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DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad.
Antonio Carlos Piquet e Roberto machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
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FÁBIO
COIMBRA
Graduando em
Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão
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Proust e os Signos é
um clássico da literatura filosófica sob a autoria de um dos mais renomados
filósofos da atual contemporaneidade, a saber, Gilles Deleuze. Em princípio, um
alerta para os leitores que objetivem encontrar neste clássico apenas reflexões
sobre os signos precisa ser dado: para além do mundo dos signos, o autor põe-se
em busca daquilo que aqui poder-se-ia chamar de “a razão de ser de um signo”.
Filosoficamente,
a razão de ser de uma coisa é aquilo que faz com que uma determinada coisa seja
aquilo que, de fato, ela é sem a mínima possibilidade de ser outra coisa a não
ser ela mesma. E isso que faz com que uma coisa seja o que ela é em si mesma em
todos os tempos e em todos os lugares é quilo que, do ponto de vista da
filosofia, ousou-se denominar de essência. A essência de uma coisa é, portanto,
aquilo que – permanecendo – nessa mesma coisa está dado como sendo a sua
própria razão de ser. Nesse sentido, se o signo existe e, portanto, é uma coisa
no mundo, logo, ele tem uma essência, uma razão de ser. Se hipoteticar-se o
mundo como uma singularidade constituída a partir da pluralidade dos signos, ou
ainda, como a unidade da multiplicidade, necessariamente será preciso admitir
que esse mundo é um mundo povoado de essência, ou essências. Sobre esse mundo
que se constitui como o habitat da essência, é que Deleuze discorre – não obstante,
em Proust e os Signos o tema é a busca da verdade mediante o aprendizado – e ao
qual se põe a procurar na obra que aqui se resenha.
Cumpre,
em princípio, relevar que da obra “Proust e os signos” será resenhada apenas a
primeira parte, intitulada “Os Signos”. No todo, a obra é constituída de duas
partes, sendo o tema da segunda “A Máquina Literária”, a qual não será tratada
aqui.
Quanto
a estrutura, a parte a ser resenhada compõe-se de sete capítulos e uma
conclusão cujos títulos se lêem, respectivamente: primeiro capítulo, “Os tipos
de signos”; segundo, “Signo e Verdade”; terceiro, “O Aprendizado”; quarto, “Os
Signos da Arte e a Essência”; quinto, “Papel secundário da memória”, sexto,
“Série e Grupo”; e, por fim, o sétimo capítulo, “O Pluralismo no sistema dos
signos”. Após esses sete capítulo, Deleuze fecha essa primeira parte com uma
conclusão intitulada “A Imagem do Pensamento”.
No
primeiro capítulo – “Os tipos de Signos” – Deleuze argumenta que os signos são
de quatros espécies e, ao discorrer sobre eles, demonstra, então, que cada um
deles possui algo que lhe é especifico e, portanto, particular. Esses quatro
tipos de signos são: os signos mundanos, os signos sensíveis, os signos do amor
e os signos da arte. A esse último ele confere maior ênfase, tanto neste
capitulo, quanto nos demais.
O
ponto de partida de Deleuze no primeiro capítulo é uma pergunta que ele faz
pela unidade da busca do tempo perdido. Em que consistiria, então, esse tempo
perdido de que fala Deleuze? Se partirmos do princípio de que o tempo perdido é
a mesma coisa que tempo passado, a resposta a essa questão tornar-se-ia
tendenciosa na medida em que introduzir-se-ia a idéia de que falar do passado
não somente remete como requer o uso da memória enquanto “caixa preta” das
experiências vividas que são revividas na medida em que são lembradas. Entretanto,
não parece, para o autor, se tratar exata e necessariamente disso. Segundo ele,
“ela [a unidade da busca pelo tempo perdido] não consiste na memória, nem tão
pouco na lembrança, ainda que involuntária.” [1]
No
decorre do capítulo, Deleuze insinua haver um platonismo em Proust. Esse
platonismo de Proust, tal como apresentado pelo autor parece está atrelado à
noção de conhecimento ou aprendizado. Em Platão, como é sabido, conhecer é
despertar para aquilo que já estava dado na idéia. A prender, nesse sentido,
seria relembrar, e aqui a memória apareceria como elemento fundamental. “Mais
por mais importante que seja seu papel [diz Deleuze] a memória som intervém
como o meio de um aprendizado que a ultrapassa tanto por seus objetivos quanto
por seus princípios.” [2]
Neste ponto, o autor faz transparecer que a memória parece não comportar tanta
relevância para a busca do tempo perdido. Para esclarecer melhor isso, Deleuze
assevera: “A obra de Proust é baseada não na exposição da memória, mas no
aprendizado dos signos. Dos signos ela extrai sua unidade e seu surpreendente
pluralismo.” [3]
Está claro, portanto, de que trata a obra (Proust e os Signos). Os signos são
apresentados por Deleuze como sendo “a matéria do mundo” [4].
Como não há um signo, mas signos, dado que cada um deles constitui um universo
diferente, então, nesse sentido, buscar o tempo perdido seria exatamente o
empenho ou esforço empreendido pelo indivíduo visando a uma investigação
detalhada a cerca desses mundos.
A
questão da pluralidade e da unidade dos mundos, ao que parece, existe
simultaneamente. A unidade, diz Deleuze,
[...]
está em que eles formam sistemas de signos emitidos por pessoas, objetos,
matéria [...], mas a pluralidade [...] consiste no fato de que estes signos não
são do mesmo tipo, não a aparecem da mesma maneira, não podem ser decifrados do
mesmo modo [...]. [5]
À
questão da decifração dos signos atrela-se a da interpretação. Ambas são
relevantes dado que representam uma possibilidade de desvelamento dos signos.
Entretanto, a interpretação e a decifração diferem de um signo para outro. Isso
significa dizer que também a interpretação e a decifração existem em termos de
pluralidade, pluralidade essa que decorre da primeira, ou seja, da pluralidade
dos signos. Em outros termos significa dizer que é da pluralidade dos signos
que surge a diversidade de interpretação e formas especificas de deciframento.
Uma questão relevante que Deleuze coloca e que cabe realçar diz respeito à
evolução dos signos. Essa evolução é justamente aquilo que faz com que eles
venham a ser substituído por outros. Ou seja, os signos mantêm uma dinâmica na
qual existem num dado momento para deixar de ser, talvez não necessariamente,
no outro.
