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YOUNG,
Michael. Para que servem as escolas? In: Educ.soc.,
Campinas, vol. 28, n. 101, p. 1287-1302, ser/dez. 2007.
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FÁBIO COIMBRA
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Graduando em Filosofia pela
Universidade Federal do Maranhão
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Definir
o papel da escola em meio à complexidade do mundo moderno e contemporâneo
certamente não é uma das mais fáceis tarefas. É um ato que, para sua melhor efetivação,
deve levar em conta múltiplos fatores que vão, por exemplo, do econômico (que
obviamente exerce muita influencia sobre a educação) ao cultural (entendendo-se
aqui por elemento cultural a totalidade das práticas, costumes, atos, ritos,
símbolos e valores que norteiam a vida de um povo, uma comunidade ou um grupo).
Para
definir o papel da escola é preciso também definir o que se entende por escola.
Se partirmos do princípio de que a escola é o lugar onde melhor se efetiva a
educação, precisaremos perguntar o que é a educação e qual a sua finalidade. A
resposta a essa questão toca em outro assunto, a saber, quem financia a educação e quais interesses estão em jogo, assunto
esse que, à sua vez, traz a baila dois universos paralelos: o político e o
econômico. Nesse contexto, já estamos diante de determinados conflitos, os
quais, nesse sentido, são frutos das brigas de interesses, muitas vezes, particulares.
Portanto, não é fácil definir o papel da escola, o que não significa dizer que
isso é impossível, e nem que não haja quem por esse caminho tenha enveredado.
Michael
Young é um dos pensadores que quis dar conta dessa problemática. Assim, ao
questionar “para que servem as escolas?”, ousou responder: “para capacitar
jovens para adquirir o conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser
adquirido em casa ou em sua comunidade [...]”. (p. 1294). Assim sendo, já temos
a resposta do autor à pergunta suscitada. O passo seguinte de Young consistirá
em mostrar a consistência de sua resposta. Para isso ele estrutura o texto em
oito tópicos, que aqui vão ser chamados de partes.
Na
primeira parte (Os críticos de escolas nos anos 1970 e 1980), Young busca
mostrar como a esquerda (ao que parece, política) e a sociologia da educação
estavam próximas uma da outra em razão de apresentarem visões negativas à
questão da escolaridade. Segundo ele, “a idéia de que o papel primordial das
escolas na sociedade capitalista era o de ensinar à classe trabalhadora qual
era o seu lugar era amplamente aceita no campo da sociologia da educação”. (p. 1298).
Por esse ângulo, já se torna passível de percepção a influência da teoria
marxista no meio educacional. Essa influência marxista vai ser retomada na
segunda parte do texto (A Virada pós-estruturalista nas ciências sociais). Porem,
nesse contexto, segundo o autor, essas influencias “perderam sua credibilidade”.
(p. 1290). Ao tratar desse assunto, Young deixa a impressão de que essa perda
resultara do fato de que a teoria marxista teria faltado ao prever o fim do
capitalismo (o que até hoje não ocorrera). “[...] essas criticas [oriundas do
marxismo] tinham muito pouco a dizer sobre escolas, exceto para outros
cientistas sociais”. (p. 1290).
Na
terceira parte (Respostas governamentais), o autor mostra a tensão que se
gerara entre o setor político e o educacional. Por um lado, os neoliberais
defendiam a idéia de que “a economia deveria ser deixada para o mercado e que
os governos deveriam desistir de tentar ter políticas econômicas ou
industriais”. (p. 1290). Acatando essas idéias neoliberais, “os governos
dedicavam seus esforços a reformar o sistema educacional ou aprimorar o
‘capital humano’”. De acordo com o autor, isso acarretou muitas implicações
para a escola. “Uma delas foi a tentativa de adequar os resultados da escola,
ao que é tido como as ‘necessidades da economia’”. (p. 1290). Outra
consequência que se pode destacar, diz respeito ao fato da “transformação da
educação em si num mercado, no qual as escolas são obrigadas a competir por
alunos e fundos”. (p. 1291).
Na
quarta parte (Novos objetivos para velhas coisas), Young procura reafirmar os
propósitos das escolas. Para tanto, ele parte de críticas feitas por ele mesmo
a certos pensadores, como, por exemplo, Foucault quando de suas argumentações
em Vigiar e punir. Nesse sentido, ele
vai dizer que “Foucault [...] quando coloca as escolas na mesma categoria que
as prisões, asilos e hospitais, ele deixa de mencionar a historia da luta política
pela escolaridade para todos e o que é especifico das escolas”. (p. 1292).
Desse modo, na quinta parte (As lutas pelos propósitos das escolas), o autor
ressalta que “essas lutas podem ser vistas em torno de duas tensões. “A
primeira é entre os objetivos da emancipação e da dominação. [...] A segunda é
entre as perguntas ‘quem recebe a escolaridade?’
e ‘o que o indivíduo recebe?’”. (p.
1292). Na primeira, o autor pretende mostrar que a escola pode ser usada para a
aquisição de diferentes objetivos. Assim, ela pode promover tanto o processo de
emancipação, quanto o de dominação. Nessa quinta parte, o autor aborda ainda a
idéia de educação enquanto transmissão de conhecimentos. Segundo ele, essa
idéia “tem sido duramente criticada por pesquisadores da área da educação,
especialmente sociólogos educacionais”. (p. 1293). De acordo com o autor, “A idéia
de que a escola é primordialmente um agente de transmissão cultural ou de
conhecimento leva-nos a pergunta: ‘Que
conhecimento?’. E em particular questiona que tipo de conhecimento é
responsabilidade da escola transmitir”. (p. 1293).
