A FRAGILIDADE DOS NEGÓCIOS HUMANOS[1]
Fábio Coimbra
O ponto central deste tópico tratado por
Hannah Arendt é a elucidação da impossibilidade da construção de bases, ou
estruturas que, de modo absoluto, assegure definitivamente a estabilidade dos
negócios humanos.
A propósito do presente problema, Hannah
Arendt parte de uma reflexão sobre o ser (que aqui ela chama de agente) e a ação. A ação – que sempre se
renova na medida em que aparece sob a forma de uma reação – é vista, por ela,
como algo dotado da capacidade, ou dos requisitos básicos, para o
estabelecimento de relações. Devido a esse caráter, é que a ação possui
perfeitas condições de transcender os limites impostos, por exemplo, pela
própria lei, bem como as fronteiras territoriais que distinguem um povo de
outro. Nesse aspecto, um ponto relevante que aqui vem a lume é quando ela diz
que “o menor dos atos, nas circunstâncias
mais limitadas, traz em si a semente da mesma ilimitação, pois basta um ato e,
as vezes, uma palavra para mudar todo um conjunto” (p. 203). Isso significa
que um conjunto – que neste raciocínio pode ser tomado como sendo a realidade –
nunca está totalmente acabado, ou fechado para a mudança. E isso procede dessa
maneira justamente, por causa dessa ilimitação das relações que se origina por
meio dos atos.
Ora, é nesse sentido, então, que Arendt
refere que “os limites e fronteiras que
existem na esfera dos negócios humanos jamais chegam a constituir estrutura
capaz de resistir com segurança ao impacto com que cada nova geração vem ao
mundo” (p. 204). A fragilidade dos negócios humanos se deve, portanto, a
esse fluxo de mudança contínua que não encontra limites em nada. É devido a
isso que não há como construir bases, ou estruturas capazes de estabilizar
esses negócios, o que, por conseguinte, lhes tornam frágeis. A autora não
ignora a relevância de meios que pretendem estabilizar esses empreendimentos
(negócios). Todavia, reconhece que esses (os meios) não são absolutamente
eficazes ao refreamento dos ânimos, ou da ação oriunda do interior do próprio
corpo político, por exemplo. Ou seja, por mais que se tente barrar aos negócios
humanos a ação do exterior (e até se consiga, certas vezes) há, no entanto, o
desafio de obter esse mesmo êxito na esfera do interior, o que, segundo a
autora, é praticamente impossível.
[1] ARENDT, Hannah. A
condição humana. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1983.
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