sábado, 26 de junho de 2010

RESUMO DO CAPÍTULO III DO LIVRO "SOCIOLOGIA DE MAX WEBER"


Cap. III: A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA (resumo)

Resumo dos itens I (a noção de sociologia compreensiva) e II (a compreensão) do capítulo 3

Depois de ter discorrido sobre “A metodologia” no segundo capítulo, onde enfatizou, em sua reflexão, especificamente, os métodos generalizante e individualizante, respectivamente correspondentes aos métodos naturalista e histórico, o autor, em linearidade ao seu raciocínio, aborda neste terceiro capítulo (cujo título lê-se “A Sociologia compreensiva”) a problemática referente à compreensão da atividade social. Dos seis itens que estruturam o presente capítulo, dois são tomados aqui, especificamente, onde serão analisados minuciosamente. No primeiro item – sub-intitulado “A noção de sociologia compreensiva” –, em linhas gerais, Freund faz uma reflexão em dois momentos específicos do seu raciocínio. No primeiro, ele trata de caracterizar a Sociologia a fim de poder defini-la com mais precisão. Já no segundo momento ele vai definir o que é a compreensão, como ela é feita, para que ela serve etc.
Em princípio, o autor mostra que “a definição que comumente se dá de Sociologia é a seguinte: é a ciência dos fatos sociais. As dificuldades e as divergências e confusões se produzem quando se trata de precisar a noção de fato social (FREUND, 1980, p. 67).
Nessa concepção, vê-se que o cenário de realização da Sociologia é a própria sociedade que, por sua vez, figura como o grande palco da ação humana, das relações sociais, dos conflitos e de todos os acontecimentos e ações provenientes das ações do homem. É nessa perspectiva que o autor vai dizer que “denominamos fatos sociais o conjuntos das estruturas da sociedade, das instituições e dos costumes, das crenças coletivas etc.” (FREUND, 1980, p. 67). Desse modo, pode-se dizer que o fato social é todo aquele devir, ou aquela dinâmica social indissoluvelmente atrelada à ação humana.
Um ponto relevante levantado pelo autor é a contraposição de Weber em relação ao Durkheim em se tratando da divisão da sociologia. De acordo com Freund, em Durkheim

A Sociologia se divide em duas partes principais: de um lado, a morfologia social, que tem por fim descrever as estruturas com base em seu condicionamento geográfico, ecológico, demográfico, econômico etc. e de outro lado, a fisiologia social, cujo objetivo é o estudo do funcionamento dessas estruturas para descobrir as leis de sua evolução. (FREUND, 1980, p. 67).

Perceber-se, portanto, no pensamento de Durkheim, certa possibilidade de independência da dinâmica social em relação à ação humana. É como se “os fatos sociais se desenvolvessem por si sós, como se obedecessem a uma dinâmica interna, fora da participação” (FREUND, 1980, p. 67). Para refutar essa concepção e aprofundar enfaticamente o pensamento weberiano, Freund refere que “A originalidade de Weber é não ter ele cortado as estruturas e instituições sociais da atividade multiforme do homem, que é ao mesmo tempo o seu obreiro e o dono de sua instituição” (FREUND, 1980, p. 68). Ou seja, percebe-se que em Weber há uma inextrincável relação entre o homem (ou sua ação) e o conjunto, ou a totalidade, das instituições sociais, as quais resultam diretamente da própria atitude, vontade e relação dos homens entre si. Nessa perspectiva, o homem é o grande criador das suas próprias instituições. É ele quem determina o sentido e o significado delas. E é justamente nessas instituições que eles constroem e destroem as relações sociais. O que interessa, portanto, para Weber é o conhecimento de como os homens se relacionam na sociedade. A partir do entendimento dessas relações, que não são estáticas, mas mudam gradativamente de acordo com o contexto e o curso dos acontecimentos é que se pode entender como se dá o processo de mutação das próprias instituições criadas pelos homens e que sofrem a influência de concepções diversas em tempos diferentes.
Segundo Freund, “o que lhe interessa (para Weber) é como o homem se comporta na comunidade e na sociedade, como forma essas relações e as transformas” (FREUND, 1980, p. 68). Ora, nesse sentido, o que o autor está querendo mostrar é que a compreensão, ou o entendimento, da dinâmica social com todas as suas instituições passa por uma ação primeira que consiste em conhecer o homem que habita uma determinada sociedade. O autor refere que “contentar-se como estudar a evolução de uma instituição unicamente no aspecto exterior, independe do que ela vem a ser pela ação do homem, é fugir a um aspecto capital da vida social” (FREUND, 1980, p. 68). Com essa reflexão, Freund ratifica a idéia de que a compreensão das instituições se torna impassível de ser captada enquanto desvinculada da ação humana.
Outro aspecto que aqui convém precisar é a articulação deste terceiro capitulo com o anterior. Essa ligação se dá quando neste o autor volta a tratar do método onde diz que 