Quanto
aos signos, Deleuze começa por considerar os signos mundanos, mostrando a
partir de que eles surgem e de que se tratam. Nesse sentido, ele refere
O signo
mundano surge como o substituo de uma ação ou de um pensamento, ocupando-lhes o
lugar. Trata-se, portanto, de um signo que não remete a nenhuma outra coisa,
significação transcendente ou conteúdo ideal, mas que usurpou o suposto valor
de seu sentido. [6]
A
primeira impressão que se pode ter do signo mundano é a de que ele não
significa nada na medida em que substitui a ação e o pensamento, expressando
assim um vazio. Nessa perspectiva, poder-se-ia aqui questionar: mas em que
consiste o sentido desse signo dado que não se vale nem da ação nem do
pensamento para sua manifestação? Segundo Deleuze, esse vácuo que constitui o
signo mundano é justamente aquilo que lhe diferencia dos demais e faz com ele
seja perfeito. Portanto, a perfeição do signo mundano consiste justamente no
vazio que ele expressa ao substituir a ação e o pensamento pelo nada. Mas, ainda
assim argumenta o autor: “somente os signos mundanos são capazes de provocar
uma espécie de exaltação nervosa, exprimindo sobre nós o efeito das pessoas que
o sabem produzi-los.” [7]
O que se percebe aqui é que o signo mundano é produto de uma ação, a qual
consiste na eliminação de si própria. Parece que o vazio que define o signo
mundano pressupõe uma determinada ação. Se assim o é, então, ele aparenta ser
paradoxal na medida em que para ser vazio tem que ser ação.
O
segundo tipo de signo é o do amor. Esse, à sua vez, si distingue do primeiro na
medida em que não substitui a ação nem o pensamento. Dotado de caráter poético,
o signo do amor se desenvolve a partir da relação entre o amante e a amada.
Mas, é preciso ressaltar que por traz dessa relação há algo mais interessante
que a própria relação. Trata-se das verdades que se ocultam e que não se dão a
conhecer a não ser mediante um árduo esforço do amado que, instigado pelo
ciúme, põe-se em busca dessas verdades recônditas. O amor como tal, se constitui
como um mundo cujo deciframento consiste na busca pelo conhecimento daquilo que
lhe é próprio. E aquilo que lhe é própria é a verdade oculta. Nas palavras de
Deleuze, “amar é procura explicar,
desenvolver[8]
esses mundos desconhecidos que permanecem envolvidos no amado [...]” [9].
Nesse sentido a arte de amar é arte de desvendar os mistérios presentes naquele
ou naquela a que se ama. Entretanto, é importante salientar que o esforço empreendido
no desvendamento do mistério, em se tratando do amor, não dá nenhuma certeza de
que o mistério venha, de fato a ser desvendado. E por isso não se tem nenhuma
certeza a cerca das verdades que se podem encontrar. Para elucidar melhor isso,
cabe considerar o que diz Deleuze a cerca do problema: “O amante deseja que o
amado lhe dedique todas as suas preferências, seu gestos e suas carícias. Mas
os gestos do amado, no mesmo instante em que dirigem a nós e nos são dedicados
exprime ainda o mundo desconhecido que nos exclui.” [10]
Nesse sentido, Deleuze assevera haver certa contradição no amor. Essa
contradição reside justamente nesse estar dentro de um mundo, que é o mundo da/o
amada/o e ao mesmo tempo está fora do mesmo. Essa contradição fica mais
explicita quando o autor fala do ciúme. Em se tratando do ciúme, a contradição
reside no fato de que – como diz Deleuze – “os meios de que dispomos para preserva-nos
do ciúme são os mesmos que desenvolvem esse ciúme [...]”. [11]
Portanto, o mistério permanece.
Em
uma comparação do signo do amor com o signo mundano, o autor afirma
Os
signos amorosos não são como os signos mundanos: não são signos vazios que
substituem o pensamento e ação; são signos mentirosos que não podem dirigir-se
a nós senão escondendo o que exprimem, isto é, a origem dos mundos desconhecidos,
das ações e dos pensamentos desconhecidos que lhe dão sentido. [12]
Deleuze
assinala, portanto algumas diferenças entre os signos mundanos e os amorosos.
Em suma, essas diferenças resumem-se no fato de que enquanto o signo mundano é
vazio, o do amor é mentiroso. Um paradoxo do signo do amor que aqui pode ser
percebido diz respeito ao fato de que ele só pode aparecer na medida em que se
esconde. É como se o esconder-se fosse a condição de sua revelação. Cumpre
ressalta, contudo, que isso que ele esconde é justamente aquilo que constitui a
sua razão de ser. E como se o amor nada mais fosse que uma mentira, diz
Deleuze: “O interprete dos signos amorosos é necessariamente um interprete de
mentiras.[13]
O
terceiro tipo de signo tratado por Deleuze são os signos sensíveis. Esses, por
sua vez, já são de caráter mais prático que os outros dois apresentados. Como a
razão de ser de um signo é o sentido de sua existência, uma questão relevante
de ser aqui assinalada vai dizer respeito ao fato de que os signos sensíveis,
nesse caso, estão mais próximos de ter o seu segredo desvendado, dado que se
ligam ao mundo real, do que os signos supracitados. Mas, também, Deleuze chama
a atenção para ao fato de que os esforços empreendidos na busca pela revelação
do que eles sejam “estão sempre sujeitos ao fracasso”. [14]
Ora, se por um lado os signos sensíveis comportam essa desvantagem, que é a
possibilidade do fracasso na busca pelo seu desvelamento, por outro eles também
possuem um fundo de verdade que os outros, talvez, não possuem e que, portanto,
lhe distingue dos demais. Para elucidar melhor isso cabe considerar o que diz
Deleuze.
As
qualidades sensíveis ou as impressões, mesmo bem interpretadas, não são ainda
em si mesmas signos suficientes. Não são mais signos vazios, provocando-nos uma
exaltação artificial, como os signos mundanos. Também não são signos
enganadores que nos fazem sofrer, como os do amor, cujo verdadeiro sentido nos
provocam um sofrimento cada vez maior. São signos verídicos, que imediatamente
nos dão uma sensação de alegria incomum, signos plenos, afirmativos e alegres. São signos materiais. [15]
Fica
evidente, destarte, a essência dos signos sensíveis, bem como suas diferenças em
relação aos signos mundanos e aos signos do amor. Em suma, os signos sensíveis
não são vazios, não enganam e não fazem sofrer. Sendo materiais, eles promovem
maior alegria que os do amor e os mundanos que, pode-se dizer, são abstratos.
Um ponto interessante dessa reflexão que merece destaque é quando Deleuze alude
que “o sentido material não é nada sem uma essência ideal que ele encarna.” [16]
Neste ponto, Deleuze já está chamando a atenção e preparando o solo para
começar a tratar da quarta e ultima espécie de signo, a saber, o signo da arte.
O que, segundo ele, “[...] permite agora ao interprete ir mais alem.” [17]
Os
signos da arte, como tais, são signos abstratos, são os signos da essência, é
nele que está a verdade. “Desmaterializados”
[18],
os signos da arte, diz Deleuze, “encontram seu sentido numa essência ideal”. [19]
Esses signos, por sua vez, mantém certa relação com os signos sensíveis na
medida em que os sensíveis, sendo materiais, encontram seu sentido numa
determinada essência que é ideal. Nesse sentido, Deleuze refere:
Compreendemos
então que os signos sensíveis já remetiam a uma essência ideal que se encarnava
no seu sentido material. Mas sem a arte nunca poderíamos compreendê-los [...].
É por esta razão que todos os signos convergem para a arte [...]. No nível mais
profundo, o essencial está nos signos da
arte. [20]
A
arte representa aqui, ao que parece, a única maneira, ou possibilidade pela
qual os signos podem ser compreendidos ou decifrados. Como tal, ela (a arte) é
a referência de todos os outros signos (os mundanos, os do amor e os
sensíveis). Sendo referência para os outros e a razão de si mesma, logo,
pode-se dizer que ela é auto-referencial. Em suma, é nos signos da arte que a
verdade se faz presente e nos quais, ao contrário dos outros, ela pode ser
encontrada.
