sábado, 12 de junho de 2010

“A POLÍTICA EDUCACIONAL DO BANCO MUNDIAL”



SILVA, Maria Abadia da. Intervenção e consentimento: a política educacional do Banco Mundial. Campinas: FAPESP, 2002.

- Este estudo afirma que as políticas de educação básica estão alinhando-se, cada vez, mas, às políticas e às estratégias deliberadas e aprovadas pelo Banco Mundial. A tese defendida é que a intervenção das instituições financeiras internacionais nas políticas para a educação básica pública, advindas de anos anteriores e aceleradas pelas circunstâncias internacionais das ultimas décadas conta com o consentimento do governo federal, de parte dos estaduais, e das elites dirigentes para a sua efetivação. Sob a aparência de políticas para a realidade nacional, tem captado e introjetado o ideário político e filosófico externo. Especialmente nas décadas de 1980 e 1990, com a anuência do governo federal, dos ministros e dos secretários dos estados, ainda que ocorram resistências dos sindicatos, associações, de partidos de esquerdas e das entidades não governamentais. ”(pág. 81)
- Em relação aos anteriores, nos anos de 1990, os documentos do Banco Mundial (1992 a, 1995 a, 1995 c), afirmam categoricamente as políticas setoriais para os distintos níveis e modalidades de ensino. Quantos aos conceitos analíticos o banco faz uma reconceituação das necessidades básicas de aprendizagem e da pobreza, segundo os interesses político-ideológicos e resultados prescritos a priori... ”(pág. 83)
- No decorrer da analise dos documentos encontraram-se as exigências estabelecidas na minuta de negociação e no manual de operação e implantação de projetos e os princípios, objetivos e estratégias educacionais, como, por exemplo, o aumento do tempo escolar, a ampliação da duração do ciclo escolar, o aumento da capacidade de aprendizagem dos alunos. O apoio à educação pré-escolar, a melhoria do ambiente de sala de aula, apoio ao sistema de saúde e nutrição, a melhoria da capacidade dos docentes, a melhor capacitação das habilidades pedagógicas e incrementos para ensinar, a reestruturação administrativa e organizacional com desmembramento do sistema, desenvolvimento das competências administrativas, criação do sistema de avaliação por desempenho, o provimento de sistema de informações que contemplem eficiências e organizacional, a persuasão dos pais acerca do valor da educação e a mobilização da comunidade para os proventos econômicos. Não são raros os casos em que as escolas carecem de serviço de manutenção básico e, neste caso, a comunidade assume um  serviço que é de responsabilidade dos poderes constituídos. No trecho abaixo, constata-se a transferências da responsabilidade pelo custo da educação publica à comunidade e aos pais.”( pág.84)       
- Por volta de 1995, o Banco Mundial seguia nas seguintes frentes: colaborar com os países para que seus habitantes tivessem maior acesso a serviços de qualidades e mais eficazes em função dos custos, desenvolver programas de saúde e educação dirigidos às crianças, aplicar um política democrática e a oferta de serviço de planejamento familiar e educação para a mulher, incrementar programas direcionados à eliminação dos obstáculos que impedem a participação da mulher no desenvolvimento econômico, reunir esforço que assegurasse uma educação primaria de boa qualidade a todos e um conjuntos mínimo de um serviço de saúde eficiente em função dos custos e acabar com a desnutrição (Banco Mundial,1995d).”( pág. 86)
- Um dado a ser ressaltado no documento é a referencia à dura  fiscalização  do governo sobre as escolas privadas, inibindo-as e dificultando sua participação no desenvolvimento no  livre mercado e de serem conduzidas pela mão invisível. Segundo Friedman, “o crescimento da educação desviou-a do caminho originário destinado a forma elite do poder ou dar a cada um o que a formação social que lhe destinava. Por outro lado, o desenvolvimento do sistema estatal reflete-se no surgimento de grandes instituições educativas que limitam as possibilidades de escolha do consumidor, ao impedir o desenvolvimento das unidades menores de oferta adaptadas a varias expectativas de país” (Friedman, 1980). Na verdade, o que está posto no argumento dos gestores externos é o principio da competitividade e o livre mercado defendido por Friedrich Hayek (1977) e Milton Friedman (1985), tratando a educação como mercadoria a ser comprada e negociada de acordo com as forças  do mercado omitindo os custos sociais numa sociedade de classe em que os serviços públicos sabiamente não rendem lucro, e por isso os clássicos do liberalismo haviam atribuído ao Estado a responsabilidade de sua oferta publica. Segundo entrevista do Sr. Gary Becker, premio Nobel de economia de 1992, “o financiamento do ensino superior em detrimento dos estágios básicos é considerado um equivoco. Os governos que assim o fazem estão subsidiando as pessoas erradas. O papel do governo na promoção do capital humano é garantir o ensino primário e secundário, que dê conhecimentos gerais ás pessoas”. É nessa lógica credencialista para a educação publica que os gestores das instituições externas fundam  seus princípios tornando-os equivalentes aos nacionais, com anuências dos membros do ministério e das secretarias da educação”. 

