não atribui para a tua segurança, pois esta defesa é vil e não depende de ti. Certamente, as defesas só são boas, seguras e duráveis quando dependem de ti mesmo e de tua virtù. p. 118.


CAP. XXV
DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS COISAS HUMANAS E DE QUE MODO SE PODE RESISTIR-LHE
     - Julgo possível ser verdade que a fortuna seja arbítrio de metade de nossas ações, mas que também deixe ao nosso governo a outra metade, ou quase. p. 119.
- Comparo a sorte a um desses rios impetuosos que, quando se irritam, alagam as planícies, arrasam as árvores e as casas, arrastam terras de um lado para levar a outro: todos fogem deles, mas cedem ao seu ímpeto, sem poder detê-lo em parte alguma. p. 119.
- Nada impede que, voltando a calma, os homens tomem providências, construam barreiras e diques, de modo que, quando a cheia se repetir, ou o rio flua por um canal, ou sua força se torne menos livre e danosa. p. 119-120.
- O mesmo acontece com a fortuna que demonstra a sua força onde não encontra uma virtù ordenada, pronta, para lhes resistir e volta o seu ímpeto para onde sabe que não foram erguidos diques ou barreiras para contê-la. p. 120.
- [...] um príncipe que se apóia exclusivamente sobre a fortuna se arruína quando ela varia. Creio que ainda feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as exigências do tempo e, similarmente, que são infelizes aqueles que, pelo seu modo de agir, estão em desacordo com os tempos. p. 120.
- Se um príncipe se conduz com prudência e paciência, e os tempos e as coisas contribuírem para que o seu governo seja bom, será bem sucedido; mas,se mudarem os tempos e as coisas e ele não mudar o seu modo de proceder, então se arruinará. p. 121.
- É melhor ser impetuoso do que tímido, porque a fortuna é mulher, e é necessário, para dominá-la, bater-lhe e contrariá-la. Vê-se que ela se deixa vencer mais pelos que agem friamente; e, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos tímidos, mais ferozes e a dominam com maior audácia. p. 122.
CAP. XXVI
EXORTAÇÃO A TOMAR A ITÁLIA E LIBERTÁ-LA DAS MÃOS DOS BÁRBAROS
- Coisa alguma honrará tanto um novo governante quanto as novas leis e um novo regime por ele criado. p. 125.
- querendo [...] seguir o exemplo daqueles homens excelentes que redimiram seus estados, será necessário, antes de tudo, como verdadeiro fundamento de qualquer empresa, formar exércitos próprios, porque não pode haver soldados mais fiéis, nem mais verdadeiros, nem melhores. p. 125-126.
- Se cada um deles individualmente for bom, todos juntos ainda serão melhores quando se virem comandados por seu príncipe, prestigiados e cuidados por ele. p. 126.
 - É preciso, portanto, preparar esses exércitos para poder, com a virtù italiana, defender-se dos estrangeiros. p. 126.

NOTAS

[1] Liberdade aqui significa “sob o regime republicano”
[2] Essa destruição corresponde a algo bem preciso... “edificar novas cidades, desfazer as velhas, mudar os habitantes de um lugar para outro, em suma, não deixar alguma coisa intacta”.
[3] Soldados auxiliares são aqueles que um príncipe ou uma republica envia em tua ajuda, capitaneados e pagos por eles. (cf. nota 1 do cap. XII).
[4] Contratar os godsos foi o inicio da ruína de Roma. A pratica começou com Valente em 376, e continuou com Teodósio, em 382.
[5] Verità effettuale della cosa, expressão famosa com que Maquiavel marca a sua separação dos pensadores políticos anteriores.
[6] Após denunciar a ineficácia do discurso tradicional, tachado de imaginário, e oposto à “verdade efetiva das coisas”, ele se volta para o problema da imagem do príncipe, de sua “fenomenologia” e não do que ele seja em si mesmo. 
[7] Que rouba; rapinador. Ávido de lucro

Um comentário:

  1. Ao meu ver é um excelente fichamento, gostei pelo esforço sempre ajuda a quem deseja crescer em conhecimento.

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