sábado, 26 de junho de 2010

RESUMO DO CAPÍTULO II DO LIVRO "SOCIOLOGIA DE MAX WEBER"


Cap. II: A METODOLOGIA (resumo)

Após ter discutido no primeiro capítulo sobre “As visões do mundo”, onde teceu uma crítica à pretensão de uma ciência absoluta e universal, Julien Freund discorre neste segundo capítulo sobre o problema referente à metodologia das ciências. Para fins de enriquecimento dessa reflexão, poder-se-ia, levantar aqui alguns questionamentos tais como: existe um método imutável capaz de suprir todas as necessidades da ciência, no que diz respeito à busca do conhecimento? Se há uma diversidade de métodos, em vista das inúmeras ciências que existem, é possível tomar o método de uma como modelo para outra? Que método permite conhecer melhor o real?
Em princípio cumpre precisar que neste capítulo a reflexão de Freund se dá em seis momentos específicos de reflexão. No primeiro ele vai discutir sobre o “método naturalístico e o método histórico”; no segundo, sobre “quantificações e experiências vividas”, no terceiro, ele trata da “causalidade, relação com os valores e interpretação”, no quarto, ele reflete sobre o “tipo ideal”, no quinto, “possibilidades objetividade e causa adequada”, e, por fim, no sexto, vai abordar a “neutralidade axiológica”.
O item inicial apresenta como ponto central a contraposição de Max Webber em relação aos autores que preconizam a possibilidade de haver um “fundamento único para as ciências humanas”. O ponto de partida dessa reflexão weberiana

Tem por base a disputa metodológica que dividiu os universitários alemães ao apagar das luzes do século XIX. [...]. Naturalmente, o debate logo se converteu em uma discussão sobre a classificação das ciências e nesse particular, os partidários da autonomia das ciências humanas tomaram por sua vez partido contrário (FREUND, 1980, p. 32).

Para aqueles que cogitavam ser una a realidade, tais como Wildelband e Rickert, conforme refere o autor, o método seria o elemento primordial na classificação das ciências, por que a partir dele é que se poderia distinguir uma ciência da outra. Para esses autores, sendo uma só a realidade, o estudo dela, entretanto, se daria por vias diversas, donde se seguiria a diversidade metodológica, que como tal, constitui o principio da classificação. Partindo do princípio de que “o sábio procura conhecer as relações gerais, ou então os fenômenos em sua singularidade” (FREUND, 1980, p. 33), os dois autores já citados concebem, em principio, a existência de dois métodos específicos, a saber, o método generalizante e o individualizante. Um exemplo de generalização que aqui cabe lembrar são as próprias leis de natureza donde dada uma causa segue-se necessariamente um efeito, o que se entende melhor na expressão “princípio da causalidade”. Causalidade, nesse contexto, pode ser interpretada como uma razão de ser, ou razão de conhecer. Freund refere que

Tomando a si a distinção entre o método generalizante e o método individualizante, Webber não aceita as conclusões de Wildelband e Rickert, particularmente a divisão das ciências que eles fundamentam sobre tal diferença metodológica. Nada mais contestável do que reservar um desses métodos a uma série de ciências e outras na outra serie. Ao contrário, qualquer ciência utiliza, ao saber das circunstâncias, um e outro desses caminhos. (FREUND, 1980, p. 33).