No
segundo capítulo, intitulado “Signo e Verdade” Deleuze argumenta que a
revelação da verdade se dá pela inteligência, e que a verdade tem uma relação
direta com o tempo. Sendo assim, alega Deleuze: “Na verdade, a Recherche Du temps perdu [leia-se: a
busca do tempo perdido] é uma busca da verdade. Se ela se chama busca do tempo
perdido é apenas porque a verdade tem uma relação essencial com o tempo”. [21]
Essa inseparabilidade entre verdade e tempo, é justamente aquilo que faz com
que cada um dos tipos de signos – mundanos, amor, sensível e arte – tenham uma
temporalidade que lhe é inerente. E o problema de Proust, segundo o autor está
diretamente ligado à questão da verdade.
Um
detalhe importante que chama a atenção quanto à questão da verdade, diz
respeito ao fato de que a busca da verdade não ocorre naturalmente, ou seja,
ninguém busca a verdade por espontaneidade, ou porque ela seja bonita, mas
porque algo o força a buscá-la, e isso que por força leva o indivíduo a busca
da verdade é o que Deleuze chama de violação do pensamento, ou violência a um
signo. Quanto a isso considere-se o que ele diz: “Nós só procuramos a verdade
quando estamos determinados a fazê-los em função de uma situação concreta,
quando sofremos uma espécie de violência que nos leva a essa busca.”[22]
Ora se o signo possui uma temporalidade própria, e se a verdade mantém uma
relação direta com o tempo, a verdade, nesse caso, mantém uma relação direta
com o signos. Entretanto, isso não é suficiente para que ela venha a lume, ou
para que ela se manifeste por si mesma. Pelo contrário, sendo o signo a sua
morada, dado que ela pertence a um determinado tempo e este, à sua vez, é
próprio de cada signo, então o signo sendo o seu lócus é ao mesmo tempo o lugar no qual ela se oculta. O seu
desvelamento é sempre resultado de um esforço que se faz para alcançá-la quando
um signo é violado. Daí a razão pela qual diz Deleuze: “Há sempre a violência
de um signo que nos força a procurar, que nos rouba a paz.” [23]
É manifesto, portanto, que a busca da verdade é sempre decorrente da violência
a um signo. Um exemplo disso, no caso do amor, é o ciumento. Quem é o ciumento?
É aquele que busca a verdade, diz Deleuze, “sob a pressão das mentiras do
amado” [24].
Ou seja, só buscamos a verdade quando algo nos leva a isso. E o que motiva a
verdade é justamente a violência a um signo.
De
alguma forma essa concepção da verdade enquanto resultado da violação de um
signo que leva um determinado indivíduo a buscá-la se contrasta em certos
aspectos com algumas concepções, ou teorias filosóficas a cerca da verdade.
Nesse sentido, Deleuze aponta aquilo que aqui aparece como um suposto erro da
filosofia. Diz ele: “O erro da filosofia é pressupor em nós uma boa vontade de
pensar, um desejo, um amor natural pela verdade.” [25]
Sendo essa leitura deleuziana a cerca de Proust, fica claro, então, que Proust
tem uma posição contrária à filosofia em se tratando da busca pela verdade.
Nisso Deleuze refere: “Um dos temas em que Proust mais insiste é este: a
verdade nunca é o produto de uma boa vontade prévia, mas o resultado de uma
violência sobre o pensamento.” [26]
Clara está, então, a definição de verdade na ótica de Proust. Percebe-se,
destarte, que a busca da verdade depende de uma determinada situação. E essa
busca só se dá quando a isso se é coagido. Essa coação é justamente o que torna
necessária a interpretação, a decifração e a explicação do signo. É importante
notar que Deleuze não fala de verdade, mas de verdades (no plural). A razão
disso, ou seja, a pluralidade da verdade é decorrente da pluralidade do tempo
que decorre da pluralidade dos signos. Por isso, o autor afirma: “[...] há
verdades do tempo perdido e verdades do tempo redescoberto” [27]
O que deve ser assinalado aqui é que a verdade é sempre verdade do tempo, ou de
um tempo e que o único meio pelo qual se pode chegar a ela se dá através dos signos.
Para se chegar a ela, entretanto, um esforço há de ser feito. Esse que se
esforça é justamente o aprendiz, e “A revelação final de que há verdades a
serem descobertas nesse tempo que se perde [diz Deleuze] é o resultado
essencial do seu aprendizado.” [28]
O aprendiz é sempre aquele que busca formas inovadoras de pensamento de tal
forma que em nada repita as já prefixadas. O seu ponto de partida não deve ser,
em hipótese alguma, pressupostos filosóficos, da mesma forma como não deve ser
os científicos. O que seria, então, aprender nesse sentido? Seria criar o ainda
não criado. Portanto, o aprendizado, pode-se dizer, não deixa de ser difícil
num mundo onde tudo está dado, tudo está pronto e acabado. Para ilustrar melhor
isso, cabe considerar Deleuze:
Nunca
se sabe como uma pessoa aprende; mas, de qualquer forma que aprenda, é sempre
por intermédio de signos, perdendo tempo, e não pela assimilação de conteúdos
objetivos. [...] Nunca se aprende fazendo como[29]
alguém, mas com[30]
alguém que não tem relação de semelhança com o que se aprende. [31]
Está
claro, portanto, a complexidade do que seja aprender. Nota-se que o aprendizado
é sempre mediado pelos signos. Isso significa que o ponto de partida do
aprendiz pode se dá a partir de algo que já passou num tempo que se perdeu,
embora, não necessariamente. Um detalhe importante e que deve ser notado aqui é
a distinção que Deleuze estabelece entre aquele que ensina e a coisa a que
ensina. Isso fica evidente nas duas ultimas linhas da citação. Um conceito que
aparece aqui é o conceito de inteligência, o qual deve ser explicado.
Argumentando
sobre a verdade do tempo perdido, a pergunta de Deleuze é justamente esta:
“Porque Proust chama essas verdades de verdades da inteligência?” [32]
A primeira impressão que se tem ao se considerar a relevância da inteligência
na vida de um aprendiz é a de que a descoberta da verdade, no caso do tempo
perdido, se dá pura e necessariamente por meio dela – a inteligência. Todavia,
diz Deleuze, “Em arte ou em literatura, quando a inteligência intervém é sempre
depois, [33]
nunca antes.” [34]
Entretanto, mesmo vindo depois ela se torna relevante na medida em que é
somente por meio dela que se pode extrair a verdade do tempo perdido. A razão
pela qual ela deva vim depois, talvez seja pelo fato de que, como diz Deleuze:
“As idéias da inteligência são muitas vezes ‘sucedâneos’ do desgosto”. [35]
Também ela é depois porque a sua ativação para a busca da verdade é sempre
posterior à violação sofrida pelo pensamento. Cumpre relembrar que é da
violação de um signo que se inicia no indivíduo a busca pela verdade daquilo
que está no signo, verdade essa que não se revela a não ser mediante um imperioso
esforço empreendido rumo a isso. Para cada signo há uma verdade e para cada
verdade, um tempo. Nesse sentido, Deleuze refere,
A cada
espécie de signo corresponde, sem dúvida, uma linha de tempo privilegiada. Os
signos mundanos implicam principalmente um tempo que se perde; os signos do
amor envolvem particularmente o tempo perdido. Os signos sensíveis muitas vezes
nos fazem redescobrir o tempo, restituindo-o no meio do tempo perdido.