2.3             Anos de 1990: mudanças nas políticas educacionais do Banco Mundial

- o secretário de educação não atua diferentemente, é apenas um condutor da ideologia dominante e do aparato jurídico institucional para enquadrar toda a comunidade escolar nos modelos desejados (p. 95).
- mesmo com distorções, resistências, modificações e impossibilidades físicas, técnicas ou humanas, todas as escolas são controladas e reordenadas. (p. 95).
- uma síntese crítico-reflexiva demonstra que as políticas sociais, entre elas as políticas educacionais, são estabelecidas pelas instituições financeiras internacionais, com a anuência dos governos e das elites conservadoras locais. (p. 96).
- para elaborá-las, hierarquizá-las e priorizá-las, ocorrem os embates político-econômicos e ideológicos entre as prescrições externas, os pactos político-partidários de origem estatal empresariam e a sociedade civil representada pelos cidadãos e pelas entidades acadêmicas e sindicais. (p. 96).
- nesse sentido, intervir significas interpor sua autoridade a favor de seus interesses. (p. 96).
- essa prática de intervenção externa tem sido utilizada pelos Estados industrializados para lograr a predominância de suas políticas. (p. 96).
- a via da intervenção acelerou-se, na década de 1980, por meio das ações diretas e sistemáticas, acrescidas dos empréstimos solicitados, prioritariamente, ao Banco Mundial, que passou a ser com o Fundo Monetário, o principal ator na determinação de políticas econômicas e socioeducacionais. (p. 96).
- os projetos do Banco Mundial são de intervenção sistemática e seus padrões de empréstimos e de juros condicionam os devedores a estudos preliminares e a resultados a serem alcançados. (p. 96).
- um dos mecanismos de intervenção sistemática foi desqualificar a produção do conhecimento e da ciência dos Estados latino-americanos. Os economistas e técnicos do Banco Mundial propuseram as seguintes medidas: reduzir o subsídio aos estudantes e cobrar pagamento de matrícula, de mensalidades e de serviço com a finalidade de reduzir o excesso de demanda para o ensino médio e superior e inibir que grande proporção de alunos matriculados abandonem seus estudos. (p. 97).
- para o Banco Mundial, a estratégia política funda-se numa política educacional de auto-sustentação financeira, mediante redução de provimentos públicos e do incremento com o setor produtivo, estabelecendo vínculos e parcerias das escolas de ensino médio e das universidades com as empresas privadas e redireciona as demandas para as modalidades posteriores, desconsiderando toda a complexidade do processo. (p. 97).
- o Banco Mundial opõe-se às políticas de gratuidade para os níveis médio e superior, determinando que se contenham a demanda, particularmente ao nível superior: divulga amplamente, como, política para o ensino superior, procedimentos fundados na produtividade e na racionalidade técnica para aferir produção de conhecimento; propõem o fim da gratuidade para os estudantes, incluindo: cobrança de taxas, pagamentos para participação em curso e contenção de recursos para serviço de participação  e moradia. (p. 97-98).
- nada foi mencionado quanto à produção cientifica e tecnológica enquanto principio de autonomia e de soberania nacional. (p. 98).
- as reformas do FMI / Banco Mundial desmantelam brutamente os setores sociais dos países em desenvolvimento, anulando os esforços e as lutas do período pós-colonial e revertendo com uma canetada o progresso já conseguido. (p. 99).
- o Banco Mundial, juntamente com o Fundo Monetário, impôs o ajuste estrutural às economias devedoras durante os anos de 1980. (p. 100).
- a aplicação desses princípios, defendidos pelos gestores externos como necessários, e a sua reaplicação na educação publica delineiam a intervenção calcada nas seguintes políticas: ênfase no ensino fundamental em detrimentos dos demais níveis, nenhum acréscimo da parcela do PIB para a educação, currículo direcionado para o mercado e para o consumo de produtos importados, centralização dos conteúdos básicos – parâmetros curriculares nacionais, flexibilização das formas de contratação de professores, privatização gradual do ensino médio e superior, reclassificação dos alunos etc. somam-se ainda, os programas de educação à distância, os telecursos 2000 e a terceirização de serviços escolares. (p. 100).
- essas políticas, fundadas no pressuposto de que a educação pública deve ser definida pelos instrumentos do mercado, revelam de uma parte, a utilização da educação pública como instrumento de intervenção eficaz. (p. 100).
- em cada estado e nos municípios, as políticas para a educação básica pública implementadas refletem a intervenção da política macroeconômica externa, como resultado da incapacidade dos governos para gerar e produzir políticas sociais e educacionais independentes, mas soberanas. (p. 100).

