domingo, 12 de fevereiro de 2012

A RELAÇÃO ENTRE A EXPERIÊNCIA SENSÍVEL QUE ENVOLVE O OBJETO ESTÉTICO E O SUJEITO QUE O RECONHECE



Nos primórdios de sua história, que costuma se remeter à Grécia antiga, a Estética era concebida apenas como um modo de conhecimento pautado, sobretudo na sensibilidade. Essa forma de conhecimento denominada de “conhecimento sensível” emergia, então, como contrapartida de outro modo de conhecer e que foi chamado de “conhecimento inteligível”, cuja maior expressão na Grécia foi Platão. Essa ultima espécie de conhecimento aparecia também sobre a expressão noética, que – designando o conhecimento intelectual – se diz respeito ao pensamento e, portanto, à razão, enquanto que o primeiro vem alume resumindo-se na palavra sensação.
No contexto da filosofia platônica, razão e sensação são coisas distintas e separadas [daí, também, o dualismo platônico]. Entretanto cumpre reassaltar que essa separação entre uma coisa e outra: entre matéria e espírito; entre real e ideal que se fortaleceu com Platão, passou por Descartes e chegou até a contemporaneidade não teve seu início com o próprio Platão, mas antes dele já era apregoada pelos órficos, que afirmavam não pertencerem a este mundo embora estivessem nele, mas a outro mundo, consequentemente posterior a este. Mas, a final, essa separação sempre existiu? Ou será que ela já foi precedida por uma união de ambos [sensível e inteligível] que posteriormente teria sido rompida? O que levou esse rompimento a acontecer?
Depois desse esboço introdutório, passemos à questão cuja ciência aqui realmente nos interessa, a saber, a compreensão da relação entre a experiência sensível que envolve o objeto estético e o sujeito que o reconhece, bem como a interação recíproca entre ambos [sujeito e objeto] que instaura o lócus da vivência estética. Em princípio essa relação pode ser entendida como uma relação de partilha de pontos comuns que há entre sujeito e objeto estético como, por exemplo, harmonia e articulação. Sendo assim, essa relação se torna uma relação de simplificação dos compostos onde o diverso se tona uno pela dissolução das partes no todo. Se por um lado é necessário que o objeto se dirija às faculdades do sujeito, por outro é necessário que este transcenda, ou seja, se abra perante àquele. Dada a fusão entre o sujeito e objeto estético a relação entre ambos assume o caráter de co-pertença, onde um necessariamente pertence ao outro, e só encontra o sentido de si nesse outro e vive-versa. No entanto, para que tudo isso aconteça, é necessário, sobretudo, que o sujeito tenha a faculdade da sensibilidade diante do objeto. É justamente dessa sensibilidade que se constitui a fenomenologia que [nesse contexto] passa a designar a inextrincabilidade que há entre sujeito e objeto. O campo onde tudo isso acontece é o próprio mundo no qual se manifestam todas as ações fenomênicas do sujeito. O mundo passa a ser o espaço por excelência onde se dá e se estabelece a reciprocidade da relação sujeito/objeto e, portanto, o lócus da Vicência estética. Nesse contexto, essa relação é anterior a qualquer tipo de separação que se possa pretender entre ambos. Essa união resulta primordialmente daquela unidade primeira que há entre o homem e o mundo, o que a arte, em muito, se esforça para mostrar. É justamente essa a razão principal pela qual a ontologia da obra de arte vai tratar da dignidade do sujeito e da dignidade do objeto. Nesse sentido, o sujeito é aquele que vive com o mundo antes mesmo do surgimento do próprio conceito. Por essa razão, não é errada a cogitação, ou até mesmo a afirmação, de que a relação entre sujeito e objeto estético é aquela que encontra na autonomia, ou independência do conceito o seu caráter essencial.
Ao discorrer sobre a relação entre objeto estético e sujeito, o presente artigo buscou demonstrar, de forma sucinta, que a suposta separação entre sujeito e objeto só apareceu na medida em que a evolução do conhecimento trouxe a necessidade [para fins de esclarecimento] de separação entre uma coisa e outra. Desse modo, evidenciou-se que antes de tudo, o homem e o mundo viviam numa perfeita união cujo ápice se dava no puro sentimento de prazer revestido de alegria e pureza. Em suma mostrou-se que também que foi justamente nesse estágio primeiro dessa união grandiosa que se instaurou o lócus da vivencia estética.

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