Fábio
Coimbra[1]
Disciplinas
complexas e que aparentemente não comportam nenhuma espécie de relevância para
o progresso da ciência, sofrem, em princípio, um descrédito, fruto de um
preconceito oriundo nada mais nada menos que de uma ignorância irremediável
daqueles que, tomando para julgamento das coisas visíveis o critério da
aparência, costumam exaltar um molde de ciência, sociedade, ou humanidade em
detrimento de outros que, obviamente são menosprezados.
Devido
a preconceitos que algumas disciplinas costumam enfrentar é que se pode
perceber, nos estabelecimentos de ensino básico, algumas dificuldades no que
diz respeito à ministração de disciplinas que assim forem concebidas. Um desses
eventos – e que aqui se pode tomar como exemplo – é o caso da disciplina
Filosofia que assim como pode ser considerada “a mãe de todas as ciências”,
pode, não obstante, também ser considerada o principal alvo de preconceitos
vindos de múltiplas direções. Cumpre ressaltar que esse preconceito para com o
ensino da filosofia, por parte daqueles que asseveram que a filosofia não serve
para nada, não constitui uma realidade apenas observável no ensino básico, mas
pode ser percebido também no nível de ensino superior, no cotidiano da vida
acadêmica.
Nesse
sentido, também torna-se fundamental para fins de minimizar esse impasse na
educação, alem de outras medidas a serem tomadas, buscar conhecer o que realmente
desperta os interesses dos alunos, bem como as coisas que mais chamam sua
atenção estimulando, desse modo, sua curiosidade e sua vontade de aprender. O
conhecimento daquilo que em princípio constitui os interesses dos alunos estabelece
sem dúvida um ponto de partida vital para a mudança daquela realidade pela qual
a filosofia, por exemplo, é concebida como algo insignificante, ou irrelevante
para a sociedade, a ciência, etc. Dada a mudança dessa falsa realidade, o
trabalho por vir seria a construção de pilares que tornassem possível erigir
uma realidade, especificamente educacional, na qual a filosofia fosse
respeitada como tal, passando a ser vista, portanto, como relevante, desejável,
indispensável e necessária para a construção de uma sociedade diferenciada e, por
conseguinte, de um mundo mais valorado e rico humanamente.
A
diagnosticação do ensino da filosofia no nível básico – além de ser uma fonte
de luz que permite ver na escuridão as deficiências e os fatores que
comprometem e contribuem para deturpar o sentido e o significado do próprio
ensino da filosofia, bem como a busca pela excelência no que a isso diz
respeito, e o gosto por ela – constitui, de algum modo, um panorama que permite
visualizar com precisão as principais dificuldades que surgem como obstáculo à
prática do ensino da filosofia na educação básica. Nessa perspectiva, a
grandeza do questionário, pode-se dizer, reside em vários aspectos, como, por
exemplo, na elaboração de melhores planos de aulas. Para fins de reflexão e
compreensão da relevância do questionário, cabe levantar aqui a seguinte interrogação:
o que caracterizaria esses planos de aulas, a partir do diagnostico, como melhores?
Em princípio, poder-se-ia dizer que o simples fato de levar em conta as
opiniões dos alunos quanto àquilo que seria uma aula de filosofia constitui,
por sua própria grandeza, o distintivo fundamental pelo qual os planos de aulas
a partir de então pudessem ser vistos como diferentes, preferíveis, plausíveis,
dentre outros aspectos dignos de destaque em relação aos planos de aulas que
não atentaram por perseguir esses objetivos, e que aqui não serão elencados.
