O MÉTODO EM CIÊNCIAS HUMANAS
O presente capítulo (que versa sobre o método em ciências humanas, isto
é, a maneira pela qual se deve proceder no contexto de uma análise sociológica para
fins de conhecimento científico e social) compõe-se de duas partes especificas,
a saber, o problema das ideologias e;
fatos matérias e doutrinas.
Em principio, Goldmann demonstra de forma objetiva, clara e sucinta o
diferencial básico que há entre as ciências históricas e humanas e as ciências
físico-químicas. Segundo ele
“As ciências históricas e humanas não são, pois, de uma
parte, como as ciências físico-químicas, o estudo de um conjunto de fatos
exteriores aos homens, o estufo, o estudo de um mundo sob o qual recai sua
ação. São ao contrario a analise dessa própria ação, de sua estrutura, das
aspirações que a animam e das alterações que sofre”. (GOLDMANN, 1978, P
27).
Essa reflexão do autor feita a cerca da temática concernente ao método
mostra que na essência a diferenciação que se estabelece entre ambas (as
ciências) reside objetivamente no fato de que enquanto as ciências
físico-químicas tomam como objeto de estudo o conjunto dos fatos exteriores ao
homem, ou seja, o mundo no qual ele age, as ciências históricas e humanas, por
sua vez, se interessará mais pela compreensão das ações buscando conhecer suas
estruturas, bem como as causas do seu surgimento e as alterações que elas
sofrem no curso de sua história.
Uma reflexão relevante assinalada pelo autor, diz respeito ao fato de que
(embora seja o homem, por excelência o ser da reflexão e, portanto, do
raciocínio) a própria consciência não constitui força, ou ainda, ponto de
partida capaz de nortear todas as conclusões a que se possa chegar ao que toca
ao estudo histórico dos fenômenos oriundos da ação humana. As razões disso decorrem,
sobretudo, do fato da consciência ser apenas um aspecto parcial da atividade
humana.
Com base no que acima fora dito, de acordo com o autor, seguem-se duas
conseqüências: a primeira é que o próprio
conhecimento é ele próprio um fato humano, histórico e social e; a segunda é
que o comportamento, ao contrario da
consciência, é um fato total, que vem a lume, especialmente, como uma resultante
direta da soma de eventos que lhe são anteriores. É da junção desses eventos –
que são de natureza tanto material, quanto abstrata (essa ultima o autor chama
de espiritual) – que surgi o comportamento. Uma tentativa de separação dessas
duas esferas traria a tona um grande problema, que consistiria principalmente
no fato de por em contratempo a estabilidade do conhecimento. É justamente por
isso que o
“O investigador sempre deve esforçar-se por encontrara
a realidade total e concreta, ainda que saiba não poder alcançá-la a não ser
duma maneira parcial e limitada, e para isso esforçar-se por integrar no estudo
dos fatos sociais a história das teorias a respeito desses fatos, assim como
por ligar o estudo dos fatos de consciência à sua localização histórica e à sua
infra-estrutura econômica e social”. (GOLDMANN, 1978, p 28).
Ou seja, o autor chama a atenção para a relevância de se situar no âmbito
de seu contexto o referido fato estudado. É importante lembrar que enquanto
mais o pesquisador se desfizer de suas simpatias e posicionamentos pessoais a
cerca da coisa ou fatos pesquisados, melhores serão os resultados de sua
investigação.
A propósito do problema central, ou assunto geral do capitulo sobre a objetividade do método em ciências humanas.
A pergunta que aqui pode ser formulada é a seguinte: tomando os homens como são,
dotados de personalidade e subjetividade, subjetividade essa que ora aparece,
ora desaparece (manipulando, desse modo, aquilo que da identidade do sujeito se
poderia concluir), é possível estabelecer um método objetivo e, portanto, passível
de ser aplicado generalizadamente a todos os homens, todos os contextos, todos
os comportamentos e todos os casos?
No inicio do primeiro ponto, quando trata sucintamente do surgimento da
sociologia não marxista, Goldmann assinala Durkheim, os durkheiminianos e Weber
para mostra que, de fato, “no pensamento
desses autores já se fazia presente a questão da insuficiência da objetividade”
no que diz respeito ao método. Ao que aparece, essa insuficiência se daria,
especialmente, pelo fato do pesquisador “desconhecer
a identidade do sujeito e do objeto nas ciências humanas”, derivando o
método apenas de suas habilidades intelectuais e outras excelências pessoais.
De acordo com o autor, quem expôs claramente esse problema foi George Lukacs,
aluno de Max Weber. (GLDMANN, 1978, p 28.).
