quinta-feira, 19 de agosto de 2010

FICHAMENTO DO LIVRO “O PENSAMENTO DE KANT”


Bibliografia

PASCAL, George. O pensamento de Kant. Petrópolis: vozes, 1985.

- O que conduziu Kant à idéia crítica não foi a rejeição das conclusões metafísicas, e sim a consciência da incerteza dessas conclusões, e da fraqueza dos argumentos em que assentavam. P. 29.
- Nas declarações do próprio Kant, foi a leitura de Hume que lhe fez compreender a necessidade de repensar toda a metafísica.
Confesso abertamente haver sido a advertência de David Hume que, já la vão muitos anos, pela primeira vez me despertou de meu sono dogmático e incutiu a minha pesquisa no domínio da filosofia especulativa, orientação inteiramente diferente (Prolegomenos, prefácio, trad. De A. P de Carvalho, com. Edit. Nasc., SP, 1959, p. 28). (p. 29-30)

- A noção de crítica não se trata, evidentemente, de fazer o processo da razão assim como o faria uma crítica cética e destrutiva. Trata-se de um exame critico da razão, isto é, de um exame crítico que tem por fim – e tal é o sentido etimológico da palavra crítica – de discernir ou distinguir o que a razão pode fazer e o que é incapaz de fazer. A preocupação crítica consiste, essencialmente, em não se dizer mais do que se sabe. Tal fora a preocupação de Sócrates, cuja ironia visava dissipar as aparências de um saber falso. Tal fora também a preocupação de Descartes, que tencionava chegar a verdade pela duvida. P. 32
- “não entendo com isso uma crítica dos livros e dos sistemas, mas a da faculdade da razão como tal, em relação a todos os conhecimentos a que esta possa aspirar independentemente de toda experiência e, por conseguinte, a decisão sobre a possibilidade ou impossibilidade de uma metafísica em si, bem como a determinação tanto das fontes quanto dos limites da mesma; e tudo isso a partir de princípios.” P. 33.
- o método kantiano denominar-se método reflexivo. Com efeito, é refletindo sobre os conhecimentos racionais que nós possuímos, que Kant tentará obter uma idéia precisa da própria natureza da razão. E a reflexão nada mais é senão aquele movimento pelo qual o sujeito, a partir de suas próprias operações, se volta sobre si mesmo. A análise reflexiva está, pois, ligada à idéia crítica. P. 33.
- a metafísica procura estender o nosso conhecimento a domínios situados para alem da experiência, o que equivale a dizer que as noções metafísicas, são noções a priori, e como tais conduziram a todas as contradições do dogmatismo. P. 35.
- quando Galileu ou Torricelli, em lugar de se guiarem docilmente pela experiência, acumulando observações esparsas, começaram a interrogar a natureza segundo as exigências da razão, logrando assim descobrir-lhes as leis, eles se deram conta de que “a razão não percebe senão aquilo que ela mesma produz segundo seu próprio objeto”. P. 35.
- a revolução copernicana de Kant é a substituição, em teoria do conhecimento, de uma hipótese idealista à hipótese realista. P. 36.
- o realismo admite que uma realidade nos é dada, quer seja de ordem sensível (para os empiristas) , ou de ordem inteligível (para os racionalistas), e que o nosso conhecimento deve modelar-se sobre essa realidade. Conhecer nessa hipótese significa registrar o real, e o espírito é meramente passivo. P. 36.
- já o idealismo supõe ao contrário, que o espírito intervém ativamente na elaboração do conhecimento, e que o real, para nós, é resultado de uma construção. O objeto, tal como o conhecemos, é, em parte, obra nossa e, por conseguinte, podemos conhecer a priori, em relação a todo objeto, os característicos que ele recebe de toda a nossa faculdade cognitiva. “não conhecemos a priori nas coisas senão a quilo que nós mesmos nelas colocamos”. P. 36.
