segunda-feira, 15 de novembro de 2010

FICHAMENTO DO CAP. V DO LIVRO “O MAL-ESTAR DA PÓS-MODERNIDADE”


                     
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama, Claudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1998.


ARRIVISTAS E PÁRIAS: OS HERÓIS DA MODERNIDADE

- Socialmente a modernidade trata de padrões, esperança e culpa. Padrões – que acenam, fascinam ou incitam [...] E sempre prometendo que o dia seguinte será melhor que o momento atual. E sempre mantendo a promessa viva [...] sempre mesclando a esperança de alcançar a terra prometida com a culpa de não caminhar suficientemente depressa [...] A culpa protege a esperança da frustração; a esperança cuida para que a culpa nunca estanque [...]. (P. 91).
- Psiquicamente, a modernidade trata da identidade [...] Como o restante dos padrões, a identidade permanece obstinadamente à frente: é preciso correr esbaforidamente para alcançá-la. (P. 91).
- Precipitar-se para a frente, em direção à identidade [...] assemelha-se a recuar da defeituosa e ilegítima realidade do presente. (P. 91).
- Verdadeiramente moderna não e a presteza em retardar o contentamento, mas a impossibilidade de ficar contente. (P. 91).
- “Hoje” é meramente uma incipiente premonição de amanhã [...] O que é é cancelado de antemão por o que virá. (P. 92).
- [...] a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa está em movimento. Não se resolve necessariamente está em movimento, como não se resolver ser moderno. (P. 92).
- Nesse mundo, todos os habitantes são nômades, mas nômades que perambulam a fim de se fixar. (P. 92).
- [...] o auto-engano da existência que quer esquecer o seu passado nômade; mostra que a casa é somente um ponto de chegada, e uma chegada prenhe de uma nova partida. (P. 92).
- Onde quer que cheguem e desejem ardentemente permanecer, os nômades descobrem que são arrivista. Arrivista, alguém já no lugar, mas não inteiramente do lugar, um aspirante a residente sem permissão de residência. (p. 92).
- A permanência dos arrivistas deve ser declarada temporária, de modo que a permanecia de todos os outros possa parecer eterna. (P. 92-93).
- A única maneira porque podem fixar o tempo que se recusa a permanecer imóvel é marcar o espaço e proteger as marcas para que não sejam apagadas ou deslocadas. Pelo menos, tal é a sua desesperada esperança. (p. 93).
- A autonomia do homem transformou-se na tirania das possibilidades. (Hannah Arendt). (P. 93).
- Definições são inatas; identidades são constituídas. As definições informam a uma pessoa quem ela é, as identidades, atraem-na pelo que ela ainda não é, mas inda pode tornar-se. (P. 94).
- Eles perseguiam identidades porque, desde o principio, as definições lhes aviam sido negadas. (P. 94).
- A identidade significa recusar ser o que os outros querem que se seja (Max Frisch), é recusado à pessoa o direito de recusar. (P. 96).
- [...] a revolução moderna terminou em parricídio – poeticamente intuído por Freud, no seu desesperado esforço para discernir o mistério da cultura. Os mais brilhantes e mais fiéis filhos da modernidade não podiam expressar sua lealdade senão se tornando os seus coveiros. Quanto mais eles se dedicavam à construção do artifício que a modernidade se pôs a erigir, havendo primeiro destronado e legalmente incapacitado a natureza – mais solapavam o alicerce do prédio. [...] Seus filhos estavam geneticamente determinados a ser seus detratores e – em ultima análise – seu pelotão de demolição. (p. 98).
- Pode-se seguramente definir a modernidade como uma forma de vida marcada por tal desarticulação, como uma condição social sob a qual a cultura não pode servir à realidade senão minando-a. (p. 99).
- No sistema de castas hindu, o pária era um membro da casta mais baixa, ou de nenhuma casta. (P. 99).
- A modernidade proclamou que nenhuma ordem era intocável, visto que todas as ordens intocáveis deviam ser substituídas por uma ordem artificial, em que são construídos caminhos que levam da ordem mais baixa ao topo e, portanto, ninguém faz parte de um lugar eternamente. A modernidade foi assim a esperança do pária. Mas o pária podia deixar de ser pária somente ao se tornar [...] um arrivista. E o arrivista, por nunca haver apagado a mácula da sua origem, vivia sob a constante ameaça de deportação de volta à terra de que tentou escapar. (p. 99-100).
- nem por um momento o herói deixou de ser uma vítima potencial. Herói hoje, vítima amanhã – o muro divisório entre as duas situações era muito estreito. Estar em movimento significa não fazer parte de nenhum lugar. E não fazer parte de nenhum lugar significa não contar com a proteção de ninguém: de fato, a quintessência da existência do pária era não poder contar com a proteção de ninguém. Quanto mais depressa se corre, mais rápido se permanece no lugar. (P. 100).
- A viagem não proporcionou redenção ao arrivista. (P. 100).
- A sociedade “principalmente coordenada”, talvez racionalmente projetada e controlada, devia ser essa boa sociedade que a modernidade se pôs a construir. (p. 102).
- [...] o gosto moderno pela perfeição projetada condensou a, sob outros aspectos, difusa heterofobia e, repetidamente, canalizou-a, à maneira de Stalin ou de Hitler, em direção à saída genocida. (P. 103).
- [...] o principal conflito do cenário moderno surgiu da inerente ambivalência das pressões assimiladoras, que incitavam em direção a apagar as diferenças em nome de um padrão humano universal [...]. (P. 103).
- Não há certeza [...] de que no universo povoado por comunidades não restará nenhum espaço para o pária. O que parece mais plausível, contudo, é que a via de fuga do arrivista ao status de pária será fechada. (P. 103).

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