sábado, 16 de julho de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO XV DE "O PRÍNCIPE" DE MAQUIAVEL


 
O capítulo XV de O Príncipe possui uma relevância magnífica na obra de Maquiavel, sobretudo, porque nele está contida aquela máxima do pensamento do florentino que demarca definitivamente o seu rompimento com toda a tradição do pensamento político antigo e medieval. Essa máxima – que aqui convém precisar – configura-se naquilo que ele chamara de verdade efetiva das coisas, a qual consistia em tomar as coisas, ou considerá-las a partir daquilo que elas são no estágio concreto que expressa e possibilita do vir-a-ser delas, a maneira como elas se nos aparecem e se nos dão. Com essa concepção, Maquiavel mostra a sua contraposição em relação àqueles que se ocupavam de assuntos políticos, no entanto, a partir daquilo que as coisas deveriam ser, como, por exemplo, Platão e Aristóteles.
Não se harmonizando com a estrutura do antigo e medievo pensamento político, Maquiavel critica, portanto, seus dois principais expositores, mostrando que a preocupação com aquilo que deveria ser [em vez de ser com aquilo que é] nada mais seria do que uma maneira de arruinar-se quem assim procedesse. Com essa reflexão, o filósofo insinua que o príncipe deve ser um grande observador da vida humana, isto é, observar as ações dos homens, seus comportamentos e outras coisas, conforme se vê em outras partes da obra.
Como exemplo da verdade efetiva, pode-se tomar o próprio período da Itália no qual vivera Maquiavel: um território fragmentado em estados independentes e desarmônicos entre si. São exemplos: a República de Veneza, os estados pontifícios, o ducado de Milão, a República de Florença e o Reino de Nápoles. No tempo de Maquiavel, era essa a verdade efetiva das coisas, a realidade concreta a partir da qual ele formula o seu pensamento político.
Se no contexto da Idade Média o homem estava voltado para a contemplação, com Maquiavel ele tende para a ação, isto porque uma das preocupações desse autor consiste em tornar o homem consciente de sua realidade, a qual é problemática, complexa e difícil. Tornar o homem consciente de sua realidade, nesse contexto, equivale a despertá-lo à ação. Essa complexidade se dá, sobretudo, em razão do fato de que o homem muda a todo instante, de modo que não se pode esperar dele ser hoje aquilo que ilustrara ser ontem. Em suma, a preocupação política de Maquiavel é com o presente, com a realidade concreta, a verdade efetiva das coisas, o modo como elas se apresentam, aquilo que elas, de fato, são.

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