sexta-feira, 1 de abril de 2011

FICHAMENTO DO CAP. X DO LEVIATÃ




SOBRE O PODER, VALOR, DIGNIDADE, HONRA E MERECIMENTO  

Do poder, valor, dignidade, honra e merecimento – O poder – O valor – A dignidade – Honrar e desonrar- Honroso – Desonroso – Os escudos – Os títulos de honra – O merecimento – A aptidão

- Universalmente considerado, o poder de um homem consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter qualquer visível bem futuro. Pode ser original ou instrumental. (p. 70).
- Poder natural é a eminência das faculdades do corpo ou do espírito. Extraordinária força, beleza, prudência, capacidade, eloqüência, liberalidade ou nobreza. Os poderes instrumentais são os que se adquire mediante os anteriores ou pelo acaso e constituem meios e instrumentos para se adquirir mais. Como exemplo, a riqueza, a reputação, os amigos e os secretos desígnios de Deus a que os homens chamam boa sorte. A natureza do poder é nesse ponto idêntica à da fama, dado que cresce à medida que progride. (p. 70).
- Dos poderes humanos o maior é aquele que é composto pelos poderes de vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de todos os seus poderes na dependência de sua vontade. É o caso do poder de um Estado. Na dependência da vontade de cada indivíduo, é o caso do poder de uma facção, ou várias facções coligadas. (p. 70).
- A riqueza aliada à liberdade também é poder, porque consegue amigos e servidores. Privada de liberdade, não o é, porque nesse caso a riqueza não protege, mas expõe o homem, como presa, à inveja. (p. 70).
- [...] qualquer qualidade que torna um homem amado ou temido por muitos, é poder. Isso porque constitui um meio para adquirir a ajuda e serviço de muitos. (p. 70).
- Constitui poder a nobreza, não em todos os lugares, mas somente naqueles Estados onde goza de privilégios, pois é nesses privilégios que reside seu poder. (p. 71).
- É da natureza da ciência que só podem compreendê-la aqueles que em boa medida já alcançaram. (p. 71).
- O valor de um homem, tal como o de todas as outras coisas, é seu preço. (p. 71).
- Um hábil condutor de soldados é de alto preço em tempo de guerra presente ou iminente, mas não o é em tempo de paz. Um juiz douto e incorruptível é de alto valor em tempo de paz, mas não o é em tempo de guerra. (p. 71).
- Atribuir a um homem um alto valor é honrá-lo e um baixo valor é desonrá-lo. (p. 71).
- O valor público de um homem, aquele que lhe é atribuído pelo Estado, é o que os homens geralmente chamam dignidade. Esta sua avaliação pelo Estado se exprime por meio de cargos de direção, funções judiciais e empregos públicos ou pelos nomes e títulos introduzidos para a distinção de tal valor. (p. 71-72).
- Elogiar outra pessoa, por qualquer tipo de ajuda, é honrar, porque é sinal de que em nossa opinião ela tem poder para auxiliar. Quanto mais difícil é a ajuda, maior é a honra. (p. 72).
- Ceder o passo ou o lugar a outrem, em qualquer questão, é honrar, porque equivale a admitir um poder superior. Fazer frente é desonrar. (p. 72).
- Pedir a um homem seu conselho, ou um discurso de qualquer tipo, é honrar, em sinal de que o consideramos sábio, eloqüente ou sagaz. Dormir, afastar-se, ou falar quando ele fala é desonrá-lo. (p. 72).
- Pedir orientação ou colaboração em ações difíceis é honrar, como sina de apreço pela sabedoria ou outro poder. Recusar a colaboração dos que a oferecem é desonrar. (p. 73).
- [...] a fonte de toda honra civil reside na pessoa do Estado e depende da vontade do soberano. Conseguintemente, é temporária e chama-se honra civil. (p. 73).
- [...] ser honrado, amado ou temido por muitos é honroso e prova de poder. (p. 73).
- São honrosos o domínio e a vitória, porque se adquire pelo poder. A servidão, que vem da necessidade ou do medo, é desonrosa. (p. 73).
- Ser ilustre, quer dizer, ser conhecido pela riqueza, cargos, grandes ações ou qualquer bem iminente, é honroso, como sinal do poder que faz alguém ser ilustre. O contrário, a obscuridade, é desonrosa. (p. 74).
- Os antigos comandantes gregos, quando iam para a guerra, mandavam pintar em seus escudos as divisas que lhes aprazia, sendo um escudo sem emblema um sinal de pobreza, próprio do soldado comum. (p. 75).
- Títulos de honra, como duque, conde, marquês e barão são honrosos, pois significam o valor que lhes é atribuído pelo poder soberano do Estado. Nos tempos antigos esses títulos correspondiam a cargos e funções de mando, sendo alguns derivados dos romanos e outros dos germanos e franceses. Os duques, em latim, duces, eram generais de guerra. Os condes, comites, eram os companheiros ou amigos do general, e era-lhes confiado o governo e a defesa dos lugares de conquistados e pacificados. O marquês, marchiones, eram condes que governavam as marcas ou fronteiras do império. Esses títulos de duque, conde e marquês foram introduzidos no império, na época de Constantino, o Grande, numa adaptação dos costumes da milícia dos germanos. Barão parece ter sido um titulo dos gatileses, e significa um grande homem, como os guardas que os reis e príncipes usavam na guerra para rodear sua pessoa. O termo parece derivar de vir, para ber e bar, que na língua dos gauleses significava o mesmo que vir em latim. Daí para bero e baro. Assim esses homens eram chamados berones, e posteriormente barones, e em espanhol varones. [...] com o passar do tempo estes cargos de honra [...] foram transformados em meros títulos, servindo em sua maioria para distinguir a preeminência, lugar e ordem dos súditos no Estado, e foram nomeados duques, condes, marqueses e barões para lugares dos quais essas pessoas não tinham posse nem comando. (p. 76-77).
- Coisa diferente de seu valor é o merecimento de um homem, e também de seu mérito. (p. 77).
- O mérito pressupõe um direito. A coisa merecida é devida por promessa. (p. 77).
      

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