sábado, 29 de maio de 2010

FICHAMENTO DO LIVRO "HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA" DE GIOVANE REALE


FICHA BIBLIOGRÁFICA: REALE, Giovane. História da filosofia antiga. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1993 – (série história da filosofia)

DAS ORÍGENS A SÓCRATES 

Se para todos os outros componentes da civilização grega encontra-se idêntico correlativo junto a outros povos do oriente, não se encontra, ao invés correlativo da filosofia, ou pelo menos algo assimilável. p.11
Com a invenção da filosofia os gregos dão à civilização que ela ainda não tinha. p.11
Que os gregos tenham derivado suas primeiras cognições matemáticas e geométricas dos egípcios está fora de dúvida, mas por obra dos gregos elas se transformaram radicalmente. p.16
As assimilações de elementos e de impulsos culturais vindos do oriente não podem enfraquecer de modo algum o mérito da originalidade de pensamento grego. Ele operou a passagem decisiva da tendência utilitária e do mito à ciência desinteressada e pura: ele é o verdadeiro criador da ciência como sistema lógico e do filosófico como consciência racional e solução dos problemas da realidade universal e da vida. p.17-18.
Os poemas homéricos foram decisivos para a fixação de determinada concepção dos deuses e do divino e também para a fixação de alguns tipos fundamentais de vida e de caracteres éticos do homem, os quais se tornaram verdadeiros paradigmas. p. 20.
Pode-se dizer que para o homem homérico e para o homem grego filho da tradição homérica, tudo é divino, no sentido de que tudo o que acontece é obra dos deuses. p. 21.
Os trovões e os raios são lançados por Zeus do alto do Olimpo; as ondas do mar são levantadas por Posseidon; o sol é carregado pelo áureo carro de Apolo, e assim por diante. p. 21.
Mas quem são os deuses? São forças naturais diluídas em formas humanas idealizadas. São aspectos do homem sublimados, hipostasiados; são forças do homem cristalizadas em belíssimas figuras. Em suma, são homens amplificados e idealizados; são quantitativamente superiores a nós, mas não qualitativamente diferentes. p. 21.
Na religião naturalista dos gregos, o cumprimento dos seus deveres religiosos consistia essencialmente disso: que o homem faça em honra da divindade, o que é conforme com sua natureza. p. 22.
Os gregos não possuíam livros tidos como sagrados, ou fruto de divina revelação; ele não tinham uma dogmática teológica fixa e imodificável (nessa matéria as fontes principais eram os poemas homéricos e a teogonia de Hesíodo). p. 23
Os órficos consideravam como fundador do seu movimento o mítico poeta da Trácia, Orfeu, e dele derivam o nome. p. 23
O orfismo despreza o corpo como cárcere e grilhão da alma. p. 23-24.
O núcleo fundamental das crenças ensinadas pelo orfimos consiste nas seguintes pressuposições: no homem vive um princípio divino, um demônio caído num corpo por causa de uma culpa originária; esse demônio preexistente no corpo é imortal e, portanto, não morre com o corpo, mas é destinado a emanar-se sempre de novo em corpos sucessivos através de uma série de renascimento para espiar sua culpa; a vida órfica com suas práticas de purificação é a única das reencarnações; por conseqüência quem vive a vida órfica (os iniciados) goza, depois da morte, do merecido prêmio no além (a libertação), para os iniciados não há punição. p. 24
Com o orfismo nasce a primeira concepção dualista da alma (demônio) e corpo (lugar de expiação da alma); pela primeira vez o homem vê contrapor-se dois princípios em luta um contra o outro, justamente por que o corpo é visto como cárcere e lugar de punição do demônio. p. 24
Com a criação da pólis o grego não sentiu mais nenhuma antítese entre o individuo e o estado e nenhum limite à própria liberdade e, ao contrário, foi levado a compreender-se como essencialmente como cidadão de determinado Estado, de determinada pólis. p. 26
O Estado se tornou e se manteve até a era helenística como o horizonte do homem grego, e portanto, os fins do Estado foram sentidos pelos cidadãos individuais como os seus próprios fins, o bem do Estado como o próprio bem, a grandeza do próprio Estado como a própria grandeza, a liberdade do próprio Estado como a própria liberdade. p. 26
No progresso da civilização grega, anterior ao surgimento da filosofia, dois fatores políticos se sobressaíram sobre os outros: o nascimento de ordenamentos republicanos e; a expansão dos gregos para o oriente e para o ocidente com a formação das colônias. p. 26
Esses dois fatores foram decisivos para o surgimento da filosofia. O primeiro: nos esforços e nas lutas dessa revoluções políticas [que levaram os gregos das velhas formas aristocrática de governo às formas republicanas e democráticas] todas as forças deviam ser despertadas e exercitadas; a vida pública abria passagem à ciência e o sentimento da jovem liberdade devia dar ao espírito do povo grego o impulso, do qual não podia ficar de fora a atividade científica. p. 26
A cultura é, entre os gregos, plenamente e de maneira mais aguda o que ela seria em qualquer vida sadia de um povo: ao mesmo tempo fruto e condição da liberdade. p. 26
A filosofia nasce antes nas colônias que na mãe pátria; nasce nas colônias do oriente da Ásia Menor e depois nas colônias da Itália meridional, só mais tarde refluindo para a mãe pátria. p. 27
Por que isso aconteceu? Porque como há tempo se notou, as colônias puderam com sua operosidade e com seu comércio alcançar o bem-está e, portanto, a cultura. p. 27
Foram as condições sócio-econômicas mais favoráveis das colônias que permitiram o nascimento e o florescimento nelas da filosofia, a qual tendo passado depois a mãe pátria alcançou os mais altos cimos em Atenas, isto é, na cidade onde existiu, como o próprio Platão reconheceu, a maior liberdade da qual os gregos gozavam. p. 27
A partir do seu nascimento, a ciência filosófica apresentou de modo nítido, as seguintes características, que dizem respeito respectivamente A) ao seu conteúdo, B) ao seu método e C) ao seu escopo. p. 28
A)    Quanto ao seu conteúdo, a filosofia quer explicar a totalidade  das coisas, ou seja, toda a realidade, sem exclusão de partes ou de momentos dela, distinguindo-se assim das ciências particulares, que ao invés, limitam-se a explicar determinados setores. p. 28
B)    Quanto ao método, a filosofia quer ser a explicação puramente racional da totalidade que é o seu objeto. O que vale em filosofia é o argumento de razão, a motivação lógica: é numa palavra, o logos. Não basta à filosofia constatar, verificar dados de fato, coletar experiências para encontrar as suas razões, a causa, o principio. E é este caráter que confere cientificidade à filosofia. Tal caráter é comum também às outras ciências, as quais, exatamente como ciências, nunca são apenas constatação e verificação empírica, mas são sempre busca de causas e de razões. A diferença está em que, enquanto as ciências particulares são buscas de causas de realidades particulares, ou de setores de realidade particulares, a filosofia é, ao invés, busca de causas e princípios de toda a realidade. p. 29
C)    Enfim, devemos esclarecer qual é o escopo da filosofia. E sobre esse ponto, Aristóteles explicou melhor que: “a filosofia tem um caráter puramente teórico, ou seja, contemplativo: ela visa simplesmente a busca da verdade por si mesma; prescindindo das suas utilizações práticas. p. 29
Aristóteles refere na obra A metafísica: “assim, se os homens filosofaram para libertar-se da ignorância, é evidente que buscaram o conhecimento só com a finalidade de saber e não para alcançar alguma utilidade prática”. p 29
“Todas as outras ciências serão mais necessárias que esta, mas nenhuma lhe será superior” (Aristóteles). p 30
Num primeiro momento, a totalidade do real, a physis, foi vista como cosmo, e, portanto, o problema filosófico, por excelência foi o problema cosmológico, que absorve toda a primeira fase da filosofia grega. p. 32
Mas com os sofistas o quadro muda: a problemática do cosmo por razões que explicaremos e a totalidade que atraia a atenção é o homem. Por isso a filosofia dos sofistas e de Sócrates concentrará a própria atenção na natureza do homem e da sua virtude ou Arete, de onde nascerá o problema moral. p. 32
A filosofia grega tem uma historia mais milenar: parte do sec. VI a.C. e alcança 529 anos d. C, ano em que, por vontade do imperador Justiniano, foram fechadas as escolas pagãs, destruídas suas bibliotecas e dispersos os seus seguidores. p. 35