É fácil perceber, portanto, que a contraposição de Webber em relação a esses autores se da, sobretudo, a partir de dois princípios. O primeiro é que no pensamento de Webber, de acordo com Freund, há uma não aceitação da divisão, ou classificação da ciência a partir do método, ou da diversidade deste. O segundo, por sua vez, é decorrente do anterior, ou seja, o evoluir da pesquisa pode trazer gradativamente a necessidade de mudar de método, donde se conclui que a ciência, no itinerário para o alcance de seus fins e objetivos, pode beber de diversas fontes metodológicas. Em outros termos, isso significa dizer que ela pode usar de diversos métodos, especialmente, quando aquele que, em princípio aparecia como excelente, já não cumpre mais com suas funções e, desse modo, pouco contribui para que a ciência atinja seu objetivo que a busca do conhecimento. De acordo com o autor “é falso dizer que na prática as ciências da natureza utilizam exclusivamente o método naturalístico ou generalizante, e as da cultura o processo histórico e individualizante” (FREUND, 1980, p. 33), o que, obviamente, corrobora o que foi dito acima. O autor considera que não há razões para privilegiar um método em detrimento de outro. É nessa perspectiva que ele afirma que “sendo o método uma técnica do conhecimento, é comandado pela lei de toda técnica, ou seja, a eficácia” (FREUND, 1980, p. 34), e conclui pela não existência de um método universal.
Uma referencia relevante que Freund faz ao pensamento de Webber diz respeito à infinitude do real que, justamente por ser infinito, se torna inesgotável. Ao contrario da realidade, o conhecimento humano, por sua vez, é sempre finito e se esgota em dado limite. É, portanto, em razão dessa limitação do conhecimento que se adquirir do real que novos avanços na ciência se tornam possível. Caso contrário, ela pararia no espaço-tempo e se transformaria em dogma deixando, desse modo, de ser ciência. Cumpre ressaltar que o conhecimento científico, pelas razões já dadas acima, não esta isento de criticas, as quais contribuem, indubitavelmente, para o progresso da ciência. Sendo assim, já não se pode concluir pela existência de uma via direta que conduza a verdade definitiva. Isso, obviamente, só seria possível quando, de uma mutação radical, o humano se transformasse em divino. A crítica ao conhecimento científico traz implícita a noção de que, no futuro, todo o conhecimento da ciência pode ser negado. Destarte, é essa a razão pela qual o homem se encontra impossibilitado de esgotar todos os pontos de vista, conforme refere o autor. Logo, não há como afirmar a existência de um fundamento único para a ciência. Insistir nesse investimento seria, portanto, afastar-se daquilo que constitui o pano de fundo da ciência propriamente dita, a saber, a sua capacidade de mudar a si mesma. Na ciência – diga-se de passagem – a única coisa que permanece é a mudança.  
No segundo item, onde se discute sobre a “quantificação e experiências vividas”, um ponto importante que se pode destacar é a relação estabelecida entre o conhecimento e a realidade. Essa relação é mediada, pela conceitualização daquilo que está dado em uma dada realidade. A elaboração de conceitos se torna, assim, fundamental na ciência na medida em que exprime tanto uma realidade física, quanto social. Conceituar significa, aqui, restringir os fenômenos da realidade física o que, do ponto de vista lógico, facilita a compreensão. Desse modo, pode-se dizer que a conceitualização é, sem dúvida, uma das vertentes principais pela qual jorra o conhecimento cientifico.
Uma reflexão relevante que Freund traz a lume acerca de Webber é quando diz que “o fim da ciência [...] consiste na verdade para todos os que querem a verdade”. (FREUND, 1980, p. 35). Em outras palavras, isso equivale a falar que a ciência também busca a perfeição das coisas. O grande problema que pode ser levantado consiste em saber se realmente isso é possível ou não. A pergunta que quanto a isso se pode fazer é: caso a ciência encontre a perfeição – que se poderia, aqui, chamar de verdade – ela continuaria sendo ciência? De fato, como foi visto em momentos anteriores, a resposta a essa interrogação seria negativa.
Outro ponto que merece destaque nesse segundo item é a firmação de que “a experiência vivida nunca é como tal um conhecimento” (FREUND, 1980, p. 37). A razão disso seria o fato de que a experiência vivida vai está atrelada mais à questão do sensível, ou seja, da intuição. Nessa perspectiva, Freund refere que

Webber objeta que a intuição pertence a esfera do sentimento e que como tal, não é um conhecimento científico, pois este exige não somente uma elaboração e uma construção conceitual mas também, conceitos rigorosos. De maneia alguma o vago do vivido poderia substituí-lo, já que é pessoal, incomunicável, e refratário a compreensão. (FREUND, 1980, p. 37).