- importa precisar, agora, a própria noção de a priori, e para tantos a que distinguir, em nosso conhecimento dos objetos, duas classes de elementos: os que dependem do próprio objeto e constituem a matéria do conhecimento; e os que dependem do sujeito, e constituem a forma do conhecimento. P. 36.
- conhecer é da forma a uma matéria e a matéria é claro que é a posteriori, e a forma é a priori. Com efeito, a matéria do conhecimento é variável de um objeto a outro, visto depender do objeto; mas a forma, sendo imposta ao objeto pelo sujeito seria reencontrada invariavelmente em todos os objetos por todos os sujeitos. P. 36.
- existem pois conhecimentos a priori e conhecimentos a posteriori. Com efeito, de todo objeto a ser conhecido, nós sabemos a priori que será conforme as formas que o espírito lhe impõe no ato de conhecer; do contrário, não conheceríamos. E o que é mais dispomos de um critério infalível para distinguir esses conhecimentos a priori dos conhecimentos a posteriori; a priori é toda proposição universal e necessária. “a necessidade e a universalidade rigorosa são, pois, indicações certas de um conhecimento a priori, e ademais, são inseparáveis”. P.37.
- a experiência nos permite constatar que uma realidade nos é dada de tal ou tal maneira; mas não nos diz por que ela nos é dada assim, e não de outra maneira; por isso a experiência não pode dar origem senão a proposições contingentes. Uma proposição necessária – isto é, uma proposição cujo contrário é impossível – não pode basear-se senão nas leis da razão. “a experiência nos ensina que uma coisa é isto ou aquilo, mas não que tal coisa pode ser de outro modo”. P. 37.
- se nos ativermos à experiência, não poderemos enunciar proposições universais; a nossa certeza, com efeito, limita-se aos casos que podemos constatar, e só por um processo totalmente arbitrário poderíamos passar de uma afirmação geral válida para a maioria dos casos a uma afirmação universal Válida para todos os casos: “a universalidade empírica não passa de uma extensão arbitrária de valor”. P. 37.
- portanto a razão é a fonte única de proposições universais e absolutamente necessárias. E inversamente não haveria proposições universais e necessárias, isto é, a priori, se a razão não fosse, por si mesma, fonte do conhecimento. P. 37.
- os conhecimentos da matemática e da física são verdadeiramente conhecimentos de modos a porem de acordo os espíritos, coisas que as proposições metafísicas não conseguem. Para se compreender essa diferença, mister se faz, distinguir os juízos analíticos dos juízos sintéticos.
                              ANALÍTICO: é o juízo que se limita a explanar um conceito, a analisar-lhe o conteúdo, sem fazer apelo a qualquer elemento novo; o predicado nesse caso é extraído do sujeito por simples analise.
                            SINTÉTICO: ao contrário, é um juízo cujo predicado acrescenta alguma coisa ao conceito do sujeito. Já não se trata de uma simples análise do sujeito, pela qual se descobrisse um predicado, mas de uma verdadeira síntese de um sujeito e de um predicado. P.38.
- todo juízo de experiência é sintético, porque a experiência nos ensina a acrescentar certos atributos aos nossos conceitos. Os juízos analíticos, ao invés, são a priori, pois não há nenhuma necessidade de recorrer à experiência. Para determinar o que penso num dado conceito. P. 38.
- por forma devem entender-se os quadros universais e necessários através dos quais o espírito humano percebe o mundo; são como outros tantos óculos sem os quias nada conseguiríamos ver. P. 40.
- “o objeto é aquilo em cujo conceito se encontra reunida a multiplicidade de uma intuição dada.” P. 41.
- as formas a priori da sensibilidade, ou intuições puras são o espaço e o tempo. Quer dizer: espaço e tempo são os modos próprios ou característicos pelos quais o espírito vê ou percebe as coisas; são os quadros ou moldes universais e necessários nos quais se inserem as intuições empíricas (cores, sabores, sentimentos etc.). P. 41.
