Discorrer sobre a crise como condição da arte
significa, antes de tudo, saber articular na história a própria arte com cada
um daqueles acontecimentos que, de algum modo, deram suporte ao advento dessa
crise: a crise da arte, ou se, preferirmos, a crise da obra de arte.
Em princípio, uma análise histórica poderá
claramente mostrar que na Grécia antiga a racionalidade [esse legado que o
mundo ocidental ousou lograr da cultura grega] só vem a lume quando de algum
modo a mitologia se torna insuficiente para dar conta da explicação dos eventos
novos que simultaneamente vinham a baila, principalmente na esfera política. Ou
seja, a mitologia, ou – diga-se de passagem – a explicação mitológica para o
advento dos novos acontecimentos, entra numa crise tal que não consegue mais se
suster por si própria.
Fazendo uma analogia com a crise da
mitologia, pode-se aqui argumentar que a crise da arte coincide com a própria “morte”
da mitologia, entendendo-se aqui por “morte da mitologia” uma espécie de
enfraquecimento da autoridade do discurso mitológico frente aos novos eventos
do mundo. Pode-se dizer que foi a evolução do mundo, em toda a suas dimensões,
que trouxe a necessidade de uma explicação mais consistente para os fatos. Pode-se
dizer que é deste modo que surge a filosofia: com a proposta de dar, ou pelo
menos compreender a nova dinâmica que se apresenta para poder, a partir daí,
constituir respostas mais consistentes. Desse esforço empreendido, resultou uma
nova forma de ver e pensar o homem e o mundo, a vida e a morte, o real e o
irreal, o ideal e o material, forma essa a que os gregos chamaram razão, ou logos.
Modernamente, a crise da arte veio a lume,
sobretudo, quando os padrões estéticos vigentes passaram, também, a entrar em
crise. Ou seja, foi o enfraquecimento desses padrões que provocou a crise da
arte. É nesse sentido que surge, então, a estética com o estabelecimento de uma
crise que se coloca sobre ela própria. Essa crise se intensifica de modo a
provocar até mesmo uma espécie de envelhecimento precoce da estética. Diante desse
momento de tensão poder-se-ia levantar o seguinte questionamento: porque não
entender a estética como a verdadeira questão filosófica da arte, uma vez que a
obra de arte passa a ser, por excelência, o seu objeto?
Ora se a crise da arte for analisada com profundidade
e precisão à ótica da modernidade, perceber-se-á que a causa dessa crise pode se
remontar ao desenvolvimento da técnica na medida em que esta passa a determinar
a ação do sujeito. Aumentando as preocupações do sujeito e diminuindo o seu
tempo, o progresso, que é o resultado do aperfeiçoamento técnico, fez aparecer
o imediatismo. Este, à sua vez, não favorece ao sujeito colocar-se diante da
obra de arte para com ela se relacionar. Com o surgimento da estética, a
reflexão sobre a obra de arte passa a ser a reflexão da estética. Pode-se dizer
que a crise como condição da obra de arte se torna um tema central no auxilio a
reflexão e compreensão de como a estética se tornou, ou se tornar, uma
necessidade de fato.
No plano do discurso racional, essa crise
passa pelo crivo da linguagem haja vista essa representar, por excelência, a
possibilidade de expressão daquela.
Em suma, pode-se argumentar que a crise da
arte estimula a estética porque diante da crise o esteta está destinado a
percorrer todos os desafios que circundam e obstaculizam arte e suas criações.
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