Finamente, os signos da arte nos trazem um tempo redescoberto, tempo original
absoluto que compreende todos os outros. [36]
Percebe-se
que dentre os signos destaca-se os da arte que sendo absoluto engloba os
demais. Portanto, os signos pertencem a um determinado tempo, assim como as
verdades que são sempre verdades dos signos.
O
terceiro capítulo (O Aprendizado) demonstra em que consiste o aprendizado.
Obvio fica, então, que o aprendizado consiste na compreensão da essência. Sendo
assim, pode-se dize que ele também se dá pela arte e pelos signos. Para ilustra
melhor as etapas do aprendizado, Deleuze começa por uma decomposição dos
signos. Nesse sentido, ele alude:
Cada
signo tem duas metades: designa [37]
um objeto e significa [38]
alguma coisa diferente. O lado objetivo é o lado do prazer, do gozo imediato e
da prática: enveredando por este caminho, já sacrificamos o lado da “verdade”.
Reconhecemos as coisas sem jamais as conhecermos. Confundimos o significado do
signo com o ser ou objeto que ele designa. [39]
A
impressão que Deleuze dá é a de que o individuo sempre foca àquilo que o signo
designa que é justamente um objeto. Parece que esse lado objetivo designa uma
maneira pela qual se pode desfrutar de benefícios imediatos. O problema que
surge consiste no fato de que esses benefícios podem, ao mesmo tempo, se
converter em prejuízos na medida em que não contribuem para o alcance da
verdade. Cabe ressalvar aqui que é próprio da natureza do homem descobrir os
segredos de uma coisa a partir daquilo que elas manifestam, ou, no mínino, ir
em busca dessa descoberta. No entanto,
neste caso, parece que – em Deleuze, em matéria do que está sendo tratado – o
lado objetivo do signo oculta o seu significado. A questão que aqui cabe
suscitar é a seguinte: não seria o significado do signo a verdade que nele se
oculta? Certamente, estar-se aqui diante de um problema que precisa ser
solucionado, e é quanto novamente aparece, então, a inteligência. Nas palavras
de Deleuze, “A inteligência deseja a
objetividade, como a percepção do objeto.” [40]
Significa isso que por si mesma a inteligência não busca a verdade, a não ser
sob pressão de alguma coisa. A inteligência, como tal, aparece ater-se àquilo
que é mais objetivo possível, nesse sentido. Ratifica-se aqui, portanto, que em
se tratando da busca da verdade, “quando a inteligência intervém, é sempre
depois, nunca antes”. [41]
Ou seja, o esforço da inteligência converge para uma apreensão somente da parte
objetiva dos signos, mas nunca daquilo que ele realmente signifique, a não ser
sob coação. Aqui Deleuze faz uma pergunta fundamental: “O que o herói da Recherche [leia-se: a busca] não sabe no
início da aprendizagem?” [42]
e responde, portanto: “Não sabe ‘que a
verdade não tem necessidade de ser dita para ser manifesta, [43]
e que podemos talvez colhê-la mais seguramente sem esperar pelas palavras e até
mesmo sem levá-las em conta [...]”. [44]
Duas impressões surgem aqui: a primeira é a de que Deleuze parece argumentar em
prol de uma verdade que é por si mesma. A segunda impressão é a de que ele
parece dizer que a verdade pode se revelar de outras maneiras, o que exclui a
possibilidade dela se manifestar apenas e exclusivamente pelas palavras. Uma
vez que a inteligência se prende, ou tende, para as coisas objetivas [diga-se:
materiais], ela atrela-se a noção de valor, ou valores, como ressalta Deleuze:
“Diversos são também as coisas, os empreendimentos e os valores aos quais tende
a inteligência.” [45]
Quanto a isso Deleuze ainda faz o seguinte questionamento: “De que valem essas
verdades objetivas que resultam de uma combinação de trabalho, inteligência e
boa vontade, mas que se comunicam na medida em que são encontradas e são
encontradas na medida em que são recebidas?”. [46]
Em princípio, como já ficou explicito, as verdades nada mais são do que tipos
de temporalidades em particular. Ou seja, elas possuem um tempo que lhe é
inextrincável. As verdades, entretanto, não surgem do nada, mas partem de um
princípio para constituir-se em um sentido que lhes dão a sua razão de ser. Por
princípios, aqui, não deve se entender associações preliminares das quais as
verdades possam advir, mas, sim condições novas que possibilitem de algum modo
que elas sejam descobertas.
Ainda
no terceiro capitulo, Deleuze discorre também sobre as decepções que o aprendiz
pode ter no ato de aprender. Nesse sentido, ele refere: “A decepção é um
momento fundamental da busca ou do aprendizado; em cada campo de signos ficamos
decepcionados quando o objeto não nos revela o segredo que esperávamos. E a
decepção é pluralista, variável segundo cada linha.” [47]
Ao contrário do que aqui se poderia supor, Deleuze é otimista em relação à
decepção do aprendiz. Sendo ela um momento fundamental, como ele mesmo diz, a
impressão que se tem é a de que ela seja, em algum momento, necessária. Talvez,
a razão disso decorra do fato de que os signos não podem, ou não devem ser
interpretados a partir do relacionamento com os objetos a que designam daí, a
razão pela qual a expectativa de se desvendar o segredo seja frustrada. Outra
razão disso também decorre do fato da inexperiência do aprendiz, no seio da
qual a ele não é possível discernir o signo e o objeto. Em outras palavras,
significa dizer que o aprendiz ainda não consegue, em princípio, distinguir o
signo do seu significado, tão pouco pode se dá conta de que o signo é composto
de duas partes, como já foi dito (designa um objeto e significa alguma coisa
diferente). A experiência inicial do aprendiz também não deve ser uma simples
associação de idéias.
Quanto
às etapas do aprendizado, Deleuze faz a seguinte consideração: “Cada linha de
aprendizado passa por esses dois momentos: a decepção provocada por uma
tentativa de interpretação objetiva e a tentativa de remediar essa decepção por
uma interpretação subjetiva, em que reconstituímos conjuntos associativos.” [48]
Há, por conseguinte, uma tentativa, ou um esforço que visa a uma compensação
para a decepção. Isso, todavia, na medida em que se dá pela associação não
parece compensar a decepção dado que Deleuze não aceita verdades que derivem de
associações. Essa tentativa de compensar parece constituir o outro lado da
decepção assumindo assim, que a decepção é composta de uma dupla face: primeiro,
o fracasso no esforço da interpretação, que decorre da falta de experiência do
aprendiz, e, segundo, o reforço (ou a repetição) do fracasso na medida em que a
compensação se dá pela via da associação. Essa dificuldade, cabe destacar,
decorre da própria estrutura do signo, cuja profundidade não pode ser superada
nem pelo interprete, por mais engenhoso que seja, tão menos pelo objeto a que
designa. O signo, como tal, é uno e essa unidade lhe é afirmada pela essência.
