REFERÊNCIA
NICOLAU, Maquiavel. O Príncipe. Trad. Maria Júlia
Goldwasser. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996 – (clássicos)
Prefácio
- o príncipe é um livro cuja
aparente clareza deslumbram e cujo mistério os eruditos e os simples leitores
tentam em vão esclarecer. p. IX.
- numa nota de O contrato Social, Rousseau diz que
Maquiavel era um homem honesto e um bom cidadão, mas estando ligado à casa dos
Medici, era obrigado, em meio à opressão de sua pátria, a disfarçar o seu amor
à liberdade. p. X.
- Maquiavel amava a liberdade e nem mesmo disfarçava seu
amor. Mas, para fundar um principado novo ou livrar a Itália dos bárbaros, a
liberdade de um povo corrompido teria sido impotente. p. X.
- toda resposta a uma questão
suscita novas questões e talvez nos leve ao ponto de partida, à interrogação
inicial formulada com mais sutileza. p. X.
- sendo os homens o que são,
os preceitos que a experiência do mundo sugere não coincidem com o que os
moralistas ensinam. p. XIII.
- o bem temporal em que
frutifica a justiça do estado, o mal temporal em que frutifica sua iniqüidade,
podem ser e na verdade são inteiramente diferentes dos resultados imediatos que
o espírito humano podia prever e que os olhos humanos contemplam. p. XIV.
- a política é ação e a ação
tende ao êxito. p. XIV.
Cronologia
1469,
3 de maio. Nasce Niccolò Machiavelli, filho de Bernardo,
advogado, e de Bartolomea de Nelli, poetisa amadora. Terceiro de 4 filhos,
Maquiavel é educado em um ambiente culto. Herdou do pai uma vocação para os
estudo históricos e jurídicos.
1492.
morre Lorenzo de Medici, sendo substituído por seu filho Piero (1471-1503). p.
XVIII.
1494.
setembro-dezembro,
avançando suas pretensões sobre o reino de Nápoles, Carlos VIII, rei da França,
chega a Itália e entra também em Florença. Piero de Medici é expulso da cidade sob
a acusação de ter aceito, sem nenhuma hesitação, as onerosas exigências do
soberano francês, e os habitantes de Florença proclama m a republica. Gerolamo
Savonarola aproveita-se da situação para torna-se árbitro da vida florentina. p.
XVIII
1498,
23 de maio. Acusado de heresia e excomungado, Savonarola
é processado, enforcado e queimado na Piazza della Signoria. 19 de junho, Maquiavel é eleito
secretário da república, oi seja, chefe da segunda chancelaria. p. XIX.
1512,
16 de setembro, o governo republicano é desfeito e, com o
apoio do papa, os Medici voltam para a cidade. p. XXVIII.
1513,
fevereiro, sob suspeita de participar de um complô
contra os Médici, Maquiavel é preso e torturado. Reconhecido inocente e
colocado em liberdade, retira-se para Sant’ Andrea in Percussina, na Villa
conhecida como L’ Albergaccio. 10 de
dezembro. numa carta ao embaixador florentino Francesco Vettori, Maquiavel
anuncia: “Escrevi um livreto, De
Principatibus (O Príncipe), onde me aprofundo o mais que posso nos
argumentos do assunto acima, investigando o que é principado, de que espécie
são, como se conquistam, como se mantém, porque se perdem”. A obra é dedicada a
Lorenzo II de Medici. p. XXVIII.
1517.
Maquiavel
conclui a obra Discorsi sopra La prima
deca di Tito Livio, iniciada em 1513 e interrompida para a execução de O Príncipe. p. XXIX
1527,
21 de junho. Despojado de todos os seus cargos da nova
república, morre pobre em Florença, chorado apenas por poucos amigos do
cenáculo dos Orti Oricellari. No dia seguinte, é enterrado em Santa Croce. p. XXXIII.
O
PRÍNCIPE
CAP.
I
DE QUANTOS TIPOS SÃO OS
PRINCIPADOS E DE QUE MODO SE ADQUIREM. P 3
- Todos os estados, todos os
domínios que tiveram e têm poder sobre os homens foram e são ou republicas ou
principados. Os principados ou são hereditários, nos quais o sangue de seu
senhor vem governando há longo tempo, ou são novos. p. 3.
CAP.
II
DOS PRINCIPADOS HEREDITÁRIOS.
P 5.
- Ocupar-me-ei somente dos
principados e discutirei de que forma podem ser governados e mantidos. p. 5.
- Nos estados hereditários e
acostumados à dinastia de seus príncipes são bem menores as dificuldades para
se governar do que nos novos, pois, basta não descuidar da ordem instituída
pelos seus antepassados. p. 5.
- O príncipe natural
(hereditário) tem menos motivo e menos necessidade de ofender; daí resulta que
seja mais amado. p. 5.
Sempre uma mudança deixa
preparada as fundações da outra. p. 6.
CAP.
III
DOS PRINCIPADOS MISTOS
- É no principado novo que
estão as dificuldades. [...], que consiste no fato de os homens gostarem de
mudar de senhor, acreditando com isso melhorar. Esta crença os faz tomar armas
contra o senhor atual. Só mais tarde percebem o engano, pela própria
experiência deterem piorado. Isto decorre de uma outra necessidade natural e
ordinária, a qual sempre impõe ofender aqueles aquém se passa a governar. p. 7.
- Diante de uma rebelião, o
senhor agirá com menos timidez para determinar a punição dos traidores,
identificar os suspeitos e determinar seus pontos mais fracos. p. 8.
- Quem deseja conservar suas
conquistas deve ter em mente duas precauções: uma é extinguir o sangue do
antigo príncipe; outra é não alterar suas leis e impostos. p. 9.