4.            A ATUAÇÃO DO BANCO MUNDIAL NA FORMAÇÃO DE POLÍTICAS E PROJETOS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA

- alem dos recursos financeiros, o Banco Mundial tornou-se a inteligência auxiliar dos governos latino-americanos na elaboração de programas, de projetos setoriais de desenvolvimento, de combate à pobreza, de reforma agrária com financiamento de compra das terras (p. 101).
- no período de 1985-1994, com o acirramento dos desajustes sociais e econômicos, no âmbito interno, houve predominância das políticas e das estratégias do Banco Mundial, incorporadas pelo Estado da America Latina prestadores, gerando modificações na organização, no funcionamento e no financiamento da educação pública (p. 101).
- a aproximação entre as duas equipes acentuo-se nos anos de 1990, durante o governo de Fernanda Collor (1990-92), quando aderiu aos postulados neoliberais prescritos no consenso de Washington. Na presidência tomou medidas quanto à liberalização comercial, à política indústria e à legislação brasileira no campo da informática (p. 102).
- quanto aos dados percentuais para a educação, no período de 1987-1994, eles passaram de 2% para 29% do total de empréstimos realizados pelo Banco Mundial (p. 102).
- do ponto de vista econômico, tradicionalmente o país internacionalizou-se à custa da dependência, dos financiamentos externos e dos constantes déficits na balança de pagamentos (p. 102).
- nos anos de 1990, estreitou-se a aproximação sistemática entre as duas equipes e o resultado pode ser verificado na aprovação de seis projetos para a educação básica pública com contrapartida dos estados, dos municípios e da FNDE (p. 103).
- nas ultimas décadas, os projetos acordados foram: Projeto Inovações no Ensino Básico do Estado de São Paulo, Projeto de Qualidade no Ensino no Paraná, Projeto de Educação Básica do Estado de Espírito Santo, Projeto Pró-Qualidade do Estado de Minas Gerais, Projeto Nordeste II, Projeto Nordeste III. O que mais incomoda nestes projetos é a nula transparência do conteúdo destes acordos (p. 103).
- os trâmites legais entre o Banco Mundial e o governo do Brasil estão efetivados no documento “Estratégia de Assistência ao País” (p. 103).
- no documento “Estratégia de Assistência do País”, estão prescritos a estabilização econômica, o desenvolvimento e as reformas institucionais (p. 104)
- os anos de 1990 reproduziram os insucessos econômicos e sociais. Os programas de ajustes estruturais para a estabilização da economia brasileira encontram-se num dilema: como explicar a estabilização temporária dos preços e o fracasso simultâneo nas áreas de crescimento econômico e da justiça social (p. 105).
- em seus discursos, os gestores do Banco Mundial exigem a prioridade para o ensino fundamental – em detrimento da educação infantil, do ensino médio, da educação de jovens e adultos, da educação indígena e do ensino superior – como chave para o desenvolvimento, concebendo-o como investimento necessário e de maior retorno que outros investimentos (p. 105).
- no documento “Educación Primária” (1992), o Banco Mundial afirma ser a educação primaria o pilar do crescimento econômico e do desenvolvimento social, alem de principal meio para promover o bem-estar das pessoas (p. 105).
