domingo, 11 de dezembro de 2011
SAMBA ENREDOBeija Flor OFICIAL 2012 em homenagem a São Luís [capital do Maranhão] pelo seus 400 anos de história. PARABENS SÃO LUÍS!
texto formatado com espaçamento 1,5; a4; arial 12 cor preta
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
HISTORIADOR DESAFIA NARNEY A TESTAR 'IMAGEM' NAS RUAS
Disponível em: http://www.jornalpequeno.com.br/2011/11/29/historiador-desafia-sarney-a-testar-imagem-nas-ruas-178602.htm
Acesso em 30 de novembro de 2011
29 de novembro de 2011 às 17:10
O historiador Marco Antonio Villa, em artigo incisivo publicado hoje
(29) no jornal O Globo, traça um perfil sem maquiagem do presidente do
Senado, José Sarney, e o desafia a testar sua imagem caminhando sozinho
pelas ruas das principais cidades do Brasil. Leia o artigo:
A face do poder: um retrato de Sarney
MARCO ANTONIO VILLA*
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa é a mais perfeita tradução do
oligarca brasileiro. Começou jovem na política, conduzido pelo pai. Aos
35 anos resolveu mudar de nome. Tinha acabado de ser eleito governador
do seu estado. Foi rebatizado por desejo próprio. Alterou tudo: até o
sobrenome. Virou, da noite para o dia, José Sarnei Costa. O Costa logo
foi esquecido e o Sarnei, já nos anos 80, ganhou um "y" no lugar do "i".
Dava um ar de certa nobreza.
Na história republicana, não há
personagem que se aproxime do seu perfil. Muitos tiveram poder. Pinheiro
Machado, na I República, durante uma década, foi considerado o fazedor
de presidentes. Contudo, tinha restrita influência na política do seu
estado, o Rio Grande do Sul. E não teve na administração federal
ministros da sua cota pessoal. Durante o populismo, as grandes
lideranças lutavam para deter o Poder Executivo. Os mais conhecidos
(Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, entre outros),
mesmo quando eleitos para o Congresso Nacional, pouco se interessavam
pela rotina legislativa. Assim como não exigiram ministérios, nem a
nomeação de parentes e apaniguados.
Mas com José Ribamar Costa,
hoje conhecido como José Sarney, tudo foi – e é – muito diferente. Usou o
poder central para apresar o "seu" Maranhão. E o fez desde os anos
1960. Apoiou o golpe de 1964, mesmo tendo apoiado até a última hora o
presidente deposto. Em 1965, foi eleito governador e, em 1970, escolhido
senador. Durante o regime militar priorizou seus interesses paroquiais.
Nunca se manifestou contra as graves violações aos direitos humanos,
assim como sobre a implacável censura.
Foi um senador "do sim".
Obediente, servil. Presidiu o PDS e lutou contra as diretas já. No dia
seguinte à derrota da Emenda Dante de Oliveira – basta consultar os
jornais da época – enviou um telegrama de felicitações ao deputado Paulo
Maluf – que articulava sua candidatura à sucessão do general Figueiredo
– saudando o fracasso do restabelecimento das eleições diretas para
presidente. Meses depois, foi imposto pela Frente Liberal como o
candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Democrática. Tancredo
Neves recebeu com desagrado a indicação. Lembrava que, em 1983, em
fevereiro, quando se despediu do Senado para assumir o governo de Minas
Gerais, no pronunciamento que fez naquela Casa, o único senador que o
criticou foi justamente Ribamar Costa. Mas teve de engolir a imposição,
pois sem os votos dos dissidentes não teria condições de vencer no
Colégio Eleitoral.
Em abril de 1985, o destino pregou mais uma
das suas peças: Tancredo morreu. A Presidência caiu no colo de Ribamar
Costa. Foram cinco longos anos. Conduziu pessimamente a transição. Teve
medo de enfrentar as mazelas do regime militar – também pudera: era
parte daquele passado. Rompeu o acordo de permanecer 4 anos na
Presidência. Coagiu – com a entrega de centenas de concessões de
emissoras de rádio e televisão – os constituintes para obter mais um ano
de mandato. Implantou três planos de estabilização: todos fracassados.
