Pode-se dizer que Maquiavel inaugura o
pensamento secular na historia, sobretudo, na medida em que busca a ruptura com
a tradição de pensamento político, principalmente no que refere a Platão e Aristóteles.
Crítico desses filósofos antigos, Maquiavel está preocupado em compreender a
história, os acontecimentos e o curso das ações humanas a partir daquilo que
ele vai chamar de “veritá efetuale de la cosa”,
que geralmente se traduz por “verdade efetiva das coisa”. Nesse empreendimento,
o florentino procura tomar os homens tais como eles são e não como eles devem,
ou podem, ser. Nesse sentido ele afirma ser muito “diferente o modo como se
vive do modo como se deveria viver”. Em sua perspectiva, em matéria de política,
considerar o homem a partir daquilo que ele deveria ser, desprezando assim
aquilo que ele é, é antes de tudo uma maneira fundamental de arruinar-se que de
conservar-se.
Com o objetivo de criar algo novo, Maquiavel
não tem o propósito de tirar modelos da historia, embora sempre recorra a essa
quando fala da ação política. Pode-se dizer que o objetivo de Maquiavel ao se debruçar
sobre o passado consiste simplesmente em buscar compreender como os homens foram
capazes de articular uma relação entre as ações e as circunstâncias, em outras
palavras, trata-se da relação entre a fortuna
e a virtù, ou ainda, como os homens
ajustaram seus objetivos aos acontecimentos próprios de suas respectivas épocas.
Daí a sua orientação para “seguir o caminho já trilhado pelos grandes homens”.
Ao fazer isso, portanto, Maquiavel inaugura uma nova forma de pensar os homens,
a política, as relações, os cursos dos acontecimentos dentre muitas outras
coisas tomando como ponto de partida a própria realidade. Desse modo, traz ele,
portanto, uma nova perspectiva da natureza humana. Cabe ressaltar que Maquiavel
não é pessimista, em si tratando do homem. Apenas busca compreender o que ele é,
e como se comporta nas adversidades da vida. Sendo assim, pode-se argumentar
que o filósofo de Florença representa na historia do pensamento político um
divisor de águas que põe de um lado o pensamento político antigo, e de outro o
moderno já que está no despontar dessa nova era. Suas contribuições são de
capital relevância para a filosofia, no que se observa, também, pela sua
influência aos pensadores posteriores. Pode-se dizer, em suma, que esse
trabalho consistiu numa desconstrução da tradição de pensamento político ancorado
na autoridade de Platão e Aristóteles.
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