FÁBIO
COIMBRA[1]
A política é – sem sombra de dúvida – uma das mais
importantes dimensões da existência humana em todo o seu percurso histórico.
Em tempos antigos já havia uma profunda e dedicada
reflexão sobre a política e seus eventuais atributos.
Muitos
foram aqueles que se deram o árduo trabalho de analisá-la do ponto de vista da
práxis e da teoria. Foram justamente esses pensadores que iniciaram e,
portanto, instituíram aquilo que se convencionou chamar de FILOSOFIA POLÍTICA.
Platão, por exemplo, no Livro Sete de “A REPÚBLICA”, onde trata do mito
da caverna, chama-nos a atenção para mostrar que, no universo político,
o real, isto é, a realidade verdadeira, nem sempre é
aquilo tal como se nos aparece. Ou seja, - no horizonte de uma ótica
contextualizadora – pode-se dizer que uma coisa é aquilo que nós vemos e
escutamos dos nossos políticos, outra coisa é aquilo que está por traz dessa
fala e dessa aparência.
Nicolau Maquiavel, filósofo da política e cidadão romano do período
renascentista, na obra “O PRÍNCIPE”, aborda muito bem essa
questão da aparência, pois, é dever e obrigação do príncipe, ou seja, daquele
que governa cuidar e zelar o máximo possível da sua imagem. O segredo aqui,
portanto, parece consistir em ser, pois aquilo que na verdade não se é, porque,
de fato (de acordo com Maquiavel), o povo julga a partir daquilo que vê sem se
dar o trabalho da avançar para além daquilo que aparece. Para isso, o
governante usa de inúmeros meios, não importando quais sejam eles, pois, o seu
objetivo é se manter no poder. Uma frase muito conhecida, nesse sentido, é,
portanto, os fins justificam os meios. Em geral costuma-se atribuir essa frase à autoria de
Maquiavel, muito embora ele nunca a tenha pronunciado, talvez nem mesmo
tivesse chegado a conhecê-la ou escutado, tal como nós hoje.
Em
síntese, se o real nem sempre é aquilo que aparece, e a imagem e a fala, muitas
vezes, comportam uma identidade que se oculta, ou seja, que não se dá a conhecer
tornando-se, desse modo, escudo de interesses particulares, que perpassa a
nossa simples e deficiente visão, o problema aqui consiste, pois, em saber como
distinguir o verdadeiro do falso. Isso é difícil, mas não é impossível. Vejamos
como fazer isso, quando o assunto é eleição, por exemplo.
Para
decidir um voto leve em consideração alguns critérios:
1º Ouça o/a candidato/a falar (geralmente
os discursos são carregados de emoção, sentimento e ilusão, ou seja, falácias,
em outros termos, argumentos falsos).
2º retire da fala do/a candidato/a toda
a carga falaciosa, de modo que a fala fique pura, isto é, destituída de todo e
qualquer tipo de falsidade (quando
se faz isso, percebe-se logo que a fala longa, cheia de promessa etc., diminui
muito, isto é, quando sobra alguma coisa).
3º analise a compatibilidade que há
entre aquilo que sobrou da fala e a realidade verdadeira (ou seja, veja em que sentido aquilo que foi dito
pode contribuir para que uma mudança significante possa acontecer etc.).
4º analise o perfil moral da fala e
a conduta ética do/a candidato/a (nunca aplauda candidato/a que sobe num
palanque para destruir e esculhambar os demais concorrentes. Pois ali eles
expressam muito claramente a sua incompetência para administrar, como também a sua
ambição pelo poder. Aquele que governa, nunca governa para si, nem governa os
outros. Veja, então, o que diz o filósofo suíço Jean- Jacques Rousseau, no livro “O CONTRATO SOCIAL”: “ o homem nasceu livre, e não obstante, está
acorrentado em toda a parte. Julga-se senhor dos demais seres sem deixar de ser
tão escravo como eles” (Rousseau). Ou seja, o governante é apenas uma
pessoa incumbida de promover o bem de todos. Se ele não cumpre com essa função
e se mostra incompetente para o exercício da mesma, então porque apostar nele?
O seu voto é o seu escudo e a sua
consciência é o elemento primordial para o início de uma mudança.
Nunca é
errado pensar sempre mais. Reflita sobre a cidadania, estabeleça escolhas, tome
decisões e contribua para mudar essa drástica e terrível realidade.
Nunca caia no pessimismo. Nunca pense que na política não exista pessoas
honestas, existe sim, o que temos que fazer é tirar dos nossos olhos a lama que
nos impede de ver e detectar quem são e onde estão esses seres honestos.
Procure adquirir e analisar a realidade
com os olhos do intelecto, pois,
somente eles podem transcender e conduzir para além daquilo que aparece,
fazendo com que se conheça, portanto, a realidade verdadeira tal com ela é.
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