Dada a divergência entre
Tucídides e Heródoto [principais referências da historiografia antiga – diga-se
de passagem], pode-se argumentar aqui que ambos assumem posições diferentes em
se tratando do lugar do narrador ao se ocupar da arte da narrativa. Heródoto
[considerado o pai da história], por exemplo, assume como cenário da narrativa
o passado e a defesa de que só se pode conhecer aquilo que foi possível ser
relatado, ao passo que Tucídides vai defender o futuro e a idéia de que a
historiografia não tem nada haver com o passado. Até Heródoto, a história era
entendia como sendo uma manifestação oral das coisas que ocorreram. Para ele, a
história pode ser relatada, relembrada e recontada entre e para as gerações.
Na perspectiva de Heródoto,
pode-se dizer que o narrador se coloca dentro da história, portanto, dentro do
passado para dele poder contar, ou relatar, ou ainda narrar o que, de fato se
passara. Esse retorno ao passado, em Heródoto, cabe ressaltar, se dá por meio
da memória. Daí a razão pela qual Heródoto vai dar ênfase considerável nessa
faculdade que representa, por sua vez, em sua perspectiva, não somente a ponte
entre o presente e o passado [ponte a partir da qual o historiador, ou o
narrador é conduzido de um período a outro] mas, representa também o meio fundamental
pelo qual o próprio passado pode ser resgatado.
Já em Tucídides isso não
ocorre da mesma forma. Para este, a memória é uma faculdade humana que não tem como
contar com evidência o que, de fato, aconteceu, ou seja ela não pode relatar
com fidelidade o passado. Nesse sentido, pode-se perceber que a ênfase de
Tucídides na memória será menor que a de Homero. Ou seja, Tucídides percebe que
há uma limitação considerável da memória, o que faz com que ela não seja
eficiente ao descrever os fatos passados, ou a história.
Em suma, pode-se dizer que
enquanto Heródoto está preocupado com o passado, ou com o resgate desse,
Tucídides está preocupado com o futuro. Há de se convir que muitas vezes ao
resgate do passado pode se interpor um obstáculo interno a quem se dá a essa
tarefa: trata-se da fragilidade da memória.
Ao falar de tempo passado ou
presente, cumpre aqui ressaltar que a temporalidade nada mais é que aquilo que
se esvai. Assim, o passado é o que já passou; o presente, o que se consome
muito rápido; e o futuro, aquilo que vai virando presente ininterruptamente,
mas que também se consome muito rapidamente e vai, portanto, se tornando
passado.
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