Se partirmos ainda do princípio de que cada caso é um caso, logo teremos
que concluir que para casa caso há a necessidade de um método diferente.
Entretanto, uma reflexão mais aprofundada clarificará melhor possíveis
suposições e imaginações que, diante da complexidade do assunto, repousam na
sombra da duvida.
Outro problema que neste capítulo vem a tona é aquele que faz referência
aos juízos de valor. De acordo com Goldmann, esse problema aparece
principalmente quando Durkheim e seus discípulos
“tentando elaborar uma sociologia cientifica, fizeram
depreender dois princípios, a saber, (primeiro) que “o estudo cientifico dos
fatos humanos não pode fundar por si só nenhum juízo de valor e (segundo) que o
pesquisador deve esforça-se por chegar à imagem adequada dos fatos, evitando
toda a deformação provocada por suas simpatias ou por suas antipatias pessoais”.
(GOLDMANN, 1978, p 8-29).
Aqui se coloca a questão chave
para o alcance da excelência na investigação. Essa excelência consiste,
sobretudo, no fato do autor não considerar aquilo que faz partes de suas
preferências pessoais. Ou seja, o pesquisador tem que abrir mão de sua posição
pessoa frente ao fato investigado, de modo que isso se dê em caráter linear
durante a realização da pesquisa. A pergunta que aqui se poderia fazer consiste
em saber se os juízos de valor, de fato, entram ou não na investigação
sociológica, ou se eles entram até aonde eles podem chegar? Se analisarmos esse
problema entre Weber e Durkheim, veremos uma constante divergência entre eles
quanto ao juízo de valor. Se, por um
lado, Weber se dá conta da importância desses juízos para o inicio da pesquisa,
reconhecendo a impossibilidade de anulá-lo, por outro, na análise social, Durkheim
não admite o juízo de valor e nem aceita que eles entrem na pesquisa. Weber,
entretanto, refere que esses juízos entram sim na análise, ou na pesquisa das
ciências sociais, mas – cumpre ressaltar – somente para demandar a escolha
daquilo que se quer pesquisar. Nesse sentindo, Goldmann refletindo sobre Weber,
apresenta outro elemento que passa, a partir, de então a ser o diferencial básico
entre as ciências humanas e as físico-químicas: da diferença de objeto,
passa-se à diferença de perspectiva. Nas ciências físico-química enquanto o
essência é busca de leis gerais, nas ciências humanas o essencial passa a ser a
busca pelo estudo objetivo que favoreça, primordialmente, a explicação e
compreensão da realidade social. As ciências humanas levam em consideração
sobretudo a individualidade histórica do individuo que se constrói
especialmente pela escolha daquilo que lhe é mais agradável. É justamente esse
agradável, tomado como objeto de escolha do individuo que aqui está sendo
tomado como juízo de valor.
Merece destaque também, a contraposição de Goldmann quanto ao otimismo
cartesiano de Durkheim. Segundo ele (Goldmann)
“nas ciências humanas, não basta, pois, como
acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, pôr em dúvida verdades
adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois, o pesquisador aborda muitas
vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe
fecham de antemão o caminho da compreensão objetiva”. (GOLDMANN, 1978, p 33).
Mas uma vez vem a lume o problema referente à objetividade do método. O
ponto de partida do método cartesiano cabe lembrar, é a dúvida metódica.
Duvida-se de tudo com o objetivo de alcançar uma verdade indubitável (da qual
não se pode duvidar). Essa duvida culmina, portanto, na aquisição de um
conhecimento do qual se carecia antes. Goldmann mostra, por conseguinte, que o
que torna o método cartesiano incompatível com o estudo das ciências humanas é
o fato de que nele parte-se da dúvida, ou seja, do zero em relação ao
conhecimento, ao passo que nas ciências humanas parte-se da certeza de algum
conhecimento já adquirido, é o que ele chama de pré-noções.
Após ter esboçado o problema da objetividade, Goldmann parte agora para
outra reflexão que toma como ponto de partida o segundo grande princípio do
método, a saber, “o do caráter total da
atividade humana e da ligação indissolúvel entre historia dos fatos econômicos
e sociais e a história das idéias”. (GOLDMANN, 1978, p 50). Posteriormente
ele ratifica esse princípio ao mostra, especialmente, que essa
indissociabilidade se dá, principalmente, pela razão de haver certa influencia
dos fatores econômicos sob a forma de pensar e de agir.
REFERÊNCIA
GOLDMANN,
Lucien. Ciências humanas e filosofia: Que a Sociologia?. Trad. Lupe C.
Garaude; José A. Giannotti, Ed. 6. Rio de Janeiro: DIFEL, 1978. P. 27-70.
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