PRIMEIRA PARTE

OS FILÓSOFOS NATURALISTAS JÔNICOS E ITÁLICOS
OS PROBLEMAS DA PHYSIS, DO SER E DO COSMO


A teogonia de Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns desses deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmo, alem de teogonia se tornava também cosmogonia, ou seja, explicação fantástica da genes do universo e dos fenômenos cósmicos. p. 41
Hesíodo imagina ter tido, aos pés de Hélicon, na Beócia uma visão das musas, e ter recebido delas a revelação da verdade, da qual ele se fez imediatamente arauto. Em primeiro lugar diz, diz ele, gerou-se o Caos, em seguida gerou-se Gea (a terra) em cujo seio amplo estão todas as coisa, e nas profundidades da Terra gerou se o Tártaro escuro, e por fim, Eros (o amor) que, depois, deu origem a toda as outras coisas. Do Caos nasceram Êrebo e Noite, doa quais se geram o Éter (o Céu superior) Êmera (o dia). E da terra sozinha se geraram Urano (o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois, juntando-se com o Céu, a Terra gerou Oceano e os rios. p. 41 
Procedendo do mesmo estilo, Hesíodo narra a origem dos vários deuses e numes divinos. Zeus pertence a ultima geração: de fato, foi gerado de Crono e de Rea (que, por sua vez, tinham sido gerados de Terra e urano); e, como Zeus, fazem parte de ultima geração todos os outros deuses do Olimpo homérico, valer dizer, os deuses que o grego não venerava. p. 41
Desde o seu nascimento, a filosofia irá contra a fantasia, a imaginação e os sentidos e inferirá suas figuras especulativas com a força do logos, contestando o mito e as experiências sensíveis e criando algo completamente novo. p. 43.
O imã possui uma alma, porque é capaz de mover, portanto, a Alma é princípio de movimento. p. 50.
Foi Anaximandro que introduziu o termo arché para designar o primum, a realidade primeira e ultima das coisas. p. 52
Anaximandro defendia que o princípio de tudo era o Ápeiron, o infinito ou ilimitado. p. 52.
Todas as coisas são ou princípio, ou do princípio: e do infinito não há principio, portanto teria um limite. O que é gerado deve ter um fim e o fim é próprio de toda dissolução. p. 53.
Segundo Anaximandro, os primeiros animais nasceram no elemento liquido, cobertos por uma capa espinhosa; tendo crescido em idade, deixaram a água e vieram para o seco, e tendo se rompido a capa que os cobria, pouco depois mudaram o seu modo de viver. Assim de animais mais simples nasceram animais mais complexos, que foram progressivamente transformando-se e adaptando-se ao ambiente. p. 57
Para Anaxímenes o Ar é o princípio de todas as coisas; tudo o que existe origina-se do ar e de suas diferenciações. p. 58
O Ar se diferencia nas varias substâncias segundo o grau de rarefação e condensação: e assim dilatando da origem ao vento e depois as nuvens; e em grau maior de densidade forma a água, depois a terra e em seguida as pedras; as outras coisas derivam depois destas. p. 59
Característica do Ar: quando ele é absolutamente uniforme, é invisível; torna-se visível com o frio, com  quente, com a umidade e com o movimento. p. 60.
O Ar é concebido por Anaxímenes como naturalmente dotado de movimento. p. 61
Heráclito: em primeiro lugar chamou a atenção para a perene mobilidade de todas as coisas que são: nada permanece imóvel e nada permanece e estado de fixidez e estabilidade, mas tudo se move, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem exceção. p. 64.
Heráclito para exprimir esta verdade, valeu-se da imagem do fluir de um rio, em fragmentos que se tornaram célebres: “de quem desce ao mesmo rio vêm ao encontro águas sempre novas”; “não se desce duas vezes ao mesmo rio por causa da velocidade da mudança, dispersa-se e recolhe-se, vem e vai”. p. 64
Somo e não somos, porque, para ser o que somos em dado memento, devemos não ser mais aquilo que éramos no precedente momento. Assim, como para continuar a ser devermos logo não ser mais aquilo que somos neste momento. p. 64.
O devir é um continuo conflito dos contrários que se alternam, é uma perene luta de um contra o outro em uma guerra perpetua. p. 65.
O devir é harmonia ou síntese dos contrários. p. 65.
Para Heráclito o fogo é a origem de toda as coisas. O fogo com efeito é perenemente móvel, é vida que vive da morte do combustível, é incessante transformação em fumaça e cinza. p. 68.
Com os pitagóricos passamos da Jônia à Itália meridional. Aqui a filosofia cria uma nova têmpera; aperfeiçoa-se e chega a tocar os limites extremos do horizonte da physis aberto pelos jônicos. p. 75.
A escola fundada por Pitágoras, não tinha como escopo a pesquisa cientifica, mas a realização de determinado tipo de vida. Ela nasceu como confraria, ou ordem religiosa, organizada segundo regras bem precisas de convivência. p. 76.
   O primeiro pitagórico a ter uma obra publicada foi Filolau, que viveu no tempo de Sócrates. p. 76.
Os pitagóricos viram nos números pares uma espécie de florescimento do elemento indeterminado, e nos ímpares um espécie de florescimento do elemento determinado. p. 82.
Com o numero par o processo de divisão, simbolizado pela flecha, não encontra de algum modo um limite ao infinito. p. 83.
Ao contrario em cada numero impar a divisibilidade encontra o ponto de parada na unidade que justamente, torna impar o numero. p. 83.
Para os pitagóricos a ordem diz número e o número diz racionalidade, cognoscibilidade e permeabilidade ao pensamento. p. 85.
Afirmou Filolau: “todas as coisas conhecidas possuem número; sem este, não seria possível pensar nada, nem conhecer”. p. 85.
A natureza do mundo não acolhe em si nenhuma mentira, nem harmonia; a falsidade não tem nada em comum com eles. Mentira e inadequação são próprias da natureza do indeterminado, do inteligível e do irracional. p. 86.
Portanto, domínio do numero significa domínio da racionalidade e da verdade. p. 86.
Do caos hesiodiano passamos ao cosmo: graças aos pitagóricos, o homem ganhou novos olhos para ver o seu mundo. p. 86.
Pitágoras foi o primeiro a ensinar a doutrina da metempsicose, doutrina segundo a qual a alma é constrangida a reencarna-se muitas vezes em sucessivas existências corpóreas, não só em forma de homem, mas também em diversas formas de animais, para explicar uma culpa originária cometida. p. 87.
Viver e função da alma significa viver uma vida que seja capaz de purificá-la, ou seja, viver uma vida que seja capaz de desatá-la dos laços que por culpa própria ela contraiu com o corpo. p. 88.
Os órficos sustentavam que os meios de purificação eram as celebrações e as práticas religiosas dos sagrados mistérios, e, portanto, permaneciam ligadas à mentalidade mágica, confiando-se quase que inteiramente ao taumaturgo poder dos ritos. p. 88.
Os pitagóricos foram, assim, os iniciadores do tipo de vida chamado de bios theoretikós, vida contemplativa, e que foi também simplesmente chamado de vida pitagórica. p. 89.
Os pitagóricos atribuíram à ciência a vida de purificação. p. 88.
Xenófanes nasceu na Cólofon jônica, provavelmente em torno a 570 a. C. mas transferiu-se muito cedo para as colônias ocidentais e viveu na Sicília e na Itália meridional, e continuou por toda a vida a vagar, cantando as próprias composições poéticas. p. 97.
É impossível que os deuses nasçam, porque se nascem também morrem. p. 99.
Ser e não-ser no contexto do discurso parmenidiano são tomados no seu significado Integral e unívoco: o ser é puro positivo e o não-ser o puro negativo, ou, melhor ainda, o ser é o puro positivo absolutamente privado de qualquer negatividade e, ao contrário, o não-ser é o absoluto contraditório desse absoluto positivo. p. 108.
O princípio de não contradição é aquele que afirma a impossibilidade de os contrários coexistirem simultaneamente. p. 108.
Os dois contraditórios são o ser e o não- ser. p. 108.
Zenão de Eléia: argumento de Aquiles: o movimento é de tal modo absurdo que, se por hipótese, nós o concedêssemos, e puséssemos Aquiles de pés-velozes a perseguir uma tartaruga, ele jamais a alcançaria. p. 119.
Aquiles deveria primeiro chegar ao ponto em que a tartaruga se encontrava na partida, depois, depois ao ponto em que ela se encontrasse quando ele alcançasse o seu ponto de partida, depois ao ponto no qual ela se encontrasse quando ele tivesse alcançado o segundo, e assim ao infinito. p. 119.
O que persegue deve sempre começar por atingir o ponto donde partiu o que foge. p 120.
Argumento da flecha: uma flecha que se acredita está em movimento, na verdade está parada. De fato, em cada um dos instantes em que é divisível o tempo de vôo, a flecha ocupa um lugar idêntico a ela mesma, mas o que ocupa um ligar idêntico a si está em repouso, portanto,  a flecha como está em repouso em cada um dos instantes, assim o está também na totalidade deles. p. 120.
Argumento do estádio: o que se move não se move nem lugar em que está nem lugar em que não está. p. 121.
Não se move no lugar em que está porque se está no lugar em que está, está parado; não se move no, lugar em que não está, por que não está; portanto o movimento é impossível. p. 121.
Melisso de Samos: pode ser definido como o sistematizador do pensamento eleata. Procurou dar forma sistemática  à doutrina. Deduzir com rigor todos os atributos e corrigir o que não se enquadrava nos fundamentos do sistema. p. 125.
Melisso afirma que o ser é infinito. Ao contrario de Parmênides que diz que é finito. p. 126.
O ser é uno por que é infinito. Se é infinito deve ser uno. De fato se fosse dois não poderia ser infinito, mas um teria um limite n outro. (este é um dos argumentos que a teologias cristã usará para demonstrar a unicidade de Deus) p. 127.
Não existe nenhum vazio: de fato, o vazio é nada; e o que é nada não, pode ser. E o ser também não se move; de fato, não pode deslocar-se para algum lugar, mas é pleno. Com efeito, se existe o vazio, ele poderia deslocar-se no vazio; mas como não existe vazio, não há para onde ele possa deslocar-se. p. 127.
O eleatismo a firma um ser eterno, infinito, uno, igual, imutável, incorpóreo, que exclui qualquer possibilidade de um múltiplo. p. 129.
Nascimento e morte são misturas e dissoluções de determinadas substâncias ingênitas e indestrutíveis, isto é, substâncias que permanecem eternamente iguais. Essas substâncias são precisamente quatro: fogo, água, éter ou ar e terra. (Empédocles chama essas substâncias de “raízes de todas as coisas”) p. 134.
Predominando o amor as coisas unem-se, predominando o ódio, separam-se e entrelaçando os influxos do amor e do ódio nascem as coisas. p. 136.
Anaxágoras de Clazômenas: nasceu em Clazômenas, provavelmente em torno a 500 a. C. segundo as informações que fornecem Diógenes Laércio. Deve ter morrido e torno a 428 a.C. p. 143.
Anaxágoras talvez tenha sido o primeiro filósofo a levar a filosofia a Atenas. Permaneceu em Atenas ao que parece por 30 anos. Em Atenas foi processado por impiedade; escreveu uma obra intitulada “sobre a natureza”. p. 143.
Anaxágoras, como Empédocles, tenta manter firme o principio eleata da permanência do ser. p. 143.
Os gregos não consideraram corretamente o nascer e o morrer: nada, de fato, nasce, ou morre, mas a partir das coisas que são se produz um processo de composição e divisão; assim, pois deveriam corretamente chamar o nascer  de compor-se  e o morrer, dividir-se. p. 143.
Não se chega nunca ao nada que não é, (o que é não pode nunca não ser). p. 144.