- Não se deve jamais deixar
uma desordem prosperar para evita uma guerra, porque uma guerra não se evita,
somente se posterga com desvantagem para si mesmo. p. 15.
- Os franceses não entendiam
de Estado porque, se entendessem, não teriam permitido que a igreja alcançasse
tanta grandeza. p. 16
- Arruína-se quem é
instrumento para que outro se torne poderoso, porque esse poder é dado ou pela
astucia pela força e ambas são suspeitas a quem se torna poderoso. p. 16
CAP.
IV
POR QUE RAZÃO O REINO DE
DARIO, OCUPADO POR ALEXANDRE, NÃO SE REBELOU CONTRA OS SUCESSORES DESTE APÓS A
SUA MORTE
- Os principados dos quais
se tem memória são governados de dois modos diversos: ou por príncipe de quem
são servidores todos os outros, ou por um príncipe e barões que detém a sua não
pela graça do senhor, mas pela antiguidade do sangue. p. 17.
- Nos estados governados por
príncipes e seus servidores, o príncipe tem maior autoridade, por que em toda a
província não há ninguém que se reconheça como superior a ele. p. 17
CAP.
V
DE QUE MODO SE DEVEM
GOVERNAR AS CIDADES OU PRINCIPADOS QUE, ANTES DE SEREM OCUPADOS, VIVIAM SOB
SUAS PRÓPRIAS LEIS
- Quando os estado
conquistados estão habituados a viver sob suas próprias leis e em liberdade[1],
existem três maneiras de conservá-los: a primeira é destruí-los[2],
a outra é ir pessoalmente residir neles, e a terceira é deixá-los viver sob
suas próprias leis, impondo-lhes um tributo e criando dentro deles um governo
de poucos, que se conserve teu amigo. p. 21.
- Quem se torna senhor de
uma cidade habituada a viver livre, e não a destrói, será destruído por ela,
porque ela sempre invocará, na rebelião, o nome de sua liberdade e de sua
antiga ordem, as quais nem o passar do tempo, nem os benefícios jamais farão
esquecer. p. 22.
- Quando as cidades ou as
províncias estão habituadas a viver sob o governo de um príncipe e seu sangue
desaparece, estando de um lado acostumados a obedecer e, de outro, não tendo
mais esse antigo príncipe, não chegam a um acordo para eleger outro e não sabem
viver em liberdade: por isso são mais lentos em tomar armas e com mais
facilidade poderá um príncipe conquistá-las e conservá-las em seu poder. p. 22.
- Nas repúblicas há mais
vida, mais ódio, mais desejo de vingança. Ali a recordação da liberdade não as
pode deixar em paz e, por isso, o meio seguro para possuí-las é ou destruí-las
é ou destruí-las ou ir habitá-las. p. 22.
CAP.
VI
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE
CONQUISTAM COM ARMAS PRÓPRIAS E COM VIRTÙ
- Os homens trilham quase
sempre caminhos abertos por outros e pautam suas ações sobre essas imitações,
embora não possam repetir tudo na vida dos imitados nem igualar sua virtù. p. 23.
- Um homem prudente deve
sempre seguir os caminhos abertos pelos grandes homens e espelhar-se nos que
foram excelentes. p. 23.
- Sem a ocasião a virtù se teria perdido, assim como sem virtù, a ocasião teria seguido em vão. p. 24.
- Era necessário que Moisés
encontrasse no Egito o povo de Israel escravizado e que este se dispusesse a
segui-lo [...] Era preciso que Ciro encontrasse os persas descontes com o
império dos medas e estes debilitados e estes debilitados e afeminados pela
longa paz. Não poderia Teseu demonstrar sua virtù
se não tivesse encontrado os atenienses dispersos. Essas ocasiões, portanto,
tornaram aqueles homens afortunados; enquanto sua excelente virtù fez com que reconhecessem a ocasião.
Com isso trouxeram honra e felicidade a suas pátrias. p. 24-25.
- Aqueles que, por caminhos
valorosos come estes, se tornam príncipes, conquistam o principado com
dificuldade, mas o conservam com facilidade. As dificuldades que têm para
conquistá-lo nascem em parte da nova ordem e dos novos métodos que são
obrigados a introduzir para fundar seu estado e sua segurança. p. 25.
- Devemos convir que não há
coisa mais difícil de se fazer, mas duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o
introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles
que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a
quem as novas instituições beneficiariam. p. 25.
- Essa timidez nasce em
parte do medo dos adversários, que tem a lei ao seu lado, em parte da
incredulidade dos homens, que só crêem na verdade das coisas novas depois de
comprovadas por uma firme experiência. p. 25.
- É necessário, para bem
compreender este assunto, examinar se estes inovadores dispõem de meios
próprios ou dependem de outros, isto é, se para realizar a sua obra precisam
pedir ou podem força. p. 25.
- No primeiro caso acabam
sempre mal e não conseguem nada; mas quando dispõem de seus próprios meios e
podem forçar, é raro que fracassem. p. 25.
- Todos os profetas armados
vencem, enquanto os desarmados se arruínam. p. 25.
- Em nosso tempo, foi o que
aconteceu ao frei Girolamo Savonarola, que se arruinou com sua ordem nova a
partir do momento em que a multidão começou a não acreditar nela, pois ele não
dispunha de meios nem para manter firme os que haviam acreditado, nem para
fazer crer os descrentes. p. 26.
CAP.