Cumpre aqui elucidar isso com as palavras do próprio Deleuze.
É a
essência que constitui a verdadeira unidade do signo e do sentido; é ela que
constitui o signo como irredutível ao objeto que o emite; é ela que constitui o
sentido como irredutível ao sujeito que o apreende. Ela é a ultima palavra do
aprendizado ou a revelação final. [49]
Aqui
poder-se-ia questionar: e como é que se dá essa descoberta da essência? Como ou
de que maneira, o aprendiz pode chegar a ele? Quanto a isso, Deleuze é
objetivo: “é pela obra de arte, pela pintura e pela musica, e, sobretudo, pelo
problema da literatura, que o herói da Recherche
atinge essa revelação das essências.” [50]
Sendo o signo da arte o único capaz de revelar a essência, fica manifesto,
portanto, que os outros três, a saber, o mundano, o sensível e o do amor o
máximo que podem fazer é promover uma aproximação do aprendiz à essência ou a verdade
sem, no entanto, jamais atingi-la. Deleuze ainda reforça o que acima fora dito
ao dizer: “É apenas no nível da arte que
as essências são reveladas”. [51]
No
capítulo quatro (Os Signos da Arte e a Essência) Deleuze demonstra a razão
principal pela qual os signos da arte são superiores aos demais. Essa
superioridade residiria, então, no fato dos signos da arte não serem dotados de
matéria. Nesse sentido, a pergunta que Deleuze faz é a seguinte: “Qual é a
superioridade dos signos da Arte com relação a todos os outros? [e responde] É
que todos os outros são signos materiais.” [52]
Quanto às razões pelas quais os outros signos são matérias parecem consistir em
que eles surgem atrelados ao objeto a que designam. É como se eles, para sua
existência, necessariamente tivessem que estar envolvidos num determinado
objeto. Se assim, de fato, fosse deveríamos convir que a superioridade do signo
da arte residiria também no fato deles gozarem de uma liberdade na medida em
que não se prendem a nenhum objeto material.
Há
também, segundo Deleuze, outras razões pelas quais os signos que não são os da
arte possam ser considerados materiais. Sobre isso ele refere:
Os
outros signos são materiais, não apenas por sua origem e pela maneira como
permanecem semi-encobertos no objeto, mas também por seu desenvolvimento ou sua
explicação. [...] De tal modo que, cada vez que intervém a memória, a
explicação dos signos comporta ainda alguma coisa de material [53]
A
memória, nesse sentido, aparece como um dos meios pelos quais os outros signos
se tornam materiais. Isso decorre do fato de que a explicação necessita da
memória na medida em que essas explicações se dão a cerca do que, sobretudo, já
é passado. A explicação deve ter por finalidade a busca do sentido, e é
justamente aqui que está o problema. A matéria permanece quando descobrimos os
sentidos dos signos com outra coisa. A explicação do passado pode ser entendida
como explicação de coisas materiais dado que só a matéria passa, enquanto que a
essência permanece. A essência nesse sentido não pode ser nem passado, nem
presente, e tão menos futuro. Pois ela é o que é. E sendo o que é e por si
mesma, não pode deixar de ser. Aquilo que é por si mesmo é perfeito. Só o
perfeito é idêntico a si mesmo. O imperfeito não pode ser igual nem a si, nem
com relação aos demais porque busca a perfeição. E na medida em que busca a
perfeição ele (o imperfeito) salta de um grau a outro, por isso não pode ser
seu igual nem igual a outrem. Mas a essência não precisa fazer esse esforço,
pois, ela já atingiu o patamar máximo de perfeição que poderia alcançar. E o
seu esforço é simples porque, não estando presa a nem um objeto, é livre para
ser o que, de fato, é. Fica evidente, portanto, que a superioridade dos signos
da arte sobre os demais decorre exclusivamente do fato de que enquanto os da
arte são imateriais e, portanto, espirituais, os outros são materiais dado que
estão diretamente ligados à matéria.
Para
definir melhor a essência, Deleuze começa pela questão “O que é uma essência,
tal como é revelada na obra de arte? [responde, portanto] É uma diferença, a
diferença ultima e absoluta.” [54]
Neste ponto, já se está diante de um conceito chave no coração na obra de
Deleuze que é o conceito de diferença. A diferença é justamente aquilo que,
como diz o autor, “constitui o ser” [55].
Como tal, a diferença é sempre móvel; ela não se fixa em um determinado lugar,
mas, vive se deslocando de um lugar para outro o tempo todo e
interminavelmente. Sendo assim, a essência é uma diferença absoluta que só
existe na obra de arte, pois só na obra de arte a essência é livre para se
deslocar dado que é imaterial. É esse movimento da essência na arte que permite
com que os signos da arte sejam decifrados. Ao se movimentar, a diferença de
divide, e ao se dividir muda de natureza. Essa repartição da diferença, ou esse
movimento da essência é justamente aquilo que faz com que o real ao se
desprender do ser seja desse liberto. Em outras palavras significa dizer que
todo esse engenho no mundo da arte consiste nada mais nada menos que numa
tentativa de desmaterialização da matéria.
Enquanto diferença, ainda não fica claro o que vem a ser a essência.
Essa clareza, entretanto, começa a se manifestar quando nas palavras de
Deleuze, fazendo alusão a Proust diz: “Proust nos dá uma primeira aproximação
da essência quando diz que ela é alguma coisa em um sujeito, como a presença de
uma qualidade ultima no âmago de um sujeito [...].” [56]
começa a se esclarecer, então, que a essência não é algo para além do sujeito,
mas algo que está nele sem, no entanto, estar presa a ele. Permanece nele, mas
permanece livre ao mesmo tempo. Mas, quando da sua liberdade ela se movimenta e
sai do ser, embora permaneça nele, essa saída só se dá por meio da arte, ou da
intervenção artística. Esse sair de si é o que permite o sujeito ver em si mesmo
aquilo que os outros vêem – a cerca dele – do seu universo, e que, por
conseguinte não é o seu. Nesse sentido, Deleuze refere:
Cada
sujeito exprime o mundo de um ponto de vista. Mas o ponto de vista é a própria
diferença, a diferença interna e absoluta. Cada sujeito exprime, pois, um mundo
absolutamente diferente e, sem dúvida, o mundo expresso não existe fora do
sujeito que o exprime (o que chamamos mundo exterior é apenas a projeção
ilusória, o limite uniformizante de todos esses mundos expressos). [57]
Fica
claro, portanto, que uma coisa é o sujeito e outra, o mundo que ele expressa. O
mundo expresso pelo sujeito não expressa a essência do sujeito, mas a essência
do seu ser. Cumpre ressaltar que, segundo Deleuze, há um envolvimento das
essências. Na sua concepção, o ser é criado justamente a partir desse enrolar
das essências umas nas outras, o que, criando o ser, cria também a
subjetividade. Essa subjetividade, por sua vez, só pode ser conhecida pela
arte. Para ilustrar melhor o que está sendo dito, Deleuze afirma: “Não são os indivíduos que constituem o
mundo, mas os mundos envolvidos, as essências, que constituem os indivíduos
[...] a essência não é apenas individual, ela é individualizante”. [58]
Em suma, diz: “[...] a revelação da
essência [...] só pertence ao domínio da arte [...]”. [59]
No
capítulo cinco (Papel Secundário da Memória), Deleuze discorre também a cerca
do papel da memória involuntária. O autor começa por demonstrar a necessidade
da inteligência para a decifração dos signos do amor e dos mundanos.
