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Cap. I: AS VISÕES DO MUNDO (resumo)
O ponto central deste capítulo é a critica que o autor faz ao
plano de uma ciência verdadeira e que, como tal, se pretenda absoluta e, desse
modo, universal. Para fins de elucidação, poder-se-ia trazer a lume o seguinte
questionamento: é possível falar de uma verdade definitiva no plano da
filosofia, ou até mesmo da própria ciência?
Na constituição do pensamento sociológico, Max Weber é, sem
duvida, um clássico digno de destaque. Discorrer a cerca do seu pensamento é
uma tarefa que requer muito cuidado e dedicação, por parte do investigador,
afim de que não se incorra em erros absurdos. Cumpre ressaltar que o
conhecimento dos acontecimentos do contexto no qual vivera o autor é de suprema
relevância para um conhecimento mais solido do mesmo.
No livro intitulado “Sociologia
de Max Weber”, Julien Freund, com muita precisão em suas palavras, vem
trazer magníficas contribuições para que o leitor possa entender, de fato,
algumas noções, conceitos e discussões próprias do pensamento weberiano no que
diz respeito à sua sociologia.
No primeiro capitulo deste livro, cujo título se lê “A visão do mundo”, e que aqui está sendo
analisado minuciosamente, o autor, logo no início, apresenta uma das
características do pensamento de Weber, a qual se divide em duas expressões, a
saber, dispersão e antagonismo. A
primeira que concerne aos campos da metodologia
da ciência e da própria filosofia, tem como objetivo ressaltar a
importância do “periférico” na medida em que não visa à centralização de um
núcleo. Já o segundo, por sua vez, repousa a sua essência na irredutibilidade a
que comporta frente a qualquer sistema. É essa reflexão inicial sobre a dispersão e o antagonismo, que vai dimensionar todo o capítulo e, portanto,
estando na base de, praticamente, todas as outras reflexões, direta ou
indiretamente.
Uma leitura superficial, sem aprofundamento, poderá conduzir o
leitor a pensar Weber como um anti-sistemático, isto é, alguém que conduz o seu
pensamento para uma determinada direção desorganizadamente sem se dá o trabalho
de sistematizá-lo afim de atingir melhores resultados. Na perspectiva de evitar
que o leitor incorra nesse erro, Julien Freund refere que Weber
Não era um
adversário incondicional da sistematização de modo geral, mas considerava que
no estado atual da ciência, exposta a incessantes correções, modificações e
reviravoltas por força do caráter indefinido da pesquisa como tal, seria
impossível edificar sistemas definitivos. (FREUND, 1980, p. 10).
O autor
quer mostrar, portanto, a maneira como Weber analisa a ciência levando em conta
o processo de mutação constante ao qual ela está o tempo todo exposta. Devido a
essa mudança linear, se torna impossível estabelecer um sistema padrão
universal que venha a ser impassível de revogabilidade. Daí se segue que devido
a essa incompletude da ciência todo sistema não passa de um ponto de vista, o
que tem por conseqüência a impossibilidade de generalizá-lo como modelo
universal válido para todos os ramos do conhecimento. Na verdade essa tentativa
de universalidade, caso seja atingida, o autor chega a classificá-las como
anti-científicas, justamente por que, como ciência, aquilo que hoje tem certa
validade, amanhã essa validade pode não ter tanta relevância assim, sendo,
portanto, passível de ser ultrapassado.
Outro ponto importante deste capítulo, segundo o autor, diz
respeito à separação que Weber estabelece entre valor e fato, que se
torna importante, sobretudo, no campo das ciências humanas. Essa diferenciação,
cabe ressaltar, objetiva em primeiro plano a eliminação de possíveis
ambigüidades. O autor refere que o sentido da ação, no que diz respeito à
pesquisa cientifica, reside justamente nos obstáculos que são propostos pela
própria pesquisa, ou trabalho científico. Desse modo, diga-se de passagem, a
validade do valor não pode ser determinada pela objetividade científica. A
razão disso decorre principalmente do fato de que muitas vezes as escolhas que
fazemos frente aos valores resultam de crenças e convicções que de certo modo
são indispensáveis, inseparáveis e, em alguns casos, chegam até mesmo a ser
intrínsecas à natureza do homem. Cumpre lembrar, no entanto que, se por um
lado, as escolhas se relacionam com as crenças que se tem, ou se julga ter, por
outro, não se pode negar a parcela de contribuição que a ciência da ao homem no
que refere à compreensão dessas próprias escolhas. Percebe-se que ela não
determina a escolha mas ajuda para que a mesma seja compreendida. Uma passagem
bem interessante que traz o entendimento dos antagonismos e dos valores que,
todavia, são diversos, é quando Freund diz que “à multiplicidade e ao antagonismo dos valores e dos fins correspondem à
multiplicidade e o antagonismo dos pontos de vista sob os quais um fenômeno se
deixa explicar cientificamente” (FREUND, 1980, P 11). Aqui o autor faz
perceber que Weber, de algum modo está estabelecendo um paralelo, ou uma relação
entre teoria e prática, entre ciência e ação, de modo que muitos dos desajustes
que dá segunda podem advir, a primeira pode evitá-los.
