Tambor
de crioula, São João, Festa do Divino, Bumba meu boi, Tambor de Mina.
Todas essas manifestações culturais fazem parte do Maranhão, assim como a
culinária, a arquitetura, e as belezas naturais do Estado, que encantam
maranhenses e turistas de todo o país. Mas o mesmo Estado de tantas
belezas é o segundo no ranking do trabalho escravo no Brasil, perdendo
somente para o Pará.
A exploração de trabalhadores em condições análogas à escravidão é
um problema que afeta diversas regiões brasileiras, principalmente a
região Amazônica, que compreende os estados do norte do país, entre eles
o Tocantins, que possui o mesmo número de casos que o Maranhão. A
chamada “Lista Suja” do trabalho escravo no Brasil, divulgada, este mês,
pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostrou que nos últimos
anos trinta e oito mil trabalhadores foram resgatados, mas ainda há
muito a se fazer.
Sob essa temática nasceu o projeto de pesquisa, “Vozes da Esperança:
estratégias de comunicação em redes de aliciamento e denúncia no
contexto do trabalho escravo contemporâneo no Maranhão”, financiado pela
FAPEMA e coordenado pela Profa. Flávia Moura, do Departamento de
Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. Iniciado a
partir da pesquisa de mestrado da professora Flávia, “Escravos da
precisão”, o projeto “Vozes da esperança” verificou em quase um ano de
pesquisa que a maioria dos trabalhadores escravizados não se
auto-identifica como escravos, a denominação é dada pelos ficais do MTE.
“Alguns trabalhadores não sabem nem o que quer dizer o termo trabalho
escravo contemporâneo”, explica a coordenadora do projeto.
Motivados pela necessidade, aliada a promessas de trabalho por
empreitada, os trabalhadores são levados para regiões distantes, onde se
deparam com uma realidade totalmente diferente daquela prometida e
descrita pelos aliciadores. As condições de trabalho, saúde, alojamento e
alimentação são péssimas. Além disso, ao chegar ao local de trabalho os
aliciados descobrem que já possuem uma dívida com o “empregador”,
decorrente do transporte até o local, entre outras coisas.
Essa dívida, só tende a aumentar e, segundo a pesquisadora Flávia
Moura, é um dos principais fatores relacionados ao cerceamento da
liberdade, muito mais do que a violência, o que não quer dizer que esta
não exista. De acordo com a pesquisadora não se pode dizer que a
vigilância armada, coibindo o direito de ir e vir, não exista, mas a
escravidão por dívida é predominante.
Além da professora Flávia, a pesquisa conta com os professores
Marcelo Sampaio Carneiro, do Programa de Pós-graduação de Ciências
Sociais da UFMA, e Francisco Gonçalves da Conceição, do Departamento de
Comunicação Social da UFMA. Visitas foram realizadas aos municípios de
Codó e Açailândia, o segundo do Maranhão na “Lista Suja”, para observar
os sistemas de comunicação utilizados pelos aliciadores, que “chamam os
trabalhadores para essas condições análogas ao trabalho escravo”, como
explicou a professora Flávia Moura.
“Vozes da esperança”, que está em fase de análise dos dados que
foram coletados, identificou como veículo principal utilizado para
aliciar trabalhadores anúncios em rádios e alto falante próximos a
comércios. O projeto, a partir do início do ano letivo de 2011, “começa a
trabalhar a questão da proteção, da rede de denúncia com relação a
esses trabalhadores que foram encontrados nessas condições”, afirmou a
professora de comunicação.
Perfil do pesquisador:
Flávia de Almeida Moura é professora do departamento de Comunicação
Social da UFMA. Ela é graduada em Comunicação com habilitação em
Jornalismo pela Universidade de Taubaté (SP) e Mestre em Ciências
Sociais pela UFMA. Coordena o projeto de pesquisa Vozes da esperança, e
integra o Núcleo de Estudos e Estratégias de Comunicação Social da UFMA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário