sábado, 26 de junho de 2010

A FRAGILIDADE DOS NEGÓCIOS HUMANOS IN: HANNAH ARENDT


A FRAGILIDADE DOS NEGÓCIOS HUMANOS[1]
Fábio Coimbra

O ponto central deste tópico tratado por Hannah Arendt é a elucidação da impossibilidade da construção de bases, ou estruturas que, de modo absoluto, assegure definitivamente a estabilidade dos negócios humanos.                                            
A propósito do presente problema, Hannah Arendt parte de uma reflexão sobre o ser (que aqui ela chama de agente) e a ação. A ação – que sempre se renova na medida em que aparece sob a forma de uma reação – é vista, por ela, como algo dotado da capacidade, ou dos requisitos básicos, para o estabelecimento de relações. Devido a esse caráter, é que a ação possui perfeitas condições de transcender os limites impostos, por exemplo, pela própria lei, bem como as fronteiras territoriais que distinguem um povo de outro. Nesse aspecto, um ponto relevante que aqui vem a lume é quando ela diz que “o menor dos atos, nas circunstâncias mais limitadas, traz em si a semente da mesma ilimitação, pois basta um ato e, as vezes, uma palavra para mudar todo um conjunto” (p. 203). Isso significa que um conjunto – que neste raciocínio pode ser tomado como sendo a realidade – nunca está totalmente acabado, ou fechado para a mudança. E isso procede dessa maneira justamente, por causa dessa ilimitação das relações que se origina por meio dos atos.
Ora, é nesse sentido, então, que Arendt refere que “os limites e fronteiras que existem na esfera dos negócios humanos jamais chegam a constituir estrutura capaz de resistir com segurança ao impacto com que cada nova geração vem ao mundo” (p. 204). A fragilidade dos negócios humanos se deve, portanto, a esse fluxo de mudança contínua que não encontra limites em nada. É devido a isso que não há como construir bases, ou estruturas capazes de estabilizar esses negócios, o que, por conseguinte, lhes tornam frágeis. A autora não ignora a relevância de meios que pretendem estabilizar esses empreendimentos (negócios). Todavia, reconhece que esses (os meios) não são absolutamente eficazes ao refreamento dos ânimos, ou da ação oriunda do interior do próprio corpo político, por exemplo. Ou seja, por mais que se tente barrar aos negócios humanos a ação do exterior (e até se consiga, certas vezes) há, no entanto, o desafio de obter esse mesmo êxito na esfera do interior, o que, segundo a autora, é praticamente impossível.     


[1] ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1983. 

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