FICHA BIBLIOGRÁFICA: REALE, Giovane. História da filosofia antiga. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1993 – (série história da filosofia)
DAS
ORÍGENS A SÓCRATES
Se
para todos os outros componentes da civilização grega encontra-se idêntico
correlativo junto a outros povos do oriente, não se encontra, ao invés
correlativo da filosofia, ou pelo menos algo assimilável. p.11
Com
a invenção da filosofia os gregos dão à civilização que ela ainda não tinha.
p.11
Que
os gregos tenham derivado suas primeiras cognições matemáticas e geométricas
dos egípcios está fora de dúvida, mas por obra dos gregos elas se transformaram
radicalmente. p.16
As
assimilações de elementos e de impulsos culturais vindos do oriente não podem
enfraquecer de modo algum o mérito da originalidade de pensamento grego. Ele
operou a passagem decisiva da tendência utilitária e do mito à ciência
desinteressada e pura: ele é o verdadeiro criador da ciência como sistema
lógico e do filosófico como consciência racional e solução dos problemas da
realidade universal e da vida. p.17-18.
Os
poemas homéricos foram decisivos para a fixação de determinada concepção dos
deuses e do divino e também para a fixação de alguns tipos fundamentais de vida
e de caracteres éticos do homem, os quais se tornaram verdadeiros paradigmas.
p. 20.
Pode-se
dizer que para o homem homérico e para o homem grego filho da tradição
homérica, tudo é divino, no sentido de que tudo o que acontece é obra dos
deuses. p. 21.
Os
trovões e os raios são lançados por Zeus do alto do Olimpo; as ondas do mar são
levantadas por Posseidon; o sol é carregado pelo áureo carro de Apolo, e assim
por diante. p. 21.
Mas
quem são os deuses? São forças naturais diluídas em formas humanas idealizadas.
São aspectos do homem sublimados, hipostasiados; são forças do homem
cristalizadas em belíssimas figuras. Em suma, são homens amplificados e
idealizados; são quantitativamente superiores a nós, mas não qualitativamente
diferentes. p. 21.
Na
religião naturalista dos gregos, o cumprimento dos seus deveres religiosos
consistia essencialmente disso: que o homem faça em honra da divindade, o que é
conforme com sua natureza. p. 22.
Os
gregos não possuíam livros tidos como sagrados, ou fruto de divina revelação;
ele não tinham uma dogmática teológica fixa e imodificável (nessa matéria as
fontes principais eram os poemas homéricos e a teogonia de Hesíodo). p. 23
Os
órficos consideravam como fundador do seu movimento o mítico poeta da Trácia,
Orfeu, e dele derivam o nome. p. 23
O
orfismo despreza o corpo como cárcere e grilhão da alma. p. 23-24.
O
núcleo fundamental das crenças ensinadas pelo orfimos consiste nas seguintes
pressuposições: no homem vive um princípio divino, um demônio caído num corpo
por causa de uma culpa originária; esse demônio preexistente no corpo é imortal
e, portanto, não morre com o corpo, mas é destinado a emanar-se sempre de novo
em corpos sucessivos através de uma série de renascimento para espiar sua
culpa; a vida órfica com suas práticas de purificação é a única das
reencarnações; por conseqüência quem vive a vida órfica (os iniciados) goza,
depois da morte, do merecido prêmio no além (a libertação), para os iniciados
não há punição. p. 24
Com
o orfismo nasce a primeira concepção dualista da alma (demônio) e corpo (lugar
de expiação da alma); pela primeira vez o homem vê contrapor-se dois princípios
em luta um contra o outro, justamente por que o corpo é visto como cárcere e
lugar de punição do demônio. p. 24
Com
a criação da pólis o grego não sentiu mais nenhuma antítese entre o individuo e
o estado e nenhum limite à própria liberdade e, ao contrário, foi levado a
compreender-se como essencialmente como cidadão de determinado Estado, de
determinada pólis. p. 26
O
Estado se tornou e se manteve até a era helenística como o horizonte do homem
grego, e portanto, os fins do Estado foram sentidos pelos cidadãos individuais
como os seus próprios fins, o bem do Estado como o próprio bem, a grandeza do
próprio Estado como a própria grandeza, a liberdade do próprio Estado como a
própria liberdade. p. 26
No
progresso da civilização grega, anterior ao surgimento da filosofia, dois
fatores políticos se sobressaíram sobre os outros: o nascimento de ordenamentos
republicanos e; a expansão dos gregos para o oriente e para o ocidente com a
formação das colônias. p. 26
Esses
dois fatores foram decisivos para o surgimento da filosofia. O primeiro: nos
esforços e nas lutas dessa revoluções políticas [que levaram os gregos das
velhas formas aristocrática de governo às formas republicanas e democráticas] todas
as forças deviam ser despertadas e exercitadas; a vida pública abria passagem à
ciência e o sentimento da jovem liberdade devia dar ao espírito do povo grego o
impulso, do qual não podia ficar de fora a atividade científica. p. 26
A
cultura é, entre os gregos, plenamente e de maneira mais aguda o que ela seria
em qualquer vida sadia de um povo: ao mesmo tempo fruto e condição da
liberdade. p. 26
A
filosofia nasce antes nas colônias que na mãe pátria; nasce nas colônias do
oriente da Ásia Menor e depois nas colônias da Itália meridional, só mais tarde
refluindo para a mãe pátria. p. 27
Por
que isso aconteceu? Porque como há tempo se notou, as colônias puderam com sua
operosidade e com seu comércio alcançar o bem-está e, portanto, a cultura. p.
27
Foram
as condições sócio-econômicas mais favoráveis das colônias que permitiram o
nascimento e o florescimento nelas da filosofia, a qual tendo passado depois a
mãe pátria alcançou os mais altos cimos em Atenas, isto é, na cidade onde
existiu, como o próprio Platão reconheceu, a maior liberdade da qual os gregos
gozavam. p. 27
A
partir do seu nascimento, a ciência filosófica apresentou de modo nítido, as
seguintes características, que dizem respeito respectivamente A) ao seu
conteúdo, B) ao seu método e C) ao seu escopo. p. 28
A) Quanto ao seu conteúdo, a filosofia quer explicar a
totalidade das coisas, ou seja, toda a realidade, sem exclusão de partes
ou de momentos dela, distinguindo-se assim das ciências particulares, que ao
invés, limitam-se a explicar determinados setores. p. 28
B) Quanto ao método, a filosofia quer ser a explicação
puramente racional da totalidade que é o seu objeto. O que vale em filosofia é
o argumento de razão, a motivação lógica: é numa palavra, o logos. Não basta à
filosofia constatar, verificar dados de fato, coletar experiências para
encontrar as suas razões, a causa, o principio. E é este caráter que confere
cientificidade à filosofia. Tal caráter é comum também às outras ciências, as
quais, exatamente como ciências, nunca são apenas constatação e verificação
empírica, mas são sempre busca de causas e de razões. A diferença está em que,
enquanto as ciências particulares são buscas de causas de realidades
particulares, ou de setores de realidade particulares, a filosofia é, ao invés,
busca de causas e princípios de toda a realidade. p. 29
C) Enfim, devemos esclarecer qual é o escopo da filosofia. E
sobre esse ponto, Aristóteles explicou melhor que: “a filosofia tem um caráter
puramente teórico, ou seja, contemplativo: ela visa simplesmente a busca da
verdade por si mesma; prescindindo das suas utilizações práticas. p. 29
Aristóteles
refere na obra “A metafísica”: “assim, se os homens
filosofaram para libertar-se da ignorância, é evidente que buscaram o
conhecimento só com a finalidade de saber e não para alcançar alguma utilidade
prática”. p 29
“Todas
as outras ciências serão mais necessárias que esta, mas nenhuma lhe será
superior” (Aristóteles). p 30
Num
primeiro momento, a totalidade do real, a physis, foi vista como cosmo, e, portanto,
o problema filosófico, por excelência foi o problema cosmológico, que absorve
toda a primeira fase da filosofia grega. p. 32
Mas
com os sofistas o quadro muda: a problemática do cosmo por razões que
explicaremos e a totalidade que atraia a atenção é o homem. Por isso a
filosofia dos sofistas e de Sócrates concentrará a própria atenção na natureza
do homem e da sua virtude ou Arete, de onde nascerá o problema moral. p.