- nessa lógica, predominam a falta de qualificação profissional, o esvaziamento dos conteúdos escolares e a desqualificação das instituições educacionais (p. 105).
- os conteúdos distribuídos em séries, ciclos ou módulos de ensino iniciam os indivíduos na tarefa de serem consumidores de mercadorias, disponíveis para as demandas do mercado, ordeiros e com competências rudimentares para fazer suas escolhas dentro daquilo que é oferecido pelo mercado (p. 106).
- segundo os gestores do Banco, o grave problema educacional do Brasil é a baixa qualidade, causa dos altos índices de repetência e evasão (p. 106).
- e para melhorar a qualidade e a eficiência do ensino, estabeleceram-se as seguintes estratégias: melhoria da capacidade de aprendizagem do aluno, redução das altas taxas de repetência, aumento das despesas por aluno (p. 106).
- No documento “Veinte años de ayuda del Banco Mundial a La educación: presentación y evaluación”, foram expostos os objetivos e as estratégias do Banco Mundial para a educação primaria, esclarecendo a continuidade e os desdobramentos posteriores de sua política (p. 106).
- os técnicos do Banco Mundial, juntamente com parte da equipe do ministério da educação brasileira, estabeleceram como estratégias de melhoria da educação pública (p. 108):
            *Providenciar livros didáticos e outros matérias de ensino;
            *Melhorar as habilidades dos professores em técnicas de sala de aula;
*O estabelecimento de capacitação permanente e de avaliações              institucionais;  
*elevar a capacidade de gerenciamento setorial, incluindo o estabelecimento da capacidade de monitorar;
*melhoria das instalações e equipamentos escolares;
*assessorar o desempenho dos alunos, implementando um sistema de avaliação permanente da educação básica (p. 108)
- no caso do projeto de educação básica para o nordeste que abrangia nove estados, o objetivo geral: é a melhoria da qualidade do ensino fundamental com ênfase nas primeiras quatro séries, através do apoio financeiro a programas integrados estados/municípios de investimento na educação (p. 108).
- durante o governo Itamar Franco (1992-1994) criou-se a nova moeda, o Real, derivadas das negociações internas e externas para vencer a inflação, consolidar a estabilização econômica, assegurar o crescimento encabeçado pelo setor privado, atrair investimentos externos, aprovar as reformas e induzir redução de gastos para as políticas públicas (p. 110).
- para contemplar seus interesses políticos e subordinar a educação ao modelo econômico, prescreviam o barateamento dos custos da educação para o setor público, a racionalização da oferta do ensino, mediante adoção de alternativa extra-escolares (p. 112).
- o fundamento destas políticas para a educação estão nos mesmos que alicerçam o modelo de desenvolvimento econômico (p. 112).
- as políticas para a educação emanadas do Banco Mundial são de natureza discricionária-assistencialista e contencionista-reformista (p. 113)

         

Nenhum comentário:

Postar um comentário

quick search