quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O FENÔMENO DA MULTIDÃO NA METRÓPOLE



Discorrer sobre a modernidade significa, antes de tudo, se dá conta da complexidade que ela é, ou simplesmente, reconhecê-la como um labirinto, no qual o perder-se se torna inevitável dada a caminhada sozinha. Nessa estrutura labiríntica o homem se perde de tal modo que se torna difícil encontrá-lo, sobretudo, pelo fato de que as trilhas, caminhos ou becos são tantos de sorte a confundir o próprio aventureiro que por tais caminhos se aventura.
A modernidade é justamente esse espaço confuso, caótico e desorganizado a que o homem se encontra, muitas vezes, total, ou parcialmente desorientado. Essa conturbada realidade característica da sociedade moderna se deu, principalmente, quando massas e mais massas oriundas do campo, por exemplo, foram despejadas nas cidades constituindo assim o fenômeno das multidões. Essas multidões que se apertavam nas ruas e disputavam espaços a cotoveladas eram precisamente as vítimas do sistema capitalista. Esse sistema inovando a cidade moderna, ou ornamentando-a com vitrines, galerias e os produtos fascinantes da indústria acabava por iludir o sujeito dando lhe a falsa concepção de que a cidade passava a ser então o lugar da felicidade, por excelência. A multidão é necessariamente o fator determinante da modernidade. Sem multidão não há modernidade.
Outra característica da multidão diz respeito ao fato de que nela tudo se dá de forma imediata. Esse imediatismo, entretanto, nada mais é do que um reflexo da indústria capitalista agindo sobre o sujeito moderno. Nesse imediatismo onde o tempo se apresenta como curto tudo passa de forma muito rápida. Sendo assim, o máximo de atenção ainda passa a ser pouco.
Num ritmo desenfreado de caminhada entrando em um lugar e saindo em outro, dando voltas e mais voltas, se torna impossível acompanhar o homem moderno que compõe a multidão, tal como mostra Poe ao dizer que “[...] seria vão segui-lo, pois, nada mais saberei dele, nem mesmo de seus atos.” [1] Essa impossibilidade de seguimento se dá não somente pelo fato das vias diversas a que o homem da multidão entra e sai dialeticamente, mas, também pelo fato de que nela (multidão) ele se desfaz com muita rapidez já não sendo mais possível marcar suas pegadas. Ou seja, o que caracteriza o homem da multidão é, principalmente, o fato de que nela o ele não deixa rastro porque nela ele se dilui, ou seja, se desfaz da mesma forma como o rio de desfaz no mar. O homem da multidão é um homem iludido, que vive de falsas crenças, de falsas opiniões, é o homem manipulado pela indústria, o homem que deixou de ser ele mesmo para ser o outro.



[1] Cf. texto “O homem das multidões, p. 400.

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