Desorganizou a economia do país. Entregou o governo com uma inflação
mensal (é mensal mesmo, leitor), em março de 1990, de 84%. Em 1989, a
inflação anual foi de 1.782%. Isso mesmo: 1.782%!
A
impopularidade do presidente tinha alcançado tal patamar que nenhum dos
candidatos na eleição de 1989 – e foram 22 – quis ter o seu apoio. O
esporte nacional era atacar Ribamar Costa. Temendo eventuais processos,
buscou a imunidade parlamentar. Candidatou-se ao Senado. Mas tinha um
problema: pelo Maranhão dificilmente seria eleito. Acabou escolhendo um
estado recém-criado: o Amapá. Lá, eram 3 vagas em jogo – no Maranhão,
era somente uma. Não tinha qualquer ligação com o novo estado. Era puro
oportunismo. Rasgou a lei que determina que o representante estadual no
Senado tenha residência no estado. Todo mundo sabe que ele mora em São
Luís e não em Macapá. E dá para contar nos dedos de uma das mãos suas
visitas ao estado que "representa". O endereço do registro da
candidatura é fictício? É um caso de falsidade ideológica? Por que será
que o TRE do Amapá não abre uma sindicância (um processo ou algo que o
valha) sobre o "domicílio eleitoral" do senador?
Espertamente,
desde 2002, estabeleceu estreita aliança com Lula. Nunca teve tanto
poder. Passou a mandar mais do que na época que foi presidente. Chegou
até a anular a eleição do seu adversário (Jackson Lago) para o governo
do Maranhão. Indicou ministros, pressionou funcionários, fez o que quis.
Recentemente, elegeu-se duas vezes para a presidência do Senado. Suas
gestões foram marcadas por acusações de corrupção, filhotismo e
empreguismo desenfreado. Ficaram famosos os atos secretos, repletos de
imoralidade administrativa.
O mais fantástico é que em meio
século de vida pública não é possível identificar uma realização, uma
importante ação, nada, absolutamente nada. O seu grande "feito" foi ter
transformado o Maranhão no estado mais pobre do país. Os indicadores
sociais são péssimos. Os municípios lideram a lista dos piores IDHs do
Brasil. Esta é a verdadeira face do poder de Ribamar Costa. Como em uma
ópera-bufa, agora resolveu maquiar a sua imagem. Patrocinou, com
dinheiro público, uma pesquisa para saber como anda seu prestígio
político. Não, senador. Faça outra pesquisa, muito mais barata. Caminhe
sozinho, sem os seus truculentos guarda-costas, por uma rua central do
Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília. E verá como anda sua
popularidade. Tem coragem?
(Publicado em 29.11.2011, em O Globo)
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DA FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
este trabalho foi apresentado na ocasião do
XI Encontro Humanístico da UFMA
FÁBIO
COIMBRA
Instituição: Universidade Federal do
Maranhão
Titulação: Graduando
Endereço: Rua São Pantaleão, 168,
centro, São Luís-Ma
Telefone: (98) 32316666 – (98) 81477904
E-mail: antaresf84@yahoo.com.br
RESUMO
O presente trabalho
tem como pretensão fazer uma reflexão sobre a prática da docência no que diz
respeito ao ensino da filosofia no ensino fundamental. A base sobre a qual esta
pesquisa se erigirá será o pensamento do educador Marcos Antônio Lorieri que
defende o ensino da filosofia como uma necessidade do ensino fundamental. Nesse
sentido, buscar-se-á demonstrar que uma das preocupações desse autor consiste
no fato de que se deve está atento para não retardar a iniciação das crianças e
jovens no ensino da filosofia. Isso, entretanto, constitui apenas um aspecto
parcial de outra preocupação mais ampla que incide em não deixar escapar o
momento essencial ao exercício do filosofar, no qual crianças e jovens
interrogam e levantam questionamentos de natureza diversa. Procurar-se-á demonstra
que o trabalho com a filosofia nesse nível de ensino aparece, portanto, como
uma necessidade, ou – diga-se de passagem – uma oportunidade propícia para
responder as questões feitas pelas crianças e jovens, uma vez que elas têm o
direito às respectivas respostas. Esse momento, certamente, pode ser entendido
como um estágio inicial do processo de aprendizagem, onde deve se explorar ao
máximo a reflexão do aluno, instigar-lhe à argumentação, levá-lo a fazer a crítica,
dentre outros.