Entretanto, ressalta, como foi já fora dito, que ela (inteligência) é sempre
depois. Em se tratando da memória propriamente dita Deleuze afirma: “[...] a
memória não sendo solicitada diretamente, só pode fornecer uma contribuição
voluntária e precisamente porque é a penas ‘voluntária’ vem sempre muito tarde
com relação aos signos a decifrar.” [60]
Sendo assim, fica claro, então, como o papel da memória se torna secundário no
que diz respeito à decifração dos signos: exatamente pelo fato dela nunca ser
chamada em primeiro plano para a execução dos trabalhos. De algum modo, isso
insinua que a memória não é o elemento mais fundamental para se decifrar um
signo, e por razões que já foram dadas anteriormente. No caso dos signos
amorosos, por exemplo, a memória só intervém voluntariamente. Um ponto que
esclarece melhor o que é e para que, ou quem, serve a memória involuntária é
quando Deleuze questiona: “Em que nível, então, intervém a famosa memória involuntária?[61]
[e responde] Ela só intervém em função de uma espécie de signos muito
particulares: os signos sensíveis.” [62]
Deleuze, distingue dois tipos de signos sensíveis, a saber, “as reminiscências
e as descobertas [...]” [63]
As reminiscências são justamente aqueles que são relembrados dado o seu
arquivamento na memória. Embora a memória involuntária possa contribuir para o
fornecimento dos segredos dos signos, uma vez que sempre vem em segundo plano,
diz Deleuze: “[...] essa memória não possui o segredo de todos os signos.” [64]
Os signos sensíveis que não se explicam pela imaginação se tornam, nesse caso,
superiores aos sensíveis. Na visão de Deleuze, os signos sensíveis “na medida
em que se explicam pela memória formam, na verdade, um ‘começo de arte’, eles nos
põem ‘no caminho da arte.’” [65]
Como os outros signos – respectivamente, os do amor e os mundanos – também se
explicam, por alguma razão, por meio da memória, dado que a memória está
diretamente ligada ao passado e esses são signos do tempo perdido, enquanto que
os da arte não o são, logo, é preciso convir que os três signos, a saber,
mundano, sensível e o do amor abrem caminhos que conduzem para arte. ou seja, há
uma pretensão de busca da essência também por parte desses signos. O que fica
em jogo aqui é a possibilidade deles alcançarem esse nível que é o da essência,
dado que estão presos ao nível do material e dele precisam não somente para
existir, como também para se explicarem.
Uma
das preocupações de Proust, segundo Deleuze, consiste em saber se as reminiscências[66]
são favoráveis ou não à obra de arte. Desse modo, Deleuze afirma, que “As
reminiscências são metáforas da vida; as metáforas são reminiscências da arte.”
[67]
A impressão que se tem aqui é que, num primeiro momento, a vida se alimenta das
lembranças do passado. Ou ainda, ela atualiza o passado por meio da
representação que dele faz através do uso de figuras, por exemplo. Num segundo
momento, parece que essas figuras do passado que são atualizadas por meio das
lembranças se tornam, novamente, passado quando entram no campo da arte. É como
se aquilo que é real para a vida fosse abstrato para arte. Isso deve ficar mais
claro quando Deleuze afirma que “[...] só
a arte realiza plenamente o que a vida esboçou.” [68]
É como se a arte concluísse um trabalho que a vida iniciou, mas não deu conta
de levar adiante. O que garante essa superioridade da arte é justamente o fato
de que, como diz Deleuze, “Os signos da
arte de explicam pelo pensamento puro como faculdade da essência.” [69]
Em
se tratando da memória voluntária, o autor argumenta que ela “vai de um
presente atual a um presente que ‘foi’.” [70]
Significa dizer, portanto, que a memória voluntária flutua, ou desliza entre o
presente e o passado. Também significa que a memória voluntária, não se prende
nem ao passado, na medida em que estando nele pode vir para o presente, e nem
ao presente, dado que pode sair dele e se dirigir para o passado. Nesse sentido
Deleuze argumenta que Proust restringe a memória voluntária à percepção
consciente. Isto quer dizer que na memória voluntária há uma pretensão de
descobrir o segredo da coisa a partir das reminiscências. Ao fazer isso, ela
incorre na impossibilidade de captar a essência do objeto, dado que a essência
não se alcança por outros meios a não ser a arte, a música, a pintura e outras
formas de intervenção artística. Nas palavras de Deleuze – em matéria do que
aqui se trata – eis o problema de Proust: “Proust coloca desta maneira a
questão: como resgatar o passado tal como é em si?” [71]
Esse é, portanto, o grande problema ao qual Proust busca resolver.
Ao
final do capítulo quando volta a tratar do aprendizado, Deleuze refere:
Aprender
é relembrar, mas relembrar nada mais é que do que aprender, ter um
pressentimento. Se, impulsionados pelas etapas sucessivas do aprendizado, não
chegássemos à revelação final da arte, permaneceríamos incapazes de compreender
a essência, até mesmo de compreender que ela já estava na lembrança
involuntária ou na alegria do signo sensível [...] É necessário que todas as
etapas conduzam à arte e que atinjamos sua revelação [...]. [72]
A
razão pela qual as etapas do aprendizado devem conduzir à arte reside no fato
de que apenas, e exclusivamente, a arte é que revela a essência.
No
capitulo seis (Série e Grupo) Deleuze mostra como a série ultrapassa a
experiência e se torna transubjetiva. Em principio, retomando a questão da
essência, ele argumenta que ela tem dois poderes e demonstra quais são. Diz
ele:
A
encarnação das essências persiste nos signos amorosos e até mesmo nos signos
mundanos. A diferença e a repetição
permanecem, então, como os dois poderes da essência, [73]
a qual continua irredutível tanto ao objeto que porta o signo quanto ao sujeito
que o sente. [74]
Deleuze
volta, então, a tocar no conceito fundamental do seu pensamento que é a diferença,
atrelado agora ao conceito de repetição. Uma questão que ele suscita neste
capitulo é de suma relevância para se entender como a essência pode se
transformar em outra coisa, o que seria nada mais nada menos que uma espécie de
encarnação. E essa encarnação da essência não é uma encarnação que se dá em
qualquer coisa, mas uma encarnação que se dá nos signos, especificamente, os
signos mundanos e os signos amorosos. A questão é a seguinte: “[...] como
conciliar a idéia de uma presença da essência com o caráter mentiroso dos
signos do amor e com o caráter vazio dos signos do mundanismo?” [75]
Significa, resumidamente, que a preocupação de Deleuze consiste justamente em
unir a essência – que é alguma coisa, qual seja, a verdade que se revela pela
arte – ao vazio e à mentira. O que poderia resultar dessa união? Um submergir
da essência nessas duas classes de signos. Jogada no vazio do signo mundano, a
essência continuaria sendo o que, de fato, é. Por outro lado, lançada no mundo
da mentira que é o signo do amor, como verdade, ela arruinaria a mentira
fazendo-a ruir, portanto. Mas, o que, de fato, isso significaria parece ficar
mais claro quando Deleuze refere que “As essências podem, portanto, se encarnar
nos signos amorosos exatamente como as leis gerais da mentira, e nos signos
mundanos como as leis gerais do vazio”. [76]
O que aparece haver aqui é uma pretensão de transformação das essenciais em
leis. Como lei a essência não somente se manteria inalterável como também
subordinaria os outros signos e seus respectivos sentidos.