- o espaço é a forma do sentido externo, e a forma do sentido interno: necessariamente percebemos as coisas no espaço, e o nosso estado de alma no tempo. P. 41.
- um conhecimento é transcendental quando concerne à nossa maneira de conhecer a priori os objetos. P. 43.
- na introdução da primeira edição da Crítica da Razão Pura, lia-se a definição seguinte: “chamo transcendental a todo conhecimento que se ocupa, não propriamente com objetos, mas, em geral, com a nossa maneira de conhecer objetos, enquanto esta deve ser possível a priori”. P. 43.
- transcendental se opõe a empírico. P. 43.
- “por idéia entendo um conceito racional necessário, ao qual não pode corresponder nenhum objeto dado pelos sentidos. P. 44.
- contra o empirismo, Kant afirma que: “intuições sem conceitos são cegas. P. 45.
- contra o racionalismo Kant afirma que: “pensamentos sem conteúdos são vazios. P. 46.
- “àquilo que no fenômeno, corresponde à sem sensação eu chamo de matéria do fenômeno; mas ao que faz com que o múltiplo do fenômeno possa ser organizado em certas relações, chamo de forma do fenômeno. P. 49.
- o espaço e o tempo, com efeito, são as formas em cujo interior se ordena a multiplicidade conhecida pela sensação. P. 50.
- o espaço é a forma do “sentido exterior” propriedade que tem nosso espírito de nos representar objetos como existentes fora de nós;
- o tempo é a forma do “sentido íntimo” propriedade que tem nosso espírito de perceber-si a si mesmo intuitivamente, ou, com mais exatidão, o que equivale a dizer que todo objeto fora de nós situa-se no tempo. É por meios de relações espaciais que nós representamos os objetos externos, e é por meio de relações temporais que nós representamos os estados internos ao que se deve acrescentar que “o tempo não pode ser intuído exteriormente, assim como o espaço não pode ser como algo sem nós”. P. 50-51.
-     Kant mostra que o espaço e o tempo dependem unicamente da forma de nossa intuição, da constituição subjetiva de nosso espírito. P. 51.
- o espaço não pode ser um conceito formado a partir da experiência exterior, visto como, ao contrário, toda experiência exterior supõe o espaço. P. 51.
- o espaço é a priori, por que a sua representação é a própria condição da possibilidade dos fenômenos. Com efeito, pode-se conceber um espaço em que não houvesse objeto algum, mas não se pode perceber um objeto fora do espaço. P. 51.
- “o espaço é uma representação necessária a priori, que serve de fundamento a todas as intuições exteriores”. P. 52.
- o espaço só pode ser uma intuição, visto conter em si uma multidão infinita de representações, o que seria impossível se fosse um conceito, que é apenas a representação do caráter comum de uma multidão infinita de representações possíveis. P. 52.
- “o tempo não é apenas um conceito empírico extraído de alguma experiência”. P. 55.
- “o tempo é uma representação necessária que serve de fundamento a todas as intuições”. P. 55.
- os fenômenos podem desaparece, não, porém, o próprio tempo. Tudo se passa no tempo, mas o tempo não passa. O tempo é, pois, dado a priori. P. 55.
- não se podem conceber tempos diferentes senão como partes de um mesmo tempo. P. 55.
- dizer que nós conhecemos as coisas assim como nos aparece, e não como são em si mesmas, não é dizer que as coisas que conhecemos sejam meras aparências. P. 58.
- “o fenômeno é algo que não se encontra no objeto em si mesmo, mas sempre na relação do objeto ao sujeito, e que é inseparável da representação do primeiro”. P. 59.
- para todo conhecimento se exige que os conceitos se tornem sensíveis, juntando-lhes o objeto dado na intuição, e as intuições se tornem conceitos inteligíveis, submetendo-as a conceitos. Sensibilidade e entendimento são, assim, igualmente necessários; na verdade são inseparáveis. Cada uma das duas faculdades nada é sem a outra: “nenhuma dessas propriedades é preferível à outra. Sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado, e sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições sem conceitos são cegas”. P. 60.
