No âmbito da história universal da
educação, observa-se que ela em todos os contextos e épocas, em todos os tempos
e lugares sempre apareceu como elemento básico, indissociável e necessário para
a conduta e vida de todas as sociedades e grupos, de todos os povos e raças.
Se a diversidade das sociedades (desde as
primitivas até as atuais) requereu um modo diferenciado de educação para a
conduta de seus membros e praticas dos seus respectivos costumes, foi, então, a
flexibilização e maleabilidade do caráter dinamizador, ou dinamizado da
educação que tornou possível sentir e perceber a sua presença em cada uma
dessas diversificadas coletividades.
A educação é, portanto, um elemento
necessário na vida de qualquer povo. É por meio dela que uma sociedade se transforma
e se desenvolve total ou parcialmente, aperfeiçoando alguns de seus hábitos e
até mesmo criando outros novos.
Há muito tempo tem se insistido que a
educação consiste numa certa transmissão de conhecimentos e saberes que foram
adquiridos e acumulados ao longo do tempo. E isso não se distancia da verdade.
No Brasil, por exemplo, nos primórdios de sua história, quando o homem branco
europeu, por aqui, ainda não tinha chegado, era justamente dessa maneira que se
dava a educação, sobretudo a partir dom contato das gerações mais velhas com as
gerações mais novas, conforme indica o texto abordado para esta reflexão
(Evolução Histórica da educação no Brasil).
Nesse texto, o autor (João Monlevade) faz
uma reflexão sobre a educação brasileira, partindo da sua gênese até os seus
atuais momentos, à luz dos fatos e acontecimentos que marcaram profundamente a
nossa história educacional. Essa reflexão está sistematicamente organizada a
partir de nove temas, a saber, Economia, Sociedade, Estado, Sistema
educacional, Escolas, Atores, Financiamento, Gestão e Currículo.
No primeiro tema (economia) o foco da
reflexão volta-se ao modo produção dos diferentes contextos da nossa história,
por onde trilhou a educação; no segundo (sociedade), analisa-se a composição
social, isto é, a maneira como a sociedade estava organizada e composta (se era
de índio, branco ou negro; o que acontecia nesse momento; de que forma esse
acontecimentos repercutiam; se tinha guerra ou paz; se havia revolta ou não
etc.); no terceiro (Estado) as considerações se dão sobre o poder político e as
demais relações de poder que se tecem no seio social; no quarto (Sistema
educacional) o autor analisa a organização da educação tanto no âmbito, especialmente,
no âmbito público; no quinto tema (escola) a reflexão é feita a cerca da
organização da escola, sua origem e suas necessidades, a maneira de como se
dava as aulas etc.; o sexto (Atores) demonstra a quem competia a função de
educar; no sétimo (Financiamento) reflete-se sobre as fontes que custeavam as
despesas próprias das necessidades oriundas da arte de educar; o oitavo
(Gestão) dispõe sobre o controle da educação, isto é, nas mãos de quem esse
controle estava e; no nono (Currículo) mostra-se os princípios partir dos quais a educação era concretizada,
ou seja, aquilo que traduz em pratica a intenção da educação que se quer
atingir,ou que se pretende construir.
Antes da chegada dos europeus no Brasil,
a educação escolar simplesmente não existia. Desse modo, o saber que se tinha
era muito pouco e cabia suficientemente na memória dom povo. Essa educação
primitiva, o ator refere que era exercida, principalmente, a partir dos ritos e
mitos praticados por aqueles povos. Ao contrario da realidade existente em
outros países como Perú, Guatemala e México, habitados por índios Incas, Maias
e Astecas que, de algum modo, progrediram na tecnologia, os índios do Brasil
viviam em perfeito estado de união com a natureza, tida por eles como mãe. Sua
cultura pautava-se no ciclo da existência que se iniciava com a vida e
terminava com a morte. Nesse contexto, em que a vida parecia ser mais feliz, o
próprio Estado, tal como entendemos hoje, não existia.
Com a chegada dos europeus a história
muda totalmente, a educação que antes era espontânea e parecia mais obra da
natureza que do próprio homem foge à simplicidade para tornar-se mais complexa.
Com o interesse do homem branco em lucrar, os valores e credos cultivados pelos
primeiros habitantes são deixados de lado. Desse modo, instala-se também a
brutalidade e violência que vitima o índio e mais tarde os negros africanos,
violência e brutalidade essa que só poderia vir do homem branco.
O marco inicial da educação escolar se dá
a partir da chegada dos jesuítas em 1549, liderados por Manoel da Nóbrega,
durante o primeiro governo geral. Nesse contexto, um fato já chama a atenção: a
falta de investimento em educação por parte das autoridades políticas, ao contrario
dos espanhóis que fundavam escolas e universidades em suas colônias. Outro fato
importante de ser notado é o caráter excludente e desigual da nossa educação
ainda em seus primórdios: “enquanto a minoria da população aprendia latim,
gramática portuguesa retórica e filosofia, a maioria, índios e escravos, se
aculturavam na prática de trabalhos e na troca de saberes populares”. Essa
situação por si só já explica a própria realidade de hoje, por exemplo.
Enquanto de um lado se tem o povão, tal como se denomina no comum a grande
massa, de outro se tem a elite letrada que resulta como produto daquilo que a
educação tinha de melhor e que, infelizmente, não era acessível a todos.