Quanto
aos poderes da essência, Deleuze diz que “Nos signos do amor, os dois deixam de
estar juntos”. [77] E
isso ajuda a entende melhor a essência enquanto lei. De acordo com ele, “[...]
as diferenças estão contidas em uma imagem primordial do universo, que não
cessamos de reproduzir em diversos níveis [...].” [78]
O que entra em questão aqui é a possibilidade da repetição ser, de fato, a lei.
Nesse sentido, a essência enquanto lei seria apenas o resultado, ou o
desdobramento do processo de repetição. E ao invés da afirmação pela permanência
da essência, dever-se-ia afirmar que o que há é uma repetição constante,
mediante a qual a essência se encarnaria em todos os signos. A diferença,
enquanto tal estaria, à sua vez, contida no ciclo da repetição. A diferença,
nessa perspectiva, seria o fluxo contínuo do vir-a-ser de processos no cerne da repetição. Aqui, alguns
questionamentos cumprem ser feito: seria a diferença aquilo que torna as coisas
inteligíveis ligando-as a uma lei? E o que seria a repetição? Seria a repetição
a lei da diferença? Ou seria a diferença aquilo que, por ser diferente, faz a
repetição a vir-a-ser? A repetição, como tal, também seria a lei da série,
fazendo com que a série dessa forma se desenvolvesse. É o desenvolvimento da
série que permite ao sujeito se reaproximar da diferença. A repetição – que se
dá, através da memória, que ao arquivar permite que a repetição aconteça – nada
mais é que o esquecimento da memória, donde se concebe que o esquecimento leva
a memória à repetição. A repetição também é aquilo que faz perceber, via
inteligência, que as coisas, por exemplo, o sofrimento não depende de outros
objetos, mas do próprio sujeito. Sobre isso, Deleuze diz: “Nós nos apercebemos
de que nossos sofrimentos não dependiam de objeto, eram ‘rodeios’ ou ‘farsas’
que preparávamos para nós mesmos, ou melhor, armadilhas e coquetismos da Idéia,
alegria da essência.” [79]
Descobrir isso, entretanto, seria um trabalho exclusivamente da inteligência,
claro, pressionada por alguma coisa. Pois, como já fora dito, a inteligência
sempre vem depois. Nesse sentido, Deleuze afirma:
O
trabalho da inteligência consiste em, sob pressão da sensibilidade, transmutar
nosso sofrimento em alegria, ao mesmo tempo que o particular no geral. Somente
ela pode descobrir a generalidade e achá-la alegre, encontrando no final aquilo
que já estava presente desde o começo, necessariamente inconsciente. [80]
Ou
seja, primeiro a inteligência – depois da violência do signo – descobre a
essência, e, segundo, ao descobrir a essência, a inteligência percebe que a
causa do sofrimento, por exemplo, não é o objeto, mas o próprio sujeito. “Em
suma [diz Deleuze], a essência assume a generalidade de um Tema ou de uma Idéia
que serve de lei à série [...].” [81]
Como lei da série, é a essência que determina a subjetividade de cada ser. É
pela essência que o sujeito se distingue dos demais. Em outras palavras
significa que é pela subjetividade de cada sujeito enquanto expressão de sua
essência que cada ser é aquilo que, de fato, é, ou que só ele pode ser.
No
capitulo sete (O Pluralismo no Sistema dos Signos) Deleuze mostra que o sistema
de signos é pluralista em razão de pontos de vistas distintos. Para esclarecer
melhor isso ele refere logo no início do capítulo conforme se lê:
A Recherche [leia-se: a busca] do tempo
perdido se apresenta como um sistema de signos. Mas esse sistema é pluralista,
não apenas porque a classificação dos signos utiliza critérios múltiplos, mas
também porque devemos sempre conjugar dois pontos de vista distintos no
estabelecimento desse critério. [82]
São
os pontos de vista, portanto, o que fazem com que os signos sejam pluralistas,
e, desse modo, a busca também deve ser. Os critérios que permitem uma
classificação dos signos decorrem justamente da junção entre os diversos pontos
de vistas. Duas etapas para a conjugação dos pontos de vistas são apresentadas
por Deleuze: “Por um lado, devemos considerar os signos do ponto de vista do
processo de um aprendizado. [...] Por ouro lado, devemos considerar os signos
do ponto de vista da revelação final.” [83]
Ou seja, o que se pretende, em suma, é a conciliação entre o aprendizado e a
arte, dado que é a arte que compete a revelação final do signo, aquilo que é a
essência do mesmo. Se o aprendizado resulta de um esforço empreendido pelo
aprendiz rumo a descoberta do segredo do signo, esse aprendizado deve ser
direcionado no sentido de descobrir a essência. Na obra, como Deleuze deixa
perceber, o signo sempre ocupa o lugar equivalente à evolução do aprendizado. A
explicação final, diz ele, “recebem [...] das características que então
apresentavam”. [84]
Se as características de uma coisa são, em algum aspecto, um meio pelo qual
essa coisa possa ser explicada, a explicação dos signos nesse sentido, está
contida no seu próprio ser dado que as características são sempre características
de um ser.
Voltando
a considerar os quatro tipos de signos, Deleuze refere:
Os
signos mundanos são mais materiais por evoluírem no vazio. Os signos amorosos
são inseparáveis da força de um resto, da textura de uma pele, da forma e do
colorido de uma face: coisa que só se espiritualiza quando a criatura amada
dorme. Os signos sensíveis também são qualidades materiais, sobretudo os aromas
e os sabores. Somente na arte é que o
signo se torna imaterial, ao mesmo tempo que seu sentido se torna espiritual.
