terça-feira, 8 de junho de 2010

POLÍTICA E SOCIEDADE: CRITÉRIOS PARA DISTINGUIR APARENCIA E REALIDADE


        FÁBIO COIMBRA[1]


A política é – sem sombra de dúvida – uma das mais importantes dimensões da existência humana em todo o seu percurso histórico.
Em tempos antigos já havia uma profunda e dedicada reflexão sobre a política e seus eventuais atributos.
        Muitos foram aqueles que se deram o árduo trabalho de analisá-la do ponto de vista da práxis e da teoria. Foram justamente esses pensadores que iniciaram e, portanto, instituíram aquilo que se convencionou chamar de FILOSOFIA POLÍTICA.
        Platão, por exemplo, no Livro Sete de A REPÚBLICA”, onde trata do mito da caverna, chama-nos a atenção para mostrar que, no universo político, o real, isto é, a realidade verdadeira, nem sempre é aquilo tal como se nos aparece. Ou seja, - no horizonte de uma ótica contextualizadora – pode-se dizer que uma coisa é aquilo que nós vemos e escutamos dos nossos políticos, outra coisa é aquilo que está por traz dessa fala e dessa aparência.
        Nicolau Maquiavel, filósofo da política e cidadão romano do período renascentista, na obra “O PRÍNCIPE”, aborda muito bem essa questão da aparência, pois, é dever e obrigação do príncipe, ou seja, daquele que governa cuidar e zelar o máximo possível da sua imagem. O segredo aqui, portanto, parece consistir em ser, pois aquilo que na verdade não se é, porque, de fato (de acordo com Maquiavel), o povo julga a partir daquilo que vê sem se dar o trabalho da avançar para além daquilo que aparece. Para isso, o governante usa de inúmeros meios, não importando quais sejam eles, pois, o seu objetivo é se manter no poder. Uma frase muito conhecida, nesse sentido, é, portanto, os fins justificam os meios. Em geral costuma-se atribuir essa frase à autoria de Maquiavel, muito embora ele nunca a tenha pronunciado, talvez nem mesmo tivesse chegado a conhecê-la ou escutado, tal como nós hoje.
        Em síntese, se o real nem sempre é aquilo que aparece, e a imagem e a fala, muitas vezes, comportam uma identidade que se oculta, ou seja, que não se dá a conhecer tornando-se, desse modo, escudo de interesses particulares, que perpassa a nossa simples e deficiente visão, o problema aqui consiste, pois, em saber como distinguir o verdadeiro do falso. Isso é difícil, mas não é impossível. Vejamos como fazer isso, quando o assunto é eleição, por exemplo.
        Para decidir um voto leve em consideração alguns critérios:
        1º Ouça o/a candidato/a falar (geralmente os discursos são carregados de emoção, sentimento e ilusão, ou seja, falácias, em outros termos, argumentos falsos).
        2º retire da fala do/a candidato/a toda a carga falaciosa, de modo que a fala fique pura, isto é, destituída de todo e qualquer tipo de falsidade (quando se faz isso, percebe-se logo que a fala longa, cheia de promessa etc., diminui muito, isto é, quando sobra alguma coisa).
        3º analise a compatibilidade que há entre aquilo que sobrou da fala e a realidade verdadeira (ou seja, veja em que sentido aquilo que foi dito pode contribuir para que uma mudança significante possa acontecer etc.).
        4º analise o perfil moral da fala e a conduta ética do/a candidato/a (nunca aplauda candidato/a que sobe num palanque para destruir e esculhambar os demais concorrentes. Pois ali eles expressam muito claramente a sua incompetência para administrar, como também a sua ambição pelo poder. Aquele que governa, nunca governa para si, nem governa os outros. Veja, então, o que diz o filósofo suíço Jean- Jacques Rousseau, no livro “O CONTRATO SOCIAL”: “ o homem nasceu livre, e não obstante, está acorrentado em toda a parte. Julga-se senhor dos demais seres sem deixar de ser tão escravo como eles” (Rousseau). Ou seja, o governante é apenas uma pessoa incumbida de promover o bem de todos. Se ele não cumpre com essa função e se mostra incompetente para o exercício da mesma, então porque apostar nele?
        O seu voto é o seu escudo e a sua consciência é o elemento primordial para o início de uma mudança.
        Nunca é errado pensar sempre mais. Reflita sobre a cidadania, estabeleça escolhas, tome decisões e contribua para mudar essa drástica e terrível realidade.
        Nunca caia no pessimismo. Nunca pense que na política não exista pessoas honestas, existe sim, o que temos que fazer é tirar dos nossos olhos a lama que nos impede de ver e detectar quem são e onde estão esses seres honestos.
        Procure adquirir e analisar a realidade com os olhos do intelecto, pois, somente eles podem transcender e conduzir para além daquilo que aparece, fazendo com que se conheça, portanto, a realidade verdadeira tal com ela é.


    












[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

Nenhum comentário:

Postar um comentário

quick search