Os atomistas 

Leucipo: especula-se que tenha sido um pouco mais jovem que Anaxágoras e, portanto, da mesma idade ou um pouco mais jovem que Empédocles. p. 51.
Demócrito: nasceu em Abdera em 460 a. C.; realizou longas viagem no oriente, visitando o Egito, a Ásia Menor e a Pérsia com finalidades científicas, dilapidando quase totalmente os recursos deixados por seu pai. p. 151-152 
Leucipo concebe que o vazio é não-ser e que do Ser nada é não-ser, pois o ser em sentido próprio é absolutamente pleno. Mas esse absolutamente pleno não é uno, antes, um infinito número de corpos, invisíveis pela pequenez de seu volume. E estes corpos estão em movimento no vazio (para ele, de fato, existe o vazio) e reunido-se dão lugar à geração e, separando-se à destruição. p. 152-153.  
Em termos de pleno e vazio Leucipo construiu sua concepção de átomo e ligou e ligou a possibilidade de movimento ao vazio. p. 154.
Os átomos dos abderianos trazem em si selo típico do pensar helênico: é átomo forma; átomo que se diferencia dos outros átomos pela figura, ordem e posição, e átomo eideticamente pensado e representado. p. 154. 
O átomo é invisível pela sua pequenez, afirmada como conseqüência da sua indivisibilidade. É difícil declarar indivisível o que é perceptível aos sentidos e, portanto, pode-ser considerado suscetível de fragmentação em partes. Em que sentido visível? Visível só à visão do intelecto. O intelecto abstrato que parte do visível corpóreo, indo sempre mais além até onde os sentidos não podem mais chegar, encontra o seu termo final num mundo quintessenciado e despotenciado, que é a analogia do visível corpóreo. p. 155.
Os atomistas derivam todas as determinações qualitativas fenomênicas de determinações quantitativas geométricas. Na filosofia moderna qualidades primárias são aquelas geométrico-mecânicas que caracterizam os átomos. Qualidades secundárias são aquelas fenomênicas manifestações derivadas do encontro dos átomos, assim como da relação das coisas com os nossos sentidos. p. 156.
Nascimento e morte, geração e corrupção são negados pelos atomistas: o nascer é um agregar-se dos átomos, o morrer é um desagrega-se ou dissociar-se dos compostos atômicos, sem que em tais processos nada derive de nada ou termine no nada. p. 156.
Leucipo diz que tudo acontecesse conforme a necessidade e que esta corresponde ao fato. Diz, com efeito, no seu livro sobre a inteligência: “nada se produz sem motivo, mas tudo com uma razão e necessariamente”. p. 158.
Do pensamento de Demócrito: “Os homens se tornam felizes nem pelos dotes físicos, nem pela riqueza, mas pela retidão e pela prudência.” p. 162.