- a lógica transcendental é, pois uma lógica das formas do entendimento enquanto estas são constitutivas da experiência. P. 61.
- o entendimento é uma faculdade cognitiva não-sensível, isto é, uma faculdade de conhecer por meio de conceitos. P. 63.
- “o entendimento em geral pode ser representado como uma faculdade de julgar”. P. 63.
- pode-se dizer, pois, que pensar é julgar, quer dizer, estabelecer relações entre representações, reduzi-las à unidade. P. 63.
- categorias são condições subjetivas do pensamento. P. 66.
- toda ligação é um ato de entendimento, pois os dados sensíveis, em si mesmos, são pura multiplicidade. P. 67.
- podemos chamar de síntese ao ato pelo qual o entendimento efetua uma ligação numa multiplicidade dada. P. 67-68.
- toda análise supõe uma síntese previa: o entendimento não pode separar senão aquilo que previamente ligou. P. 68.
- o conceito de ligar implica o conceito de unidade; não se pode conceber uma ligação de elementos múltiplos, amenos que se conceba esta multiplicidade como uma unidade: “a ligação é a representação da unidade sintética do múltiplo. P. 68.
- conceber um objeto é reduzir à unidade e à identidade à multiplicidade e a diversidade das aparências: “o objeto é aquilo em cujo conceito se unifica o múltiplo de uma intuição dada”. P. 69.
- as categorias são efetivamente as condições sem as quais não poderíamos conhecer um objeto, isto é, que elas se referem necessariamente e a priori a objetos de experiências, pois, é somente por meio delas que um objeto de experiência pode ser pensado. P. 70.
- “a categoria não tem outro uso, para o conhecimento das coisas, senão o de aplicar-se a objetos de experiência”. P. 71.
- pensar um objeto, e conhecer um objeto, não é, pois, a mesma coisa. Para o conhecimento, com efeito, requerem-se dois elementos: primeiro, o conceito, pelo qual, em geral, um objeto é pensado (a categoria) e, segundo, a intuição pela qual ele é dado. P. 72.
- todo conhecimento supõe intuições e conceitos; assim se justifica a celebre fórmula, já citada mais acima: “intuições sem conceitos são cegas; conceitos sem matéria são vazios”. Retomando a comparação evocada a propósito das intuições puras, diremos: se o espírito é como um olho, a que as formas a priori servem de óculos, o olho nada mais vê senão através dos seus óculos; sem estes, ele é cego, mas os óculos só lhe sevem para ver o que é exterior a eles. P. 72.
- o principio supremo de todos os juízos sintéticos é, pois: que todo objeto está sujeito às condições necessárias da unidade sintética do múltiplo da intuição no seio de uma experiência possível. P. 76.
- princípios do entendimento ou princípios a priori são as proposições que não derivam da experiência e as quais, todavia, toda experiência deve conformar-se, sob pena de não ser, para nós, algo que possamos conhecer. P. 76.
- “todas as intuições são grandezas extensivas”. P. 77.
- Kant chama extensiva à grandeza onde a representação das partes torna possível a representação do todo. P. 77.
- as categorias da qualidade correspondem às antecipações da percepção que se enunciam assim: “em todos os Fenômenos, o real que é um objeto de sensação, tem uma grandeza intensiva, isto é, um grau”. P. 78.
- por grandeza intensiva deve entender-se um grau de influência sobre os sentidos, e por antecipação, um juízo que fazemos sobre os objetos da experiência, anteriormente à nossa percepção dos mesmos. P.
- as analogias da experiência correspondem às categorias da relação, tem como principio geral: a experiência só é possível pela representação de uma ligação necessária das percepções e das aplicações particulares a cada categoria. P. 78.
- aqui já não se trata de axiomas, nem de antecipações, pois o que está em jogo não é a própria natureza dos fenômenos, mas a sua própria existência no tempo. As analogias não passam de regras que determinam as relações entre os fenômenos num tempo [...]. P. 78.