VII
DOS PRINCIPADOS NOVOS QUE SE
CONQUISTAM COM AS ARMAS E A FORTUNA DE OUTREM
- Aqueles que, somente pela
fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco
esforço, mas com muito esforço se mantém. p. 27
- Os homens ferem ou por
medo ou por ódio. E não encontram nele dificuldade no caminho porque passam
voando por ele: mas todas as dificuldades surgem quando chegam ao destino. Isto
se verifica quando um estado é concedido a alguém ou por dinheiro ou pelas
graças de quem o concede. [...] eles se apóiam na vontade e na fortuna de quem
lhes concedeu poder, que são coisas muito volúveis e instáveis, e não sabem nem
podem manter o principado. p. 27.
CAP.
VIII
DOS QUE CHEGARAM AO
PRINCIPADO POR ATOS CRIMINOSOS
- São bem empregadas as
crueldades que se fazem de uma só vez pela necessidade de garantir-se e depois
não se insiste mais em fazer, mas rendem o Maximo possível de utilidade para os
súditos. p. 41.
- Mal empregadas são aquelas
que crescem com o tempo, ao invés de se extinguirem. p 41.
- Ao tomar um estado, o
conquistado deve examinar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las
todas de uma só vez e não ter que renová-las todos os dias. p. 41.
CAP.
IX
DO PRINCIPADO CIVIL
- Quando um cidadão
particular se torna príncipe de sua pátria, não por atos criminosos nem outras
violências intoleráveis, mas pelo apoio de seus cidadãos (o que se pode chamar
principado civil; para alcançá-lo, não é necessário ter muita virtù, nem muita fortuna, mas antes uma
astucia afortunada), digo que se ascende a este principado ou pelo favor do
povo ou pelo favor dos grandes. p. 43.
- Quando os grandes percebem
que não pode resistir ao povo, começam a exaltar a fama de um deles e o tornam
príncipe para poder, sob sua sombra, desafogar o apetite. p. 43.
- O povo também, quando
percebe que não pode resistir aos grandes, dá reputação a alguém e o faz
príncipe, para ser defendido por sua autoridade. p 43.
- Quem chega ao principado
com a ajuda dos grandes mantém-se com mais dificuldades do que o que se torna
príncipe com a ajuda do povo, porque o primeiro se vê cercado de muitos que
parecem ser seus iguais, não podendo com isso, comandá-los nem manejá-los ao
seu modo. P. 43-44.
- Quem chega ao principado
com o favor popular encontra-se sozinho e não tem em torno de si ninguém ou
pouquíssimos que não estejam prontos a obedecê-lo. p. 44.
- Um príncipe não pode
jamais proteger-se contra a inimizade do povo, porque são muitos; no entanto,
pode-se garantir contra os grandes porque são muitos. p. 44.
- Quem se tornar príncipe
pelo favor do povo deverá manter sua amizade , o que será fácil, pois tudo que
lhe pedem é não serem oprimidos. p. 45.
- Mas quem se tornar
príncipe pelo favor dos grandes e contra o povo, deverá, antes de qualquer
outra coisa, procurar conquistá-lo, o que também será fácil, se lhe der
proteção. p 45.
- Como os homens se ligam
mais ao seu benfeitor quando recebem o bem quando esperam o mal, neste caso, o
povo se torna mais rapidamente favorável ao príncipe do que se ele tivesse sido
conduzido ao principado graças ao seu apoio. p. 45.
- É necessário ao príncipe
ter o povo como amigo; caso contrário, não terá remédio na adversidade. p. 45.
- Um príncipe sábio deve
encontrar um modo pelo qual seus cidadãos, sempre e em qualquer tempo, tenham
necessidade do estado e dele; assim sempre lhe serão fiéis. p. 47.
CAP.
X
DE QUE FORMA SE DEVEM
AVALIAR AS FORÇAS DE TODOS OS PRINCIPADOS
- Os príncipes que podem
governa-se por si mesmos [...] são capazes de formar um exército bem
proporcionado e travar batalhas com quem quer os ataque. p. 49.
- Um príncipe que tem uma
cidade forte e não se faz odiar não pode ser atacado. p. 50.
- Um príncipe forte e
corajoso sempre superará todas as dificuldades, dando a seus súditos a
esperança de que o mal não será longo. p. 50.
- É da natureza dos homens
deixar-se cativar tanto pelos benefícios feitos como pelos recebidos. p. 51.
- Não será difícil a um
príncipe prudente manter firme o ânimo de que seus cidadãos antes e depois do
assédio, desde que não lhes faltem alimentos nem meios de defesa. p. 50.
CAP.
XI
DOS PRINCIPADOS
ECLESIÁSTICOS
Somente eles (os príncipes eclesiástico) possuem
estados e não os defendem; súditos, e não os governam ; e os estados por não
serem defendidos, não lhes são tomados; e os súditos, por não serem governados,
não cuidam, nem podem separa-se dele. Logo, só estes principados são seguros e
felizes. p. 53.
CAP.
XII
DE QUANTOS GÊNEROS HÁ DE
MILÍCIAS E DE SOLDADOS MERCENÁRIOS
- Os principais fundamentos
de todos os estados, tanto dos novos como dos velhos, ou dos mistos, são boas
leis e boas armas. p. 57.
- Como não se podem ter boas
leis, onde não existem boas armas, e onde são boas as armas costumam ser boas
as leis, deixarei de refletir sobre as leis e falarei sobre as armas. p. 57.
- Quem tem o seu estado
baseado em armas mercenárias jamais estará seguro e tranqüilo, por que elas são
desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, valentes entres os amigos e
covardes entre os inimigos. p. 57.
- O príncipe apena terá
adiada a sua derrota, pelo tempo que for adiado o ataque. p. 58.
- A ruína da Itália não tem
outra razão senão está há muitos anos apoiada em armas mercenárias. p. 58.