SEGUNDA PARTE

OS SOFISTAS: DA FILOSOFIA DA NATUREZA À FILOSOFIA A MORAL


O antecedente da cosmologia filosófica foram as teogonias, obra de poetas. Assim também o antecedente da filosofia moral, a reflexão ética pré-filosófica, foi expressa sobretudo pelos poetas e, em parte, alimentada também pelos legisladores. p. 179.
Uma coisa é moralidade ou conduta moral; outra coisa são as convicções morais; outra coisa ainda é a filosofia moral. p. 179.
A primeira todos os homens a possuem indistintamente, mesmo os primitivos e os selvagens. De fato, não é possível viver sem se comportar de determinados modos, que por mais rudes ou primitivos que sejam, subsistem e são bem reconhecíveis; a segunda se constitui, em primeiro lugar, do núcleo familiar, depois dos ambientes freqüentados e, em geral da sociedade em que se vive. Mesmo o homem primitivo à medida que tem de respeitar e sabe que deve respeitar regras de convivência com a família e com a tribo, modo de se comportar com o inimigo etc.; a terceira: no nível da filosofia moral, a razão vai além do particular, busca estabelecer não regras que valham para casos particulares, mas, em geral, buscam estabelecer nexos e ligações universais e necessários. p. 179-180.
Lugar relevante na formação das convicções morais e no desencadeamento de reflexões éticas tiveram, em primeiro lugar, os poemas homéricos. p. 181.
Na odisséia, ademais, parece que já se delineia, embora de modo rudimentar, uma concepção ética mais geral, segundo a qual  homem reverente e obediente aos deuses tem sempre vantagem sobre os homens prepotentes e maus, os quais não podem fugir a uma vingança divina. p. 181.
“sela os discursos com o silencio e o silêncio com as oportunidades” (Sólon) p. 183.
Para que nascesse a filosofia moral era preciso que o homem como tal se tornasse objeto de reflexão da filosofia; era preciso que fosse determinados a essência e o significado do homem enquanto homem; era precisa que desta essência se deduzisse o conceito de Areté; enfim era preciso que se provasse sistematicamente a tabua dos valores tradicionais e se acertasse teoricamente a sua consistência. p. 186.
E esta foi a grande obra que os sofistas iniciaram e que Sócrates levou a termo, como veremos. p.186.
Aristóteles refere que “a sofistica é uma sabedoria aparente, não real; o sofista é um mercador de sabedoria aparente, não real” p. 190
Para os sofistas o homem e suas criações intelectuais estão no centro da reflexão... também para eles vale aquilo que Cícero diz de Sócrates: “ele fez descer a filosofia do céu sobre a terra, introduziu, introduziu-a nas cidades e nas casas e obrigou-a a refletir sobre a vida e os costumes, sobre o bem e o mal. p. 192.
Os temas dominantes na especulação sofística tenham se tornado a ética, a política, a retórica, língua, a arte, a religião, a educação, tudo aquilo que hoje nós chamamos de cultura humanista. p. 192.
Enquanto os filósofos da natureza procediam com a método dedutivo, os sofistas procediam com o método empírico-indutivo. p. 193-194.
A sofística tem seu ponto de partida na experiência e tenta ganhar o maior número possível de conhecimentos em todos os campos da vida, depois dos quais, como por exemplo, a possibilidade do saber, sobre a origem, o progresso e o fim da cultura humana, sobre a origem e a constituição das línguas, sobre a origem e a essência da religião, sobre a diferença entre livres e escravos, helenos e bárbaros; em parte, ao invés de natureza prática, sobre a configuração da vida do indivíduo e da sociedade. p. 194.
Os filósofos da natureza buscavam a verdade por si mesma, e o fato de terem ou não alunos era puramente acidental; ao contrário os sofistas não buscavam a verdade por si mesma, mas tinham por objetivo o ensinamento, e o fato de terem discípulos era para eles essencial. p. 194.
Os sofistas conquistaram sua libertação com base na razão; e como os iluministas, eles tiveram ilimitada confiança na razão e na inteligência, o que eles negaram foi à possibilidade de alcançar algum absoluto do modo como acreditaram alcançá-lo os naturalistas ou, pelo menos, do modo como a tradição acreditava possuí-lo. “mas negar o absoluto do pensamento, não significava para os sofista negar o pensamento.” p. 197.
De fato, a preocupação dos sofistas foi constantemente dirigida a tornar os homens cultos e a cultura devia ser para eles o resultado de uma consciência criativa. p 198.
PROTÁGORAS: nasceu em Abdera provavelmente no decênio entre 491 a. C. viajou pelas várias cidades gregas, segundo o costume de todos os sofistas, e esteve mais de uma vez em Atenas, onde alcançou triunfais sucessos do publico. Foi muito apreciado também pelos políticos: Péricles confiou-lhe a encargo de preparar a legislação para a nova colônia de Turi (444ª. C.) Diógenes Laércio refere que por cauda da opinião professada sobre os deuses os atenienses teriam banido Protágoras da cidade. p. 200.
O homem é a medida de todas as coisas, das que são pelo são e das que não são pelas que não são. p. 200.
Por medida Protágoras deve entender a norma do “juízo”, enquanto por “coisa”, os fatos em geral. p. 200.  
Com o principio do homem medida, Protágoras pretendia, indubitavelmente, negar a existência de um critério absoluto que discriminasse e ser e não-ser, o verdadeiro e o falso e, em geral, todos os valores: o critério é apenas relativo, é o homem, o homem individual. p. 200.
Segundo Diógenes Laércio, Protágoras afirmava que “em torno a cada coisa existem dois raciocínios que se contrapõem entre si”, isto é, que sobre cada coisa é possível dizer e contradizer, aduzir razões que reciprocamente se anulam. p. 202.
Posto que seu objetivo era armar o aluno para todos os conflitos de pensamento, o seu método será, portanto, essencialmente a antilogia ou a controvérsia, a oposição das varias teses sobre determinados temas ou hipóteses convenientemente definidas ou catalogadas. p. 202.
O sábio não PE aquele que conhece os inexistentes valores absolutos, mas o que conhece o relativo mais útil, mais conveniente e mais oportuno, e sabe atuá-lo de fazê-lo atuar. p. 204.
Eu [Protágoras] afirmo, sim, que a verdade é exatamente como eu escrevi; que cada um de nós é medida das coisas que são e que não são; mas há uma diferença entre homem e homem, e justamente por isso, as coisas aparecem e são para um de um modo e para outro de outro. E estou longe de negar que exista a sapiência e o homem sábio, mas antes, chamo sábio aquele que transformando aquilo que em nós certa coisas aparecem e são más, consiga fazer que estas mesmas coisas apareçam e sejam boas”. (Platão teeteto) p. 205.
Na educação é preciso transformar o homem de hábitos piores em homem de hábito melhores. (Platão teeteto) p. 205.
GÓRGIAS: nasceu em Leontina na Sicilia, em torno a 485/480 a. C. foi discípulo de Empédocles. viajou por todas as cidade da Grécia e naturalmente esteve em Atenas. Em 427 foi enviado pela sua cidade natal como embaixador para obter ajuda militar contra Siracusa. Atingiu grandíssimo sucesso com sua retórica. Sua obra filosófica mais empenhativa deve ter sido: “sobre a natureza ou sobre o não-ser”, um manifesto do niilismo ético. p. 210.
Num escrito seu ele sustenta três teses bem concatenadas entre si: a) não existe o ser, isto é, nada existe; b) mesmo que existisse o ser ele não seria compreensível; c) e mesmo admitido que fosse compreensível, ele não seria comunicável nem explicável aos outros. p. 210.
Da obra “sobre a natureza ou sobre o não-ser” chegou duas redações, uma conservada por Sexto Empírico e uma transmitida pelo anônimo autor sobre Melisso, Xenófanes, Górgias (que chegou entre as obras de Aristóteles). p. 210.
A demonstração das três proposições tem o precioso objetivo de excluir radicalmente a possibilidade da existência ou de se alcançar, ou pelo menos, exprimir uma verdade objetiva. p. 211.
O próprio Sexto Empírico, que reportou umas das paráfrases, assim concluiu “diante de tais questões, insolúveis, levantadas por Górgias, desaparece, pelo que lhe concerne, o critério da verdade: porque do inexistente, do incognoscível, do inexprimível não há possibilidade de juízo”. p. 211.
Se para Protágoras existe uma verdade relativa, para Górgias não existe absolutamente verdade, tudo é falso. p. 211.