Sendo assim, o autor, com ênfase em Webber, refuta definitivamente a concepção dos teóricos que pretendiam estabelecer a intuição como fundamento da ciência. O que torna, portanto, essa pretensão inviável é, sobretudo, o fato de que ela carece daqueles elementos fundamentais pelos quais um conhecimento pode ser declarado cientifico.  
No item três, que discorre, especificamente, sobre a “causalidade, a relação com os valores e a interpretação”, o autor, centrado em Webber, objetiva essencialmente retificar, em princípio, todo o mal-entendido que se gerou a partir do emprego errôneo do princípio da causalidade. De acordo com ele

Uns identificam, por exemplo, causalidade e legalidade, no sentido em que só a condição capaz de ser subordinada a uma lei mereceria ser chamada causa. É um erro, diz Webber. Um efeito acidental depende tanto de causas quanto um fenômeno dito necessário, e no fundo, todas as coisas que se produzem no mundo deviam produzir-se da maneira como se manifestam e não de outra. (FREUND, 1980, p. 39-40)

Com isso, o autor está querendo mostra que fenomenologicamente as ações pelas quais as coisas aparecem são contrarias àquelas pelas quais elas se produzem. Desse modo, aquilo que em um dado momento aparece como causa, pode, em um momento anterior, ter aparecido como efeito e vive-versa. Nesse sentido, ele afirma que “tudo que é produzido, produz, por sua vez, uma ação” (FREUND, 1980, p. 40). Percebe-se, portanto, que em Webber, sejam quais forem os fenômenos (acidentais ou necessários) sempre haverá uma causa. Webber não rejeita, portanto, o princípio da causalidade. Resta, portanto, saber se essa causalidade de que ele trata tem alguma coisa haver com aquela de que trata as ciências da natureza.
No quarto item Freund vai tratar do “tipo ideal”, que segundo ele, foi uma noção criada por Webber “para dar aos conceitos utilizados pelo método um rigor suficiente” (FREUND, 1980, p. 48). O tipo ideal conforme refere o autor “designa o conjuntos dos conceitos que o especialista das ciências humanas constrói unicamente para os fins da pesquisa” (FREUND, 1980, p. 48). O tipo ideal é uma espécie de suporte a partir do qual uma abordagem da realidade – tanto por parte do sociólogo, quanto do historiador – se torna possível. Entretanto, ele (o tipo ideal) “não confere ainda rigor conceitual à questão estudada” (FREUND, 1980, p. 49). Desse modo, não se pode afirmar que o tipo ideal é suficiente para tornar um determinado fato da realidade um fato dito científico. A construção do tipo ideal parece seguir uma espécie de regra no sentido de que ele só pode ser formulado a partir da sistematização dos traços característicos e típicos de um dado fato ao qual se pretende estudar. É importante ressaltar que o tipo ideal usado no princípio de uma pesquisa pode ser suprimido ou substituído por outro que seja melhor e que corresponda melhor às expectativas do pesquisador. A grandeza do tipo ideal residi, sobretudo, no fato de que ele contribuir positivamente para eliminação da caoticidade da pesquisa, o que conseqüentemente favorece a coerência. O próprio ato da sua substituição quando ele se mostra inconveniente já é um exemplo dessa coerência. Em suma, o tipo ideal pode ser sucintamente definido como um meio que favorece ao pesquisador um conhecimento melhor do caminho a que segue.
No quinto item sub-intitulado “possibilidade objetiva e causa adequada”, o autor afirmar que “a objetividade se fundamenta, pois, em nosso saber positivo das condições existentes” (FREUND, 1980, p. 57). Essa concepção do autor se torna fundamental na medida em que corrobora o que foi dito acima sobre a formulação do tipo ideal.
No sexto e ultimo item que trata da “neutralidade axiológica”, o autor assegura que “foi a propósito da neutralidade axiológica que Webber divergiu, por vezes violentamente, da maioria dos especialistas da metodologia do seu tempo” (FREUND, 1980, p. 61). Nesse ponto, o autor ainda mostra que Webber não aceita que se apresente como verdades científicas convicções pessoais e subjetivas, sobretudo para que não se confunda as observações empíricas, passíveis de objeção do ponto de vista científico, com o julgamento de valor.  

Referência
FREUND, Julien. Sociologia de Max Webber. Trad. Luis Claudio de Castro e costa. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1980.           

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