- somente os príncipes e as
republicas armadas fazem progresso imenso, enquanto os exércitos mercenários
trazem apenas danos. p. 59.
Cap.
XIII
DOS EXÉRCITOS AUXILIARES[3],
MISTOS E PRÓPRIOS
- Os exércitos auxiliares,
que são outra arma inútil, são as tropas de um poderoso chamado para te
auxiliar e defender. p. 63.
- Esses exércitos podem ser
úteis e bons para si mesmos, mas, para quem os chama, são quase sempre nocivos;
quando perdem, és derrotado junto com eles e, quando vencem, te aprisionam. p.
63.
- oferecendo-se Davi a Saul
para combater Golias, agitador filisteu, Saul equipou-o com suas armas para
dar-lhe bom ânimo. Ao experimentá-las, porem, Davi as recusou, dizendo que com
elas não poderia bem valer-se de si mesmo; em vez disso queria enfrentar o
inimigo com sua funda e seu punhal. p. 65.
- Os exércitos dos outros ou
te caem pelas costas, ou te pesam ou te apertam. p. 65.
- A pouco prudência dos
homens começa uma coisa que, por ter bom sabor, não lhes permite notar o veneno
que traz por baixo. p. 66.
- Se examinarmos a razão
primeira da ruína do Império Romano, veremos que residiu tão-somente em ter
começado a contratar os godos[4],
porque, a partir desse início, começaram a debilitar-se as suas forças e toda a
virtù que se tirava dele se
transferia para os outros. p. 66.
- Sem armas próprias nenhum
principado estará seguro. p. 66.
- As armas próprias são as
composta ou de súditos, ou de cidadãos, ou de pessoas a quem conferistes poder. p. 67.
CAP.
XIV
DO QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE
ACERCA DA MILÍCIA
- deve portanto um príncipe
não ter outro objetivo, nem pensamento, nem tomar como arte sua coisa alguma
que não seja a guerra, sua ordem e disciplina, porque está é a única arte que
compete a quem comanda. p. 69.
- A primeira razão que te
leva a perder teu estado é negligenciar esta arte, e a razão que te faz
conquistar é ser versado nela. p. 69.
- conhecer o país permite
melhor planejar a sua defesa. p. 70.
- Filipêmenes, príncipe dos
aqueus, nos tempos de paz não pensava senão nos métodos de guerra e, quando
estava nos campos com os amigos, muitas vezes se perguntava: “se os inimigos
estivessem em cima daquele monte e nós aqui em baixo, qual de nós estaria em
vantagem? Como se poderia atacá-los, conservando a nossa formação? Se
quiséssemos bater em retirada, como teríamos de fazer? Se eles batessem em
retirada, como faríamos para persegui-los?
(não tinha imprevisto algum para o qual ele não tinha solução). p. 71.
- quanto aos exercícios da
mente deve o príncipe ler as história e refletir sobre as ações dos homens
excelentes, ver como se comportaram nas guerras, examinar as causas da vitória
e derrotas a fim de poder escapar destas e imitar aquelas. p. 71
- Um príncipe sábio deve
observar comportamentos semelhantes e jamais permanecer ocioso nos tempos de
paz. p. 72.
CAP.
XV
DAS COISAS PELAS QUAIS OS
HOMENS, E ESPECIALMENTE OS PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS
- Resta agora ver como deve
comportar-se um príncipe para com seus súditos e seus amigos. p. 73.
- Sendo meu intento escrever
coisa útil para quem me lê, parece-me mais conveniente procurar a verdade
efetiva da coisa[5] do
que uma imaginação sobre ela. p. 73.
- Muitos imaginaram
republicas e principados que jamais foram vistos e que nem se soube se
existiram na verdade, porque há tamanha distancia entre como se vive e como se
deveria viver, que, aquele que trocar o que se faz por aquilo que se deveria
fazer aprende antes sua ruína que sua preservação; pois um homem que queira
fazer em todas as coisas profissões de bondade deve arruinar-se entre tantos
que não são bons. Daí ser necessário a um príncipe, se quiser manter-se,
aprender a poder não ser bom e a se valer ou não disto quando for preciso. p.
73.
- Por estarem em posição
mais elevada, eles (os príncipes) se
fazem notar por certas qualidades que lhe trazem reprovação ou louvor[6]. p. 74.
CAP.
XVI
DA LIBERDADE E DA PARCIMÔNIA
- seria bom ser considerado
liberal. No entanto, a liberalidade usada de maneira ostensiva te prejudica,
mas usada com virtù, como deveria
ser, não se torna notória e não te livra da infâmia de ser tido como o
contrário. p. 75.
- Contudo, desejando manter
diante dos homens a reputação de liberal, precisará não dispensar nenhuma
espécie de suntuosidade, de tal modo que, nessas condições, um príncipe sempre
gastará nessas obras todas as suas disponibilidades, necessitando ao fim, se
quiser manter o conceito de liberal, onerar violentamente o povo, ser cruel nos
impostos e fazer tudo o que for necessário para obter dinheiro. Isto começará a
torná-lo odioso diante dos súditos e malquisto por todos, tornando-se pobre. p.
75.
- Assim, tendo com sua
liberalidade ofendido a muitos e premiado a poucos, será atingido pelo primeiro
revés e abalado pelo primeiro perigo que surgir. E, se tomar conhecimento disto
e quiser voltar atrás, logo ocorrerá na fama de miserável. p. 75.
- Não podendo um príncipe
usar da virtù da liberalidade sem
prejuízo próprio e sem danos, de forma que seja divulgada, deverá, se for
prudente, não se preocupar com fama de miserável, porque com o tempo será
considerado cada vez mais liberal, ao verem que, graças à sua parcimônia, suas
receitas lhe bastam, que pode defender-se dos que lhe movem guerras e realizar
seus empreendimentos sem onera o povo. p. 75-76.