Na segunda tese Górgias demonstra que existe pensados, ou seja, conteúdo de pensamento que não tem qualquer realidade e, portanto, não existem. “se alguém pensa em homem que voa e cacos correm na praia. Conseqüentemente os conteúdos do pensamento não são existentes [= o pensamento não é pensamento do ser]. (Sexto Empírico). p. 213.
E a retórica é exatamente a arte que sabe explorar até o fundo este aspecto da palavra, e, portanto, pode ser chamada de arte da persuasão. p. 217.
Esta persuasão não está ligada a qualquer conhecimento de verdades inatingíveis, mas está ligada à pura crença. p. 217.
Na Atenas do sec. V a.C. nos tribunais e nas assembléias, a retórica podia garantir, a quem a possuísse, o sucesso. p. 217.
É também evidente sua estrutura ligação coma política. Na era clássica, de fato, o político é, chamada de orador. p. 217-218
Górgias não hesita em chamar “melhor” aquém poeticamente engana do que a quem não engana, e, “mais sábio”, a quem é enganado do que a quem não o é: o primeiro é melhor pela sua capacidade criadora de ilusões poética, o segundo porque é mais capaz de aprender a mensagem desta poética criatividade. p. 220.
PRÓDICO DE CÉOS: não se sabe exatamente quando ele nasceu. Os estudiosos conjeturam que a sua data de nascimento está entre 470-460 a. C e que a sua atividade deva ser situada em torno ao inicio da guerra do Peloponeso. Este muitas vezes em Atenas na qualidade de embaixador. Deu com sucesso lições em Atenas e noutras cidade gregas. p. 221
Prodigo de Céos deve ter ensinado aos alunos como explorar praticamente, ao falar aos juízes, ou ao povo nas assembléias, o jogo das distinções dos sinônimos. p. 221.
Hedonismo: a felicidade está no gozo de prazer intenso e fácil, está em desfrutar plenamente o que nos apraz, nos serve e nos é útil, sem deixar-nos levra por escrúpulo. p. 223
Sexto Empírico refere que Pródico de Céos afirmava: “os antigos consideraram deuses, em virtude da vantagem que daí derivava, o sol, alua, os rios, a fontes e, em geral, todas as forças que beneficiavam a vida”. p. 227.
Pródico sustentava que tudo o que beneficiava a vida foi considerado como deus. p. 227.
Antifonte, nos seus ensinamentos, deve ter insistido sobre as ciências naturais, por aquelas mesmas razões propugnadas por Hípias, isto é, porque viu só na physis a autentica norma do viver; mas chegou a radicalizar o dissídio entre natureza e lei ao limite da ruptura, afirmando em termos eleáticos, que a natureza é a “verdade” enquanto a lei positiva é pura “opinião”, e, portanto, que uma está quase que antítese com a outra e, por conseqüência, deve-se transgredir a lei dos homens, quando se puder fazê-lo impunemente, para seguir a lei da natureza: “Justiça consiste em não transgredir nenhuma das leis do estado do qual se é cidadão”. (do pensamento de Antifonte, que radicaliza o contraste entre nomos e physis). p. 230-231.
A maior parte do que é justo segundo a natureza revela-se hostil à natureza. p. 232.
O iluminismo sofístico dissolveu não só os velhos preconceitos de castas da aristocracia e o tradicional fechamento da polis, mas também o mais radical preconceito, comum a todos os gregos, quanto à própria superioridade sobre os outros povos; qualquer cidade é igual à outra, qualquer classe social é igual à outra, qualquer povo é igual a outro, porque todo homem é por natureza igual ao outro. p. 232.
As coisas uteis postas pelas leis são vínculos para a natureza, as que são postas pela natureza são livres. p. 232.
De modo algum segundo um raciocínio correto, o que causa sofrimento auxilia a natureza mais do que o que causa alegria; e assim tampouco será útil o que causa dor mais do que o que prazer; o que é verdadeiramente útil não deve prejudicar, mas ser útil. p. 232.
O relativismo e o método antilógico de Protágoras, por obras dos sofistas da geração mais jovem, produziu a erística [...] os eristas excogitaram toda aquela aparelhagem de raciocínios capciosos e decepcionantes que foram posteriormente chamados de “sofismas”. p. 234.
Trasímaco de Calcedônia chegou a afirmar que o “justo não é mais que a vantagem do mais forte” (Platão, A república); do que ele deduziu, quase certamente, como nos diz Platão no primeiro livro da República, que a justiça é um bem para o poderoso e um mal para quem está submetido ao poderoso, que o homem justo tem sempre desvantagem e o injusto vantagem. p. 237-238.
A vida “justa segundo s natureza” comportará também o favorecimento de todos os instintos, porque estes são segundo a natureza. p. 238.
A lei é sempre contra a natureza e foi feita pelos mais fracos para defenderem – se dos mais fortes. p. 238.
A sofistica operou um substancial deslocamento do eixo da pesquisa filosófica, centrando a sua problemática sobre o homem; até a corrente naturalista da sofistica ocupou-se da physis em sentido totalmente diferente dos naturalistas, não para conhecer enquanto tal, mas para melhor compreender o homem e o seu agir, ou seja, com finalidade ético-político-educativas. p. 240.
Neste deslocamento do eixo está o valor substancial da sofistica, todavia, não se pode dizer que a sofistica também tenha sabido fundar a filosofia moral. Todos os sofistas levantaram e aprofundaram , de diferentes maneiras, problemas morais, ou problemas ligados estruturalmente com a moral, mas não souberam alcançar, no nível temático o principio do qual todos dependem. Estes principio, como sabemos, consiste na precisa, consciente e razoável determinação da essência do homem. Nenhum, dos sofistas disse expressamente, isto é, tematicamente, o que é o homem. p. 240.
A verdade está no meio: é preciso reconhecer aos sofistas o fato de terem sabido dar voz às novas exigências do momento histórico e terem preparado o terreno para o advento da filosofia moral, mas é preciso também dizer que eles não souberam dar o passo final. p. 240.
Os naturalistas criticaram a velha concepção antropomórfica dos deuses e identificaram deus com o principio. p. 241.
Os sofistas rejeitaram os velhos deuses, os quais, depois da critica naturalistas, não eram mais dignos de fé; rejeitaram também a concepção de divino como principio das coisas. assim, aproximaram-se da negação de qualquer forma de divino: Protágoras permaneceu agnóstico; Górgias foi certamente alem do agnosticismo com o seu niilismo; Pródico de Céos interpretou os deuses como hipóstase humana do útil; Crítias, como a invenção de um home hábil e sábio excogitada para reforçar as leis que por si só não são vinculantes. Depois dessas críticas, não se podia voltar atrás: para crer no divino era preciso buscá-lo numa esfera mais elevada. E do divino passamos ao humano.  p. 241.
Os sofistas não tiveram de destruir aquilo que dissera os naturalistas, porque como sabemos os naturalistas não se ocuparam do homem; destruíram, ao invés, definitivamente, a visão que a tradição, sobretudo através do poetas e dos legisladores tinham construídos. Mas no momento em que tentaram reconstruir uma imagem do homem, esta se dilui em suas próprias mãos: Protágoras entendeu o homem propriamente como sensibilidade e sensação relativamente; Górgias como sujeito de móvel emoção, sujeito a ser arrastado pela retórica em todas as direções; e os próprios sofistas que apelavam à natureza, tendo-a entendido sobretudo como natureza biológica e animal, não puderam não deduzir dela as antitéticas conseqüências da absoluta igualdade e da absoluta desigualdade dos homens. p. 241.
Antes do surgimento da filosofia, a verdade não era distante das aparências. Os naturalistas contrapunham às aparências o logos, e só nisso reconheceram a verdade. p. 241
Protágoras cindiu o logos nos “dois raciocínios” e descobriu que o logos diz e contradiz; Górgias rejeitou o logos como pensamento e salvou-o só como mágica palavra, mas encontrou uma palavra que pode dizer tudo e contrário de tudo e, portanto, não pode verdadeiramente expressar nada. p. 241-242.
Se pata reencontrar o divino e a verdade eram necessárias as descobertas metafísicas e lógicas de Platão e Aristóteles, para reconstruir um novo rosto do homem bastavam recursos disponíveis no interior do horizonte da sofistica: a esta foi a contribuição que Sócrates soube dar; e assim com Sócrates a sofistica se concluiu e tornou-se verdadeira. p. 242.


