Não obstante a isso, o filme “O porteiro da noite” mostra de forma
clara e distinta a possibilidade de como e a partir de que se pode perceber a
existência de certa harmonia entre esses contrários (vida e morte). O filme faz
aparecer uma realidade (quase que inexistente) que se articula por cima da
distorção dos fatos, de onde os mesmos passam a ser vistos a partir de outra
ótica, (totalmente diferente daquela com a qual eram observados antes) o que
altera os seus sentidos e significados.
“O
porteiro da noite” traz à tona a
história de uma judia e um nazista no contexto da segunda guerra mundial, onde
ela foi torturada por ele num campo de concentração. Tendo passado 13 anos após
o término da guerra, eles se encontram novamente e – relembrando “simultaneamente”
o vivido num passado, nem tanto distante – passam a viver uma intensa paixão
recheada de muito erotismo. É quase inacreditável ver essa relação amorosa
entre o nazista e a judia, principalmente para quem conhece bem a história
entre esses dois contrates.
O
porteiro da noite é um convite para
revermos nossas atitudes e aspirações. Faz-nos perceber também o complexo sobre
o qual se tece os propósitos e ideais de cada individuo, principalmente quando
o assunto se trata de relações humanas.
A grandeza do filme reside, portanto, no
ato dele mostrar que – entre o pequeno e grande; o fraco e o forte; o contexto
e fato; o oprimido e o opressor; o torturado e o torturador, enfim, entre o
judeu e o nazista – há uma possibilidade de harmonia, onde tudo possa ser diferente,
desde que se lute por isso. Convém aqui ressaltar que uma coisa é o filme,
outra coisa é a realidade. Mesmo que o primeiro se teça por sobre aquilo que no
segundo é dado, ele não traz em si a noção de real, mas sim a noção de
possibilidade. O real é aquilo que já está dado; a possibilidade é aquilo que
pode ser mais ainda não é. A harmonia que (no filme) reina entre os opostos, no
real se traduz em utopia. E
é o desejo de “tudo” ser diferente a partir dessa realidade utópica que instiga
à descontinuidade e a ruptura daquilo que já é dado, para que, somente assim, se
possa ter algo novo em se tratando de paz entre os humanos. É justamente essa a
proposta do filme.
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