- possível é aquilo que pode ser. P. 81.
- o idealismo dogmático de Berkeley declara ser impossível a existência de objetos exteriores no espaço. O idealismo problemático de Descartes sustenta, apenas, que a existência dos objetos no espaço é indemonstrável e que não podemos ter outra certeza, salvo a de nossa própria existência. P. 82.
- para refutar essa tese é preciso mostra que a própria experiência interior só é possível sob a condição de experiência exterior. Kant enuncia o teorema seguinte: “a simples consciência, mas empiricamente determinada, de minha própria consciência prova a existência de objetos exteriores no espaço e fora de mim”. P. 82.
- “o que chamo númeno não dever, pois, ser entendido senão em sentido negativo”. P. 85.
- o númeno é aquilo que sou incapaz de conhecer, visto que possuo apenas intuições sensíveis, mas nenhuma intuição intelectual. Mas o númeno é também aquilo que me impede de contentar-me com a experiência, com o sensível; o fato de a intuição ser única para nós, não significa que as coisas em si mesmas estejam sujeitas às condições da intuição sensível: "nosso entendimento recebe assim uma extensão negativa; que dizer: não é ele que é limitado pela sensibilidade, mas ao contrário é ele que a limita chamando de númeno as coisas em si.” P. 85.
- a dialética é uma lógica da aparência, em oposição à analítica, que é uma lógica da verdade. P. 86.
- todo nosso conhecimento começa pelos sentidos, donde passa ao entendimento para terminar na razão, acima da qual nada há em nós de mais elevado para elaborar a matéria da intuição e reduzi-la a mais alta unidade do pensamento. P. 87.
- se o entendimento pode ser definido como a faculdade de reduzir os fenômenos à unidade por meio de regras, a razão é a faculdade de reduzir à unidade as regras do entendimento sob certos princípios. P. 87.
- “por idéia entendo um conceito necessária da razão a que não se pode dar um objeto congruente nos sentidos”. P. 88.
- o conceito é uma ligação do múltiplo dado numa intuição sensível. P. 88.
- a PSICOLOGIA RACIONAL pretende fazer-nos conhecer a natureza do sujeito. Suas proposições determinam a alma do ponto de vista das relações: a alma é uma substancia pensante; [...] a existência da alma é mais certa que do corpo. P. 90.
- a psicologia racional por definição não pode apoiar-se em nenhuma experiência, isto é, em nenhuma determinação do sentido íntimo. P. 91.
- “o mundo tem um começo no tempo, e é também limitado no espaço”. P. 93.
- Kant distingue no homem um caráter empírico e um caráter inteligível. Pelo caráter empírico fazemos parte da natureza, e os nossos atos estão sujeitos ao determinismo universal; pelo caráter inteligível, escapamos ao mundo dos fenômenos e somos livres. P. 98.
- não é em relação à necessidade, mas em relação à liberdade que devemos julgar os nossos atos, e é assim que, de fato, os julgamos. P. 98.
- uma mentira, por exemplo, sempre aparecerá como necessária se levarmos em conta os antecedentes do individuo que mente as circunstâncias do ato, etc. ainda assim o mentiroso é objeto de censura. P. 98.
- esta censura se funda numa lei da razão, considerando-se a razão como uma causa que poderia e deveria ter determinado a conduta do homem, independentemente de todas as condições empíricas indicadas. P. 98.
- o ideal é o ser individual, conforme a idéia; assim, a sabedoria é uma idéia, o sábio é um ideal. P. 99.
- o que importa é somente a regra pela qual o homem pauta sua ação. P. 114.
- não é o objeto que desejo atingir que faz o valor moral do meu ato, mas a razão pela qual quero atingir. P. 114.
- o dever é a necessidade de cumprir uma ação por respeito à lei. P. 114.
- é, pois, somente a representação da lei num ser racional, que pode determinar a boa vontade. P. 115.