TERCEIRA PARTE

SÓCRATES E OS SOCRÁTICOS MENORES
A FUNDAÇÃO DA FILOSOFIA MORAL


Sócrates morreu em 399 a. C. p. 247.
Sócrates foi formalmente acusado de não crer nos deuses da cidade e de corromper os jovens com as suas doutrinas. p. 247.
Platão diz que no momento da morte Sócrates tinham cerca de 70 anos. Deduz-se que nasceu em 470/469 a.C. p. 247.
O pai de Sócrates era escultor, se chamava Sofronisco; sua mãe era parteira e se chamava Fenarete. p. 247.
No momento da morte Sócrates tinha ainda dois filhos jovens e um filho menor e, portanto, deve ter se casado com Xantipa em idade avançada. Uma tradição posterior fala também de outra mulher de Sócrates de nome Mirto. Se a noticia fosse exata poder-se-ia pensar que Mirto tinha sido a primeira mulher e Xantipa a segunda (Diógenes Laércio). p. 247.
Sócrates jamais saiu de Atenas, a não ser quando chamado a participar de campanhas militares (com bateu em Potidéia, em Anfipoli e em Delio). Não quis participar da vida política julgando negativamente os métodos com os quais era administrada a coisa publica. p. 247.
Sócrates foi discípulo de Arquelau (discípulo de Anaxágoras). p. 248.
A fonte mais antiga sobre Sócrates é Aristófanes, com a comédia As nuvens, que é não só uma paródia do filósofo, mas também um violentíssimo ato de acusação contra o seu ensinamento e seus nefastos influxos sobre a juventude: Sócrates é considerado um sofista e antes, em certo sentido, o pior dos sofistas; ao mesmo tempo é considerado filósofo naturalista. Por essa razão Aristófanes, por muito tempo, não foi considerado e a comédia As nuvens foi considerada uma obra de pura fantasia, totalmente desprovida de valor histórico. p. 249.
A segunda fonte, em ordem cronológica, é Platão, o qual faz de Sócrates o Protagonista da maioria de seus diálogos, e põe na boca de Sócrates todas as idéias filosofia que desenvolveu progressivamente. p. 249.
A terceira fonte é Xenofonte, com os seus Ditos Memoráveis de Sócrates e outros escritos menores dos quais Sócrates é protagonista. O seu Sócrates resulta demasiado domesticado. Seria impossível que os atenienses tivessem motivo para mandar à morte um homem tal como Xenofonte pretende que tenha sido Sócrates. p. 250.
A quarta fonte é Aristóteles, que só ocasionalmente fala de Sócrates, mas diz ele coisas consideradas importantes. Mas Aristóteles não é um contemporâneo: ele pode, é verdade, verificar de vários modos o que nos refere dele, mas faltou-lhe o contato direto com o personagem, que, no caso de Sócrates, resulta insubstituível e não-recuperável de maneira medida. p. 250. 
Enfim, existem os vários Socráticos que fundaram as chamadas escolas socráticas menores. p. 250.
A atitude dos sofistas diante da filosofia da physis: trata-se de uma atitude totalmente negativa, a qual Górgias deu forma paradigmática no seu tratado Sobre a natureza ou sobre o não-ser, no qual buscava demonstrar a estrutura incomensurabilidade entre o ser (physis), de um lado, e o pensamento e a palavra humana, de outro. p. 254.
Xenofonte diz que Sócrates não discutia sobre a natureza do universo, como a maior parte dos demais, indagando o ponto de existência daquilo que os doutos chamam “Cosmo”, e por qual necessidade ocorram os fenômenos celestes: os que empreenderam tais pesquisas eram por ele definidos como incipientes. p. 254.
A ciência do cosmo é inacessível ao homem: quem a ela dedica as próprias energias tenta de maneira vã conquistar um conhecimento que só um deus pode possuir. p. 255.
Xenofonte refere que, em geral, no que concerne aos fenômenos celestes, Sócrates desaprovava a curiosidade de apreender como a divindade os consignou; sustenta que não podiam ser descoberto pelo homem e acreditava não ser agradável aos deuses quem procurasse o que eles não tinham querido revelar. p. 255.
Segundo Sócrates, quem se dedica a essa pesquisa, totalmente absorvido nela, esquece de si mesmo, ou seja, daquilo que mais importa: o homem e os problemas do homem. p. 255.
Por volta dos 30 anos Sócrates estava ligado a Arquelau (o qual repropunha doutrinas de Anaxágoras, de forma eclética) e, com ele, como o poeta Íon de Quio, tinha se dirigido a Samos. p. 255.
Teofrasto refere que de Arquelau de Atenas, diz-se que também Sócrates foi discípulo. p. 255.
Os sofistas falaram dos problemas do homem sem ter indagado de maneira adequada a natureza ou essência do homem. Diferentemente dos sofistas, Sócrates conseguiu fazer isso, e de tal modo, que pode dar a problemática do homem um significado decididamente novo. p. 258.
Que é o homem? a resposta socrática é inequívoca: o homem é sua alma, uma vez que é a alma que o distingue de todas as outras coisas. p. 258.
Para Homero a alma era o espírito no sentido de fantasma, que abandonava o homem na sua morte para ir vagar no Hades; para os órficos, era o demônio que em nós espiava a culpa, e que era tanto mais ele mesmo, quanto mais se separava do eu consciente; para os físicos, era o princípio (água, ar, fogo); para os poetas era algo indeterminado e em todo caso jamais teoricamente definido. p. 258.
Ao contrário, para Sócrates, alma coincidia com a nossa consciência pensante e operante, com nossa razão e com a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante. Em poucas palavras: para Sócrates a alma é o eu consciente, é a personalidade intelectual e moral. p. 258-259.
Ensinar os homens a conhecer e a cuidar de si mesmo é a tarefa suprema da qual Sócrates considera ter sido investigado por Deus. p. 261.
Jamais poderemos saber qual é a arte de tornar melhor a nós mesmos , se ignoramos o que nós mesmos somos. (Sócrates). p. 263.
Se nos conhecermos, saberemos talvez também qual é o cuidado que devemos ter como nós mesmos; se não nos conhecemos, jamais o saberemos. (Sócrates). p. 263.
Uma coisa é o homem, outra coisa é seu corpo (Sócrates). p. 264.
Para Sócrates a essência do homem deve ser buscada na psique. p. 266.
Os sofistas não souberam determinar qual era a verdadeira natureza do homem. p. 266.
A superioridade de Sócrates sobre os sofistas, consiste sobretudo nisto: tendo compreendido que o homem se distingue de qualquer outras coisa pela sua alma, Sócrates pode determinar em que consiste a Arete humana: ela não pode ser senão o que permite a alma ser boa, isto é, ser aquilo que por sua natureza deve ser. p. 267.
Para Sócrates virtude é “ciência” ou conhecimento; vicio é a privação da ciência é a ignorância. p. 267.
Quem faz o mal (que é ignorância) o faz, justamente, só por ignorância e não porque queira o mal sabendo que é mal. p. 270.
Xenofonte dei que Sócrates não punha limites entre sapiência (= ciência) e sabedoria, mas considerava douto e sábio aquele que conhecendo as coisas belas e boas soubesse usá-las; conhecendo as coisa feias, dela soubesse guardar-se. p. 270.