Qualquer ciência pode proceder, segundo as necessidades de sua pesquisa, pelo método generalizante ou pelo método individualizante. Desde que o exame científico do problema permaneça aberto e não feche questões em nome de preconceitos e de prescrições filosófica a priori, não há motivo para que a Sociologia despreze o singular. (FREUND, 1980, p. 69).

Desse modo, o autor está pretendendo a confirmação daquela idéia anterior de Weber de que – na busca pela obtenção dos fins, a que pretende atingir – a ciência pode se valer tanto de um método quanto de outro, entretanto, não pode sobrepor um ao outro. Nesse sentido, é o andamento da pesquisa que vai dizer qual método deve ser usado, levando em consideração o contexto e a inconstância das concepções e ocorrências. O autor reconhece que isso também se aplica às ciências sociais. Tanto é que ele afirma que “é [...] um erro vedar à sociologia certos meios de investigação capazes de enriquecer nosso saber”. (FREUND, 1980, p. 69). Ou seja, não há uma unicidade metodológica, assim também como não há uma única ciência que dê conta da totalidade da realidade. Há, por conseguinte, como é sabido, diversas ciências, as quais estudam determinados setores da sociedade, ou até mesmo da natureza, a partir de diversos pontos de vista. É nesse sentido que Weber vai se tornar um defensor da interdisciplinaridade. Sendo assim, Freund refere que “respeitando a autonomia de cada ciência, cada qual esperando um setor determinado da realidade em virtude de um ponto de vista específico, Weber insiste na interação inevitável entre todas as disciplinas” (FREUND, 1980, p. 70). O autor insinua, portanto, que os resultados obtidos por uma ciência em sua pesquisa, podem até mesmo servir e contribuir relevantemente para a pesquisa de outra.
A Astronomia, por exemplo, estuda os astros e corpos celestes, tais como meteoros, cometas, asteróides etc. Em seus estudos os astrônomos determinam ou descobrem que daqui a 10 anos um choque inevitável vai ocorrer entre um elemento que se move no espaço e a terra, em cuja direção aquele se dirige. Com mais exatidão, os astrônomos descobrem que essa coalizão vai ocorrer em determinado centro de uma determinada cidade, por exemplo. Ora, não sendo imediato o acontecimento em relação à sua descoberta ou previsão, há, portanto, um lapso de tempo suficiente para que o cientista social estude basicamente toda as transformações que esse evento provocará na sociedade, como, por exemplo, a remoção do povo da cidade que será atingida para outra que seja segura; como isso deve ser feito; de que forma isso repercutirá na economia, nas relações sociais, nas instituições jurídicas e políticas daquela cidade que vai receber os desabrigados, etc. É justamente nesse sentido que os resultados da pesquisa de uma ciência contribui para o estudo ou análise de outra. É nessa perspectiva, portanto, que Weber defende uma interação entre as disciplinas, que aqui podem ser entendida como sendo as diversas ciências que existem. O autor, destarte, está insinuando que não há como fazer Sociologia, por exemplo, se não se procura relacioná-la com as demais disciplinas.
Feitas essas considerações, Freund encaminha o seu raciocínio rumo aquilo que constitui o seu objetivo neste primeiro item, qual seja, a definição da sociologia.
Chamamos sociologia (e é neste sentido que tomamos este termo de significação as mais diversas) uma ciência cujo objetivo é compreender pela interpretação [...] a atividade social, para em seguida explicar causalmente o desenvolvimento e os efeitos dessa atividade (FREUND, 1980, p. 71).    

