segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

FICHAMENTO DO CAP. VI do LEVIATÃ

SOBRE A ORIGEM INTERNA DOS MOVIMENTOS VOLUNTÁRIOS CHAMADOS PAIXÕES E A LINGUAGEM QUE OS EXPRIME



Movimento vital e animal – o esforço – o apetite – o desejo – a fome – a sede – a aversão – o amor – o desprezo – o bem – o mal – o pulchrum – o turpe – o delicioso – o proveitoso – o desagradável – o inaproveitável – o deleite – o desprezo – o prazer – a ofensa – os prazeres dos sentidos – os prazeres do espírito – a alegria – a dor – a tristeza – a esperança – o desespero – o medo – a coragem – a cólera – a confiança – a desconfiança – a indignação – a benevolência – a bondade natural – a cobiça – a ambição – a pusilanimidade – a magnanimidade – a valentia – a liberdade – a mesquinhez – a amabilidade – a concupiscência natural – a luxuria – a paixão – o amor – o ciúme – a vingança – a curiosidade – a religião – a superstição – a verdadeira religião – o terror pânico – a admiração – a glorificação – a vangloria – o desalento – o entusiasmo súbito – o riso – o desalento súbito – o choro – a vergonha – o rubor – a imprudência – a piedade – a crueldade – a emulação – a inveja – a deliberação – a vontade – as formas de linguagem na paixão – o bem e o mal aparentes – a felicidade – o louvor – a exaltação