Quem conhece o belo e o bom nada pode preferir-lhe; ao invés, quem não os conhece, não pode praticá-los, e se tenta, erra. (Sócrates). p. 270.
Na Ética a nicômaco, Aristóteles confirma que Sócrates afirmava que a virtude era racional, de fato, sustentavam que todas eram uma ciência. p. 270.
Por virtude os homens comuns (e em grande parte os sofistas) entendiam aquilo que a tradição e os poetas entenderam: algo fundado sobre o costume, os hábitos e as convicções da sociedade grega, mas não fundada e justificada sob rigorosas bases racionais. p. 271-272.
Sócrates diante da virtude e da vida moral do homem, faz exatamente o que os pré-socráticos fizeram diante da natureza: tenta submeter ao domínio da razão a vida humana. p. 272.
Para Sócrates a virtude não é e nem pode ser simples adequação aos costumes, aos hábitos e muito menos a convicção geralmente acolhida: ela deve ser algo motivado racionalmente, justificado e fundado no plano do conhecimento, não qualquer conhecimento, mas ao conhecimento do que é o homem e do que é bom e útil ao homem. p. 272.
O homem faz o mal porque espera, erroneamente, tirar dele o bem, a riqueza, o prazer e o gozo. p. 273.
 Sócrates não distingue as varias faculdades do espírito humano e a sua complexidade. Ele tem diante do espírito humano, aquelas mesmas visões unilaterais que tem Parmênides diante do ser. será Platão que descobrirá a complexa estrutura da alma humana, e mostrar que, ao lado da racionalidade, existe em nós a iracúndia e a concupiscência, e que a ação moral consiste num delicado equilíbrio dessas forças, que vê a irascibilidade (o querer) aliar-se e cooperar com a razão. p. 274.
A felicidade não é dada nem pelos bens exteriores, nem pelos bens do corpo, mas pelos bens da alma, ou seja pelo aperfeiçoamento da alma mediante a virtude. p. 282.
A felicidade não depende das coisas e da sorte, mas do logos humano e da interior formação que com o logos o homem pode se dar. p. 282.
Antístenes se refere que Deus não se assemelha a ninguém e, portanto, ninguém pode conhecê-lo por uma figura. p. 288.
Sócrates considerava absurdo também o antropomorfismo moral, e negava que aos deuses pudesse ser atribuídos paixões, sentimentos e costumes humanos. p. 289.
No Eutífron, segundo Platão, Sócrates disse: “mas é justamente esta a razão pela qual sou acusado: porque, quando alguém narra-me coisas semelhantes sobres os deuses, eu não consigo aceitá-las”. p. 289.
Xenófanes, antes de Sócrates, denunciara o erro antropomórfico da tradicional concepção dos deuses em todas as suas formas. p. 289.
Sócrates extraiu de Anaxágoras e de Diógenes de Apolônia a noção de Deus como noção de inteligência ordenadora. p. 290.
Antes de Sócrates, só Diógenes de Apolônia (desenvolvendo um pensamento de fundo de Anaxágoras) sustentou uma concepção teológica do universo. Todavia para Diógenes, a Inteligência ordenadora que  tudo governa era o Ar e todo o seu discurso era de caráter fisco-cosmológico. p. 296.
O Daimónion socrático: trata-se de um sinal ou uma voz que Sócrates expressamente dizia ser voz de Deus, isto é uma voz que provinha de Deus. p. 297.
O Daimónion nunca é chamado de demônio, mas um sinal e voz divina. p. 298.
O Daimónion não tem nada a haver com o âmbito das verdades filosóficas: a voz divina não revela absolutamente para a Sócrates a sabedoria humana, para Sócrates os princípios filosóficos tiram por inteiro a sua velocidade do logos, e não da divina revelação. p. 299.
A felicidade é, de fato, para Sócrates, algo de profundamente interior que tem a sua origem e a sua pátria na alma do homem: reside na própria vida moral. o bom da a si mesmo a sua própria recompensa, o mal o próprio castigo. p. 302.
As finalidades do método dialógico socrático são, fundamentalmente, de natureza ética educacional. p. 305.
A dialética socrática tem em vista a exortação à virtude, o convencimento do homem de que a alma e o cuidado de alma são o máximo bem para o homem. p. 305.
O discípulo que tem alma grávida da verdade tem necessidade de uma espécie de obstetra espiritual, que ajude esta verdade a vir à luz, e esta é justamente a maiêutica socrática. p. 312.
 Não obstante aos outros filósofos, Sócrates foi o primeiro a alcançar a consciência da idéia de ciência enquanto tal e das condições e procedimentos que a tornam possível. E a condição para haver ciência seria redutível a este princípio: não se pode afirmar nada de um objeto enquanto não se conhece dele o conceito, a sua essência universal permanente. Conseqüentemente, o procedimento seguido por Sócrates para alcançar o conceito seria o da indução, a passagem lógica dos casos particulares aos universais. p. 317.
Os fundadores das escolas socráticas menores foram: Antístenes (cínica); Aristipo, Euclides e Fédon. p. 332.
Antístenes nasceu em Atenas, o pai era ateniense, enquanto a mãe provinha da Trácia. Antístenes viveu na passagem do século V a. C. para o sec. IV a. C. Foi discípulo de Górgias e teve treinamento com outros sofistas; só em idade avançada se tornou discípulo de Sócrates. p. 333.
Diógenes Laércio refere que segundo Antístenes “a virtude está nas ações e não necessidades nem de muitas palavras nem de muitos conhecimentos”. Nesse sentido, deve ser e entendida a atividade negativa de Antístenes diante das ciências. p. 334-335.
  Para Antístenes a mensagem de Sócrates era puramente existencial. p. 336.
A revolução socrática da tábua de valores é baseada na descoberta na descoberta da Psyché como essência do homem e na conseqüente afirmação de que os valores supremos são os valores da alma. p. 336.
Antístenes condenou de modo categórico qualquer prazer, considerando-o em si o mal e com extraordinária energia ele dizia: “prefiro antes enlouquecer do que experimentar prazer”. p. 339.
Clemente Alexandrino refere que Antístenes dizia (contra o prazer do sexo) “se eu pudesse ter entre as mãos Afrodite, eu a atravessaria com uma flecha”. p. 339.
Por que esta luta contra o prazer? porque o prazer no momento em que é buscado, torna escravo o homem fazendo-o depender do objeto do qual ele deriva. p. 339.
A sociedade honra e louva justamente o oposto daquilo que o filosofo prega. p. 340.
Alguém disse a Antístenes: “muitos te louvam”, de modo mordaz Antístenes respondeu “que fiz então de mal?” isso exprime um desprezo pela sociedade. p. 340.
Antístenes dedicou sua escola a Héracles, herói das legendárias fadigas. p. 341.
Diógenes Laércio refere que Antístenes foi reconhecido pelos antigos como fundador do cinismo. O termo cínico deriva de cão (kúwn) e, provavelmente, tem uma dupla gênese. Diógenes Laércio refere que: “[Antístenes] costumava conversaR  no ginásio de Cinoarge” [kunosarges = cão ágio], próximo das portas [de Atenas] e alguns pensam que a escola cínica tomou o seu nome de Cinoarge”, e ulteriormente refere que Antístenes era chamado de Aplokuwn, ou seja, Cão puro. O discípulo de Antístenes Diógenes alto determinou-se de “Diógenes, o cão”. p. 341-342.