A noção de causalidade, aqui introduzida, cabe ressaltar, não pode ser compreendida com a mesma conotação a que esse termo equivale, ou significa, no âmbito das ciências naturais. No pensamento sociológico weberiano, a determinação das causas dos acontecimentos não se dá pelo advento dos efeitos a que elas produzem, mas sim pela compreensão deste. Weber faz o caminho inverso em relação à procedência das ciências naturais. Ele não nega a causalidade, mas introduz antes a compreensão, que vem a lume como precedente ao processo de determinação causal.
No segundo item, Freund orienta sua reflexão em torno da questão referente à compreensão. Neste, o objetivo dele é mostrar que, em Weber “a compreensão não passa de um meio auxiliar que torna mais fácil a descoberta do sentido” (FREUND, 1980, p. 76). Ou seja, compreender algo significa, justamente, descobrir o seu sentido. Nessa perspectiva, a própria compreensão já se apresenta, então, como um método, ou seja, um caminho que conduz ao descobrimento do sentido primeiro e originador da ação.
Ora, sendo a compreensão um método, Weber, segundo Freund, volta a sua preocupação justamente para a determinação da validade científica dela, pois, embora seja necessária, sozinha ela não leva à instituição de uma proposição científica. Nesse sentido, o autor refere que “a questão weberiana é pois a seguinte: em que medida a compreensão é um processo capaz de elaborar em sociologia verdades válidas para todas os que querem a verdade?”. (FREUND, 1980, p. 72). Essa problemática levantada pelo autor a propósito da construção de verdades válidas de algum modo aparece como contraste em relação à procedência das ciências naturais no que a esse mesmo assunto (verdade válida) diz respeito.
Nas ciências da natureza, por exemplo, a pretensão da busca, ou do alcance, da verdade pressupõe, incondicionalmente, a procura da relação que se dá entre causa e efeito. Na perspectiva das ciências sociais, o processo é feito de forma diferente. Nessa ciência, o que importa é compreender o sentido da ação e não a relação causa-efeito. É pela compreensão do sentido que melhor de pode chegar à compreensão da causalidade. Ou seja, para que se chegue ao conhecimento da causa é preciso compreender. Compreender, nesse caso, significa captar a evidência no sentido de uma atividade. Sendo assim, Freund refere que

A evidência comporta, todavia, graus variáveis de acordo com os casos. O grau mais elevado consiste na compreensão intelectual de uma atividade racional [...]. Compreendemos, com uma evidência simplesmente suficiente, as experiências alheias que estamos em condições de reviver [...]. (FREUND, 1980, p. 74).

A revivescência é, portanto, um aspecto fundamental, todavia, se situa apenas no feitio particular da compreensão. Desse modo, a interpretação a partir dela não comporta um grau elevado de significação. Sendo assim, “[...] a compreensão só pode confiar nas conclusões estabelecidas pela ciência [...]”. (FREUND, 1980, p. 74). A revivescência liga-se exclusivamente a fatores de natureza interna e, portanto, subjetivo. Desse modo a compreensão que daí decorre, carece de objetividade e até mesmo de rigor, o contrário do que ocorre na ciência. É nesse sentido que o autor afirma que “o grau mais elevado (da evidência) consiste na compreensão intelectual de uma atividade racional” (FREUND, 1980, p. 74). Com a racionalidade, a ciência mantém uma relação indissociável. É nesse contexto que a revivescência (por favorecer a compreensão no aspecto irracional) não alcança a validade científica.
Em suma, no que diz respeito a essa reflexão, o autor refere que “a compreensão nunca é senão um método auxiliar útil; não é, porém, indispensável. Facilita o trabalho do sociólogo, ajuda-o a resolver problemas de que ele jamais suspeitara sem ela, talvez; mas não é a ultima palavra da metodologia” (FREUND, 1980, p. 75).
O autor, portanto, não nega a importância da compreensão para a atividade do pesquisador das ciências sociais. Entretanto insinua que ela ainda precisa ser melhorada.

REFERENCIA  
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Trad. Luis Cláudio de Castro e Costa. Ed. 3. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1980. 

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