Refletindo sobre a realidade propriamente dita, o autor afirma que
“a realidade é incomensurável ao poder do
nosso entendimento, de maneira que este nunca cessou de explorar os
acontecimentos” (FREUND, 1980, p 12). Ou seja, a realidade não pode ser
medida pelo entendimento justamente pela razão de que ele,sendo limitado, não
favorece ao homem levar em conta a totalidade da realidade no momento do agir.
Embora o entendimento não reproduza a realidade do ponto de vista daquilo que
já está dado, ele pode muito bem fazê-lo por força dos conceitos. Daí o autor
refere a distancia que há entre o conceito e o real, que segundo ele, é
infinita, ou seja, jamais será suprimida. Sendo assim, embora a busca pelo
conhecimento traga a necessidade do uso de conceitos, mesmo assim, esses ainda
continuam inaptos à reprodução do real em sua integridade. Desse modo, não se
pode concluir como verdadeira qualquer proposição que venha a afirmar
conveniente a generalização de um método no estudo da sociologia, ou das
ciências humanas. Quanto a isso, o autor refere que
Weber se
opõe incisivamente a todos os sistemas, sejam eles classificadores, dialéticos
ou outros, os quais depois de construírem uma teia de conceitos tão densa
quanto possível, acreditam estar em condição de daí extrair a realidade (FREUND, 1980, p 13).
Essa contraposição de Weber a esses sistemas se dá, sobretudo,
pelo fato de que esses não passam de pontos de vista. Ou seja, são como que
ângulos a partir dos quais se pode ter apenas uma visão do mundo que, por cima
de tudo, ainda é fragmentada e limitada pelas barreiras do mundo empírico.
No item dois, o autor vai chamar a atenção para dois aspectos, por
ele observados, nas sociologias do sec. XIX. O primeiro é o seu caráter
doutrinário, e o segundo seu caráter reformador. Ambos emergem, sobretudo, em
detrimento do científico, segundo o autor. E isso se percebe em, autores como Marx,
Comte e Spencer. Dado esse momento, Freund refere que foi com Durkheim que se lançaram
as bases para o surgimento de uma sociologia, que também foi entendida como
ciência positiva. Nisso residiria, portanto, o mérito de Durkheim.
Um ponto que merece destaque é quando o autor cita Weber como seno
“o primeiro a ter implantado na prática a
sociologia sobre bases rigorosamente cientificas” (FREUND, 1980, p 15). Ou
seja, Weber foi o primeiro a fazer uso de uma teoria que Durkheim foi, por
excelência, o iniciador. O autor destaca que
O certo é
que no ano 1895 em que ele (Durkheim) publica as “Regras do
método sociológico", Weber era professor na universidade de
Fribourg-en-Brisgau e se ocupava muito mais de problemas de economia política e
de política social do que sociológica.(FREUND, 1980, p. 14).
Notemos,
portanto, que de início Weber está preocupado com outras questões, ao passo que
Durkheim já era um teórico da sociologia.
No item três, o autor à luz de Weber, vai definir a idéia de que,
dada a sua racionalização, o mundo perde, portanto, a sua sacralidade,
sobretudo porque esse caráter racional da (que se constitui como uma espécie de
aprimoramento da ciência, e que era própria da civilização ocidental) consistia
em uma nova forma de organizar a vida levando em conta a relação do homem com o
meio que o circunda. Diante dessa inovação introduzida pela racionalização, o
autor refere que ela ainda não estava apta a representar um progresso,
principalmente pelo fato de que ela dava somente o conhecimento das coisas, mas
nunca o conhecimento das razões pelas quais essas mesmas coisas vinham a
funcionar. Freund não nega o progresso, entretanto, reconhece que ele não está
em toda parte, mas somente naquelas cujas ordens obedecem às leis. Ou seja, o
progresso encontra no cumprimento das leis a sua grande dependência.
No item quatro, que trata do antagonismo dos valores, há uma
sucinta reflexão sobre a irracionalidade, já que com a civilização ocidental o
mundo se colocou sobre o trono da racionalização. O autor parte do princípio de
que com o crescimento da racionalização, o irracional reforça-se ainda mais. Ele
diz que essa é “uma idéia mestra que,
embora Weber não tenha manifestado em nenhuma ocasião com nitidez, domina toda
a sua filosofia” (FREUND, 1980, p. 24).
Freund faz perceber que duas
são as fontes de onde decorre a irracionalidade. “A primeira é a própria vida
humana em sua dimensão afetiva, e a segunda é a relação do homem como poder”
(cf. p. 25). Ele defende a idéia de que é a partir do choque entre os diversos
valores que a irracionalidade se sustenta e permanece. Esse choque é também
reflexo das escolhas feitas frente aos valores, as quais também são geradoras
de conflitos. O autor conclui pela insuperabilidade dos antagonismos dos
valores, ressaltando que eles podem ser encontrados em todos os níveis da
atividade humana.
REFERÊNCIA
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de
Janeiro: Forense-Universitária, 1980.
Olá, Fábio! Tudo bem?
ResponderExcluirEstou às voltas aqui pela net pesquisando quem escreveu a orelha da quinta edição brasileira deste livro do Julien Freund, Sociologia de Max Weber, de 2010. Será que você saberia me dizer? Se possível, entre em contato comigo pelo meu e-mail: padaretz@hotmail.com
Um abraço.
Grata,
Nathalia.