32
A
filosofia grega tem uma historia mais milenar: parte do sec. VI a.C. e alcança
529 anos d. C, ano em que, por vontade do imperador Justiniano, foram fechadas
as escolas pagãs, destruídas suas bibliotecas e dispersos os seus seguidores.
p. 35
PRIMEIRA PARTE
OS FILÓSOFOS NATURALISTAS JÔNICOS E
ITÁLICOS
OS PROBLEMAS DA PHYSIS, DO SER E DO
COSMO
A
teogonia de Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns
desses deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmo, alem
de teogonia se tornava também cosmogonia, ou seja, explicação fantástica da
genes do universo e dos fenômenos cósmicos. p. 41
Hesíodo
imagina ter tido, aos pés de Hélicon, na Beócia uma visão das musas, e ter
recebido delas a revelação da verdade, da qual ele se fez imediatamente arauto.
Em primeiro lugar diz, diz ele, gerou-se o Caos, em seguida gerou-se Gea
(a terra) em cujo seio amplo estão todas as coisa, e nas profundidades da Terra
gerou se o Tártaro escuro, e por fim, Eros (o amor) que, depois,
deu origem a toda as outras coisas. Do Caos nasceram Êrebo e Noite, doa
quais se geram o Éter (o Céu superior) Êmera (o dia). E da terra sozinha se
geraram Urano (o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois,
juntando-se com o Céu, a Terra gerou Oceano e os rios. p. 41
Procedendo
do mesmo estilo, Hesíodo narra a origem dos vários deuses e numes divinos. Zeus
pertence a ultima geração: de fato, foi gerado de Crono e de Rea (que, por sua
vez, tinham sido gerados de Terra e urano); e, como Zeus, fazem parte de ultima
geração todos os outros deuses do Olimpo homérico, valer dizer, os deuses que o
grego não venerava. p. 41
Desde
o seu nascimento, a filosofia irá contra a fantasia, a imaginação e os sentidos
e inferirá suas figuras especulativas com a força do logos, contestando o mito
e as experiências sensíveis e criando algo completamente novo. p. 43.
O
imã possui uma alma, porque é capaz de mover, portanto, a Alma é princípio de
movimento. p. 50.
Foi
Anaximandro que introduziu o termo arché para designar o primum,
a realidade primeira e ultima das coisas. p. 52
Anaximandro
defendia que o princípio de tudo era o Ápeiron, o infinito ou
ilimitado. p. 52.
Todas
as coisas são ou princípio, ou do princípio: e do infinito não há principio,
portanto teria um limite. O que é gerado deve ter um fim e o fim é próprio de
toda dissolução. p. 53.
Segundo
Anaximandro, os primeiros animais nasceram no elemento liquido, cobertos por
uma capa espinhosa; tendo crescido em idade, deixaram a água e vieram para o
seco, e tendo se rompido a capa que os cobria, pouco depois mudaram o seu modo
de viver. Assim de animais mais simples nasceram animais mais complexos, que
foram progressivamente transformando-se e adaptando-se ao ambiente. p. 57
Para
Anaxímenes o Ar é o princípio de todas as coisas; tudo o que
existe origina-se do ar e de suas diferenciações. p. 58
O Ar
se diferencia nas varias substâncias segundo o grau de rarefação e condensação:
e assim dilatando da origem ao vento e depois as nuvens; e em grau maior de
densidade forma a água, depois a terra e em seguida as pedras; as outras coisas
derivam depois destas. p. 59
Característica
do Ar: quando ele é absolutamente uniforme, é invisível; torna-se
visível com o frio, com quente, com a umidade e com o movimento. p. 60.
O Ar
é concebido por Anaxímenes como naturalmente dotado de movimento. p. 61
Heráclito:
em primeiro lugar chamou a atenção para a perene mobilidade de todas as coisas
que são: nada permanece imóvel e nada permanece e estado de fixidez e
estabilidade, mas tudo se move, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem
exceção. p. 64.
Heráclito
para exprimir esta verdade, valeu-se da imagem do fluir de um rio, em
fragmentos que se tornaram célebres: “de quem desce ao mesmo rio vêm ao
encontro águas sempre novas”; “não se desce duas vezes ao mesmo rio por
causa da velocidade da mudança, dispersa-se e recolhe-se, vem e vai”. p. 64
Somo
e não somos, porque, para ser o que somos em dado memento, devemos não ser mais
aquilo que éramos no precedente momento. Assim, como para continuar a ser
devermos logo não ser mais aquilo que somos neste momento. p. 64.
O
devir é um continuo conflito dos contrários que se alternam, é uma perene luta
de um contra o outro em uma guerra perpetua. p. 65.
O
devir é harmonia ou síntese dos contrários. p. 65.
Para
Heráclito o fogo é a origem de toda as coisas. O fogo com efeito
é perenemente móvel, é vida que vive da morte do combustível, é incessante
transformação em fumaça e cinza. p. 68.
Com
os pitagóricos passamos da Jônia à Itália meridional. Aqui a filosofia cria uma
nova têmpera; aperfeiçoa-se e chega a tocar os limites extremos do horizonte da
physis aberto pelos jônicos. p. 75.
A
escola fundada por Pitágoras, não tinha como escopo a pesquisa cientifica, mas
a realização de determinado tipo de vida. Ela nasceu como confraria, ou ordem
religiosa, organizada segundo regras bem precisas de convivência. p. 76.
O primeiro pitagórico a ter uma obra publicada foi Filolau, que viveu no tempo
de Sócrates. p. 76.
Os
pitagóricos viram nos números pares uma espécie de florescimento do elemento
indeterminado, e nos ímpares um espécie de florescimento do elemento
determinado. p. 82.
Com
o numero par o processo de divisão, simbolizado pela flecha, não encontra de
algum modo um limite ao infinito. p. 83.
Ao
contrario em cada numero impar a divisibilidade encontra o ponto de parada na
unidade que justamente, torna impar o numero. p. 83.
Para
os pitagóricos a ordem diz número e o número diz racionalidade,
cognoscibilidade e permeabilidade ao pensamento. p. 85.
Afirmou
Filolau: “todas as coisas conhecidas possuem número; sem este, não seria
possível pensar nada, nem conhecer”. p. 85.
A
natureza do mundo não acolhe em si nenhuma mentira, nem harmonia; a falsidade
não tem nada em comum com eles. Mentira e inadequação são próprias da natureza
do indeterminado, do inteligível e do irracional. p. 86.
Portanto,
domínio do numero significa domínio da racionalidade e da verdade. p. 86.
Do
caos hesiodiano passamos ao cosmo: graças aos pitagóricos, o homem ganhou novos
olhos para ver o seu mundo. p. 86.
Pitágoras
foi o primeiro a ensinar a doutrina da metempsicose, doutrina segundo a qual a
alma é constrangida a reencarna-se muitas vezes em sucessivas existências
corpóreas, não só em forma de homem, mas também em diversas formas de animais,
para explicar uma culpa originária cometida. p. 87.
Viver
e função da alma significa viver uma vida que seja capaz de purificá-la, ou
seja, viver uma vida que seja capaz de desatá-la dos laços que por culpa
própria ela contraiu com o corpo. p. 88.
Os
órficos sustentavam que os meios de purificação eram as celebrações e as
práticas religiosas dos sagrados mistérios, e, portanto, permaneciam ligadas à
mentalidade mágica, confiando-se quase que inteiramente ao taumaturgo poder dos
ritos. p. 88.
Os
pitagóricos foram, assim, os iniciadores do tipo de vida chamado de bios
theoretikós, vida contemplativa, e que foi também simplesmente chamado de
vida pitagórica. p. 89.
