sexta-feira, 1 de abril de 2011

FICHAMENTO DO CAP. XII DO LEVIATÃ




SOBRE A RELIGIÃO

A religião, só no homem – Primeiro, a partir de seu desejo de conhecer as causas – A partir da consideração do início das coisas – A partir de sua observação das sequelas das coisas – A causa natural da religião: a ansiedade quanto aos tempos vindouros – O que os faz temer o poder das coisas invisíveis – E supô-las incorpóreas – Mas sem conhecer a maneira como elas afetam alguma coisa – Mas venerá-las tal como veneram os homens – E atribuir-lhes toda espécie de acontecimentos extraordinários – Quatro coisas, as sementes naturais da religião – Tornadas diferentes pelo cultivo – A absurda opinião do gentilismo – Os desígnios dos autores da religião dos pagãos – A verdadeira religião, o mesmo que as leis do reino de Deus – As causas de mudança na religião – A imposição de crenças impossíveis – Agir contrariamente à religião que estabelecem – Falta de testemunho dos milagres

- Observando que só no homem encontramos sinais ou frutos da religião, não há motivo para duvidar de que a semente da religião se encontra apenas no homem [...]. (p. 84).
- [...] é peculiar à natureza do homem investigar as causas dos eventos que assiste [...]. (p. 84).
- É-lhe também peculiar, em segundo lugar, perante toda e qualquer coisa que tenha sido um começo, pensar que ela teve também uma causa, que determinou esse começo no momento em que o fez, nem mais cedo nem mais tarde. (p. 85).
- Em terceiro lugar, para os animais, pois, a única felicidade é o gozo de sues alimentos, repouso e prazeres cotidianos, já que de pouca ou nenhuma previsão dos tempos futuros são capazes, por ausência de observação e de memória da ordem, consequencia e dependência das coisas que vêem. (p. 85).
- [...] todos os homens, sobretudo, os que são extremamente previdentes, se encontram numa situação semelhante à de Prometeu. Tal como Prometeu – nome que quer dizer homem prudente – foi acorrentado ao monte Cáucaso [...] onde uma águia se alimentava de seu fígado, devorando de dia o que tinha voltado a crescer durante à noite, assim também o homem que olha demasiado longe, preocupado com os tempos futuros, tem durante todo o dia seu coração ameaçado pelo medo da morte, da pobreza ou de outras calamidades, e não encontra repouso nem paz para a sua ansiedade a não ser no sono. (p. 85).
- [...] o reconhecimento de um único Deus eterno, infinito e onipotente pode ser derivado do desejo que os homens sentem de conhecer as causas dos corpos naturais e suas diversas virtudes e operações. (p. 86).
- [...] os homens que, através de sua própria meditação, acabam por reconhecer um Deus infinito, onipotente e eterno, preferem antes confessar que ele é incompreensível e se encontra acima do seu entendimento, em vez de definir sua natureza pelas palavras “espírito incorpóreo”, para depois confessar que sua opinião é ininteligível. (p. 86).
- É nestas quatro coisas, a crença nos fantasmas, a ignorância das causas segundas, a devoção pelo que se teme e aceitação de coisas acidentais como prognósticos, que consiste a semente natural da religião. (p. 88).
- Estas sementes foram cultivadas por duas espécies de homens. Uma foi a daqueles que as alimentaram e ordenaram segundo sua própria invenção. A outra foi a dos que o fizeram sob o mando e direção de Deus. (p. 88).
- [...] a religião da primeira espécie constitui parte da política humana, e ensina parte do dever que os reis terrenos exigem de seus súditos. A religião da segunda espécie é a política divina, que encerra preceitos para aqueles que se erigiram como súditos do reino de Deus. Da primeira espécie são todos os fundadores de Estados e legisladores dos gentios. Da segunda espécie são Abraão, Moisés e nosso abençoado salvador, dos quais chegaram até nós as leis do reino de Deus. (p. 88).
- Um deus com o nome de Caos simbolizava a matéria informe do mundo. (p. 88).
- Tão fácil é os homens serem levados a acreditar em qualquer coisa por aqueles que gozam de crédito junto deles [...]. (p. 91).
- Os primeiros fundadores e legisladores de Estados entre os gentios, portanto, cujo objetivo era apenas manter o povo em obediência e paz, em todos os lugares tiveram os seguintes cuidados. (p. 91).
- Primeiro, o de incutir em suas mentes a crença de que os preceitos que ditavam a respeito da religião não deviam ser considerados como provenientes de sua própria invenção, mas como ditames de algum deus [...] a fim de que suas leis fossem mais facilmente aceitas. (p. 91).
- em segundo lugar, tiveram o cuidado de fazer acreditar que aos deuses desagradavam as mesmas coisas que eram proibidas pelas leis. (p. 91).
- Em terceiro lugar, o de prescrever cerimônias, suplicações, sacrifícios e festivais, os quais se devia acreditar capazes de aplacar a ira dos deuses. Como da ira dos deuses resultava o insucesso na guerra, grandes doenças contagiosas, terremotos e a desgraça de cada indivíduo. Essa ira provinha da falta de cuidado com sua veneração e do esquecimento ou do equívoco em qualquer aspecto das cerimônias exigidas. (p. 91).
- Quando foi o próprio Deus, através da revelação sobrenatural, que implantou a religião, nesse momento ele estabeleceu também para si mesmo um reino particular, e não ditou apenas leis relativas ao comportamento para consigo próprio, mas também de uns para com os outros. (p. 92).
- [...] no reino de Deus, a política e as leis civis fazem parte da religião, não tendo, portanto, lugar a distinção entre a dominação temporal e a espiritual. (p. 92).
- Deus é rei de toda a terra por seu poder, mas de seu povo escolhido é rei em virtude de um pacto. (p. 92).
- [...] toda religião estabelecida assenta inicialmente na fé de uma multidão em determinada pessoa, que se acredita não apenas ser um sábio, e esforçar-se por conseguir a felicidade de todos, mas também ser um santo, a quem o próprio Deus decidiu declarar sobrenaturalmente sua vontade [...]. (p. 92-93).
- O que faz perder a fama de sabedoria, naquele que estabelece uma religião, ou lhe acrescenta algo depois de já estabelecida, é a imposição de crenças contraditórias. (p. 93).
- O que faz perder a reputação de sinceridade é fazer ou dizer coisas que pareçam ser sinais de que não se acredita nas coisas em que se exige que os outros acreditem. (p. 93).
- [...] o que faz perder a reputação de amor é deixar transparecer ambições pessoas, quando a crença que se exige dos outros conduz ou parece conduzir à aquisição de domínio, riquezas, dignidade, ou à garantia de prazeres, apenas ou especialmente para si próprio. (p. 93).


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