Palavras-chaves: Ensino – Filosofia – Ensino fundamental –
Crianças – Adolescentes.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho a ser desenvolvido
aborda como eixo temático a reflexão sobre o ensino da Filosofia no Fundamental.
Este trabalho não tem como proposta, exaurir todos os temas referentes a essa
disciplina nesse nível de ensino, haja vista, a complexidade e extensão do
assunto. O que se busca aqui é demonstra que a filosofia, sem sombra de duvida,
está apita a contribuir relevantemente para a construção, ou – diga-se de
passagem – o progresso, de uma educação mais sólida e eficaz, e que tome como
ponto de partida as bases a fim de atingir o ápice. Essas bases aqui referidas
dizem respeito aos segmentos educacionais que vão do 1º (primeiro) ao 4º
(quarto) ano, e do 5º (quinto) ao 9º (nono), respectivamente. O ápice seria,
então, os mais elevados patamares a que a educação pudesse abiscoitar.
Como fonte principal, tem-se
o livro cujo título lê-se: Filosofia no ensino fundamental, sob autoria de
Marcos Antônio Lorieri. No que tange à construção do conhecimento, a pesquisa
objetiva demonstrar que essa não se dá por uma única via, mas por caminhos
diversos, sob óticas, ou pontos de vista diferentes. Como cada ponto de vista
nada mais é senão a vista a partir de um determinado ponto, a filosofia, nesse
sentido, é uma dessas vias pelas quais o conhecimento se constrói de forma
crítica, rigorosa, investigativa, reflexiva, sistemática e abrangente, conforme
refere o autor aqui explorado.
Sobre a metodologia, a
pesquisa – ancorada em Lorieri – vai demonstrar que a filosofia tem uma maneira
própria de trabalho que lhe distingue das demais disciplinas, e que as
respostas, ou possíveis soluções encontradas, nunca se fecham em si mesmas, mas
mantém -se abertas. Ou seja, a filosofia não isola respostas, isto é, nunca
concebe essas como prontas e, portanto, acabadas. Desse modo, abre caminhos
para a linearidade do pensamento e das atinentes investigações.
2. A FILOSOFIA COMO NECESSIDADE DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Discorrer
sobre o ensino da filosofia no Ensino Fundamental é – sem sombra de duvida – falar
sobre uma necessidade que se impõe sobre a própria realidade do ensino básico,
como no todo, que é a necessidade da formação humana que construa cidadãos e
que erija valores. Nesse sentido, sugerir a filosofia como um processo, ou algo
similar, apto a contribui tanto quanto for possível para o alcance dessa
prerrogativa significa, antes de tudo, visualizar nela aquele potencial
primeiro, em virtude da qual ela si nos apresenta como necessária e não
meramente contingente. Igualmente necessário, é fazer a ressalva de que –
embora a filosofia possua a capacidade de transformar – mesmo assim, ela não é
suficiente para esgotar todos os problemas que se apresentam dada a evolução
gradativa da sociedade, compreendendo-se aqui por evolução os processos ou
quaisquer outros meios possíveis pelos quais uma sociedade ou um povo se
desenvolve para atingir estágios ou patamares cada vez mais elevados.