- Para não ter de roubar os
súditos, poder defender-se e para não ficar pobre e desprezível, e para não ser
obrigado a se tornar rapace[7],
um príncipe deve temer pouco incorrer na fama de miserável, porque Este é um
dos vícios que lhe permitem governar. p. 76.
- o príncipe gasta do que é
seu e de seus súditos ou gasta do que é dos outros; no primeiro caso, deve ser
parcimonioso, no outro, não deve deixar de lado nenhum indicio de liberalidade. p. 77.
- Dentre todas as coisas de
que um príncipe deve guardar-se, a primeira é ser desprezível e odioso; a
liberalidade conduz a uma ou outra coisa. p. 77.
- Gastar o que pertence aos
outros não diminui a tua reputação, e sim a aumenta: só te é prejudicial gastar
o que é teu. p. 77
- Portanto, é mais sábio
ficar com a fama de miserável, que gera uma infâmia sem ódio, do que, por
desejar o renome de liberal, precisar incorrer na fama de rapace, que gera uma
infâmia com ódio. p. 77.
CAP.
XVII
DA CRUELDADE E DA PIEDADE E
SE É MELHOR SER AMADO QUE TEMIDO OU MELHOR SER TEMIDO QUE AMADO
- Todo príncipe deve desejar
ser considerado piedoso e não cruel; entretanto, devo adverti-lo a não usar mal
está piedade. p. 79.
- Cesare Borgia era tido
como cruel; no entanto, com sua crueldade reergueu a Romanha, reunificou-a e
restitui-lhe a paz e a lealdade, o que bem considerado, evidenciará que ele foi
muito mais piedoso, do que o povo florentino, o qual, para evitar a fama de
cruel, permitiu-lhe a destruição de Pistóia. p. 79.
- Um príncipe deverá,
portanto, não se preocupar com a fama de cruel se desejar manter seus súditos
unidos e obedientes. p. 79.
- Dando os pouquíssimos
exemplos necessários, será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva
piedade, deixam evoluir as desordens, das quais resultam assassínios e rapinas;
porque estes costumam prejudicar uma universalidade inteira de cidadãos,
enquanto as execuções ordenas pelo príncipe ofendem apenas um particular. p.
79.
- Dentre todos os príncipes,
particularmente ao príncipe novo é impossível escapar a fama de cruel, por
serem os novos estados repletos de perigos. p. 79.
- É melhor ser amado que
temido, ou o inverso? A resposta é que seria desejável ser ambas as coisas,
mas, como é difícil combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado,
quando se tem de desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se pode
afirmar o seguinte a cerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e
dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar, enquanto lhes fazem o
bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue o patrimônio, a vida e
os filhos, desde que o perigo esteja distante; mas quando precisa deles,
revoltam-se. p. 80.
- Os homens têm menos receio
de ofender a quem se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é
mantido pelo vinculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é
rompido sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao
castigo, que nunca te abandona. p. 80.
- é perfeitamente ser temido
e são ser odiado ao mesmo tempo, o que conseguirá sempre (o príncipe) que se abstenha de se apoderar do patrimônio e das mulheres de seus cidadãos e súditos. p.
81.
- Se precisar derramar o
sangue de alguém, deve fazê-lo quando houver justificativa conveniente e causa
manifesta. Mas, sobretudo, deverá respeitar o patrimônio alheio, porque os
homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio. p. 81.
- Aquele que começa a viver
de rapina sempre encontra motivos para se apoderar violentamente do que
pertence aos outros; enquanto as razões para matar são, ao contrário mais
rápidas e terminam mais rapidamente. p. 81.
- sem a crueldade não basta
a virtù para se conseguir realizar
ações. p. 81.
- Sobre ser temido e amado,
concluo que, como os homens amam segundo sua vontade e teme segundo a vontade
do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com o que é de outros,
empenhando-se apenas em evitar o ódio. p. 82.
CAP.
XVIII
DE QUE MODO DEVEM OS
PRÍNCIPES MANTER A PALAVRA DADA
- Todos reconhecem o quanto
é louvável que um príncipe mantenha a palavra empenhada e viva com integridade
e não com astúcia. Entretanto, por experiência, vê-se, em nossos tempos, que
fizeram grandes coisas os príncipes que tiveram em pouca conta a palavra dada e
souberam, com astucia, rever a mente dos homens, superando, enfim, aqueles que
se pautaram pela lealdade. p. 83.
- Devemos, pois, saber que
existem dois gêneros de combate: um com as leis e outro com a força. O primeiro
é próprio ao homem, o segundo é dos animais. p. 83.
- Como frequentemente o
primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto, é necessário ao
príncipe saber usar tanto quanto o homem. p. 83.
- Ter um preceptor meio
animal meio homem não quer dizer outra coisa senão que um príncipe deve saber
usar ambas as naturezas e que uma sem a outra não é duradora. p. 83.
- um príncipe, se
necessário, precisa saber usar bem a natureza animal, deve escolher a raposa e
o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os
lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para
aterrorizar os lobos. p. 84.
- Um príncipe prudente não
pode, nem deve, guardar a palavra dada, quando isso se torna prejudicial ou
quando deixem de existir as razões que o haviam levado a prometer. p. 84.
- Se os homens fossem todos
bons, este preceito não seria bom, mas, como são maus e não mantém sua palavra
para contigo, não tens também a cumprir com a tua. p. 84.
