SOBRE O PODER, VALOR, DIGNIDADE, HONRA E
MERECIMENTO
Do poder, valor, dignidade, honra e
merecimento – O poder – O valor – A dignidade – Honrar e desonrar- Honroso –
Desonroso – Os escudos – Os títulos de honra – O merecimento – A aptidão
- Universalmente
considerado, o poder de um homem consiste nos meios de que presentemente dispõe
para obter qualquer visível bem futuro. Pode ser original ou instrumental.
(p. 70).
- Poder
natural é a eminência das faculdades do corpo ou do espírito.
Extraordinária força, beleza, prudência, capacidade, eloqüência, liberalidade
ou nobreza. Os poderes instrumentais são os que se adquire mediante os
anteriores ou pelo acaso e constituem meios e instrumentos para se adquirir
mais. Como exemplo, a riqueza, a reputação, os amigos e os secretos desígnios de
Deus a que os homens chamam boa sorte. A natureza do poder é nesse ponto idêntica à
da fama, dado que cresce à medida que progride. (p. 70).
- Dos
poderes humanos o maior é aquele que é composto pelos poderes de vários homens,
unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de
todos os seus poderes na dependência de sua vontade. É o caso do poder
de um Estado. Na dependência da vontade de cada indivíduo, é o caso do poder de
uma facção, ou várias facções coligadas. (p. 70).
- A
riqueza aliada à liberdade também é poder, porque consegue amigos e servidores.
Privada de liberdade, não o é, porque nesse caso a riqueza não protege, mas
expõe o homem, como presa, à inveja. (p. 70).
- [...]
qualquer qualidade que torna um homem amado ou temido por muitos, é poder.
Isso porque constitui um meio para adquirir a ajuda e serviço de muitos. (p.
70).
-
Constitui poder a nobreza, não em todos os lugares, mas somente naqueles Estados
onde goza de privilégios, pois é nesses privilégios que reside seu poder. (p.
71).
- É da
natureza da ciência que só podem compreendê-la aqueles que em boa medida já
alcançaram. (p. 71).
- O
valor de um homem, tal como o de todas as outras coisas, é seu preço.
(p. 71).
- Um
hábil condutor de soldados é de alto preço em tempo de guerra presente ou
iminente, mas não o é em tempo de paz. Um juiz douto e incorruptível é de alto
valor em tempo de paz, mas não o é em tempo de guerra. (p. 71).
-
Atribuir a um homem um alto valor é honrá-lo e um baixo valor é desonrá-lo. (p.
71).
- O
valor público de um homem, aquele que lhe é atribuído pelo Estado, é o que os
homens geralmente chamam dignidade. Esta sua avaliação pelo Estado se
exprime por meio de cargos de direção, funções judiciais e empregos públicos ou
pelos nomes e títulos introduzidos para a distinção de tal valor. (p. 71-72).
-
Elogiar outra pessoa, por qualquer tipo de ajuda, é honrar, porque é sinal de
que em nossa opinião ela tem poder para auxiliar. Quanto mais difícil é a
ajuda, maior é a honra. (p. 72).
-
Ceder o passo ou o lugar a outrem, em qualquer questão, é honrar, porque
equivale a admitir um poder superior. Fazer frente é desonrar. (p. 72).
- Pedir
a um homem seu conselho, ou um discurso de qualquer tipo, é honrar, em sinal de
que o consideramos sábio, eloqüente ou sagaz. Dormir, afastar-se, ou falar
quando ele fala é desonrá-lo. (p. 72).
-
Pedir orientação ou colaboração em ações difíceis é honrar, como sina de apreço
pela sabedoria ou outro poder. Recusar a colaboração dos que a oferecem é
desonrar. (p. 73).
- [...]
a fonte de toda honra civil reside na pessoa do Estado e depende da vontade do
soberano. Conseguintemente, é temporária e chama-se honra civil. (p.
73).
- [...]
ser honrado, amado ou temido por muitos é honroso e prova de poder. (p.
73).
- São
honrosos o domínio e a vitória, porque se adquire pelo poder. A servidão, que
vem da necessidade ou do medo, é desonrosa. (p. 73).
- Ser
ilustre, quer dizer, ser conhecido pela riqueza, cargos, grandes ações ou
qualquer bem iminente, é honroso, como sinal do poder que faz alguém ser
ilustre. O contrário, a obscuridade, é desonrosa. (p. 74).
- Os
antigos comandantes gregos, quando iam para a guerra, mandavam pintar em seus
escudos as divisas que lhes aprazia, sendo um escudo sem emblema um sinal de
pobreza, próprio do soldado comum. (p. 75).
- Títulos
de honra, como duque, conde, marquês e barão são honrosos, pois significam o
valor que lhes é atribuído pelo poder soberano do Estado. Nos tempos antigos
esses títulos correspondiam a cargos e funções de mando, sendo alguns derivados
dos romanos e outros dos germanos e franceses. Os duques, em latim, duces,
eram generais de guerra. Os condes, comites, eram os companheiros ou amigos do
general, e era-lhes confiado o governo e a defesa dos lugares de conquistados e
pacificados. O marquês, marchiones, eram condes que governavam as marcas ou
fronteiras do império. Esses títulos de duque, conde e marquês foram
introduzidos no império, na época de Constantino, o Grande, numa adaptação dos
costumes da milícia dos germanos. Barão parece ter sido um titulo dos gatileses,
e significa um grande homem, como os guardas que os reis e príncipes usavam na
guerra para rodear sua pessoa. O termo parece derivar de vir, para ber e bar, que na língua
dos gauleses significava o mesmo que vir em latim. Daí para bero e baro. Assim esses homens eram chamados berones, e posteriormente barones,
e em espanhol varones. [...] com o
passar do tempo estes cargos de honra [...] foram transformados em meros
títulos, servindo em sua maioria para distinguir a preeminência, lugar e ordem
dos súditos no Estado, e foram nomeados duques, condes, marqueses e barões para
lugares dos quais essas pessoas não tinham posse nem comando. (p. 76-77).
- Coisa
diferente de seu valor é o merecimento de um homem, e também de seu mérito.
(p. 77).
- O
mérito pressupõe um direito. A coisa merecida é devida por promessa.
(p. 77).
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