Objetiva-se neste pequeno
escrito mostrar como, em Cícero, o viver
bem significa viver de acordo com a natureza. O nosso ponto de parida consiste
na formulação e no lançar mão da assertiva de que, nesse pensador, harmonia e
ordem são dois elementos presentes na natureza e que são, ao mesmo tempo, os responsáveis
[com precisão] pela sua regularidade e pelo seu regimento. Essa ordem [que para
esta abordagem é a parte que mais interessa] ele vai chamar de lei da natureza.
A natureza regida pelas suas próprias leis segue seu curso muito perfeitamente.
Para entendermos melhor em
que consistem essas leis, poderíamos, a
priori, dizer que elas são leis que existem independentemente do homem, como,
por exemplo, aquelas que regem as órbitas dos planetas, os ciclos lunares, a
gravitação universal, os processos de reação e fusão nuclear que ocorrem no
interior das estrelas, a formação dos buracos negros, os processos de vida e
morte das estrelas etc. Todas essas são leis da natureza cuja existência independe
do homem.
Na concepção de Cícero,
essas leis devem [ou deveriam ser] a base das leis voltadas para o regimento da
conduta humana. Nessa perspectiva, é que o latino vai falar de um viver bem. E o
que seria esse viver bem? Seria justamente o viver em conformidade com a
natureza. A essa conduta em conformidade com a natureza é que Cícero vai chamar
de vida virtuosa. Portanto, viver virtuosamente é viver de acordo com a
natureza, e – reciprocamente – viver de acordo com a natureza é viver
virtuosamente. E o que seria o sumo bem nessa perspectiva? O sumo bem seria [é],
portanto, a vida vivida em conformidade com a natureza em sua totalidade. Ou ainda,
a vida vivida de acordo com as leis da natureza.
Ora, se viver em conformidade
com a natureza é o sumo bem, então, o sumo mal vai ser, por sua vez, tudo
aquilo que pode levar o homem a viver afastado da natureza. Em outras palavras,
se viver bem é viver próximo à natureza, o viver mal é viver afastado da mesma.
A partir dessa noção de viver
bem é que Cícero vai falar que é próprio da espécie buscar a sua conservação e,
justamente, nesse ponto ele fala do amor de si. Essa ordem ou lei da natureza
que faz com que na mesma haja certa harmonia e regularidade é perfeita nos
corpos celestes, ou no universo de tal modo a afirmar-se: “abaixo da lua tudo se complica”.
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