Nessa primeira etapa, os jesuítas deram
os primeiros passos para uma mudança na educação, não obstante estivessem
educando com vista aos interesses políticos do reinado, bem como aos seus
interesses religiosos. Em 1758 eles são expulsos por decreto de Marquês de
Pomba (sobretudo, em virtude de suas interferências no âmbito político, ou
seja, suas não correspondências às expectativas da corte) e a educação
praticamente volta à estaca zero.
Depois dos jesuítas, outras ordens
religiosas se instalaram no Brasil, e a educação com isso ia, passo a passo,
progredindo. Alguns entraves, entretanto, ainda se faziam perceber muito
fortemente. Notemos que no contexto de 1891 a 1931 a educação era financiada sobretudo com
aquilo que era arrecado da cobrança de impostos sobre o consumo de mercadorias
cobradas pelos Estados. Como a maioria dos consumidores era residente em
chácaras e fazendas, os bens necessários ao consumo eram produzidos no próprio
local. Como esses bens não circulavam no mercado, os fiscos não os alcançava.
Desse modo, a arrecadação de impostos se tornou insuficiente para a construção
de mais escolas publicas. A saída mais viável no contexto dessa situação, pareceu
ter sido a escola privada.
Se inicialmente e até meados de sua
história o Brasil teve uma educação marcada, sobretudo, pela precariedade das
condições sociais econômicas, alem do desinteresse e da falta de vontade
política, nos anos seguintes a história passa a ser outra, no sentido de que
caminha bem mais organizadamente. No
período de 1931 a
1971 surgem alguns órgãos que vão tentar melhorar a educação em todas as suas dimensões.
Em 1931, por exemplo, com a criação do MEC (órgão máximo da educação nacional)
e em 1971, com a criação da lei 5.692, a educação brasileira ganha uma nova
configuração. Foi justamente a partir dessa lei (que objetivava a reforma do
ensino de 1º e 2º graus), juntamente com o MEC, que se construiu um sistema de
educação federal mais sólido. Com isso, houve um aumento significativo nos
recursos para financiamento da educação tanto por parte da União, quanto dos
Estados e municípios. A União se comprometeu mais com o ensino superior, os
Estados com o ensino fundamental e médio, e os municípios, exclusivamente, se
comprometeram com o ensino fundamental (essa configuração persiste ainda hoje).
Não obstante, é preciso ressaltar que
essa melhoria não se dava por acaso. Ela tinha uma explicação lógica, uma razão
de ser. Vejamos: nesse contexto o país está, progressivamente, passando por um
surto de industrialização e, portanto, deixando de ser um país rural. Aqui a
sociedade urbana e industrial, de acordo com o autor, ao contrário da agrária
exige escola para a formação educacional, sobretudo, por duas razões: a
primeira é que os empregos passam a exigir primordialmente domínio da
tecnologia cientifica, e segundo, por que as mães precisavam de escolas para deixar
seus filhos enquanto precisavam trabalhar. A grande novidade do inicio desse
período foi o aumento no número de matrículas, o que provocou disputas por
verbas. No sentido da vinculação dessas verbas para a educação, duas
constituições foram fundamentais no que a isso diz respeito, a saber, a de 1934
e a de 1946. A
de 34 foi a primeira a vincular certa percentagem de recursos para a educação,
já a de 46, por sua vez, não somente recriou os impostos federais destinados a
educação (depois que a constituição de 37 aboliu o ato da primeira), como
também destinou adequada percentagem do FPM para o financiamento da educação.
Com isso, parcialmente, foi democratizado o acesso à educação na medida em que
a população pobre ia adentrando as salas de aula, que por muito tempo, foi
privilegio da elite. Foi a partir dessa realidade que surgiram as políticas
públicas de assistência nas escolas. Nesse contexto, nasceram dois grandes
movimentos estudantis a UBES e a UNE. Essa ultima ainda hoje tem presença forte
nas universidades brasileiras. Em 1971 houve mais um avanço significativo na
educação brasileira com a criação da lei 5.692/71, que contribui,
indubitavelmente, para a universalização do ensino primário, estendendo-o para
oito series, principalmente nos Estados do Nordeste e Centro-Oeste, que não
contavam com tantos ginásios públicos como os do sul e do sudeste. No período
de 1971 a
1988 debate-se muito sobre as teorias pedagógicas, sobretudo as de Paulo Freire
que com freqüência chegavam ao Brasil, dado que ele estava exilado, em razão da
ditadura militar. Recentemente diversas mudanças (objetivando a melhora do
ensino) vieram a ocorrer, todavia, não serão enfocadas aqui.
Apesar dos numerosos desafios e
contradições a educação brasileira avançou consideravelmente. Tanto é verdade
que hoje, a situação é bem diferente da de outrora. Muitos desses desafios
ainda persistem e precisam ser superados para que a quantidade que hoje se tem
possa caminhar entrelaçada à qualidade, então, almejada.
REFERÊNCIA
MONLEVADE, João.
Educação pública no Brasil: contos &
descontos. 2 ed. Ceilândia – DF.: Idéia Editora, 2001.
Resumo excelente! Obrigada.
ResponderExcluirComo professor,nao posso deixar de ter este conhecimento da evolução histórica do Brasil. Texto muito bom para se estudar..
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