Os
pitagóricos atribuíram à ciência a vida de purificação. p. 88.
Xenófanes
nasceu na Cólofon jônica, provavelmente em torno a 570 a. C. mas transferiu-se muito
cedo para as colônias ocidentais e viveu na Sicília e na Itália meridional, e
continuou por toda a vida a vagar, cantando as próprias composições poéticas. p.
97.
É
impossível que os deuses nasçam, porque se nascem também morrem. p. 99.
Ser
e não-ser no contexto do discurso parmenidiano são tomados no seu significado
Integral e unívoco: o ser é puro positivo e o não-ser o puro negativo, ou,
melhor ainda, o ser é o puro positivo absolutamente privado de qualquer
negatividade e, ao contrário, o não-ser é o absoluto contraditório desse
absoluto positivo. p. 108.
O
princípio de não contradição é aquele que afirma a impossibilidade de os
contrários coexistirem simultaneamente. p. 108.
Os
dois contraditórios são o ser e o não- ser. p. 108.
Zenão
de Eléia: argumento de Aquiles: o movimento é de tal modo absurdo que,
se por hipótese, nós o concedêssemos, e puséssemos Aquiles de pés-velozes a
perseguir uma tartaruga, ele jamais a alcançaria. p. 119.
Aquiles
deveria primeiro chegar ao ponto em que a tartaruga se encontrava na partida,
depois, depois ao ponto em que ela se encontrasse quando ele alcançasse o seu
ponto de partida, depois ao ponto no qual ela se encontrasse quando ele tivesse
alcançado o segundo, e assim ao infinito. p. 119.
O
que persegue deve sempre começar por atingir o ponto donde partiu o que foge. p
120.
Argumento
da flecha: uma flecha
que se acredita está em movimento, na verdade está parada. De fato, em cada um
dos instantes em que é divisível o tempo de vôo, a flecha ocupa um lugar
idêntico a ela mesma, mas o que ocupa um ligar idêntico a si está em repouso,
portanto, a flecha como está em repouso em cada um dos instantes, assim o
está também na totalidade deles. p. 120.
Argumento
do estádio: o que se
move não se move nem lugar em que está nem lugar em que não está. p. 121.
Não
se move no lugar em que está porque se está no lugar em que está, está parado;
não se move no, lugar em que não está, por que não está; portanto o movimento é
impossível. p. 121.
Melisso
de Samos: pode ser definido como o sistematizador do pensamento eleata.
Procurou dar forma sistemática à doutrina. Deduzir com rigor todos os
atributos e corrigir o que não se enquadrava nos fundamentos do sistema. p.
125.
Melisso
afirma que o ser é infinito. Ao contrario de Parmênides que diz que é finito. p.
126.
O
ser é uno por que é infinito. Se é infinito deve ser uno. De fato se fosse dois
não poderia ser infinito, mas um teria um limite n outro. (este é um dos
argumentos que a teologias cristã usará para demonstrar a unicidade de Deus) p.
127.
Não
existe nenhum vazio: de fato, o vazio é nada; e o que é nada não, pode ser. E o
ser também não se move; de fato, não pode deslocar-se para algum lugar, mas é
pleno. Com efeito, se existe o vazio, ele poderia deslocar-se no vazio; mas
como não existe vazio, não há para onde ele possa deslocar-se. p. 127.
O
eleatismo a firma um ser eterno, infinito, uno, igual, imutável, incorpóreo,
que exclui qualquer possibilidade de um múltiplo. p. 129.
Nascimento
e morte são misturas e dissoluções de determinadas substâncias ingênitas e
indestrutíveis, isto é, substâncias que permanecem eternamente iguais. Essas
substâncias são precisamente quatro: fogo, água, éter ou ar e terra.
(Empédocles chama essas substâncias de “raízes de todas as coisas”) p. 134.
Predominando
o amor as coisas unem-se, predominando o ódio, separam-se e entrelaçando os
influxos do amor e do ódio nascem as coisas. p. 136.
Anaxágoras
de Clazômenas: nasceu em Clazômenas, provavelmente em torno a 500 a. C. segundo
as informações que fornecem Diógenes Laércio. Deve ter morrido e torno a 428
a.C. p. 143.
Anaxágoras
talvez tenha sido o primeiro filósofo a levar a filosofia a Atenas. Permaneceu
em Atenas ao que parece por 30 anos. Em Atenas foi processado por impiedade;
escreveu uma obra intitulada “sobre a natureza”. p. 143.
Anaxágoras,
como Empédocles, tenta manter firme o principio eleata da permanência do ser. p.
143.
Os
gregos não consideraram corretamente o nascer e o morrer: nada, de fato, nasce,
ou morre, mas a partir das coisas que são se produz um processo de composição e
divisão; assim, pois deveriam corretamente chamar o nascer de
compor-se e o morrer, dividir-se. p. 143.
Não
se chega nunca ao nada que não é, (o que é não pode nunca não ser). p. 144.
Os
atomistas
Leucipo:
especula-se que tenha sido um pouco mais jovem que Anaxágoras e, portanto, da
mesma idade ou um pouco mais jovem que Empédocles. p. 51.
Demócrito:
nasceu em Abdera em 460 a. C.; realizou longas viagem no oriente, visitando o
Egito, a Ásia Menor e a Pérsia com finalidades científicas, dilapidando quase
totalmente os recursos deixados por seu pai. p. 151-152
Leucipo
concebe que o vazio é não-ser e que do Ser nada é não-ser, pois o ser em
sentido próprio é absolutamente pleno. Mas esse absolutamente pleno não é uno,
antes, um infinito número de corpos, invisíveis pela pequenez de seu volume. E
estes corpos estão em movimento no vazio (para ele, de fato, existe o vazio) e
reunido-se dão lugar à geração e, separando-se à destruição. p.
152-153.
Em
termos de pleno e vazio Leucipo construiu sua concepção de átomo
e ligou e ligou a possibilidade de movimento ao vazio. p. 154.
Os
átomos dos abderianos trazem em si selo típico do pensar helênico: é átomo
forma; átomo que se diferencia dos outros átomos pela figura, ordem e posição,
e átomo eideticamente pensado e representado. p. 154.
O
átomo é invisível pela sua pequenez, afirmada como conseqüência da sua
indivisibilidade. É difícil declarar indivisível o que é perceptível aos
sentidos e, portanto, pode-ser considerado suscetível de fragmentação em
partes. Em que sentido visível? Visível só à visão do intelecto. O intelecto
abstrato que parte do visível corpóreo, indo sempre mais além até onde os
sentidos não podem mais chegar, encontra o seu termo final num mundo quintessenciado
e despotenciado, que é a analogia do visível corpóreo. p. 155.
Os
atomistas derivam todas as determinações qualitativas fenomênicas de
determinações quantitativas geométricas. Na filosofia moderna qualidades
primárias são aquelas geométrico-mecânicas que caracterizam os átomos.
Qualidades secundárias são aquelas fenomênicas manifestações derivadas do
encontro dos átomos, assim como da relação das coisas com os nossos sentidos. p.
156.
Nascimento
e morte, geração e corrupção são negados pelos atomistas: o nascer é um
agregar-se dos átomos, o morrer é um desagrega-se ou dissociar-se dos compostos
atômicos, sem que em tais processos nada derive de nada ou termine no nada. p.
156.
Leucipo
diz que tudo acontecesse conforme a necessidade e que esta corresponde ao fato.
Diz, com efeito, no seu livro “sobre a inteligência”: “nada se
produz sem motivo, mas tudo com uma razão e necessariamente”. p. 158.
Do
pensamento de Demócrito: “Os homens se tornam felizes nem pelos dotes físicos,
nem pela riqueza, mas pela retidão e pela prudência.” p. 162.