É possível que no cão eles vissem o emblema da vigilância: daquela vigilância que o cão tem por seu dono e o filosofo cínico por sua doutrina. p. 342.
Antístenes disse: “também os médicos estão com os enfermos sem, por isso, pegar a febre” (fonte de Diógenes Laércio). p. 343.
Também o cínico pretendia ser uma espécie de redenção espiritual: com a diferença que ele mirava unicamente a vida presente, o cristianismo a futura. p. 343.
Da longínqua e rica cidade de Cirene, fundada por colonos gregos na costa da África, Aristipo veio a Atenas atraído pelo que ouviu contar sobre Sócrates por alguém que encontrou nos jogos olímpicos. p. 344.  
Para Sócrates bens era só a ciência e a virtude. p. 345.
Aristipo afirmou que o prazer é sempre um bem, de onde quer que ele derive. p. 345.
Aristipo chegou a exigir pagamento pelas suas lições, justamente como faziam os sofistas, a ponto de os antigos lhe chamarem de sofista. p. 345.
Para os cirenáicos agradáveis são as sensações que implicam “um movimento violento”, a falta de prazer ou de dor é, ao invés, falta de movimento ou êxtase e é semelhante a situação de quem dorme. p. 351.
Diógenes Laércio refere que para os cirenáicos [diziam eles] “são muito melhores os prazeres do corpo do que os prazeres da alma”. p. 352.
Para os cirenáicos o prazer devia ser o que tem lugar no instante, no presente atual... os cirenáicos diziam: com efeito, só o presente é nosso e não o que já se realizou e nem o que ainda se espera: o primeiro, de fato, já acabou e o segundo é incerto se virá. p. 352.
Euclides nasceu em Megara, onde viveu e fundou a sua escola. Ele deve ter sido mais velho que Platão. Diógenes Laércio refere que depois da morte de Sócrates, Platão e os outros amigos dele se refugiaram em Megara junto a Euclides, por razões políticas. p. 356.
Euclides tentou fazer uma síntese entre a ética socrática e a ontologia eleata. p. 357.
Euclides e seus seguidores rediziam o bem ao uno. E concebiam este uno com característica eleata da absoluta e imóvel identidade e igualdade de si consigo. Diógenes Laércio refere que “Euclides eliminava as outras coisas contrarias ao bem, sustentando que não são. p. 358.
Diógenes Laércio informa que Fédon de Elida, dos eupátridas, foi capturado junto com a queda de sua pátria e constrangido a ficara em um bordel. Mas daí consegui entrar em contato com Sócrates e depois, por incitamento de Sócrates, Alcibíades e Críton e seus amigos o resgataram. Desde então tornou-se livre e dedicou-se à filosofia. Escreveu diálogos entres os quais “Zapiro e Simão”. p. 364.
Na Grécia foram os órficos a difundir a crença na metempsicose (transmigração da alma de um corpo para outro)... em todo caso parece seguro que, entre os gregos, a doutrina da transmigração da alma não veio dos filósofos aos sacerdotes, mas dos sacerdotes aos filósofos. p. 377.
O pitagórico Filolau escrevia: “atestam também os antigos teólogos e adivinhos que alma está unida ao corpo para pagar alguma pena; e neste como numa tumba está sepultada. p. 379.
O fim da alma, segundo o orfismo, é libertar-se do corpo. p. 381.
Se o corpo é a prisão da alma, oi seja, lugar onde paga a pena de uma antiga culpa, e se a reencarnação é como a continuação desta pena, é claro que a alma deve libertar-se do corpo e, justamente este é o seu fim ultimo. p. 381.
As teogonias órficas, diferentemente da hesiodiana, terminava  com o mito de Dionísio, e os Titãs e com as explicações das origens dos homens, assim como do bem e do mal que neles existem. Por conseqüência, enquanto uma (isto é a teogonia hesiodiana) não poderia nunca se tornara uma doutrina de base para a vida espiritual, a outra (isto é, a teogonia órfica) podia constituir esta doutrina, e com efeito a constituía. p. 385.
   Ora, a idéia de fundo da parte final da teogonia era a seguinte: Dionísio, filho de Zeus, foi triturado e devorado pelos Titãs, aos quais, por punição, foram queimados e incinerados pelo próprio Zeus, e das suas cinzas nasceram os homens. p. 385.
É evidente em que sentido e medida este mito pode constituir base de uma ética. Ele explica a constante tendência ao bem e ao mau presente nos homens: a parte dionisíaca é a alma (e liga se a ela a tendência ao bem), a parte titânica é o corpo (e liga-se a ele a tendência ao mal). Daqui deriva a nova tarefa moral de libertar o elemento dionisíaco (a alma) do elemento titânico (o corpo). A reencarnação e o ciclo dos renascimentos são a punição desta culpa e estão destinadas a continuar até que o homem se liberte da própria culpa. p. 385.
Platão tirará inspiração dessa intuição e, transpondo-a e fundando-a no plano metafísico, construirá a visão do homem “em duas dimensões”, que condicionou largamente o pensamento ocidental. p. 385
 Sócrates simplesmente sobre o homem aquele tipo de pergunta que os naturalistas punham sobre o cosmo. Eles pretendiam explicar todas as coisas relativas ao universo, reduzindo-as a unidade de um princípio; Sócrates pretendia, ao invés, explicar todas as coisas relativas ao homem e a sua vida, também reduzindo-as à unidade de um princípio: queria chegar a essência do homem e, em função desta, reinterpretar todas a vida do homem. p. 395.
Das Orígenes ao fim, os gregos consideraram a filosofia como a tentativa de compreender todas as coisas, reproduzindo-as ao seu fundamento ultimo, ou seja, a tentativa de medir-se com o todo... a seguinte afirmação platônica pode verdadeiramente ser considerada o selo desta concepção: quem é capaz de ver o todo é filósofo, quem não, não é. p. 396.
No Teeteto, Platão refere que “é próprio do filósofo admirar-se, e o filósofo não tem outra origem senão o está pleno de admiração”. p. 398.
Uma vez explicada a origem, é fácil explicar também o fim, ou seja, o escopo do filosofar segundo os gregos. Se a origem é uma necessidade de conhecimento, o fim deverá ser justamente, o apaziguamento, ou pelo menos, a tendência ao apaziguamento dessas necessidades. O fim é, portanto, o conhecimento buscado e conseguido em si mesmo e não por escopos ulteriores. O fim é o conhecimento pelo conhecimento, ou como diziam os gregos o theorin, o conhecimento como pura atitude contemplativa do verdadeiro. p. 400.
Eudaimonia, a palavra grega que traduzimos por felicidade, significa, literalmente, ter um bom demônio protetor, do qual depende conseqüentemente uma vida prospera. p. 409.
Heráclito afirmava que “o caráter é o demônio do homem”. p. 409.
Na “metafísica” Aristóteles especifica que a busca da verdade , sob certos aspectos, é difícil, e sob outros aspectos, é fácil: é difícil porque é impossível captar totalmente a verdade, mas é também fácil porque é impossível não captá-la de nenhum modo. p. 413.
     







  

   

 
  








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