sábado, 26 de junho de 2010

RESUMO DO CAPÍTULO I DO LIVRO "SOCIOLOGIA DE MAX WEBER"

-->
 Cap. I: AS VISÕES DO MUNDO (resumo)

O ponto central deste capítulo é a critica que o autor faz ao plano de uma ciência verdadeira e que, como tal, se pretenda absoluta e, desse modo, universal. Para fins de elucidação, poder-se-ia trazer a lume o seguinte questionamento: é possível falar de uma verdade definitiva no plano da filosofia, ou até mesmo da própria ciência?
Na constituição do pensamento sociológico, Max Weber é, sem duvida, um clássico digno de destaque. Discorrer a cerca do seu pensamento é uma tarefa que requer muito cuidado e dedicação, por parte do investigador, afim de que não se incorra em erros absurdos. Cumpre ressaltar que o conhecimento dos acontecimentos do contexto no qual vivera o autor é de suprema relevância para um conhecimento mais solido do mesmo.
No livro intitulado “Sociologia de Max Weber”, Julien Freund, com muita precisão em suas palavras, vem trazer magníficas contribuições para que o leitor possa entender, de fato, algumas noções, conceitos e discussões próprias do pensamento weberiano no que diz respeito à sua sociologia.
No primeiro capitulo deste livro, cujo título se lê “A visão do mundo”, e que aqui está sendo analisado minuciosamente, o autor, logo no início, apresenta uma das características do pensamento de Weber, a qual se divide em duas expressões, a saber, dispersão e antagonismo. A primeira que concerne aos campos da metodologia da ciência e da própria filosofia, tem como objetivo ressaltar a importância do “periférico” na medida em que não visa à centralização de um núcleo. Já o segundo, por sua vez, repousa a sua essência na irredutibilidade a que comporta frente a qualquer sistema. É essa reflexão inicial sobre a dispersão e o antagonismo, que vai dimensionar todo o capítulo e, portanto, estando na base de, praticamente, todas as outras reflexões, direta ou indiretamente.
Uma leitura superficial, sem aprofundamento, poderá conduzir o leitor a pensar Weber como um anti-sistemático, isto é, alguém que conduz o seu pensamento para uma determinada direção desorganizadamente sem se dá o trabalho de sistematizá-lo afim de atingir melhores resultados. Na perspectiva de evitar que o leitor incorra nesse erro, Julien Freund refere que Weber
Não era um adversário incondicional da sistematização de modo geral, mas considerava que no estado atual da ciência, exposta a incessantes correções, modificações e reviravoltas por força do caráter indefinido da pesquisa como tal, seria impossível edificar sistemas definitivos. (FREUND, 1980, p. 10).
O autor quer mostrar, portanto, a maneira como Weber analisa a ciência levando em conta o processo de mutação constante ao qual ela está o tempo todo exposta. Devido a essa mudança linear, se torna impossível estabelecer um sistema padrão universal que venha a ser impassível de revogabilidade. Daí se segue que devido a essa incompletude da ciência todo sistema não passa de um ponto de vista, o que tem por conseqüência a impossibilidade de generalizá-lo como modelo universal válido para todos os ramos do conhecimento. Na verdade essa tentativa de universalidade, caso seja atingida, o autor chega a classificá-las como anti-científicas, justamente por que, como ciência, aquilo que hoje tem certa validade, amanhã essa validade pode não ter tanta relevância assim, sendo, portanto, passível de ser ultrapassado.
Outro ponto importante deste capítulo, segundo o autor, diz respeito à separação que Weber estabelece entre valor e fato, que se torna importante, sobretudo, no campo das ciências humanas. Essa diferenciação, cabe ressaltar, objetiva em primeiro plano a eliminação de possíveis ambigüidades. O autor refere que o sentido da ação, no que diz respeito à pesquisa cientifica, reside justamente nos obstáculos que são propostos pela própria pesquisa, ou trabalho científico. Desse modo, diga-se de passagem, a validade do valor não pode ser determinada pela objetividade científica. A razão disso decorre principalmente do fato de que muitas vezes as escolhas que fazemos frente aos valores resultam de crenças e convicções que de certo modo são indispensáveis, inseparáveis e, em alguns casos, chegam até mesmo a ser intrínsecas à natureza do homem. Cumpre lembrar, no entanto que, se por um lado, as escolhas se relacionam com as crenças que se tem, ou se julga ter, por outro, não se pode negar a parcela de contribuição que a ciência da ao homem no que refere à compreensão dessas próprias escolhas. Percebe-se que ela não determina a escolha mas ajuda para que a mesma seja compreendida. Uma passagem bem interessante que traz o entendimento dos antagonismos e dos valores que, todavia, são diversos, é quando Freund diz que “à multiplicidade e ao antagonismo dos valores e dos fins correspondem à multiplicidade e o antagonismo dos pontos de vista sob os quais um fenômeno se deixa explicar cientificamente” (FREUND, 1980, P 11). Aqui o autor faz perceber que Weber, de algum modo está estabelecendo um paralelo, ou uma relação entre teoria e prática, entre ciência e ação, de modo que muitos dos desajustes que dá segunda podem advir, a primeira pode evitá-los.