SEGUNDA PARTE
OS
SOFISTAS: DA FILOSOFIA DA NATUREZA À FILOSOFIA A MORAL
O
antecedente da cosmologia filosófica foram as teogonias, obra de poetas. Assim
também o antecedente da filosofia moral, a reflexão ética pré-filosófica, foi
expressa sobretudo pelos poetas e, em parte, alimentada também pelos
legisladores. p. 179.
Uma
coisa é moralidade ou conduta moral; outra coisa são as convicções morais;
outra coisa ainda é a filosofia moral. p. 179.
A
primeira todos os homens a possuem indistintamente, mesmo os primitivos e os
selvagens. De fato, não é possível viver sem se comportar de determinados
modos, que por mais rudes ou primitivos que sejam, subsistem e são bem
reconhecíveis; a segunda se constitui, em primeiro lugar, do núcleo familiar,
depois dos ambientes freqüentados e, em geral da sociedade em que se vive.
Mesmo o homem primitivo à medida que tem de respeitar e sabe que deve respeitar
regras de convivência com a família e com a tribo, modo de se comportar com o
inimigo etc.; a terceira: no nível da filosofia moral, a razão vai além do
particular, busca estabelecer não regras que valham para casos particulares,
mas, em geral, buscam estabelecer nexos e ligações universais e necessários.
p. 179-180.
Lugar
relevante na formação das convicções morais e no desencadeamento de reflexões
éticas tiveram, em primeiro lugar, os poemas homéricos. p. 181.
Na
odisséia, ademais, parece que já se delineia, embora de modo rudimentar, uma
concepção ética mais geral, segundo a qual homem reverente e obediente
aos deuses tem sempre vantagem sobre os homens prepotentes e maus, os quais não
podem fugir a uma vingança divina. p. 181.
“sela
os discursos com o silencio e o silêncio com as oportunidades” (Sólon) p. 183.
Para
que nascesse a filosofia moral era preciso que o homem como tal se tornasse
objeto de reflexão da filosofia; era preciso que fosse determinados a essência
e o significado do homem enquanto homem; era precisa que desta essência se
deduzisse o conceito de Areté; enfim era preciso que se provasse
sistematicamente a tabua dos valores tradicionais e se acertasse teoricamente a
sua consistência. p. 186.
E
esta foi a grande obra que os sofistas iniciaram e que Sócrates levou a termo,
como veremos. p.186.
Aristóteles
refere que “a sofistica é uma sabedoria aparente, não real; o sofista é um
mercador de sabedoria aparente, não real” p. 190
Para
os sofistas o homem e suas criações intelectuais estão no centro da reflexão...
também para eles vale aquilo que Cícero diz de Sócrates: “ele fez descer a
filosofia do céu sobre a terra, introduziu, introduziu-a nas cidades e nas
casas e obrigou-a a refletir sobre a vida e os costumes, sobre o bem e o mal. p.
192.
Os
temas dominantes na especulação sofística tenham se tornado a ética, a política,
a retórica, língua, a arte, a religião, a educação, tudo aquilo que hoje nós
chamamos de cultura humanista. p. 192.
Enquanto
os filósofos da natureza procediam com a método dedutivo, os sofistas procediam
com o método empírico-indutivo. p. 193-194.
A
sofística tem seu ponto de partida na experiência e tenta ganhar o maior número
possível de conhecimentos em todos os campos da vida, depois dos quais, como
por exemplo, a possibilidade do saber, sobre a origem, o progresso e o fim da
cultura humana, sobre a origem e a constituição das línguas, sobre a origem e a
essência da religião, sobre a diferença entre livres e escravos, helenos e
bárbaros; em parte, ao invés de natureza prática, sobre a configuração da vida
do indivíduo e da sociedade. p. 194.
Os
filósofos da natureza buscavam a verdade por si mesma, e o fato de terem ou não
alunos era puramente acidental; ao contrário os sofistas não buscavam a verdade
por si mesma, mas tinham por objetivo o ensinamento, e o fato de terem
discípulos era para eles essencial. p. 194.
Os
sofistas conquistaram sua libertação com base na razão; e como os iluministas,
eles tiveram ilimitada confiança na razão e na inteligência, o que eles negaram
foi à possibilidade de alcançar algum absoluto do modo como acreditaram alcançá-lo
os naturalistas ou, pelo menos, do modo como a tradição acreditava possuí-lo.
“mas negar o absoluto do pensamento, não significava para os sofista negar o
pensamento.” p. 197.
De
fato, a preocupação dos sofistas foi constantemente dirigida a tornar os homens
cultos e a cultura devia ser para eles o resultado de uma consciência criativa.
p 198.
PROTÁGORAS:
nasceu em Abdera
provavelmente no decênio entre 491 a. C. viajou pelas várias cidades gregas,
segundo o costume de todos os sofistas, e esteve mais de uma vez em Atenas,
onde alcançou triunfais sucessos do publico. Foi muito apreciado também pelos
políticos: Péricles confiou-lhe a encargo de preparar a legislação para a nova
colônia de Turi (444ª. C.) Diógenes Laércio refere que por cauda da opinião professada
sobre os deuses os atenienses teriam banido Protágoras da cidade. p. 200.
O
homem é a medida de todas as coisas, das que são pelo são e das que não são
pelas que não são. p. 200.
Por
medida Protágoras deve entender a norma do “juízo”, enquanto por “coisa”, os
fatos em geral. p. 200.
Com
o principio do homem medida, Protágoras pretendia, indubitavelmente, negar a
existência de um critério absoluto que discriminasse e ser e não-ser, o
verdadeiro e o falso e, em geral, todos os valores: o critério é apenas
relativo, é o homem, o homem individual. p. 200.
Segundo
Diógenes Laércio, Protágoras afirmava que “em torno a cada coisa existem dois
raciocínios que se contrapõem entre si”, isto é, que sobre cada coisa é
possível dizer e contradizer, aduzir razões que reciprocamente se anulam. p.
202.
Posto
que seu objetivo era armar o aluno para todos os conflitos de pensamento, o seu
método será, portanto, essencialmente a antilogia ou a controvérsia, a oposição
das varias teses sobre determinados temas ou hipóteses convenientemente
definidas ou catalogadas. p. 202.
O
sábio não PE aquele que conhece os inexistentes valores absolutos, mas o que
conhece o relativo mais útil, mais conveniente e mais oportuno, e sabe atuá-lo
de fazê-lo atuar. p. 204.
“Eu
[Protágoras] afirmo, sim, que a verdade é exatamente como eu escrevi; que cada
um de nós é medida das coisas que são e que não são; mas há uma diferença entre
homem e homem, e justamente por isso, as coisas aparecem e são para um de um
modo e para outro de outro. E estou longe de negar que exista a sapiência e o
homem sábio, mas antes, chamo sábio aquele que transformando aquilo que em nós
certa coisas aparecem e são más, consiga fazer que estas mesmas coisas apareçam
e sejam boas”. (Platão teeteto) p. 205.
Na
educação é preciso transformar o homem de hábitos piores em homem de hábito
melhores. (Platão
teeteto) p. 205.
GÓRGIAS:
nasceu em Leontina na
Sicilia, em torno a 485/480 a. C. foi discípulo de Empédocles. viajou por todas
as cidade da Grécia e naturalmente esteve em Atenas. Em 427 foi enviado pela
sua cidade natal como embaixador para obter ajuda militar contra Siracusa.
Atingiu grandíssimo sucesso com sua retórica. Sua obra filosófica mais
empenhativa deve ter sido: “sobre a natureza ou sobre o não-ser”, um
manifesto do niilismo ético. p. 210.
Num
escrito seu ele sustenta três teses bem concatenadas entre si: a) não existe o
ser, isto é, nada existe; b) mesmo que existisse o ser ele não seria
compreensível; c) e mesmo admitido que fosse compreensível, ele não seria comunicável
nem explicável aos outros. p. 210.
Da
obra “sobre a natureza ou sobre o não-ser” chegou duas redações, uma
conservada por Sexto Empírico e uma transmitida pelo anônimo autor sobre
Melisso, Xenófanes, Górgias (que chegou entre as obras de Aristóteles). p.