[85]
O
que se percebe aqui é uma ratificação da superioridade da arte sobre os demais
tipos de signos, tal como já fora demonstrado. Pode-se aqui arriscar em dizer
que o que há, de fato, é uma redução dos signos em dois grupos: os materiais
(que são os mundanos, os sensíveis e os do amor) e os imateriais (que são os
signos da arte). Quanto a explicação dos signos Deleuze estabelece a seguinte
ordem: a inteligência explica os signos mundanos e os amorosos; a memória e a
imaginação explicam os signos sensíveis; e o pensamento explica os signos da
arte. [86]
Também
neste capítulo, Deleuze mostra que há uma divisão do tempo em quatro linhas, a
saber, o “Tempo que se perde, tempo perdido, tempo que se redescobre e o tempo
redescoberto.” [87] Se
dentre esses tempos há um que determina todos os outros, esse tempo, pode-se
dizer, é o tempo da arte. Nas palavras de Deleuze, “É, portanto, nas linhas do tempo que os signos interferem uns com os
outros e multiplicam suas combinações.” [88]
Essa interferência se dá através da extensão do tempo. Por exemplo, o tempo que
perde desemboca no tempo perdido, e o tempo perdido, à sua vez, resulta do
tempo que se perde, ou se perdeu. Assim também se dá com o tempo que se
redescobre, e se redescobre no tempo redescoberto. Este, por sua vez, é, então,
o tempo da arte e como tal, diz Deleuze, “engloba e compreende todos os outros,
pois, é unicamente nele que cada linha do tempo encontra sua verdade, seu lugar
e seu resultado do ponto de vista da verdade.” [89]
Para explicar melhor como isso se dá Deleuze volta a tratar da essência. Nesse sentido ele argumenta que “[...] apenas
no nível mais profundo, no nível da arte, é que a essência é revelada [...].” [90]
Em outras palavras significa dizer que primeiro a essência se revela por meio
da arte; segundo, depois de revelada, ela desce à série do tempo; e terceiro,
depois da sua descida, ela dá a cada uma das quatro linhas do tempo a verdade
que lhe corresponde. [91]
Após
refletir sobre “Os Signos” ao longo dos sete capítulos iniciais da obra aqui
resenhada, Deleuze, finalmente, chega à conclusão da primeira parte discorrendo
sobre “A imagem do Pensamento”. Nesta parte, Deleuze se apresenta como crítico
de toda e qualquer pretensão de verdade absoluta que derive do pensamento puro.
Assim, a imagem do pensamento nada mais é que a interpretação e tradução que o
pensamento faz de um signo. Em principio, ele faz a seguinte elucidação: “Se o
tempo tem uma importância fundamental na Recherche,
é porque toda verdade é verdade do tempo. A Recherche
é, antes de tudo, uma busca da verdade, em que se manifesta toda a dimensão
‘filosófica’ da obra de Proust [...].” [92]
Significa isso que buscar o tempo perdido é a mesma coisa que buscar a verdade.
Inversamente, buscar a verdade significa mergulhar no tempo a fim de poder
encontrá-la.
Cumpre
destacar também a critica que Deleuze tece à filosofia enquanto amizade, quando
volta a tratar das forças que forçam o pensamento a procurar a verdade. Diz
ele: “[...] a filosofia como amizade, ignora as zonas obscuras em que são
elaboradas as forças efetivas que agem sobre o pensamento, as determinações que
nos forçam a pensar”. Ratifica-se, portanto, a idéia de que é sempre a partir
da violação que sofre que o pensamento se põe em marcha a busca da verdade. É
justamente essa uma das razões pelas quais Deleuze rejeita a verdade que deriva
do pensamento puro. A verdade, nessa ótica, não reside propriamente no
pensamento, mas naquilo que põe o pensamento em movimento, ou seja, naquilo que
faz pensar. E aquilo que põe o pensamento em movimento seria justamente a
verdade, em busca da qual o pensamento se desloca uma vez atingido por ela.
Pensar, nesse sentido significa converter uma coisa material em seu
“equivalente espiritual.” [93]
Em suma, Deleuze argumenta que “O ato de pensar não decorre de uma simples
possibilidade natural; é, ao contrário, a única criação verdadeira”. [94]
Como criação verdadeira, portanto, o pensamento só existe em vista de uma
violação feita a ele mesmo.
[1] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio
Carlos Piquet e Roberto machado. Rio de
Janeiro: Forense, 2006. p. 4
[2] Idem, p. 4
[3] Idem, p. 4
[4] Idem, p. 4
[5] Idem, p. 5
[6] Idem, p. 6
[7] Idem, p. 6
[8] Grifo do autor.
[9]
DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad.
Antonio Carlos Piquet e Roberto machado.
Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.7
[10] Idem, p. 8
[11] Idem, p. 8
[12] Idem, p. 9
[13] Idem, p. 9
[14] Idem, p. 11
[15] Idem, p. 12 (Grifo do autor)
[16] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 12-13
[17] Idem, p. 13
[18] Grifo do autor
[19] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 13
[20] Idem, p.13 (grifo nosso)
[21] Idem, p. 14
[22] Idem, p. 14
[23] Idem, p. 14-15
[24] Idem, p. 14
[25] Idem, p. 15
[26] Idem, p. 15
[27] Idem, p. 16
[28] Idem, p. 20
[29] Grifo do autor
[30] Grifo do autor
[31] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 21
[32] Idem, p. 21
[33] Grifo do autor
[34] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 21
[35] Idem, p. 22
[36] Idem, p. 23
[37] Grifo do autor
[38] Grifo do autor
[39] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 26
[40] Idem, p. 27 (grifo do autor)
[41] Idem, p. 21
[42] Idem, p. 28
[43] Grifo nosso
[44] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 28
[45] Idem, p. 28
[46] Idem, p. 29
[47] Idem, p. 32
[48] Idem, p. 34
[49] Idem, p. 36
[50] Idem, p. 36
[51] Idem, p. 36 (grifo nosso)
[52] Idem, p. 37
[53] Idem, p. 38
[54] Idem, p. 39
[55] Idem, p. 39
[56] Idem, p. 39
[57] Idem, p. 40-41
[58] Idem, p. 41 (grifo nosso).
[59] Idem, p. 47-48 (grifo nosso)
[60] Idem, p. 49
[61] Grifo do autor.
[62] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 50
[63] Idem, p. 50
[64] Idem, p. 50
[65] Idem, p. 51
[66] “A reminiscência nos revela o passado
puro, o ser-em-si do passado e, sem dúvida, esse ser-em-si ultrapassa todas as
dimensões empíricas do tempo [...] Esse passado puro é a instância que não se
reduz a nenhum presente que passa, mas também a instância que faz passar todos
os presentes, presidindo sua passagem [...]”. (Idem, p. 59).
[67] Idem, p. 52
[68] Idem, p. 52 (grifo nosso)
[69] Idem, p. 52 (grifo nosso)
[70] Idem, p. 54
[71] Idem, p. 56
[72] Idem, p. 61-62
[73] Grifo nosso
[74] DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2. Ed. Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto
machado. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
p. 63
[75] Idem, p. 63
[76] Idem, p. 63
[77] Idem, p. 64
[78] Idem, p. 64
[79] Idem, p. 70
[80] Idem, p. 71
[81] Idem, p. 71
[82] Idem, p. 79
[83] Idem, p. 79
[84] Idem, p. 79
[85] Idem, p. 80 (grifo nosso)
[86] Cf. Idem, p. 81
[87] Idem, p. 82
[88] Idem, p. 82 (grifo do autor)
[89] Idem, p. 82
[90] Idem, p. 83
[91] Cf. Idem, p. 83
[92] Idem, p. 88
[93] Cf. Idem, p. 90
[94] Idem, p. 91
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