Refletindo sobre a realidade propriamente dita, o autor afirma que “a realidade é incomensurável ao poder do nosso entendimento, de maneira que este nunca cessou de explorar os acontecimentos” (FREUND, 1980, p 12). Ou seja, a realidade não pode ser medida pelo entendimento justamente pela razão de que ele,sendo limitado, não favorece ao homem levar em conta a totalidade da realidade no momento do agir. Embora o entendimento não reproduza a realidade do ponto de vista daquilo que já está dado, ele pode muito bem fazê-lo por força dos conceitos. Daí o autor refere a distancia que há entre o conceito e o real, que segundo ele, é infinita, ou seja, jamais será suprimida. Sendo assim, embora a busca pelo conhecimento traga a necessidade do uso de conceitos, mesmo assim, esses ainda continuam inaptos à reprodução do real em sua integridade. Desse modo, não se pode concluir como verdadeira qualquer proposição que venha a afirmar conveniente a generalização de um método no estudo da sociologia, ou das ciências humanas. Quanto a isso, o autor refere que
Weber se opõe incisivamente a todos os sistemas, sejam eles classificadores, dialéticos ou outros, os quais depois de construírem uma teia de conceitos tão densa quanto possível, acreditam estar em condição de daí extrair a realidade (FREUND, 1980, p 13).
Essa contraposição de Weber a esses sistemas se dá, sobretudo, pelo fato de que esses não passam de pontos de vista. Ou seja, são como que ângulos a partir dos quais se pode ter apenas uma visão do mundo que, por cima de tudo, ainda é fragmentada e limitada pelas barreiras do mundo empírico.
No item dois, o autor vai chamar a atenção para dois aspectos, por ele observados, nas sociologias do sec. XIX. O primeiro é o seu caráter doutrinário, e o segundo seu caráter reformador. Ambos emergem, sobretudo, em detrimento do científico, segundo o autor. E isso se percebe em, autores como Marx, Comte e Spencer. Dado esse momento, Freund refere que foi com Durkheim que se lançaram as bases para o surgimento de uma sociologia, que também foi entendida como ciência positiva. Nisso residiria, portanto, o mérito de Durkheim.
Um ponto que merece destaque é quando o autor cita Weber como seno “o primeiro a ter implantado na prática a sociologia sobre bases rigorosamente cientificas” (FREUND, 1980, p 15). Ou seja, Weber foi o primeiro a fazer uso de uma teoria que Durkheim foi, por excelência, o iniciador. O autor destaca que
O certo é que no ano 1895 em que ele (Durkheim) publica as “Regras do método sociológico", Weber era professor na universidade de Fribourg-en-Brisgau e se ocupava muito mais de problemas de economia política e de política social do que sociológica.(FREUND, 1980, p. 14).
Notemos, portanto, que de início Weber está preocupado com outras questões, ao passo que Durkheim já era um teórico da sociologia.
No item três, o autor à luz de Weber, vai definir a idéia de que, dada a sua racionalização, o mundo perde, portanto, a sua sacralidade, sobretudo porque esse caráter racional da (que se constitui como uma espécie de aprimoramento da ciência, e que era própria da civilização ocidental) consistia em uma nova forma de organizar a vida levando em conta a relação do homem com o meio que o circunda. Diante dessa inovação introduzida pela racionalização, o autor refere que ela ainda não estava apta a representar um progresso, principalmente pelo fato de que ela dava somente o conhecimento das coisas, mas nunca o conhecimento das razões pelas quais essas mesmas coisas vinham a funcionar. Freund não nega o progresso, entretanto, reconhece que ele não está em toda parte, mas somente naquelas cujas ordens obedecem às leis. Ou seja, o progresso encontra no cumprimento das leis a sua grande dependência.
No item quatro, que trata do antagonismo dos valores, há uma sucinta reflexão sobre a irracionalidade, já que com a civilização ocidental o mundo se colocou sobre o trono da racionalização. O autor parte do princípio de que com o crescimento da racionalização, o irracional reforça-se ainda mais. Ele diz que essa é “uma idéia mestra que, embora Weber não tenha manifestado em nenhuma ocasião com nitidez, domina toda a sua filosofia” (FREUND, 1980, p. 24).
Freund faz perceber que duas são as fontes de onde decorre a irracionalidade. “A primeira é a própria vida humana em sua dimensão afetiva, e a segunda é a relação do homem como poder” (cf. p. 25). Ele defende a idéia de que é a partir do choque entre os diversos valores que a irracionalidade se sustenta e permanece. Esse choque é também reflexo das escolhas feitas frente aos valores, as quais também são geradoras de conflitos. O autor conclui pela insuperabilidade dos antagonismos dos valores, ressaltando que eles podem ser encontrados em todos os níveis da atividade humana.        

REFERÊNCIA
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1980.












               

Um comentário:

  1. Olá, Fábio! Tudo bem?
    Estou às voltas aqui pela net pesquisando quem escreveu a orelha da quinta edição brasileira deste livro do Julien Freund, Sociologia de Max Weber, de 2010. Será que você saberia me dizer? Se possível, entre em contato comigo pelo meu e-mail: padaretz@hotmail.com
    Um abraço.
    Grata,
    Nathalia.

    ResponderExcluir

quick search