210.
A
demonstração das três proposições tem o precioso objetivo de excluir
radicalmente a possibilidade da existência ou de se alcançar, ou pelo menos,
exprimir uma verdade objetiva. p. 211.
O
próprio Sexto Empírico, que reportou umas das paráfrases, assim concluiu “diante
de tais questões, insolúveis, levantadas por Górgias, desaparece, pelo que lhe
concerne, o critério da verdade: porque do inexistente, do incognoscível, do
inexprimível não há possibilidade de juízo”. p. 211.
Se
para Protágoras existe uma verdade relativa, para Górgias não existe
absolutamente verdade, tudo é falso. p. 211.
Na
segunda tese Górgias demonstra que existe pensados, ou seja, conteúdo de
pensamento que não tem qualquer realidade e, portanto, não existem. “se
alguém pensa em homem que voa e cacos correm na praia. Conseqüentemente os
conteúdos do pensamento não são existentes [= o pensamento não é
pensamento do ser]. (Sexto Empírico). p. 213.
E
a retórica é exatamente a arte que sabe explorar até o fundo este aspecto da
palavra, e, portanto, pode ser chamada de arte da persuasão. p. 217.
Esta
persuasão não está ligada a qualquer conhecimento de verdades inatingíveis, mas
está ligada à pura crença. p. 217.
Na
Atenas do sec. V a.C. nos tribunais e nas assembléias, a retórica podia garantir,
a quem a possuísse, o sucesso. p. 217.
É
também evidente sua estrutura ligação coma política. Na era clássica, de fato,
o político é, chamada de orador. p. 217-218
Górgias
não hesita em chamar “melhor” aquém poeticamente engana do que a quem não
engana, e, “mais sábio”, a quem é enganado do que a quem não o é: o primeiro é
melhor pela sua capacidade criadora de ilusões poética, o segundo porque é mais
capaz de aprender a mensagem desta poética criatividade. p. 220.
PRÓDICO
DE CÉOS: não se sabe
exatamente quando ele nasceu. Os estudiosos conjeturam que a sua data de
nascimento está entre 470-460 a. C e que a sua atividade deva ser situada em
torno ao inicio da guerra do Peloponeso. Este muitas vezes em Atenas na
qualidade de embaixador. Deu com sucesso lições em Atenas e noutras cidade
gregas. p. 221
Prodigo
de Céos deve ter ensinado aos alunos como explorar praticamente, ao falar aos
juízes, ou ao povo nas assembléias, o jogo das distinções dos sinônimos. p.
221.
Hedonismo:
a felicidade está no
gozo de prazer intenso e fácil, está em desfrutar plenamente o que nos apraz,
nos serve e nos é útil, sem deixar-nos levra por escrúpulo. p. 223
Sexto
Empírico refere que Pródico de Céos afirmava: “os antigos consideraram
deuses, em virtude da vantagem que daí derivava, o sol, alua, os rios, a fontes
e, em geral, todas as forças que beneficiavam a vida”. p. 227.
Pródico
sustentava que tudo o que beneficiava a vida foi considerado como deus. p. 227.
Antifonte,
nos seus ensinamentos, deve ter insistido sobre as ciências naturais, por
aquelas mesmas razões propugnadas por Hípias, isto é, porque viu só na physis
a autentica norma do viver; mas chegou a radicalizar o dissídio entre natureza
e lei ao limite da ruptura, afirmando em termos eleáticos, que a natureza é a
“verdade” enquanto a lei positiva é pura “opinião”, e, portanto, que uma está
quase que antítese com a outra e, por conseqüência, deve-se transgredir a lei
dos homens, quando se puder fazê-lo impunemente, para seguir a lei da natureza:
“Justiça consiste em não transgredir nenhuma das leis do estado do qual se é
cidadão”. (do pensamento de Antifonte, que radicaliza o contraste entre nomos
e physis). p. 230-231.
A
maior parte do que é justo segundo a natureza revela-se hostil à natureza. p. 232.
O
iluminismo sofístico dissolveu não só os velhos preconceitos de castas da
aristocracia e o tradicional fechamento da polis, mas também o mais radical
preconceito, comum a todos os gregos, quanto à própria superioridade sobre os
outros povos; qualquer cidade é igual à outra, qualquer classe social é igual à
outra, qualquer povo é igual a outro, porque todo homem é por natureza igual ao
outro. p. 232.
As
coisas uteis postas pelas leis são vínculos para a natureza, as que são postas
pela natureza são livres. p. 232.
De
modo algum segundo um raciocínio correto, o que causa sofrimento auxilia a
natureza mais do que o que causa alegria; e assim tampouco será útil o que
causa dor mais do que o que prazer; o que é verdadeiramente útil não deve
prejudicar, mas ser útil. p. 232.
O
relativismo e o método antilógico de Protágoras, por obras dos sofistas da
geração mais jovem, produziu a erística [...] os eristas excogitaram toda
aquela aparelhagem de raciocínios capciosos e decepcionantes que foram posteriormente
chamados de “sofismas”. p. 234.
Trasímaco
de Calcedônia chegou a afirmar que o “justo não é mais que a vantagem do mais
forte” (Platão, A república); do que ele deduziu, quase certamente, como
nos diz Platão no primeiro livro da República, que a justiça é um bem
para o poderoso e um mal para quem está submetido ao poderoso, que o homem
justo tem sempre desvantagem e o injusto vantagem. p. 237-238.
A
vida “justa segundo s natureza” comportará também o favorecimento de todos os
instintos, porque estes são segundo a natureza. p. 238.
A
lei é sempre contra a natureza e foi feita pelos mais fracos para defenderem –
se dos mais fortes. p. 238.
A
sofistica operou um substancial deslocamento do eixo da pesquisa filosófica,
centrando a sua problemática sobre o homem; até a corrente naturalista da sofistica
ocupou-se da physis em sentido totalmente diferente dos naturalistas, não para
conhecer enquanto tal, mas para melhor compreender o homem e o seu agir, ou
seja, com finalidade ético-político-educativas. p. 240.
Neste
deslocamento do eixo está o valor substancial da sofistica, todavia, não se
pode dizer que a sofistica também tenha sabido fundar a filosofia moral. Todos
os sofistas levantaram e aprofundaram , de diferentes maneiras, problemas
morais, ou problemas ligados estruturalmente com a moral, mas não souberam
alcançar, no nível temático o principio do qual todos dependem. Estes
principio, como sabemos, consiste na precisa, consciente e razoável
determinação da essência do homem. Nenhum, dos sofistas disse expressamente,
isto é, tematicamente, o que é o homem. p. 240.
A
verdade está no meio: é preciso reconhecer aos sofistas o fato de terem sabido
dar voz às novas exigências do momento histórico e terem preparado o terreno
para o advento da filosofia moral, mas é preciso também dizer que eles não souberam
dar o passo final. p. 240.
Os
naturalistas criticaram a velha concepção antropomórfica dos deuses e identificaram
deus com o principio. p. 241.
Os
sofistas rejeitaram os velhos deuses, os quais, depois da critica naturalistas,
não eram mais dignos de fé; rejeitaram também a concepção de divino como
principio das coisas. assim, aproximaram-se da negação de qualquer forma de
divino: Protágoras permaneceu agnóstico; Górgias foi certamente alem do
agnosticismo com o seu niilismo; Pródico de Céos interpretou os deuses como
hipóstase humana do útil; Crítias, como a invenção de um home hábil e sábio
excogitada para reforçar as leis que por si só não são vinculantes. Depois
dessas críticas, não se podia voltar atrás: para crer no divino era preciso
buscá-lo numa esfera mais elevada. E do divino passamos ao humano. p.
241.
