quinta-feira, 20 de maio de 2010

RESUMO DO CAPÍTULO II DO LIVRO "CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA: QUE É A SOCIOLOGIA?"




O MÉTODO EM CIÊNCIAS HUMANAS

O presente capítulo (que versa sobre o método em ciências humanas, isto é, a maneira pela qual se deve proceder no contexto de uma análise sociológica para fins de conhecimento científico e social) compõe-se de duas partes especificas, a saber, o problema das ideologias e; fatos matérias e doutrinas.
Em principio, Goldmann demonstra de forma objetiva, clara e sucinta o diferencial básico que há entre as ciências históricas e humanas e as ciências físico-químicas. Segundo ele

As ciências históricas e humanas não são, pois, de uma parte, como as ciências físico-químicas, o estudo de um conjunto de fatos exteriores aos homens, o estufo, o estudo de um mundo sob o qual recai sua ação. São ao contrario a analise dessa própria ação, de sua estrutura, das aspirações que a animam e das alterações que sofre”. (GOLDMANN, 1978, P 27).

Essa reflexão do autor feita a cerca da temática concernente ao método mostra que na essência a diferenciação que se estabelece entre ambas (as ciências) reside objetivamente no fato de que enquanto as ciências físico-químicas tomam como objeto de estudo o conjunto dos fatos exteriores ao homem, ou seja, o mundo no qual ele age, as ciências históricas e humanas, por sua vez, se interessará mais pela compreensão das ações buscando conhecer suas estruturas, bem como as causas do seu surgimento e as alterações que elas sofrem no curso de sua história.
Uma reflexão relevante assinalada pelo autor, diz respeito ao fato de que (embora seja o homem, por excelência o ser da reflexão e, portanto, do raciocínio) a própria consciência não constitui força, ou ainda, ponto de partida capaz de nortear todas as conclusões a que se possa chegar ao que toca ao estudo histórico dos fenômenos oriundos da ação humana. As razões disso decorrem, sobretudo, do fato da consciência ser apenas um aspecto parcial da atividade humana.
Com base no que acima fora dito, de acordo com o autor, seguem-se duas conseqüências: a primeira é que o próprio conhecimento é ele próprio um fato humano, histórico e social e; a segunda é que o comportamento, ao contrario da consciência, é um fato total, que vem a lume, especialmente, como uma resultante direta da soma de eventos que lhe são anteriores. É da junção desses eventos – que são de natureza tanto material, quanto abstrata (essa ultima o autor chama de espiritual) – que surgi o comportamento. Uma tentativa de separação dessas duas esferas traria a tona um grande problema, que consistiria principalmente no fato de por em contratempo a estabilidade do conhecimento. É justamente por isso que o

O investigador sempre deve esforçar-se por encontrara a realidade total e concreta, ainda que saiba não poder alcançá-la a não ser duma maneira parcial e limitada, e para isso esforçar-se por integrar no estudo dos fatos sociais a história das teorias a respeito desses fatos, assim como por ligar o estudo dos fatos de consciência à sua localização histórica e à sua infra-estrutura econômica e social”. (GOLDMANN, 1978, p 28).

Ou seja, o autor chama a atenção para a relevância de se situar no âmbito de seu contexto o referido fato estudado. É importante lembrar que enquanto mais o pesquisador se desfizer de suas simpatias e posicionamentos pessoais a cerca da coisa ou fatos pesquisados, melhores serão os resultados de sua investigação.
A propósito do problema central, ou assunto geral do capitulo sobre a objetividade do método em ciências humanas. A pergunta que aqui pode ser formulada é a seguinte: tomando os homens como são, dotados de personalidade e subjetividade, subjetividade essa que ora aparece, ora desaparece (manipulando, desse modo, aquilo que da identidade do sujeito se poderia concluir), é possível estabelecer um método objetivo e, portanto, passível de ser aplicado generalizadamente a todos os homens, todos os contextos, todos os comportamentos e todos os casos?
No inicio do primeiro ponto, quando trata sucintamente do surgimento da sociologia não marxista, Goldmann assinala Durkheim, os durkheiminianos e Weber para mostra que, de fato, “no pensamento desses autores já se fazia presente a questão da insuficiência da objetividade” no que diz respeito ao método. Ao que aparece, essa insuficiência se daria, especialmente, pelo fato do pesquisador “desconhecer a identidade do sujeito e do objeto nas ciências humanas”, derivando o método apenas de suas habilidades intelectuais e outras excelências pessoais. De acordo com o autor, quem expôs claramente esse problema foi George Lukacs, aluno de Max Weber. (GLDMANN, 1978, p 28.).    
Se partirmos ainda do princípio de que cada caso é um caso, logo teremos que concluir que para casa caso há a necessidade de um método diferente. Entretanto, uma reflexão mais aprofundada clarificará melhor possíveis suposições e imaginações que, diante da complexidade do assunto, repousam na sombra da duvida.
Outro problema que neste capítulo vem a tona é aquele que faz referência aos juízos de valor. De acordo com Goldmann, esse problema aparece principalmente quando Durkheim e seus discípulos