Cumpre
ressaltar que a filosofia não tem, e nem deve ter, a pretensão de resolver os
problemas do mundo, ou dos seres em particular. O que ela quer sim é despertar
nesses mesmos seres a consciência adormecida que – desse modo – lhes impede de
ver o real tal qual ele é. A filosofia, nessa perspectiva, é, portanto, aquela
atitude de incômodo que os indivíduos costumam ter, dada a sua não aceitação de
tudo aquilo que lhes são impostos pelo mundo, ou pela elite dominante que age
manipulando e submetendo, tudo quanto for possível, aos seus desígnios.
Como
é, de fato, sabido uma sociedade melhor se faz com cidadãos educados. Nesse
contexto, é preciso admitir que a educação vem alume como sendo um dos pilares
centrais sobre os quais se erige uma boa sociedade. Enquanto mais cedo esse
processo for iniciado, melhores serão os resultados e menos dificultoso será o
desenrolar do processo. Nessas circunstancias, os segmentos educacionais do 1º
ao 4º ano e do 5º ao 9º ano que, no todo, compreende o ensino fundamental,
aparece como um espaço eficaz e propicio ao desenvolvimento – no educando –
daquelas faculdades cognitivas, por meio das quais ele possa ser introduzido,
no espírito da ciência e da investigação filosófica, dada a sua pré-disposição
natural para os questionamentos, ou interrogações – combustíveis essenciais
que, se bem aproveitados, levam os educandos a exploração do universo da
ciência, ou conhecimento propriamente dito.
Partindo
do principio de que a aquisição do conhecimento não se dá por via única, mas
por caminhos diversificados, logo, é preciso reconhecer a filosofia como uma
dessas vias de acesso ao conhecimento, tendo como primazia primordial as
interrogações feitas a cerca das coisas. Nesse sentido, Lorieri refere que ela
(a filosofia) “é uma das formas de saber e de conhecimento que os seres humanos
produzem para explicar a realidade da qual fazem parte e a si mesmos, nessa
realidade”.[1] Ou
seja, ao contrário do que muitas pessoas pensam sobre a filosofia, o autor
objetiva mostrar que ela tem uma utilidade prática, sobretudo pelo fato dela
não ser algo imposto sobre o homem, mas uma maneira ou um modo de conhecer
específico que deixa o homem a par de tudo o que lhe circunda.
Por
meio da busca do conhecimento da realidade, em um primeiro momento, para em um
segundo momento, fazer a explicação daquilo que foi conhecido, é que a
filosofia se distingue das demais formas de conhecimento, como por exemplo, o
próprio senso comum.
Talvez,
possamos dizer que a filosofia é diferente das demais formas de conhecimento,
porque ela trabalha principalmente e prioritariamente sobre certas questões,
utilizando uma maneira própria de abordá-las, tendo em vista produção de
respostas que nunca se fecham, porque são continuamente questionadas.[2]
Essa
diferenciação que aqui se observa é constituída, então, em vista da maneira
própria que a filosofia tem de fazer abordagens diversas. Um aspecto importante
a ser assinalado diz respeito ao fato de que o produto dessas abordagens, qual
seja, a resposta, ou a pluralidade dessas, não se fecham em si mesmas. Percebe-se,
desse modo, que no palco das transformações e manifestações de fenômenos de
natureza diversa, a saber, o espaço-tempo, em outros termos, o mundo, não há um
isolamento das respostas às questões suscitadas, mas sim uma linearidade das
mesmas. O que há, pelo contrário, é uma abertura delas para possíveis
modificações cabíveis. Essa abertura das respostas encontradas, de algum modo,
significa que a filosofia não tem como proposta exaurir os diversos ramos de
obtenção do conhecimento, tornando-se, desse modo, fonte única dos mesmos, todavia,
expressa o seu anseio em dialogar com as demais ciências. A filosofia não
almeja, em hipótese alguma, a existência parasitária num mundo em constante
transformação onde tudo se modifica e nada permanece. Entretanto, ela orienta
para os diversos cuidados que o individuo deve tomar frente às ambições e
interesses particulares que se lhe aparece a todo instante.