Young
argumenta que esses tipos de conhecimentos são diferenciados, sendo que “uns
podem ser mais valiosos que outros”. (p. 1294). Nesse contexto, ele distingue
conhecimento escolar de conhecimento não escolar. É justamente nesse ponto que
ele dá (como já foi mostrado) sua resposta à pergunta “Para que servem as
escolas?”, ao que ele responde dizendo (em outras palavras) que servem para
fazer com que o aluno aprenda aquilo que em casa, ou na rodada de amigos, ou em
outros lugares ele não pode aprender.
Na
sexta parte (Que conhecimento), o autor aborda duas idéias de conhecimento: “o
conhecimento dos poderosos” e o “conhecimento poderoso”. O primeiro “é definido
por quem detém o conhecimento”. (p. 1294). Já o conhecimento poderoso “é um
conceito que se refere ao que o conhecimento pode fazer, como, por exemplo,
fornecer explicações confiáveis ou novas formas de pensar a respeito do mundo”.
(p. 1294). De acordo com o autor, “é isso que os pais esperam, mesmo que às
vezes inconscientemente”. (p. 1294).
Na
sétima parte (Diferenciação do conhecimento e conhecimento escolar), Young
argumenta que “as questões sobre o conhecimento para professores e
pesquisadores educacionais, não são primordialmente questões filosóficas, como
‘o que conhecemos’, ou ‘como conhecemos’”. (p. 1295). De acordo com ele, o que
está em jogo ai é a diferenciação entre conhecimento escolar e conhecimento não
escolar, o que faz com que a questão referente ao conhecimento, neste aspecto,
seja uma questão sociológica e pedagógica, e não filosófica.
Young
ressalta que por traz dessa diferenciação, há outra que se destaca entre dois
tipos específicos de conhecimento, que ele vai chamar de “conhecimento
dependente do contexto” e “conhecimento independente do contexto”. O primeiro
seria um conhecimento mais prático na medida em que sua aquisição e seu
desenvolvimento estariam ligados à resolução de “problemas específicos do
cotidiano”. (p. 1296). Já o segundo, também chamado de teórico, “é desenvolvido
para fornecer generalizações, e busca a universalidade”. (p. 1296). O autor
argumenta que esse é o conhecimento que se adquire na escola, ao qual ele
também chama de conhecimento poderoso.
Finalmente,
na oitava, e ultima parte, (Conceituando o conhecimento escolar), Young diz que
“a tentativa mais aceita de se conceituar o conhecimento escolar é a
desenvolvida pelo sociólogo inglês Basil Bernstein”. (p. 1297). Dados os
limites deste escrito, não aprofundaremos aqui a reflexão de Young sobre
Bernstein. Entretanto, reconhecemos a grandeza e relevância do seu pensamento
para a área da educação.
Após
mostrar como Young resolve a questão “Para que servem as escolas?”, compete-nos
aqui – para fins de contribuição ao debate – prestar algumas considerações
sobre o trabalho do autor.
Em
princípio, podemos dizer que suas reflexões são relevantes na medida em que
proporcionam um entendimento paralelo de outras questões que são tocadas pelo
problema em discussão. Um detalhe bem interessante é quando o autor, ao longo
de sua argumentação, procura mostrar o que compete à Filosofia e o que compete
à Sociologia em termos de educação. Da mesma forma consideramos plausível a
distinção que ele faz entre conhecimento escolar e conhecimento não escolar.
Diante
de tudo isso (que são aspectos positivos do pensamento de Young), há também
outros que precisam ser – por ele – mais bem explicitados como, por exemplo, quando
ele diz (na sexta parte) que “aqueles com maior poder na sociedade são aqueles
que têm acesso a certos tipos de conhecimentos”. (p. 1294). Ao argumentar dessa
forma, o autor parece esquecer o poder da influência nas relações sociais
vigentes na sociedade capitalista contemporânea. Ao final da sétima parte,
Young diz que “as escolas obtém mais sucesso com alguns alunos que com outros”.
(p. 1296), o que também precisa ser mais bem esclarecido ao não prestar
considerações mais consistentes sobre esses “melhores”.
Em
suma, devemos dizer que esses pontos críticos não ofuscam, de modo nenhum, a grandeza
do pensamento do autor.
Muito bom! Estava pesquisando sobre este artigo de Michael Young e pude ter uma melhor ompreenção pois seu modo de expor o assunto é de fácil entendimento. Obrigada!
ResponderExcluirandrea_3.0@hotmail.com
Olá! Bom dia ! De igual modo à colega Andréa tive por atividade de uma das disciplinas pedagógicas da licenciatura em História contato com o artigo de Michel Young, e graças a troca de conhecimento, uma relação social 'poderosa', encontrei este blog. Serviu de complementação ao debate que participei num fórum virtual do meu curso. Obrigado pela administração do blog ter postado esta resenha, que me foi útil.
ResponderExcluirCláudius Elias - ces.g@hotmail.com
a parte expositiva está excelente, facilita uma melhor compreensão do texto.
ResponderExcluirrecomendo à todos que façam uma leitura da resenha, no entanto, não concordo com a crítica referente ao melhor resultado de alguns alunos.O autor defende a ideia de que a escola funciona como um instrumento de capacitação para aluno, desse modo, um aluno melhor, seria aquele melhor capacitado, ou aquele que apresente melhor desempenho nas atividades capacitadoras. abraços.
obs: sou estudante de geografia 5° período /ufmg
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom este comentário.
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