- Quem melhor se sai é quem
melhor sabe valer-se das qualidades da raposa. Mas é necessário saber disfarçar
bem essa natureza e ser grande simulador e dissimulador, pois os homens são tão
simples e obedecem as necessidades presentes, que o enganador encontrará sempre
quem se deixe enganar. p. 84.
- precisa (o príncipe) não
se afastar do bem, mas saber entrar no mal, se necessário. p. 85.
- Os homens, em geral,
julgam as coisas mias pelos olhos que com as mãos, porque todos podem ver, mas
poucos podem sentir. p. 85.
- Todos vêem aquilo que
parece, mas poucos sentem o que é. p. 85.
CAP.
XIX
COMO SE DEVE EVITAR SER
DESPREZADO E ODIADO
- Torna-o (o príncipe), sobretudo, ser rapace e
usurpador das coisas e das mulheres dos súditos, do que se deve abster, pois os
homens em geral vivem contentes enquanto deles não se toma o patrimônio nem a
honra, restando ao príncipe apenas ter que combater a ambição de uns poucos, a
qual pode ser refreada de muitas maneiras e com facilidades. p. 87.
-Torna-o desprezível ser
sido inconstante, leviano, efeminado, pusilânime, e irresoluto, coisa que um
príncipe deve evitar como os escolhos, devendo empenhar-se para que em suas
ações, se reconheça grandeza, ânimo ponderação e energia. p. 87.
- Em sua atuação junto à
intriga privadas dos súditos, deve firmar suas decisões como irrevogáveis e
manter sua posição de modo que ninguém pense em enganá-lo nem fazê-lo mudar de
opinião. p. 87.
- Um príncipe deve ter dois
receios: um interno, por conta de seus súditos; e outro externo por conta das
potências estrangeiras. O meio de se defender destas são as boas armas e os
bons amigos e sempre que tiver boas armas terá bons amigos. p. 88.
- Mesmo que ocorram
agitações externas, se o príncipe for organizado, vivendo e não se entregar,
sempre resistirá a qualquer ataque. p. 88.
- Um dos mais poderosos
instrumentos de que dispõe um príncipe contra a conspiração é não ser odiado
pela universalidade, visto que o conspirador sempre acredita poder satisfazer o
povo com a morte do príncipe. p. 88.
- Quem conspira não pode
agir sozinho, nem buscar aliança senão com quem julga descontente. p. 88.
- Aquilo que um conspirador
tem a temer antes da execução do mal deve temê-lo mais ainda após o delito, se
tiver como inimigo o povo e não puder, por isso, esperar refugio algum. P. 89.
- Um príncipe deve valorizar
os grandes, mas não se fazer odiar pelo povo. p. 91.
- Enquanto nos demais
principados basta lutar contra a ambição dos grandes e a insolência do povo, os
imperadores romanos tinham uma terceira dificuldade a enfrentar: a crueldade e
a ganância dos soldados. p. 91.
- Não podendo os príncipes
deixar de ser odiados por alguém, devem, em principio, esforçar-se para não
serem odiados pela comunidade e quando não o conseguem, devem se empenhar com
todo engenho para evitar o ódio. p. 92.
- Os imperadores que tinham
necessidades de favores extraordinários inclinavam-se mais porá os soldados que
para o povo. p. 92.
- O ódio é provocado tanto
pelas boas quanto pelas más ações. p. 92.
- Embora o príncipe seja
novo, as instituições do estado são antigas e ordenadas de modo a recebê-lo
como se fosse seu senhor hereditário. p. 97.
CAP.
XX
SE AS FORTALEZAS E MUITAS
OUTRAS COIAS QUE OS PRÍNCIPES FAZEM DIARIAMENTE SÃO ÚTEIS OU NÃO
- Para manter com segurança
o seu estado, alguns príncipes desarmaram seus súditos, outros mantiveram os
territórios divididos, alguns fomentaram inimizades contra si mesmos, outros
procuraram conquistar os que lhes pareciam suspeitos no início de seu governo,
alguns construíram fortalezas, outros as arruinaram e destruíram. p. 99.
- Jamais existiu um príncipe
novo que desarmasse os seus súditos; pelo contrário, encontrando-os desarmados,
sempre os arma, porque, ao lhes dar armas, estas armas tornam-se tuas; tornam-se
fiéis os que te eram suspeitos, conservam-se leais o que já o eram e
transformam-se os súditos em teus partidários. p. 99.
- Por isso um príncipe novo,
em principado novo, sempre cria exércitos; as histórias estão repletas de
exemplos disso. p. 100.
- Quando um príncipe
conquista um estado novo, que é anexado ao seu estado antigo, faz-se necessário
desarmar aquele estado, exceto os que te apoiaram na conquista. p. 100.
- Não creio que as divisões
tragam jamais algum bem. p. 100.
- Quando o inimigo se aproxima,
as cidades divididas costumam render-se logo, porque sempre a parte mais fraca
se alia às forças externas e a outra não pode governar. p. 100.
- Sem dúvida, os príncipes
se tornam grandes quando superam as dificuldades e oposições que lhes são feitas. p. 101.
- A fortuna cria-lhe
inimigos e movimentos de oposição para que ele tenha oportunidade de superá-los
e possa, por meio da escada colocada por seus inimigos, subir mais alto. p.
101.
- Tem sido costume dos
príncipes, para manter com maior segurança o seu estado, construir fortalezas
que sejam o bridão e freio dos que pretenderem opor-se a eles, alem de
construírem um refugio seguro contra um ataque repentino. Aprovo este método,
porque foi usado pelos antigos. p. 102.
- O príncipe que estiver
mais medo do povo que dos estrangeiros deverá construir fortalezas; mas o que
tiver mais medo de estrangeiros que do povo, deve deixá-los da lado. p. 103.