tentando elaborar uma sociologia cientifica, fizeram depreender dois princípios, a saber, (primeiro) que “o estudo cientifico dos fatos humanos não pode fundar por si só nenhum juízo de valor e (segundo) que o pesquisador deve esforça-se por chegar à imagem adequada dos fatos, evitando toda a deformação provocada por suas simpatias ou por suas antipatias pessoais”. (GOLDMANN, 1978, p 8-29).

    Aqui se coloca a questão chave para o alcance da excelência na investigação. Essa excelência consiste, sobretudo, no fato do autor não considerar aquilo que faz partes de suas preferências pessoais. Ou seja, o pesquisador tem que abrir mão de sua posição pessoa frente ao fato investigado, de modo que isso se dê em caráter linear durante a realização da pesquisa. A pergunta que aqui se poderia fazer consiste em saber se os juízos de valor, de fato, entram ou não na investigação sociológica, ou se eles entram até aonde eles podem chegar? Se analisarmos esse problema entre Weber e Durkheim, veremos uma constante divergência entre eles quanto ao juízo de valor.  Se, por um lado, Weber se dá conta da importância desses juízos para o inicio da pesquisa, reconhecendo a impossibilidade de anulá-lo, por outro, na análise social, Durkheim não admite o juízo de valor e nem aceita que eles entrem na pesquisa. Weber, entretanto, refere que esses juízos entram sim na análise, ou na pesquisa das ciências sociais, mas – cumpre ressaltar – somente para demandar a escolha daquilo que se quer pesquisar. Nesse sentindo, Goldmann refletindo sobre Weber, apresenta outro elemento que passa, a partir, de então a ser o diferencial básico entre as ciências humanas e as físico-químicas: da diferença de objeto, passa-se à diferença de perspectiva. Nas ciências físico-química enquanto o essência é busca de leis gerais, nas ciências humanas o essencial passa a ser a busca pelo estudo objetivo que favoreça, primordialmente, a explicação e compreensão da realidade social. As ciências humanas levam em consideração sobretudo a individualidade histórica do individuo que se constrói especialmente pela escolha daquilo que lhe é mais agradável. É justamente esse agradável, tomado como objeto de escolha do individuo que aqui está sendo tomado como juízo de valor.
Merece destaque também, a contraposição de Goldmann quanto ao otimismo cartesiano de Durkheim. Segundo ele (Goldmann)

“nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, pôr em dúvida verdades adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois, o pesquisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe fecham de antemão o caminho da compreensão objetiva”. (GOLDMANN, 1978, p 33).     


Mas uma vez vem a lume o problema referente à objetividade do método. O ponto de partida do método cartesiano cabe lembrar, é a dúvida metódica. Duvida-se de tudo com o objetivo de alcançar uma verdade indubitável (da qual não se pode duvidar). Essa duvida culmina, portanto, na aquisição de um conhecimento do qual se carecia antes. Goldmann mostra, por conseguinte, que o que torna o método cartesiano incompatível com o estudo das ciências humanas é o fato de que nele parte-se da dúvida, ou seja, do zero em relação ao conhecimento, ao passo que nas ciências humanas parte-se da certeza de algum conhecimento já adquirido, é o que ele chama de pré-noções.    
Após ter esboçado o problema da objetividade, Goldmann parte agora para outra reflexão que toma como ponto de partida o segundo grande princípio do método, a saber, “o do caráter total da atividade humana e da ligação indissolúvel entre historia dos fatos econômicos e sociais e a história das idéias”. (GOLDMANN, 1978, p 50). Posteriormente ele ratifica esse princípio ao mostra, especialmente, que essa indissociabilidade se dá, principalmente, pela razão de haver certa influencia dos fatores econômicos sob a forma de pensar e de agir.


REFERÊNCIA

GOLDMANN, Lucien. Ciências humanas e filosofia: Que a Sociologia?. Trad. Lupe C. Garaude; José A. Giannotti, Ed. 6. Rio de Janeiro: DIFEL, 1978. P. 27-70.

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