Os
sofistas não tiveram de destruir aquilo que dissera os naturalistas, porque
como sabemos os naturalistas não se ocuparam do homem; destruíram, ao invés,
definitivamente, a visão que a tradição, sobretudo através do poetas e dos
legisladores tinham construídos. Mas no momento em que tentaram reconstruir uma
imagem do homem, esta se dilui em suas próprias mãos: Protágoras entendeu o
homem propriamente como sensibilidade e sensação relativamente; Górgias como
sujeito de móvel emoção, sujeito a ser arrastado pela retórica em todas as
direções; e os próprios sofistas que apelavam à natureza, tendo-a entendido
sobretudo como natureza biológica e animal, não puderam não deduzir dela as
antitéticas conseqüências da absoluta igualdade e da absoluta desigualdade dos
homens. p. 241.
Antes
do surgimento da filosofia, a verdade não era distante das aparências. Os
naturalistas contrapunham às aparências o logos, e só nisso reconheceram a
verdade. p. 241
Protágoras
cindiu o logos nos “dois raciocínios” e descobriu que o logos diz e contradiz;
Górgias rejeitou o logos como pensamento e salvou-o só como mágica palavra, mas
encontrou uma palavra que pode dizer tudo e contrário de tudo e, portanto, não
pode verdadeiramente expressar nada. p. 241-242.
Se
pata reencontrar o divino e a verdade eram necessárias as descobertas
metafísicas e lógicas de Platão e Aristóteles, para reconstruir um novo rosto
do homem bastavam recursos disponíveis no interior do horizonte da sofistica: a
esta foi a contribuição que Sócrates soube dar; e assim com Sócrates a
sofistica se concluiu e tornou-se verdadeira. p. 242.
TERCEIRA PARTE
SÓCRATES
E OS SOCRÁTICOS MENORES
A
FUNDAÇÃO DA FILOSOFIA MORAL
Sócrates
morreu em 399 a. C. p. 247.
Sócrates
foi formalmente acusado de não crer nos deuses da cidade e de corromper os
jovens com as suas doutrinas. p. 247.
Platão
diz que no momento da morte Sócrates tinham cerca de 70 anos. Deduz-se que
nasceu em 470/469 a.C. p. 247.
O
pai de Sócrates era escultor, se chamava Sofronisco; sua mãe era parteira e se
chamava Fenarete. p. 247.
No
momento da morte Sócrates tinha ainda dois filhos jovens e um filho menor e,
portanto, deve ter se casado com Xantipa em idade avançada. Uma tradição
posterior fala também de outra mulher de Sócrates de nome Mirto. Se a noticia
fosse exata poder-se-ia pensar que Mirto tinha sido a primeira mulher e Xantipa
a segunda (Diógenes Laércio). p. 247.
Sócrates
jamais saiu de Atenas, a não ser quando chamado a participar de campanhas
militares (com bateu em Potidéia, em Anfipoli e em Delio). Não quis participar
da vida política julgando negativamente os métodos com os quais era
administrada a coisa publica. p. 247.
Sócrates
foi discípulo de Arquelau (discípulo de Anaxágoras). p. 248.
A
fonte mais antiga sobre Sócrates é Aristófanes, com a comédia As nuvens,
que é não só uma paródia do filósofo, mas também um violentíssimo ato de
acusação contra o seu ensinamento e seus nefastos influxos sobre a juventude:
Sócrates é considerado um sofista e antes, em certo sentido, o pior dos
sofistas; ao mesmo tempo é considerado filósofo naturalista. Por essa razão
Aristófanes, por muito tempo, não foi considerado e a comédia As nuvens
foi considerada uma obra de pura fantasia, totalmente desprovida de valor histórico.
p. 249.
A
segunda fonte, em ordem cronológica, é Platão, o qual faz de Sócrates o
Protagonista da maioria de seus diálogos, e põe na boca de Sócrates todas as
idéias filosofia que desenvolveu progressivamente. p. 249.
A
terceira fonte é Xenofonte, com os seus Ditos Memoráveis de Sócrates
e outros escritos menores dos quais Sócrates é protagonista. O seu Sócrates
resulta demasiado domesticado. Seria impossível que os atenienses tivessem
motivo para mandar à morte um homem tal como Xenofonte pretende que tenha sido
Sócrates. p. 250.
A
quarta fonte é Aristóteles, que só ocasionalmente fala de Sócrates, mas diz ele
coisas consideradas importantes. Mas Aristóteles não é um contemporâneo: ele
pode, é verdade, verificar de vários modos o que nos refere dele, mas
faltou-lhe o contato direto com o personagem, que, no caso de Sócrates, resulta
insubstituível e não-recuperável de maneira medida. p. 250.
Enfim,
existem os vários Socráticos que fundaram as chamadas escolas socráticas
menores. p. 250.
A
atitude dos sofistas diante da filosofia da physis: trata-se de uma atitude
totalmente negativa, a qual Górgias deu forma paradigmática no seu tratado Sobre
a natureza ou sobre o não-ser, no qual buscava demonstrar a estrutura
incomensurabilidade entre o ser (physis), de um lado, e o pensamento e a
palavra humana, de outro. p. 254.
Xenofonte
diz que Sócrates não discutia sobre a natureza do universo, como a maior parte
dos demais, indagando o ponto de existência daquilo que os doutos chamam
“Cosmo”, e por qual necessidade ocorram os fenômenos celestes: os que
empreenderam tais pesquisas eram por ele definidos como incipientes. p. 254.
A
ciência do cosmo é inacessível ao homem: quem a ela dedica as próprias energias
tenta de maneira vã conquistar um conhecimento que só um deus pode possuir. p.
255.
Xenofonte
refere que, em geral, no que concerne aos fenômenos celestes, Sócrates
desaprovava a curiosidade de apreender como a divindade os consignou; sustenta
que não podiam ser descoberto pelo homem e acreditava não ser agradável aos
deuses quem procurasse o que eles não tinham querido revelar. p. 255.
Segundo
Sócrates, quem se dedica a essa pesquisa, totalmente absorvido nela, esquece de
si mesmo, ou seja, daquilo que mais importa: o homem e os problemas do homem. p.
255.
Por
volta dos 30 anos Sócrates estava ligado a Arquelau (o qual repropunha
doutrinas de Anaxágoras, de forma eclética) e, com ele, como o poeta Íon de
Quio, tinha se dirigido a Samos. p. 255.
Teofrasto
refere que de Arquelau de Atenas, diz-se que também Sócrates foi discípulo. p.
255.
Os
sofistas falaram dos problemas do homem sem ter indagado de maneira adequada a
natureza ou essência do homem. Diferentemente dos sofistas, Sócrates conseguiu
fazer isso, e de tal modo, que pode dar a problemática do homem um significado
decididamente novo. p. 258.
Que
é o homem? a resposta socrática é inequívoca: o homem é sua alma, uma vez que é
a alma que o distingue de todas as outras coisas. p. 258.
Para
Homero a alma era o espírito no sentido de fantasma, que abandonava o homem na sua
morte para ir vagar no Hades; para os órficos, era o demônio que em nós espiava
a culpa, e que era tanto mais ele mesmo, quanto mais se separava do eu
consciente; para os físicos, era o princípio (água, ar, fogo); para os poetas
era algo indeterminado e em todo caso jamais teoricamente definido. p. 258.
Ao
contrário, para Sócrates, alma coincidia com a nossa consciência pensante e
operante, com nossa razão e com a sede de nossa atividade pensante e eticamente
operante. Em poucas palavras: para Sócrates a alma é o eu consciente, é a
personalidade intelectual e moral. p. 258-259.
Ensinar
os homens a conhecer e a cuidar de si mesmo é a tarefa suprema da qual Sócrates
considera ter sido investigado por Deus. p. 261.
Jamais
poderemos saber qual é a arte de tornar melhor a nós mesmos , se ignoramos o
que nós mesmos somos. (Sócrates). p. 263.
Se
nos conhecermos, saberemos talvez também qual é o cuidado que devemos ter como
nós mesmos; se não nos conhecemos, jamais o saberemos. (Sócrates). p. 263.
Uma
coisa é o homem, outra coisa é seu corpo (Sócrates). p. 264.