- Nos animais há dois tipos de movimentos que lhes são próprios. Um deles chama-se vital: começa com a geração e continua sem interrupção durante toda a vida. Deste tipo são a circulação do sangue, o pulso, a respiração, a digestão, a nutrição, a excreção etc. [...] O outro tipo é o dos movimentos animais também chamados movimentos voluntários, como andar, falar, mover qualquer dos membros da maneira como anteriormente foi imaginada pela mente. (p. 45-46)
Os animais possuem dois tipos de moimentos: o vital e o animal. O primeiro diz respeito àqueles que são necessários para a existência da vida, como por exemplo, o movimentos do coração. Já o segundo, diz respeito àquelas coisas que o indivíduo faz voluntariamente sem se dá conta de o está realizando como, por exemplo, andar.
- A sensação é o movimento provocado nos órgãos e partes inferiores do corpo do homem pela ação das coisas que vemos, ouvimos etc. A imaginação é apenas o resíduo do mesmo movimento, que permanece depois da sensação [...]. (p. 46).
A sensação é o movimento que há no corpo humano cuja causa é originária de coisas que lhes são exteriores. A imaginação é o resto, ou parte final desse movimento que permanece.
- [...] a imaginação é a primeira origem interna de todos os movimentos voluntários. (p. 46).
- Embora os homens sem instrução não concebam que haja movimento quando a coisa movida é invisível ou quando o espaço onde ela é movida, devido a sua pequenez, é insensível, não obstante esse movimento existe. (p. 46).
O movimento existe tanto nas coisas visíveis como nas invisíveis; tanto nas coisas sensíveis como nas insensíveis.
- Estes pequenos inícios do movimento, no interior do corpo do homem, [...] chamam-se esforço [...]. Quando vai em direção de algo que o causa, esse esforço chama-se apetite ou desejo. [...] quando o esforço vai no sentido de evitar alguma coisa chama-se geralmente aversão. (p. 46)
Apetite e desejo são dois desdobramentos do esforço do corpo que se movimenta. O desejo neste sentido faz referência ao alimento. Apetite e desejo caminham opostamente à aversão.
- Apetite e aversão são palavras que vem do latim, e ambas designam movimentos, uma de aproximação e outra de afastamento. (p. 46)
- Daquilo que os homens desejam se diz também que o amam e que odeiam aquelas coisas pelas quais sentem aversão. De modo que desejo e amor são a mesma coisa, salvo que por desejo sempre se quer significar a ausência do objeto e quando se fala em amor geralmente se quer indicar a presença. Também por aversão se quer designar a ausência e quando se fala de ódio pretende-se indicar a presença. (p. 46-47)
O desejo é sempre desejo daquilo que ainda é ausente, ao passo que o amor é sempre a presença de algo que já está dado. Da mesma forma a aversão é a ausência daquilo a que se odeia quando está próximo.
- [...] das coisas que inteiramente desconhecemos, ou em cuja existência não acreditamos, não podemos ter outro desejo que não o de provar e tentar.(p. 47)
- Daquilo que não desejamos nem odiamos se diz que desprezamos. (p. 47)
- Como a constituição do corpo de um homem se encontra em constante modificação, é impossível que as mesmas coisas nele provoquem sempre os mesmos apetites e aversões e muito menos é possível que os homens coincidam no desejo de um só e mesmo alvo. (p. 47).
Devido às transformações constantes a que passa o homem, se torna impossível que ele seja afetado frequentemente por uma única coisa e no mesmo lugar.
- seja qual for o objeto do apetite ou desejo de qualquer homem, esse objeto é aquele a que cada um chama bom; ao objeto de seu ódio e aversão chama mau, e ao de seu desprezo chama vil e indigno. (p. 47).
- [...] nem há qualquer regra comum do bem e do mal que possa ser extraída da natureza dos próprios objetos. Ela só pode ser tirada da pessoa de cada um, quando não há Estado, ou então, num Estado, da pessoa que representa cada um [...]. (p. 47).
Com isso, Hobbes evidencia que tanto o mal quanto o bem não são características dos objetos, mas dos seres, especificamente o homem.
- Aquilo que realmente está dentro de nós é apenas movimento, tal como na sensação, provocado pela ação dos objetos externos [...]. (p. 48).
- Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir. Sem essa crença, o apetite chama-se desespero. [...] Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante. Chama-se desconfiança em si mesmo o desespero constante. [...] Chama-se benevolência, boa vontade, caridade o desejo do bem dos outros. [...] Chama-se cobiça o desejo do bem dos outros [...]. Chama-se pusilanimidade o desejo de coisas que só contribuem um pouco para nossos fins e o medo das coisas que constituem apenas um pequeno impedimento. (p. 49).
- Chama-se concupiscência natural o amor pelas pessoas apenas sob o aspecto dos prazeres dos sentidos. (p. 50).
- O porquê, o como e o desejo de saber chamam-se curiosidade, e não existe em qualquer criatura viva a não ser no homem. Dessa forma, não é só por sua razão que os homens se distinguem dos outros animais, mas também por sua singular paixão. Nos outros animais o apetite pelo alimento e outros prazeres dos sentidos predominam de tal modo que impedem toda preocupação com o conhecimento das causas, o qual é um desejo do espírito que, [...] supera a fugaz veemência de qualquer prazer carnal. (p. 50)
Aqui Hobbes assinala para algumas das características que vão permitir diferenciar os homens dos animais, como, por exemplo, a própria curiosidade em saber das coisas, o que, evidentemente, é exclusividade dos homens.  Outro elemento importante – nos animais – é o apetite, a partir do qual se dá a impossibilidade do conhecimento das causas da coisa.  
- Causado pelos poderes invisíveis, inventados pelo espírito ou imaginados a partir de relatos publicamente permitidos, chama-se religião o medo daí advindo; quando esses não são permitidos chama-se superstição. Quando o poder imaginado é realmente como o imaginamos, chama-se verdadeira religião. (p. 50)
 Nesta perspectiva, a religião aparece como desdobramento do medo que os homens têm dos espíritos. É como se a religião fosse uma forma de dizer para os espíritos que a eles será dado respeito.
- Chama-se admiração a alegria ao saber de uma novidade; é própria do homem porque desperta o apetite de conhecer a coisa. (p. 50).
- Chama-se vangloria a invenção ou suposição de capacidades que se sabe não possuir [...]. (p. 51).
- [...] um excesso de riso perante os defeitos dos outros é sinal de pusilanimidade. Porque o que é próprio dos grandes espíritos é ajudar os outros a evitar o escárnio e comparar-se apenas com os mais capazes. (p. 51).
Os grandes espíritos não se constituem a partir de coisas pequenas mediante as quais prejudicam os outros, mas a partir das ações pelas quais se busca ajudar diretamente aqueles que precisam ser ajudados.
- É a vergonha a tristeza devida à descoberta de alguma falta de capacidade, a paixão que se revela através do rubor. (p. 51)
- Chama-se imprudência o desprezo pela boa reputação. (p. 52)
- Chama-se piedade a tristeza perante a desgraça alheia, e surge do imaginar que a mesma desgraça poderia acontecer a nós mesmo. (p. 52)
Ter piedade dos outros significa reconhecer em nós mesmo às possibilidades de realização das desgraças pela qual nos sensibilizamos frente ao outro.
- Chama-se crueldade o desprezo ou pouca preocupação com a desgraça alheia, que deriva da segurança da própria fortuna. Pois considero inconcebível que alguém possa tirar prazer dos grandes prejuízos alheios, sem que tenha um interesse pessoal no caso. (p. 52)




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