- a obediência à lei deve independer do conteúdo da lei. P. 115.
- é, por conseguinte, a simples conformidade com a lei em geral que constitui o princípio de uma boa vontade. P. 115.
- quando se trata de valor moral, o que importa não são as ações exteriores que se vêem, mas os princípios internos da ação que não se vêem. P. 117.
- a vontade, com efeito, é a faculdade de agir segundo certas regras. P. 119. 
- há um conflito entre a razão e a sensibilidade na determinação da vontade. A vontade não obedece a razão salvo se for constrangida por ela, e não naturalmente como o faria se fosse pura. É por esse motivo que as leis da razão se apresentam como mandamentos, como imperativos. P. 120.
- [...] podem distinguir duas classes de imperativos: os imperativos hipotéticos e os imperativos categóricos. Aqueles nos apresentam uma ação como necessária para alcançar certo fim. Estes nos propõem uma ação como necessária em si mesma, incondicionalmente. P. 120.
- a habilidade dita regra, a prudência da conselhos, a moralidade impõe mandamentos ou leis. P. 120.  
- Rousseau entendia por república um estado em que o “o povo, submisso às leis deve ser o autor das mesmas”. (O Contrato Social). P. 125.
- a ação é moral quando é conforme a legislação que unicamente torna possível um reino dos fins. P. 125.
- o que, afinal, torna uma vontade boa? É absolutamente boa uma vontade que não pode ser má, portanto, aquela vontade, cuja máxima, quando convertida em lei universal, não pode jamais contradizer-se a si mesma. P. 126.
- a lei moral não teria sentido se o homem não fosse livre, e é isso o que se costuma exprimir com as palavras. Essa lei moral ,se existe, deve ser formulada assim: “age de modo tal que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal. P. 129.
- “a autonomia da vontade é o princípio único de todas as leis morais e dos deveres [...]. P. 130.
- o principio da moralidade é a independência da vontade em relação a todo objeto desejado, isto é, de toda matéria da lei, e a possibilidade da mesma vontade para determinar-se pela simples forma da lei. P. 130.
- o sentido de respeito é, pois, o efeito positivo da lei moral considerada como princípio determinante da nossa vontade. P. 135.
- só há respeito onde há luta ou esforço em demanda do bem. P 136.
- a liberdade pratica, diz Kant, “é a independência da vontade em relação a toda outra lei que não seja a lei moral. P. 137.
- assim se explica o arrependimento: sejam quais forem as circunstancias que me impeliram a proceder mal, sempre me julgo responsável pelo mal que pratiquei. P. 138.
- as duas grandes escolas morais da antiguidade, a estóica e a epicurista, adotaram o principio comum da identidade da felicidade com a virtude, mas divergiram no modo de concebê-la: “o epicurismo dizia: ter consciência de sua máxima como conduzente à felicidade, eis o que é a virtude; o estoicismo: ter consciência de sua virtude, eis a felicidade”. P. 140.
- a felicidade é a condição de um ser racional no mundo, para o qual no curso inteiro de sua existência, tudo transcorre consoante aos seus desejos e suas vontades. P. 142.
- a felicidade supõe o acordo entre a ordem da natureza, os desejos do homem e a lei moral. P. 142.
- “a lei moral não é propriamente a doutrina que nos mostra como devemos tornar-nos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade. Somente quando a isso se adicionar a religião, sobreviverá também a esperança de participarmos um dia da felicidade na medida em que tenhamos tratado de não sermos indignos dela. P. 143.
- o homem não pode ser moral, ou por outra, realizar o bem supremo, a menos que seja livre. P. 143.
- o bem supremo só é possível na suposição da imortalidade da alma. P. 143.
- a virtude exige, antes de mais nada, o domínio de si. P. 146.
- a virtude pressupõe necessariamente, a apatia. P. 146.
- “o princípio moral segundo o qual o dizer a verdade é um dever, se for tomada absoluta e isoladamente, tornaria impossível toda a sociedade.