Para
Sócrates a essência do homem deve ser buscada na psique. p. 266.
Os
sofistas não souberam determinar qual era a verdadeira natureza do homem. p.
266.
A
superioridade de Sócrates sobre os sofistas, consiste sobretudo nisto: tendo
compreendido que o homem se distingue de qualquer outras coisa pela sua alma,
Sócrates pode determinar em que consiste a Arete humana: ela não pode ser senão
o que permite a alma ser boa, isto é, ser aquilo que por sua natureza deve ser.
p. 267.
Para
Sócrates virtude é “ciência” ou conhecimento; vicio é a privação da ciência é a
ignorância. p. 267.
Quem
faz o mal (que é ignorância) o faz, justamente, só por ignorância e não porque
queira o mal sabendo que é mal. p. 270.
Xenofonte
dei que Sócrates não punha limites entre sapiência (= ciência) e sabedoria, mas
considerava douto e sábio aquele que conhecendo as coisas belas e boas soubesse
usá-las; conhecendo as coisa feias, dela soubesse guardar-se. p. 270.
Quem
conhece o belo e o bom nada pode preferir-lhe; ao invés, quem não os conhece,
não pode praticá-los, e se tenta, erra. (Sócrates). p. 270.
Na
Ética a nicômaco, Aristóteles confirma que Sócrates afirmava que a
virtude era racional, de fato, sustentavam que todas eram uma ciência. p. 270.
Por
virtude os homens comuns (e em grande parte os sofistas) entendiam aquilo que a
tradição e os poetas entenderam: algo fundado sobre o costume, os hábitos e as
convicções da sociedade grega, mas não fundada e justificada sob rigorosas
bases racionais. p. 271-272.
Sócrates
diante da virtude e da vida moral do homem, faz exatamente o que os
pré-socráticos fizeram diante da natureza: tenta submeter ao domínio da razão a
vida humana. p. 272.
Para
Sócrates a virtude não é e nem pode ser simples adequação aos costumes, aos
hábitos e muito menos a convicção geralmente acolhida: ela deve ser algo
motivado racionalmente, justificado e fundado no plano do conhecimento, não
qualquer conhecimento, mas ao conhecimento do que é o homem e do que é bom e
útil ao homem. p. 272.
O
homem faz o mal porque espera, erroneamente, tirar dele o bem, a riqueza, o
prazer e o gozo. p. 273.
Sócrates
não distingue as varias faculdades do espírito humano e a sua complexidade. Ele
tem diante do espírito humano, aquelas mesmas visões unilaterais que tem
Parmênides diante do ser. será Platão que descobrirá a complexa estrutura da
alma humana, e mostrar que, ao lado da racionalidade, existe em nós a iracúndia
e a concupiscência, e que a ação moral consiste num delicado equilíbrio dessas
forças, que vê a irascibilidade (o querer) aliar-se e cooperar com a razão. p.
274.
A
felicidade não é dada nem pelos bens exteriores, nem pelos bens do corpo, mas
pelos bens da alma, ou seja pelo aperfeiçoamento da alma mediante a virtude. p.
282.
A
felicidade não depende das coisas e da sorte, mas do logos humano e da interior
formação que com o logos o homem pode se dar. p. 282.
Antístenes
se refere que Deus não se assemelha a ninguém e, portanto, ninguém pode
conhecê-lo por uma figura. p. 288.
Sócrates
considerava absurdo também o antropomorfismo moral, e negava que aos deuses
pudesse ser atribuídos paixões, sentimentos e costumes humanos. p. 289.
No
Eutífron, segundo Platão, Sócrates disse: “mas é justamente esta a razão pela
qual sou acusado: porque, quando alguém narra-me coisas semelhantes sobres os
deuses, eu não consigo aceitá-las”. p. 289.
Xenófanes,
antes de Sócrates, denunciara o erro antropomórfico da tradicional concepção
dos deuses em todas as suas formas. p. 289.
Sócrates
extraiu de Anaxágoras e de Diógenes de Apolônia a noção de Deus como noção de
inteligência ordenadora. p. 290.
Antes
de Sócrates, só Diógenes de Apolônia (desenvolvendo um pensamento de fundo de
Anaxágoras) sustentou uma concepção teológica do universo. Todavia para
Diógenes, a Inteligência ordenadora que tudo governa era o Ar e todo o
seu discurso era de caráter fisco-cosmológico. p. 296.
O
Daimónion socrático: trata-se de um sinal ou uma voz que Sócrates expressamente
dizia ser voz de Deus, isto é uma voz que provinha de Deus. p. 297.
O
Daimónion nunca é chamado de demônio, mas um sinal e voz divina. p. 298.
O
Daimónion não tem nada a haver com o âmbito das verdades filosóficas: a voz
divina não revela absolutamente para a Sócrates a sabedoria humana, para
Sócrates os princípios filosóficos tiram por inteiro a sua velocidade do logos,
e não da divina revelação. p. 299.
A
felicidade é, de fato, para Sócrates, algo de profundamente interior que tem a
sua origem e a sua pátria na alma do homem: reside na própria vida moral. o bom
da a si mesmo a sua própria recompensa, o mal o próprio castigo. p. 302.
As
finalidades do método dialógico socrático são, fundamentalmente, de natureza
ética educacional. p. 305.
A
dialética socrática tem em vista a exortação à virtude, o convencimento do
homem de que a alma e o cuidado de alma são o máximo bem para o homem. p. 305.
O
discípulo que tem alma grávida da verdade tem necessidade de uma espécie de
obstetra espiritual, que ajude esta verdade a vir à luz, e esta é justamente a
maiêutica socrática. p. 312.
Não
obstante aos outros filósofos, Sócrates foi o primeiro a alcançar a consciência
da idéia de ciência enquanto tal e das condições e procedimentos que a tornam
possível. E a condição para haver ciência seria redutível a este princípio: não
se pode afirmar nada de um objeto enquanto não se conhece dele o conceito, a
sua essência universal permanente. Conseqüentemente, o procedimento seguido por
Sócrates para alcançar o conceito seria o da indução, a passagem lógica dos
casos particulares aos universais. p. 317.
Os
fundadores das escolas socráticas menores foram: Antístenes (cínica); Aristipo,
Euclides e Fédon. p. 332.
Antístenes
nasceu em Atenas, o pai era ateniense, enquanto a mãe provinha da Trácia.
Antístenes viveu na passagem do século V a. C. para o sec. IV a. C. Foi
discípulo de Górgias e teve treinamento com outros sofistas; só em idade
avançada se tornou discípulo de Sócrates. p. 333.
Diógenes
Laércio refere que segundo Antístenes “a virtude está nas ações e não
necessidades nem de muitas palavras nem de muitos conhecimentos”. Nesse
sentido, deve ser e entendida a atividade negativa de Antístenes diante das
ciências. p. 334-335.
Para Antístenes a mensagem de Sócrates era puramente existencial. p. 336.
A
revolução socrática da tábua de valores é baseada na descoberta na descoberta
da Psyché como essência do homem e na conseqüente afirmação de que os
valores supremos são os valores da alma. p. 336.
Antístenes
condenou de modo categórico qualquer prazer, considerando-o em si o mal e com
extraordinária energia ele dizia: “prefiro antes enlouquecer do que
experimentar prazer”. p. 339.
Clemente
Alexandrino refere que Antístenes dizia (contra o prazer do sexo) “se eu
pudesse ter entre as mãos Afrodite, eu a atravessaria com uma flecha”. p.
339.
Por
que esta luta contra o prazer? porque o prazer no momento em que é buscado,
torna escravo o homem fazendo-o depender do objeto do qual ele deriva. p. 339.
A
sociedade honra e louva justamente o oposto daquilo que o filosofo prega. p.
340.
Alguém
disse a Antístenes: “muitos te louvam”, de modo mordaz Antístenes respondeu
“que fiz então de mal?” isso exprime um desprezo pela sociedade. p. 340.
Antístenes
dedicou sua escola a Héracles, herói das legendárias fadigas. p. 341.