Considerando
as respostas obtidas nas questões aplicadas, pode-se dizer que são boas as
expectativas para um melhoramento do ensino da filosofia no contexto do ensino
médio. Com base no que fora respondido, pode ser dito que a aula de filosofia,
atualmente, não está tão longe daqueles fins para os quais ela converge, não
somente no ensino médio, mas também no superior, entretanto percebe-se, evidentemente,
que faltam alguns ajustes necessários para o êxito a que se pretende nessa
aventura. Ao se considerar as respostas da primeira questão – que perguntava “o
que é a aula de filosofia para você?” – é possível concluir pela corroboração
do que acima fora dito ao se perceber, por exemplo, que para a maioria dos
alunos do primeiro ano a aula de filosofia é questionar os problemas do
dia-a-dia. Daí se infere certa contextualização dos temas trabalhados em
relação ao contexto no qual se tece a vida cotidiana de cada um considerando
elementos, ou fatores diversos.
Na
segunda questão – que perguntava se “o conteúdo da aula de filosofia é bom,
ruim, ou deixa a desejar?” – a resposta parece um tanto agradável quando, segundo
a maioria dos alunos, o conteúdo é referido como bom. Entretanto,
esclarecimentos precisam ser feitos quanto a essa questão, para saber em que
sentido o conteúdo pode ser considerado como realmente bom. Assim como a
segunda, a resposta da terceira questão – que perguntava “você compreende a
aula de filosofia?” – também carece de esclarecimento. Segundo a maioria dos
alunos, a aula de filosofia é sim compreensível. Na quarta questão – que
perguntava se “o professor de filosofia utiliza textos filosóficos em sala de
aula?” – a resposta é consensual entre os alunos, segundo os quais, o professor
utiliza sim textos filosóficos nas aulas.
A
quinta questão, à sua vez, chama a atenção por diversos motivos. Um deles é a
ponte que ela estabelece com a primeira questão. Reiterando, se naquela questão
percebe-se, de acordo com a maioria dos alunos, que a aula de filosofia
questiona os problemas do dia-a-dia, nesta, por sua vez, segundo a mesma
maioria, com acréscimo de três pontos percentuais em relação àquela, há sim
alguma ligação da aula de filosofia com suas realidades. A sexta questão – em
virtude da resposta da maioria dos alunos – passou a ser mais de caráter
metodológico. Ao perguntar “O que chama sua atenção na aula de filosofia?” a
questão traz a lume a preocupação em relação aos meios de transmissão dos
conteúdos a serem trabalhados. De acordo com a maioria dos alunos o que mais
chama a atenção na aula são os recursos utilizados pelo professor. Dentre esses
pode se destacar o uso de vídeos. Com base nas justificativas dos alunos para
essas respostas, há uma carência do uso de outros meios, como, por exemplo,
músicas e figuras. As duas últimas questões, isto é, a sétima e a oitava, já
eram mais de caráter subjetivo, dado que as respostas eram dissertativas. A
sétima – que perguntava “de que forma o professor de filosofia estimula e
desenvolve discussões, ou debates em sala de aula?” – apresentou resposta que
de alguma forma reforçam algumas das questões já suscitadas trazendo assim a
possibilidade de um trabalho que objetive aperfeiçoar métodos já usados como,
por exemplo, o uso de tecnologias. Um aspecto importante a ser assinalado é
que, de acordo com a maioria dos alunos, esse estímulo do professor para as
discussões e debates se dá por meio de uma boa explicação. Isso se torna
relevante se considerarmos que uma das principais dificuldades em tornar
atrativas as aulas de filosofia pode está no simples fato de que o entendimento
dos textos por parte do professor pode não se dá de forma tão clara. Uma das
razões para isso decorre do fato de que, muitas vezes, o professor de filosofia
não é uma pessoa com formação exclusiva no ramo, mas apenas alguém que supre,
ou preenche a ausência desse profissional. Desse modo, uma aula de filosofia
que realmente chame a atenção do aluno por meio de uma boa explicação – levando
em consideração o conjunto das dificuldades em se entender e explicar o texto
filosófico, ou o pensamento de um autor – seria de competência exclusiva do
profissional com formação especifica em filosofia. Assim como a sétima, a
oitava e última questão, à sua vez, ao questionar “como você gostaria que fosse
a aula de filosofia?” trousse respostas que também corroboram algumas idéias já
manifestas, reforçando a necessidade de melhoramento daquilo a que já se segue,
sem, no entanto, excluir a necessidade de inovação. Diante da diversidade das
respostas devido ao caráter dissertativo da questão, o que se pôde perceber,
quando organizadas, é que a maioria da turma teria respondido que seria bom que
a aula continuasse como está. Outra parcela considerável de alunos teria dito
que gostariam que a aula de filosofia fosse com mais recursos tecnológicos.
