IGREJA e POLÍTICA
Fábio Coimbra[1]
No que concerne à luta pela entrada e permanência no poder político,
podemos afirmar que muitos indivíduos do período contemporâneo estão cada vez
mais – em escala ascendente – usufruindo a imagem do sagrado, a fim de que,
nele estando envolvidos, se posicionem melhor sobre todos.
Se analisarmos com bastante atenção,
perceberemos que nos últimos tempos, muitos políticos têm procurado usar a
religião ou as igrejas como ponto de apoio ou caminho para chegar ao poder, de
tal modo que esse fato, parece, já ter ganhado estabilidade. Isso em nada
agrada o poder democrático, uma vez que indivíduos incompetentes, corruptos e
incapazes de uma administração qualitativa, podem, mediante o uso das igrejas,
chegarem ao poder, pondo em risco a democracia.
Democracia é o governo do povo, conforme a
etimologia do termo. É o povo que participando da vida política da sociedade,
faz a democracia acontecer.
O poder exercido pelo o governo emana do povo,
todavia, este o exerce de forma indireta, isto é, há pessoas designadas por
intermédio da soberania popular para representar o povo e seus interesses. A esses
escolhidos atribui-se a responsabilidade de cuidar dos interesses do povo, de
atender às suas necessidades, de promover o desenvolvimento social e
principalmente de guardar o zelo pela democracia.
Desta forma exige-se em primeiro lugar da parte
daqueles que governam diretamente, como também daqueles que lutam para
governar: compromisso frente à sociedade, transparência em suas ações,
responsabilidade em sua gestão governamental e dedicação para com o povo.
Portanto, não condiz com a natureza dos
princípios éticos e políticos que indivíduos aspirantes, ou que lutam pela sua
conservação no poder, venham a usufruir o espaço sagrado com o intuito de obter
o bem próprio em detrimento do bem comum. A estes podemos atribuir o
qualificativo de falsos pastores e usurpadores, pois vêm vestido de branco
somente para extorquir e roubar das ovelhas aquilo que de mais precioso elas
possuem, o voto.
Contudo não podemos afirmar que as igrejas têm
sido curral eleitoral pondo em risco o processo democrático da nação
brasileira. Até porque há entre elas algumas que se encontram empenhadíssimas no
processo de conscientização da população a cada vez que se aproxima de um
período eleitoral. Essas igrejas geralmente não temem, mas orientam o povo para
que este possa votar com dignidade e convicção a cerca de seus direitos e
deveres exercendo desta forma a cidadania e principalmente a democracia. Em
geral algumas dessas igrejas não admitem que seus dirigentes integrem a vida
política no sentido partidário do termo, embora muitos as desobedeçam e acabam
por atender a seus desejos, vontades e aspirações. Isso de uma certa maneira
pode deturpar a imagem da religião no sentido geral do termo ou da igreja a que
pertence.
Mas podemos asseverar que as igrejas têm sido
vítimas de extorsão política e alvo daqueles que, de maneira incompetente,
buscam delas, por meio de sua força religiosa, alcançar o poder para, muitas
vezes, desfigurar a imagem da democracia.
Igreja e democracia são duas realidades. De um
lado está à força da religião, do outro o poder do povo. O povo que constitui a
religião é o mesmo que forma o poder democrático. Deste modo igreja e
democracia estão diretamente ligadas numa união indissolúvel.
Não se
pode imaginar uma igreja inserida em um determinado contexto social democrático
constituída por indivíduos que não sejam os mesmos construtores da democracia. É
por esta razão que as igrejas orientam e estimulam seus fiéis a participarem da
vida social democrática.
Podemos afirmar que muitas pessoas podem pôr em
risco a democracia de uma nação por meio do uso das igrejas. Mas não podemos,
de modo algum, afirmar, que elas – as igrejas – têm, em si mesmas, colocado em
risco a democracia. Isto seria um ato contraditório à sua ação, que se
concretiza em união com a democracia.
A palavra democracia cuja etimologia é grega,
compõem-se de dois termos distintos: demo= povo + cracia= governo. Unidos dão
origem a uma nova palavra de significado mais amplo e complexo. A partir de
então, esse termo novo passa a estruturar e designar uma nova forma de governo
pautado na organização social em que o controle político é exercido pelo povo,
o qual delega poderes a representantes eleitos segundo a soberania popular.
O voto é um dos instrumentos por meio do qual o
povo participa da democracia. Contudo o voto, para ser eficaz e frutuoso, é
necessário que, antes de tudo, seja consciente e cidadão. O voto criterioso e
qualitativo é um dos meios pelo qual se pode obter ou, ao menos, sonhar com uma
sociedade democraticamente modificada e mais apta a atender as necessidades de
cada cidadão ou da coletividade, como se entende melhor.
A democracia mais do que uma simples
participação popular no governo, ainda que essa participação se realize de
forma indireta, é também uma união de princípios de organização política imersa
em um determinado sistema.
É fundamental que haja, dentro de um sistema de
governo democrático, uma aliança entre os elementos da organização política e
as demais instituições sociais presentes nesse mesmo país ou fora dele,
sobretudo aquelas de grande poder econômico. Em outras palavras, destaco a
grande importância de haver em uma sociedade democrática uma relação ou um
pacto entre o setor estatal e o setor privado, numa perspectiva de democratizar
tudo quanto for possível, útil e eficaz para o progresso social. Isso se torna
eficaz na medida em que se objetiva a busca do bem comum, a defesa dos
interesses da coletividade, a defesa dos direitos de cada cidadão e a prática
da cidadania.
Tudo isto resulta no livre e qualitativo exercício
da democracia. Desta forma, destaco a grande relevância que possui a sociedade
em funcionar como principal órgão de fiscalização dessa aliança entre estatal e
privado.
Portanto é fundamental que o “demos” (povo)
mobilize e organize-se em sociedade com o objetivo de fiscalizar, exigir e
reivindicar, por meio de suas lutas e participações, aquilo que de valoroso
possui, ao qual, chama de direito. Por isso, é muito importante que se conserve
em uma sociedade democrática o direito de reivindicação. Este é um dos meios
pelos quais todos podem participar diretamente do processo democrático de um
país.
A democracia é uma forma de governo que, em uma
visão aristotélica, consiste no comando da massa popular e pela qual se busca
suprimir toda a diferença social em nome da igualdade.
O sábio iluminista, Rousseau, nos apresenta a
democracia como uma forma de participação direta do povo no ato legislativo.
Partindo deste principio, ele defende a idéia de igualdade e liberdade
afirmando que é por meio desta que se realiza a participação direta em um
segmento de democracia.
Cabe ressaltar que nesta colocação, Rousseau se
baseia nos ideais da revolução francesa, cuja utopia consistia na busca de uma
sociedade fraterna, livre e solidária em uma perspectiva iluminista. Diante de
tudo isto que foi dito acima, fica claro que um dos objetivos da igreja
consiste na luta pela conscientização do povo a respeito da democracia e como
ela se fundamenta na participação popular. Eis porque a igreja instiga todos os
cristãos a participarem do processo democrático.
A igreja ressalta a grande necessidade de se
definir um novo modelo para o nosso país. Contudo, ela chama a atenção para a
necessidade de definir um novo modelo para o país, que não consiste apenas em colocar
um voto na urna, mas acompanhar os representantes eleitos numa atitude de
colaboração e de exigência para que os compromissos de campanhas sejam
cumpridos.
A igreja defende uma ampliação mais profunda
nos meios de participação popular nos diferentes conselhos já existentes na
sociedade. Assim teremos uma sociedade, justa, livre, solidária e democrática.
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