Diógenes
Laércio refere que Antístenes foi reconhecido pelos antigos como fundador do
cinismo. O termo cínico deriva de cão (kúwn)
e, provavelmente, tem uma dupla gênese. Diógenes Laércio refere que:
“[Antístenes] costumava conversaR no ginásio de Cinoarge” [kunosarges = cão ágio],
próximo das portas [de Atenas] e alguns pensam que a escola cínica tomou o seu
nome de Cinoarge”, e ulteriormente refere que Antístenes era chamado de Aplokuwn, ou
seja, Cão puro. O discípulo de Antístenes Diógenes alto determinou-se de
“Diógenes, o cão”. p. 341-342.
É
possível que no cão eles vissem o emblema da vigilância: daquela vigilância que
o cão tem por seu dono e o filosofo cínico por sua doutrina. p. 342.
Antístenes
disse: “também os médicos estão com os enfermos sem, por isso, pegar a febre”
(fonte de Diógenes Laércio). p. 343.
Também
o cínico pretendia ser uma espécie de redenção espiritual: com a diferença que
ele mirava unicamente a vida presente, o cristianismo a futura. p. 343.
Da
longínqua e rica cidade de Cirene, fundada por colonos gregos na costa da
África, Aristipo veio a Atenas atraído pelo que ouviu contar sobre Sócrates por
alguém que encontrou nos jogos olímpicos. p. 344.
Para
Sócrates bens era só a ciência e a virtude. p. 345.
Aristipo
afirmou que o prazer é sempre um bem, de onde quer que ele derive. p. 345.
Aristipo
chegou a exigir pagamento pelas suas lições, justamente como faziam os
sofistas, a ponto de os antigos lhe chamarem de sofista. p. 345.
Para
os cirenáicos agradáveis são as sensações que implicam “um movimento violento”,
a falta de prazer ou de dor é, ao invés, falta de movimento ou êxtase e é
semelhante a situação de quem dorme. p. 351.
Diógenes
Laércio refere que para os cirenáicos [diziam eles] “são muito melhores os
prazeres do corpo do que os prazeres da alma”. p. 352.
Para
os cirenáicos o prazer devia ser o que tem lugar no instante, no presente
atual... os cirenáicos diziam: com efeito, só o presente é nosso e não o que já
se realizou e nem o que ainda se espera: o primeiro, de fato, já acabou e o
segundo é incerto se virá. p. 352.
Euclides
nasceu em Megara, onde viveu e fundou a sua escola. Ele deve ter sido mais velho
que Platão. Diógenes Laércio refere que depois da morte de Sócrates, Platão e
os outros amigos dele se refugiaram em Megara junto a Euclides, por razões
políticas. p. 356.
Euclides
tentou fazer uma síntese entre a ética socrática e a ontologia eleata. p. 357.
Euclides
e seus seguidores rediziam o bem ao uno. E concebiam este uno com
característica eleata da absoluta e imóvel identidade e igualdade de si
consigo. Diógenes Laércio refere que “Euclides eliminava as outras coisas
contrarias ao bem, sustentando que não são. p. 358.
Diógenes
Laércio informa que Fédon de Elida, dos eupátridas, foi capturado junto com a
queda de sua pátria e constrangido a ficara em um bordel. Mas daí consegui
entrar em contato com Sócrates e depois, por incitamento de Sócrates, Alcibíades
e Críton e seus amigos o resgataram. Desde então tornou-se livre e dedicou-se à
filosofia. Escreveu diálogos entres os quais “Zapiro e Simão”. p. 364.
Na
Grécia foram os órficos a difundir a crença na metempsicose (transmigração da
alma de um corpo para outro)... em todo caso parece seguro que, entre os
gregos, a doutrina da transmigração da alma não veio dos filósofos aos
sacerdotes, mas dos sacerdotes aos filósofos. p. 377.
O
pitagórico Filolau escrevia: “atestam também os antigos teólogos e adivinhos
que alma está unida ao corpo para pagar alguma pena; e neste como numa tumba
está sepultada. p. 379.
O
fim da alma, segundo o orfismo, é libertar-se do corpo. p. 381.
Se
o corpo é a prisão da alma, oi seja, lugar onde paga a pena de uma antiga
culpa, e se a reencarnação é como a continuação desta pena, é claro que a alma
deve libertar-se do corpo e, justamente este é o seu fim ultimo. p. 381.
As
teogonias órficas, diferentemente da hesiodiana, terminava com o mito de
Dionísio, e os Titãs e com as explicações das origens dos homens, assim como do
bem e do mal que neles existem. Por conseqüência, enquanto uma (isto é a
teogonia hesiodiana) não poderia nunca se tornara uma doutrina de base para a
vida espiritual, a outra (isto é, a teogonia órfica) podia constituir esta
doutrina, e com efeito a constituía. p. 385.
Ora, a idéia de fundo da parte final da teogonia era a seguinte:
Dionísio, filho de Zeus, foi triturado e devorado pelos Titãs, aos quais, por
punição, foram queimados e incinerados pelo próprio Zeus, e das suas cinzas
nasceram os homens. p. 385.
É
evidente em que sentido e medida este mito pode constituir base de uma ética.
Ele explica a constante tendência ao bem e ao mau presente nos homens: a parte
dionisíaca é a alma (e liga se a ela a tendência ao bem), a parte titânica é o
corpo (e liga-se a ele a tendência ao mal). Daqui deriva a nova tarefa moral de
libertar o elemento dionisíaco (a alma) do elemento titânico (o corpo). A
reencarnação e o ciclo dos renascimentos são a punição desta culpa e estão
destinadas a continuar até que o homem se liberte da própria culpa. p. 385.
Platão
tirará inspiração dessa intuição e, transpondo-a e fundando-a no plano
metafísico, construirá a visão do homem “em duas dimensões”, que condicionou
largamente o pensamento ocidental. p. 385
Sócrates
simplesmente sobre o homem aquele tipo de pergunta que os naturalistas punham
sobre o cosmo. Eles pretendiam explicar todas as coisas relativas ao universo,
reduzindo-as a unidade de um princípio; Sócrates pretendia, ao invés, explicar
todas as coisas relativas ao homem e a sua vida, também reduzindo-as à unidade
de um princípio: queria chegar a essência do homem e, em função desta,
reinterpretar todas a vida do homem. p. 395.
Das
Orígenes ao fim, os gregos consideraram a filosofia como a tentativa de
compreender todas as coisas, reproduzindo-as ao seu fundamento ultimo, ou seja,
a tentativa de medir-se com o todo... a seguinte afirmação platônica pode
verdadeiramente ser considerada o selo desta concepção: quem é capaz de ver o todo
é filósofo, quem não, não é. p. 396.
No
Teeteto, Platão refere que “é próprio do filósofo admirar-se, e o filósofo não
tem outra origem senão o está pleno de admiração”. p. 398.
Uma
vez explicada a origem, é fácil explicar também o fim, ou seja, o escopo do
filosofar segundo os gregos. Se a origem é uma necessidade de conhecimento, o
fim deverá ser justamente, o apaziguamento, ou pelo menos, a tendência ao
apaziguamento dessas necessidades. O fim é, portanto, o conhecimento buscado e
conseguido em si mesmo e não por escopos ulteriores. O fim é o conhecimento
pelo conhecimento, ou como diziam os gregos o theorin, o conhecimento como pura
atitude contemplativa do verdadeiro. p. 400.
Eudaimonia,
a palavra grega que traduzimos por felicidade, significa, literalmente, ter um
bom demônio protetor, do qual depende conseqüentemente uma vida prospera. p.
409.
Heráclito
afirmava que “o caráter é o demônio do homem”. p. 409.
Na
“metafísica” Aristóteles especifica que a busca da verdade , sob certos
aspectos, é difícil, e sob outros aspectos, é fácil: é difícil porque é
impossível captar totalmente a verdade, mas é também fácil porque é impossível
não captá-la de nenhum modo. p. 413.
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