Nota-se aqui que o uso de tecnologias parece ser uma das coisas que mais chama
a atenção dos alunos. Quanto a isso, é importante notar que na questão
anterior, vários alunos disseram que o uso da tecnologia é um dos meios pelos
quais o professor estimula debates e discussões. Já nesta oitava, uma parcela
maior do que aquela teria dito que a aula de filosofia deveria ser com mais
recursos tecnológicos.
Diante
de tudo isso, é interessante notar como algumas questões estão diretamente
ligadas a outras. Obviamente, o engenho do questionário reside no fato dele
funcionar como um mapa no qual se podem perceber as diversas e mais calamitosas
situações que permeiam a realidade da escola da educação básica da sociedade
brasileira. Entretanto, importa relevar que apesar de muito engenhoso, o
questionário ainda pode ser melhorado para fins de obtenção de resultados cada
vez mais eficiente. Não obstante, cumpre salientar, ele representa um ponto de
partida, um pontapé inicial dado rumo às transformações, então, desejadas. O
próximo passo, a partir daqui, seria, então, o planejamento para o início da
intervenção nas realidades escolares no que diz respeito ao ensino da
filosofia, cumprindo assim, um dos desígnios do PIBID.
Para
não se correr o risco de agir em vão e assim iludir-se pensando está fazendo
grandes coisas, seria interessante começar pelo conhecimento dos princípios do
que já está estabelecido nas escolas, que seria, então, o conteúdo programático.
Alem disso, seria relevante tomar ciência daquilo que, em suma, constitui o
objetivo primordial do ensino da filosofia no ensino médio. Igualmente seria
relevante ter claro o objetivo da educação básica. Daí seria importante
primeiro tomar conhecimento, se não total, pelo menos parcial, da LDB. Se
difícil for o conhecimento da proposta dessa lei para educação básica, então, o
conhecimento daquilo que ela determina como objetivo do ensino da filosofia no
ensino médio seria a condição e o requisito mínimino para aqueles que clamam
por mudanças. Não é difícil supor que a carência de conhecimento desses dois
elementos tal como já foram citados (conteúdo programático e LDB),
representaria o vazio de uma marcha que conduz para o nada. Afinal, toda
proposta que se pretende chegar a um determinado ponto, deve ter evidentemente
um ponto do qual possa se dar a partida. Obviamente, “tudo que tem um começo
deve ter um fim”. Cremos que a eficiência como ápice e fim da educação deva ter
por começo as considerações sobre as bases reais já solidamente construídas. Não
obstante, é necessário suprimir e inovar, tanto quanto for preciso, na medida
em que isso se mostrar imprescindível, desejável e plausível para a construção de
uma educação melhor; que mude de mentalidade; que introduza o pensamento
crítico; que construa homens melhores; que traga a lume uma nova sociedade; um
novo mundo; que erija valores; que construa pontes que liguem os diversos
mundos, os diversos povos, as diversas culturas.
É
preciso perceber que por a trás de toda a aparência subjaz a verdadeira
realidade, e que nos submundos das mutações reside a essência, aquilo que
consideramos necessário em um ser para que ele seja aquilo que é. Também faz
jus perceber que por trás de toda a realidade; que por trás do preto e do
branco, que por traz do alto e do baixo, que por traz do forte e do fraco está
aqueles pano de fundo que destaca a figura de cada homem; critério único;
medida única, mediante a qual a grandeza de cada ser deve ser medida. Esse engenhoso pano de fundo chama-se:
educação, obra magnífica resultante da soma de fatores diversos.
[1] Graduando em Filosofia pela Universidade
Federal do Maranhão; bolsista da CAPES com atuação no Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.
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