sexta-feira, 21 de maio de 2010

A IGREJA NA POLÍTICA: Curral eleitoral que pôe em risco a Democracia?


IGREJA e POLÍTICA

Fábio Coimbra[1]

No que concerne à luta pela entrada e permanência no poder político, podemos afirmar que muitos indivíduos do período contemporâneo estão cada vez mais – em escala ascendente – usufruindo a imagem do sagrado, a fim de que, nele estando envolvidos, se posicionem melhor sobre todos.
Se analisarmos com bastante atenção, perceberemos que nos últimos tempos, muitos políticos têm procurado usar a religião ou as igrejas como ponto de apoio ou caminho para chegar ao poder, de tal modo que esse fato, parece, já ter ganhado estabilidade. Isso em nada agrada o poder democrático, uma vez que indivíduos incompetentes, corruptos e incapazes de uma administração qualitativa, podem, mediante o uso das igrejas, chegarem ao poder, pondo em risco a democracia.
Democracia é o governo do povo, conforme a etimologia do termo. É o povo que participando da vida política da sociedade, faz a democracia acontecer.
O poder exercido pelo o governo emana do povo, todavia, este o exerce de forma indireta, isto é, há pessoas designadas por intermédio da soberania popular para representar o povo e seus interesses. A esses escolhidos atribui-se a responsabilidade de cuidar dos interesses do povo, de atender às suas necessidades, de promover o desenvolvimento social e principalmente de guardar o zelo pela democracia.
Desta forma exige-se em primeiro lugar da parte daqueles que governam diretamente, como também daqueles que lutam para governar: compromisso frente à sociedade, transparência em suas ações, responsabilidade em sua gestão governamental e dedicação para com o povo.
Portanto, não condiz com a natureza dos princípios éticos e políticos que indivíduos aspirantes, ou que lutam pela sua conservação no poder, venham a usufruir o espaço sagrado com o intuito de obter o bem próprio em detrimento do bem comum. A estes podemos atribuir o qualificativo de falsos pastores e usurpadores, pois vêm vestido de branco somente para extorquir e roubar das ovelhas aquilo que de mais precioso elas possuem, o voto.
Contudo não podemos afirmar que as igrejas têm sido curral eleitoral pondo em risco o processo democrático da nação brasileira. Até porque há entre elas algumas que se encontram empenhadíssimas no processo de conscientização da população a cada vez que se aproxima de um período eleitoral. Essas igrejas geralmente não temem, mas orientam o povo para que este possa votar com dignidade e convicção a cerca de seus direitos e deveres exercendo desta forma a cidadania e principalmente a democracia. Em geral algumas dessas igrejas não admitem que seus dirigentes integrem a vida política no sentido partidário do termo, embora muitos as desobedeçam e acabam por atender a seus desejos, vontades e aspirações. Isso de uma certa maneira pode deturpar a imagem da religião no sentido geral do termo ou da igreja a que pertence.
Mas podemos asseverar que as igrejas têm sido vítimas de extorsão política e alvo daqueles que, de maneira incompetente, buscam delas, por meio de sua força religiosa, alcançar o poder para, muitas vezes, desfigurar a imagem da democracia.
Igreja e democracia são duas realidades. De um lado está à força da religião, do outro o poder do povo. O povo que constitui a religião é o mesmo que forma o poder democrático. Deste modo igreja e democracia estão diretamente ligadas numa união indissolúvel.
 Não se pode imaginar uma igreja inserida em um determinado contexto social democrático constituída por indivíduos que não sejam os mesmos construtores da democracia. É por esta razão que as igrejas orientam e estimulam seus fiéis a participarem da vida social democrática.
Podemos afirmar que muitas pessoas podem pôr em risco a democracia de uma nação por meio do uso das igrejas. Mas não podemos, de modo algum, afirmar, que elas – as igrejas – têm, em si mesmas, colocado em risco a democracia. Isto seria um ato contraditório à sua ação, que se concretiza em união com a democracia.
A palavra democracia cuja etimologia é grega, compõem-se de dois termos distintos: demo= povo + cracia= governo. Unidos dão origem a uma nova palavra de significado mais amplo e complexo. A partir de então, esse termo novo passa a estruturar e designar uma nova forma de governo pautado na organização social em que o controle político é exercido pelo povo, o qual delega poderes a representantes eleitos segundo a soberania popular.
O voto é um dos instrumentos por meio do qual o povo participa da democracia. Contudo o voto, para ser eficaz e frutuoso, é necessário que, antes de tudo, seja consciente e cidadão. O voto criterioso e qualitativo é um dos meios pelo qual se pode obter ou, ao menos, sonhar com uma sociedade democraticamente modificada e mais apta a atender as necessidades de cada cidadão ou da coletividade, como se entende melhor.
A democracia mais do que uma simples participação popular no governo, ainda que essa participação se realize de forma indireta, é também uma união de princípios de organização política imersa em um determinado sistema.
É fundamental que haja, dentro de um sistema de governo democrático, uma aliança entre os elementos da organização política e as demais instituições sociais presentes nesse mesmo país ou fora dele, sobretudo aquelas de grande poder econômico. Em outras palavras, destaco a grande importância de haver em uma sociedade democrática uma relação ou um pacto entre o setor estatal e o setor privado, numa perspectiva de democratizar tudo quanto for possível, útil e eficaz para o progresso social. Isso se torna eficaz na medida em que se objetiva a busca do bem comum, a defesa dos interesses da coletividade, a defesa dos direitos de cada cidadão e a prática da cidadania.
Tudo isto resulta no livre e qualitativo exercício da democracia. Desta forma, destaco a grande relevância que possui a sociedade em funcionar como principal órgão de fiscalização dessa aliança entre estatal e privado.
Portanto é fundamental que o “demos” (povo) mobilize e organize-se em sociedade com o objetivo de fiscalizar, exigir e reivindicar, por meio de suas lutas e participações, aquilo que de valoroso possui, ao qual, chama de direito. Por isso, é muito importante que se conserve em uma sociedade democrática o direito de reivindicação. Este é um dos meios pelos quais todos podem participar diretamente do processo democrático de um país.
A democracia é uma forma de governo que, em uma visão aristotélica, consiste no comando da massa popular e pela qual se busca suprimir toda a diferença social em nome da igualdade.
O sábio iluminista, Rousseau, nos apresenta a democracia como uma forma de participação direta do povo no ato legislativo. Partindo deste principio, ele defende a idéia de igualdade e liberdade afirmando que é por meio desta que se realiza a participação direta em um segmento de democracia.
Cabe ressaltar que nesta colocação, Rousseau se baseia nos ideais da revolução francesa, cuja utopia consistia na busca de uma sociedade fraterna, livre e solidária em uma perspectiva iluminista. Diante de tudo isto que foi dito acima, fica claro que um dos objetivos da igreja consiste na luta pela conscientização do povo a respeito da democracia e como ela se fundamenta na participação popular. Eis porque a igreja instiga todos os cristãos a participarem do processo democrático.
A igreja ressalta a grande necessidade de se definir um novo modelo para o nosso país. Contudo, ela chama a atenção para a necessidade de definir um novo modelo para o país, que não consiste apenas em colocar um voto na urna, mas acompanhar os representantes eleitos numa atitude de colaboração e de exigência para que os compromissos de campanhas sejam cumpridos.
A igreja defende uma ampliação mais profunda nos meios de participação popular nos diferentes conselhos já existentes na sociedade. Assim teremos uma sociedade, justa, livre, solidária e democrática.


[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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