- A melhor fortaleza que
existe é não ser odiado pelo povo, porque ainda que tenhas fortaleza, se o povo
te odiar, ela são te salvarão, pois jamais faltam aos povos sublevados
estrangeiros que os auxiliem. p. 103.
CAP.
XXI
O QUE CONVÉM A UM PRÍNCIPE
PARA SER ESTIMADO
- Nada torna um príncipe tão
estimado quanto realizar grandes empreendimentos e dar de si raros exemplos. p.
105.
- Quando acontecer de alguém
realizar uma coisa extraordinária, para o bem ou para o mal, na vida civil,
deve-se encontrar um modo ou de premiá-lo ou de puni-lo que seja bastante
comentado. p. 106.
- Acima de tudo, um príncipe
deve procurar dar de si, em cada uma das suas ações, uma imagem de
grandiosidade e de excelente engenho. p. 106.
- Um príncipe também é
estimado quando é um verdadeiro amigo ou um verdadeiro inimigo, isto é, quando
sem temor algum, declara-se a favor de um e contra outro. p. 106.
- O vencedor não vai querer
amigos suspeitos que não o ajudaram na adversidade ao passo que o perdedor te
rejeitará porque não quiseste, com as armas em punho, partilhar da sua sorte.
P. 106.
- Foi Antioco chamado à
Grécia pelos etólios para expulsar os romanos. Enviou então embaixador junto
aos aqueus – que eram amigos dos romanos – para persuadi-los à neutralidade,
enquanto, por outro lado, os romanos os incitavam a tomar armas. p. 107.
- Os que não são teus amigos
sempre te pedirão neutralidade. p. 107.
- Os príncipes irresolutos
que, para fugir dos perigos imediatos, seguem o mais das vezes as vias da
neutralidade, quase sempre se arruínam. p. 107.
- Deve-se acentuar que um
príncipe deve estar atento para não fazer jamais aliança com alguém mais
poderoso do que ele. p. 108.
- [...] príncipes devem
evitar ao máximo está sob dependência de outros. p. 108.
- A prudência consiste em
saber reconhecer a natureza dos inconvenientes e tomar os menos maus como
satisfatórios. p. 108.
- deve um príncipe ainda
mostra-se amante da virtù, abrigando
os homens valorosos e honrando os excelentes; deve estimular os seus
concidadãos a desenvolverem suas atividades tanto no comércio como na
agricultura ou em qualquer outro ramo; deve proporcionar prêmios a qualquer um
que intente melhorar sua cidade e seu estado. Deve, ademais, manter o povo
entretido com festas e espetáculos, nas épocas convenientes do ano. p. 109.
CAP.
XXII
DOS SECRETÁRIOS QUE OS
PRÍNCIPES MANTÊM JUNTO DE SI
- Há um modo infalível pelo
qual um príncipe pode conhecer um ministro. Quando vês que um ministro pensa
mais em si mesmo do que em ti e, em todas as ações, busca primeiro o seu
próprio benefício, jamais será um bom ministro, e nunca poderás confiar nele,
pois que tem em suas mãos o estado de outro não deve jamais pensar em si mesmo,
mas no príncipe, nem ocupá-lo com coisas que não lhe diga respeito.
- O príncipe, para conservar
sua lealdade,deve pensar no ministro, concedendo-lhe horárias e riquezas,
obsequiando e compartilhando com ele as horas e funções [...] Portanto,
enquanto os ministros agirem assim em relação aos príncipes e estes em relação
aos ministros, poderão ambos confiar um no outro; caso contrário, sempre haverá
um fim mau para um deles. p. 112.
CAP.
XXIII
COMO EVITAR OS ADULADORES
- Não quero deixar de
abordar um ponto importante e um erro do qual os príncipes dificilmente se
defendem, quando não são muito prudentes e não sabem escolher bem. Trata-se dos
aduladores. p. 113.
- Não há outro modo de
proteger-se dos aduladores senão fazendo os homens entenderem que não te
ofendem ao dizerem a verdade. p. 113.
- Deve, portanto, um
príncipe prudente conduzir-se de um terceiro modo, escolhendo em seu estado
homens sábios e somente a estes concedendo livre arbítrio para lhe dizer a verdade,
e apenas sobre as coisas que o príncipe lhes perguntar, mais nada. p. 113.
- Deve o príncipe, porem,
indagar-lhes sobre todas as coisas, e ouvir a sua opinião, para depois
deliberar por si mesmo e ao seu modo. Deve, em relação a esses conselhos e a
cada um dos seus conselheiros, portar-se de tal modo que todos saibam que,
quanto mais livremente se expressar, tanto mais lhes será o príncipe
agradecido; além deles, não deve ouvir mais ninguém; deve seguir as decisões
tomadas e ser obstinado em suas deliberações. Quem age de outro modo é
arruinado pelos aduladores ou muda constantemente de opinião, do que lhe
resulta pouca estima. p. 113-114.
- Um príncipe, portanto,
deve sempre procurar conselhos, mas quando ele próprio quer, e não quando os
outros querem. [...] Deve também perguntar muito e, depois, ouvir pacientemente
a verdade sobre as coisas indagadas. p. 114.
- [...] a regra geral que
jamais falha é: se um príncipe não for sábio por si mesmo, não poderá ser bem
aconselhado, a menos que a sorte o ponha nas mãos de um só homem muito
prudente, que o oriente em
tudo. p. 14-15.
- [...] aconselhando-se com
vários, um príncipe que não seja sábio não poderá ,jamais unificar os
conselhos, nem saberá por si mesmo integrá-los; cada um dos conselheiros vai
agir de acordo com seus interesses, e ele não vai poder saber nem corrigir
isso. p. 115.
