Nos primórdios
de sua história, que costuma se remeter à Grécia antiga, a Estética era
concebida apenas como um modo de conhecimento pautado, sobretudo na
sensibilidade. Essa forma de conhecimento denominada de “conhecimento sensível”
emergia, então, como contrapartida de outro modo de conhecer e que foi chamado
de “conhecimento inteligível”, cuja maior expressão na Grécia foi Platão. Essa
ultima espécie de conhecimento aparecia também sobre a expressão noética, que – designando o conhecimento
intelectual – se diz respeito ao pensamento e, portanto, à razão, enquanto que
o primeiro vem alume resumindo-se na palavra sensação.
No contexto
da filosofia platônica, razão e sensação são coisas distintas e separadas [daí,
também, o dualismo platônico]. Entretanto cumpre reassaltar que essa separação
entre uma coisa e outra: entre matéria e espírito; entre real e ideal que se
fortaleceu com Platão, passou por Descartes e chegou até a contemporaneidade não
teve seu início com o próprio Platão, mas antes dele já era apregoada pelos
órficos, que afirmavam não pertencerem a este mundo embora estivessem nele, mas
a outro mundo, consequentemente posterior a este. Mas, a final, essa separação
sempre existiu? Ou será que ela já foi precedida por uma união de ambos [sensível
e inteligível] que posteriormente teria sido rompida? O que levou esse
rompimento a acontecer?
Depois
desse esboço introdutório, passemos à questão cuja ciência aqui realmente nos
interessa, a saber, a compreensão da relação entre a experiência sensível que
envolve o objeto estético e o sujeito que o reconhece, bem como a interação recíproca
entre ambos [sujeito e objeto] que instaura o lócus da vivência estética. Em princípio essa relação pode ser
entendida como uma relação de partilha de pontos comuns que há entre sujeito e
objeto estético como, por exemplo, harmonia e articulação. Sendo assim, essa
relação se torna uma relação de simplificação dos compostos onde o diverso se
tona uno pela dissolução das partes no todo. Se por um lado é necessário que o
objeto se dirija às faculdades do sujeito, por outro é necessário que este
transcenda, ou seja, se abra perante àquele. Dada a fusão entre o sujeito e
objeto estético a relação entre ambos assume o caráter de co-pertença, onde um necessariamente
pertence ao outro, e só encontra o sentido de si nesse outro e vive-versa. No
entanto, para que tudo isso aconteça, é necessário, sobretudo, que o sujeito
tenha a faculdade da sensibilidade diante do objeto. É justamente dessa
sensibilidade que se constitui a fenomenologia que [nesse contexto] passa a
designar a inextrincabilidade que há entre sujeito e objeto. O campo onde tudo
isso acontece é o próprio mundo no qual se manifestam todas as ações fenomênicas
do sujeito. O mundo passa a ser o espaço por excelência onde se dá e se estabelece
a reciprocidade da relação sujeito/objeto e, portanto, o lócus da Vicência estética. Nesse contexto, essa relação é anterior
a qualquer tipo de separação que se possa pretender entre ambos. Essa união
resulta primordialmente daquela unidade primeira que há entre o homem e o
mundo, o que a arte, em muito, se esforça para mostrar. É justamente essa a
razão principal pela qual a ontologia da obra de arte vai tratar da dignidade
do sujeito e da dignidade do objeto. Nesse sentido, o sujeito é aquele que vive
com o mundo antes mesmo do surgimento do próprio conceito. Por essa razão, não é
errada a cogitação, ou até mesmo a afirmação, de que a relação entre sujeito e
objeto estético é aquela que encontra na autonomia, ou independência do
conceito o seu caráter essencial.
Ao
discorrer sobre a relação entre objeto estético e sujeito, o presente artigo
buscou demonstrar, de forma sucinta, que a suposta separação entre sujeito e
objeto só apareceu na medida em que a evolução do conhecimento trouxe a
necessidade [para fins de esclarecimento] de separação entre uma coisa e outra.
Desse modo, evidenciou-se que antes de tudo, o homem e o mundo viviam numa
perfeita união cujo ápice se dava no puro sentimento de prazer revestido de
alegria e pureza. Em suma mostrou-se que também que foi justamente nesse
estágio primeiro dessa união grandiosa que se instaurou o lócus da vivencia estética.
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