É um dever dizer a verdade. O conceito de dever é inseparável do conceito de direito. Um dever é aquilo que corresponde em um ser aos direitos de outro. Onde não há nenhum direito não há deveres. Por conseguinte dizer a verdade é um dever, mas somente com relação àqueles que têm direito a verdade. Nenhum homem, porem, tem direito a verdade que prejudica os outros. P. 150.
- “mentira: é uma declaração intenciona não verdadeira feita a outro homem, e não há necessidade de acrescentar que deva prejudicar outra pessoa, como exigem os juristas na definição que delam expressam”. P. 150.
- “ser verídico em todas as declarações é um sagrado mandamento da razão”. P. 151.
- “a veracidade é um dever que deve ser considerado a base de todos os outros deveres a serem fundados num contrato”. P. 151.
- “o direito nunca deve ser adaptado à política, mas a política é que deve sempre ajustar-se ao direito. P. 153.
- Kant distingue três faculdades essenciais na alma humana: a faculdade cognitiva, o sentimento do agrado e do desagrado, e a faculdade apetitiva. P. 157.
- “o gosto é a faculdade de julgar um objeto ou um modo de representação mediante um agrado ou um desagrado, sem qualquer interesse, o objeto de um tal agrado chama-se belo”. P. 160.
- “é bom aquilo que através da razão agrada por simples conceito”. P 161.
- “belo é o representado como objeto de uma satisfação universal e sem conceito”. P. 161.
- é belo aquilo que é reconhecido sem conceito como objeto de uma satisfação necessária. P. 164.

Analítica do sublime

-“chamamos sublime ao que é grande absolutamente”. P. 166.
- ou ainda: “sublime é aquilo que, pelo fato mesmo de se poder concebê-lo, demonstra uma faculdade do espírito que transcende toda medida dos sentidos”. P. 166.
- a razão concebe o absoluto quando, aos olhos da imaginação na ordem da natureza tudo é relativo. P. 167.
- há sublimidade na medida em que nos sentimos capazes de sobrepujar a natureza, tanto em nós como fora de nós. P. 168.
- para se poder falar de um fim verdadeiramente natural, é preciso que a coisa seja causa e efeito de si mesma, em outras palavras, a harmonia que se pode encontrar na natureza é dos seres orgânicos: “as coisa, enquanto fins naturais são seres organizados.” P. 172.
- “um produto organizado na natureza é um produto em que tudo é fim e meio, reciprocamente”. P. 173.
- o mal se origina de um conflito entre a sensibilidade e a razão. Mais exatamente, ele é fruto de um desequilíbrio, de uma inversão da ordem moral dos motivos. P 179.
- o homem é mau quando subordina a lei moral aos motivos da sensibilidade. P. 179.
- antepor as paixões à razão: eis o mal. Este mal é radical, pelo fato de perverter o fundamento de todas as máximas de nossas ações e por ser inexterminável. P. 179-180.
- Adão pecou quando, na máxima de sua ação, subordinou a lei aos impulsos sensíveis; e isso com liberdade. É o que a escritura quer exprimir quando mostra Adão e Eva sucumbidos. P. 180.
- a formação moral do homem não deve começar pela melhoria dos costumes, mas pela reforma de mentalidade e pela fundação de um caráter. P. 181.
- reforma interior e uma saída do mal e um ingresso no bem; é a deposição do homem velho e o revestimento do novo. [...] Kant define a religião de um ponto de vista subjetivo como “o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos divinos.” P. 184.
- para Kant, superstição religiosa é a loucura de crer que, pelos atos religiosos do culto, se possa fazer algo pela própria justificação perante Deus. P. 189.
- “os alunos devem ir à escola não para aprender pensamento, mas para aprender a pensar e a conduzir-se. Isto é, fazer da lucidez uma virtude e da recusa de enganar-se um meio de sabedoria”. P. 191.



     









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