domingo, 12 de fevereiro de 2012

A CRISE COMO CONDIÇÃO DA ARTE



Discorrer sobre a crise como condição da arte significa, antes de tudo, saber articular na história a própria arte com cada um daqueles acontecimentos que, de algum modo, deram suporte ao advento dessa crise: a crise da arte, ou se, preferirmos, a crise da obra de arte.
Em princípio, uma análise histórica poderá claramente mostrar que na Grécia antiga a racionalidade [esse legado que o mundo ocidental ousou lograr da cultura grega] só vem a lume quando de algum modo a mitologia se torna insuficiente para dar conta da explicação dos eventos novos que simultaneamente vinham a baila, principalmente na esfera política. Ou seja, a mitologia, ou – diga-se de passagem – a explicação mitológica para o advento dos novos acontecimentos, entra numa crise tal que não consegue mais se suster por si própria.
Fazendo uma analogia com a crise da mitologia, pode-se aqui argumentar que a crise da arte coincide com a própria “morte” da mitologia, entendendo-se aqui por “morte da mitologia” uma espécie de enfraquecimento da autoridade do discurso mitológico frente aos novos eventos do mundo. Pode-se dizer que foi a evolução do mundo, em toda a suas dimensões, que trouxe a necessidade de uma explicação mais consistente para os fatos. Pode-se dizer que é deste modo que surge a filosofia: com a proposta de dar, ou pelo menos compreender a nova dinâmica que se apresenta para poder, a partir daí, constituir respostas mais consistentes. Desse esforço empreendido, resultou uma nova forma de ver e pensar o homem e o mundo, a vida e a morte, o real e o irreal, o ideal e o material, forma essa a que os gregos chamaram razão, ou logos.
Modernamente, a crise da arte veio a lume, sobretudo, quando os padrões estéticos vigentes passaram, também, a entrar em crise. Ou seja, foi o enfraquecimento desses padrões que provocou a crise da arte. É nesse sentido que surge, então, a estética com o estabelecimento de uma crise que se coloca sobre ela própria. Essa crise se intensifica de modo a provocar até mesmo uma espécie de envelhecimento precoce da estética. Diante desse momento de tensão poder-se-ia levantar o seguinte questionamento: porque não entender a estética como a verdadeira questão filosófica da arte, uma vez que a obra de arte passa a ser, por excelência, o seu objeto?
Ora se a crise da arte for analisada com profundidade e precisão à ótica da modernidade, perceber-se-á que a causa dessa crise pode se remontar ao desenvolvimento da técnica na medida em que esta passa a determinar a ação do sujeito. Aumentando as preocupações do sujeito e diminuindo o seu tempo, o progresso, que é o resultado do aperfeiçoamento técnico, fez aparecer o imediatismo. Este, à sua vez, não favorece ao sujeito colocar-se diante da obra de arte para com ela se relacionar. Com o surgimento da estética, a reflexão sobre a obra de arte passa a ser a reflexão da estética. Pode-se dizer que a crise como condição da obra de arte se torna um tema central no auxilio a reflexão e compreensão de como a estética se tornou, ou se tornar, uma necessidade de fato.
No plano do discurso racional, essa crise passa pelo crivo da linguagem haja vista essa representar, por excelência, a possibilidade de expressão daquela.
Em suma, pode-se argumentar que a crise da arte estimula a estética porque diante da crise o esteta está destinado a percorrer todos os desafios que circundam e obstaculizam arte e suas criações.            

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