- [...] os homens sempre te
revelarão maus, se não forem forçados pela necessidade de serem bons. Daí se
segue conclui que os bons conselhos, venham de onde vierem, devem brotar da
prudência do príncipe, e não a prudência do príncipe dos bons conselhos. p.
115.
CAP.
XXIV
POR QUE RAZÕES OS PRÍNCIPES
DA ITÁLIA PERDERAM SEUS ESTADOS
- Um príncipe novo é muito
mais observado em suas ações do que um hereditário e, quando suas virtudes são
conhecidas, atrai um numero muito maior de súditos e muito maior lealdade do
que a antiguidade do sangue. p. 117
- Os homens se ligam muito
mais às coisas presentes do que às passadas e quando encontram o bem no
presente apreciam-no e não procuram outra coisa. p. 117.
- Assim, terá o príncipe
gloria dobrada: a de ter fundado um principado novo e a de tê-lo ornado e
consolidado com boas leis, boas armas e bons exemplos; como também terão
vergonha em dobro os que, tendo nascido príncipes, perderem seu reino devido à
pouca prudência. p. 117.
- É um defeito comum entre
os homens não levar em conta a tempestade durante a bonança. Quando chegam os
tempos adversos, pensam em fugir e não em defender-se. p.
118.
- [...] não deves jamais
quere cair por acreditar que encontrarás alguém para te reerguer, coisa que ou
não acontece ou, quando acontece, não atribui para a tua segurança, pois esta
defesa é vil e não depende de ti. Certamente, as defesas só são boas, seguras e
duráveis quando dependem de ti mesmo e de tua virtù. p. 118.
CAP.
XXV
DE QUANTO PODE A FORTUNA NAS
COISAS HUMANAS E DE QUE MODO SE PODE RESISTIR-LHE
-
Julgo possível ser verdade que a fortuna seja arbítrio de metade de nossas
ações, mas que também deixe ao nosso governo a outra metade, ou quase. p. 119.
- Comparo a sorte a um
desses rios impetuosos que, quando se irritam, alagam as planícies, arrasam as
árvores e as casas, arrastam terras de um lado para levar a outro: todos fogem
deles, mas cedem ao seu ímpeto, sem poder detê-lo em parte alguma. p. 119.
- Nada impede que, voltando
a calma, os homens tomem providências, construam barreiras e diques, de modo
que, quando a cheia se repetir, ou o rio flua por um canal, ou sua força se
torne menos livre e danosa. p. 119-120.
- O mesmo acontece com a
fortuna que demonstra a sua força onde não encontra uma virtù ordenada, pronta, para lhes resistir e volta o seu ímpeto
para onde sabe que não foram erguidos diques ou barreiras para contê-la. p.
120.
- [...] um príncipe que se
apóia exclusivamente sobre a fortuna se arruína quando ela varia. Creio que
ainda feliz aquele que combina o seu modo de proceder com as exigências do
tempo e, similarmente, que são infelizes aqueles que, pelo seu modo de agir,
estão em desacordo com os tempos. p. 120.
- Se um príncipe se conduz
com prudência e paciência, e os tempos e as coisas contribuírem para que o seu
governo seja bom, será bem sucedido; mas,se mudarem os tempos e as coisas e ele
não mudar o seu modo de proceder, então se arruinará. p. 121.
- É melhor ser impetuoso do
que tímido, porque a fortuna é mulher, e é necessário, para dominá-la,
bater-lhe e contrariá-la. Vê-se que ela se deixa vencer mais pelos que agem
friamente; e, como mulher, é sempre amiga dos jovens, porque são menos tímidos,
mais ferozes e a dominam com maior audácia. p. 122.
CAP.
XXVI
EXORTAÇÃO A TOMAR A ITÁLIA E
LIBERTÁ-LA DAS MÃOS DOS BÁRBAROS
- Coisa alguma honrará tanto
um novo governante quanto as novas leis e um novo regime por ele criado. p.
125.
- querendo [...] seguir o
exemplo daqueles homens excelentes que redimiram seus estados, será necessário,
antes de tudo, como verdadeiro fundamento de qualquer empresa, formar exércitos
próprios, porque não pode haver soldados mais fiéis, nem mais verdadeiros, nem
melhores. p. 125-126.
- Se cada um deles
individualmente for bom, todos juntos ainda serão melhores quando se virem
comandados por seu príncipe, prestigiados e cuidados por ele. p. 126.
- É preciso, portanto, preparar esses
exércitos para poder, com a virtù
italiana, defender-se dos estrangeiros. p. 126.
NOTAS
[1]
Liberdade aqui significa “sob o regime republicano”
[2]
Essa destruição corresponde a algo bem preciso... “edificar novas cidades, desfazer as velhas, mudar os habitantes de um
lugar para outro, em suma, não deixar alguma coisa intacta”.
[3]
Soldados auxiliares são aqueles que um príncipe ou uma republica envia em tua
ajuda, capitaneados e pagos por eles. (cf. nota 1 do cap. XII).
[4]
Contratar os godsos foi o inicio da ruína de Roma. A pratica começou com
Valente em 376, e continuou com Teodósio, em 382.
[5]
Verità effettuale della cosa,
expressão famosa com que Maquiavel marca a sua separação dos pensadores
políticos anteriores.
[6]
Após denunciar a ineficácia do discurso tradicional, tachado de imaginário, e
oposto à “verdade efetiva das coisas”, ele se volta para o problema da imagem do príncipe, de sua
“fenomenologia” e não do que ele seja em si mesmo.
[7]
Que rouba; rapinador. Ávido de lucro
Ao meu ver é um excelente fichamento, gostei pelo esforço sempre ajuda a quem deseja crescer em conhecimento.
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