Em
contrapartida, no que diz respeito ao fato da filosofia ser uma forma de
conhecimento diferente das demais, Lorieri postula que
Talvez
possamos dizer que a filosofia é igual às outras formas de conhecimento, porque
ela é um conjunto de procedimentos da consciência humana que, ordenados de
certa forma, procuram produzir respostas, o mais garantidas possíveis, para
questões com as quais os seres humanos se deparam em suas vidas, ou para
questões que eles se fazem quando se põem a pensar mais atentamente. [3]
Fica
subentendido, portanto, que a filosofia é um processo através do qual,
conscientemente, se busca formular respostas para questões diversas. Como toda
resposta suscita novas questões que instigam a novas respostas, num processo
dialético, torna-se necessário, por via de regra, a capacidade básica de uma
boa argumentação, capaz não somente de estetizar os discursos, mas, sobretudo,
de dirimir as ambigüidades que podem deturpar o conhecimento e, desse modo,
dissimular o real. Por suas grandezas, diversas respostas encontradas acabam
por se converterem em arquétipos de conduta em determinadas sociedade, no seio
das quais elas são produzidas. Entretanto, Lorieri refere que “elas ‘as
respostas’, tornam-se princípios orientadores, ou referencias, ligadas, sempre
a determinados interesses que podem não ser os de todos”.[4]
Daí o cuidado que se deve ter, sobretudo, para distinguir entre o real e o
irreal. É justamente nesse aspecto que a filosofia se torna uma necessidade,
dado o seu caráter crítico, bem como a sua capacidade de transcender as coisas
no aspecto daquilo que elas aparentam ser. Transcender a aparencia significa
justamente migrar para o real; é conhecer a coisa tal qual ela é, tal como ela
não se apresenta. “A esse movimento desafiador e instigador chamamos de
investigação filosófica” [5].
Outro
aspecto relevante que diferencia a filosofia das outras formas de saber, diz
respeito à sua procedência metodológica, onde se observa todo um rigor nas análises
e investigações. Nesse sentido, o autor refere que [...] fazer filosofia é
realizar um processo investigativo reflexivo que seja crítico, rigoroso, profundo
ou “radical”, abrangente, ou que busque totalidades referenciais significativas
[...] [6].
Há, portanto, todo um conjunto de procedimentos que se realizam gradativamente
com o evoluir da investigação. Ou seja, a investigação filosófica se dá em
etapas que se sucedem progressivamente. Esse rigor aqui observado é, sem
duvida, uma das características da filosofia pela qual ela se aproxima da
ciência na medida em que essa também segue certo rigor em sua maneira de
produzir o conhecimento.
3.
A
FILOSOFIA COMO FORMAÇÃO METÓDICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Diante
do caráter investigativo da filosofia, marcado pelo espírito da sistematização,
Lorieri assinala seis quesitos básicos necessários a todo aquele que deseja
entrar para o universo da investigação filosófica.
O
primeiro quesito trata da necessidade das pessoas serem “boas investigadoras.
isto é, que saibam cada vez melhor realizar procedimentos investigativos que
lhes proporcione boas respostas às suas indagações” [7].
Para serem boas investigadoras é necessário também que as pessoas sejam boas
observadoras, bem como questionadoras, dentre outros atributos básicos. No
segundo quesito, o autor mostra a necessidade das pessoas serem “reflexivas,
isto é, que adquiram o hábito de retomar seus pensamentos para os ‘pensar de
novo’ tendo em vista aprimorar melhor o que já está pensado a respeito” [8].
Nesse sentido, ressalta-se a importância de se repensar o já pensado como forma
de pensamento novo. Aqui o grande problema que vem a lume é: como parar para
pensar o já pensado numa sociedade marcada pela pressão exercida sobre o
individuo onde tudo se dá de forma imediata? Entretanto, o autor chama a
atenção para os perigos que se corre ao si tomar certas atitudes irrefletidas.
O terceiro quesito é a “crítica, isto é, ser capazes de por em crise seus achados”.[9]
Nesse ponto, o Lorieri parte do princípio de que é necessário colocar em duvida
todas as certezas já adquiridas. Desse modo, a crítica seria uma espécie de
filtro de purificação do conhecimento. O quarto quesito trata da necessidade
das pessoas serem “rigorosas, isto é, sistemáticas, ordeiras’, ordenadas, ao
menos para aquilo que é importante, porque necessário”.[10]
O quinto, diz que as pessoas precisam ser “profundas, isto é, dispostas a não
parar na superfície dos fatos, das coisas, das situações e, por conseguinte, a
não parar na superfície das análises relativas a tudo”. [11]
Por fim o sexto quesito aponta para a necessidade das pessoas serem
abrangentes, “isto é, não parciais. Todos temos de ver os fatos, as situações,
as coisas, por todos os ângulos, em todas sãs dimensões e em todos os
relacionamentos possíveis”.[12]
Ser abrangente significa também visualizar as coisas como sendo sempre parte de
um todo, ou de uma realidade mais ampla, na qual as coisas mantém uma conexão
“harmoniosa”, onde nada existe isoladamente. É com base na existência dessas
necessidades que se pode concluir pela necessidade da filosofia enquanto
investigação sistemática a cerca de “tudo” o que existe.
No
que diz respeito ao ensino da filosofia no ensino fundamental, ressalta-se a
importância de enquanto mais cedo esse processo for iniciado, melhores poderão
ser os efeitos ou resultados dele advindos. Nesse sentido, Lorieri refere que
Na
proposta de ensino de filosofia para todas as pessoas, desde o mais cedo
possível, é fundamental que todos participem dessa produção tão importante para
suas vidas. Só assim as pessoas aprenderão a avaliar criticamente quaisquer
respostas às questões de fundo que se lhes apresentem e poderão participar da
produção das respostas que lhes sejam verdadeiramente convenientes ou que, ao
menos, assim lhes pareçam pelos argumentos produzidos.[13]
Essa
preocupação em não retardar a iniciação das crianças e jovens no ensino da
filosofia constitui apenas um aspecto parcial de outra preocupação mais ampla
que consiste em não deixar escapar o momento essencial ao exercício do
filosofar, no qual crianças e jovens interrogam e levantam questionamentos de
natureza diversa. O trabalho com a filosofia no ensino fundamental aparece,
portanto, como uma necessidade, ou – diga-se de passagem – uma oportunidade
própria a responder as questões feitas pelas crianças e jovens, uma vez que elas
têm o direito às respectivas respostas. Esse processo vem alume, então, como
parte do processo de aprendizagem no qual todos são ou devem ser iniciados.
Esse momento, certamente, pode ser entendido como um estágio inicial onde deve
se explorar o máximo a reflexão do aluno, instigar-lhe à argumentação, levá-lo
a fazer a crítica, dentre outros. De acordo com o autor, “criança, até bem
pequenas, perguntam muito e, entre suas perguntas, algumas dizem respeito, por
exemplo, ao fato do pensar e da existência das coisas, as situações que
envolvem questões de certo e errado, justo e injusto.” [14]
Daí, a razão pela qual se torna fundamental aproveitar esse momento da vida das
crianças e jovens.
Diante
do exposto acima, cabe ressaltar que o importante aqui é não aceitar, ou ainda,
evitar, que as crianças e jovens – ou seja, a nova geração – tome para si
aquelas respostas que, por outros, já foram constituídas. Para isso, faz-se
necessário pensar numa educação que dentre outras prioridades objetivem a
estimulação para o filosofar. Nas palavras do autor: “é preciso educar
filosoficamente”. [15]
Num sentido mais amplo, educar filosoficamente significa preparar o indivíduo
para que ele participe com eficácia da historia humana, ou da construção dessa.
A iniciação filosófica de crianças e jovens, na medida em que esclarece,
favorece uma maior compreensão. É desse modo que a filosofia contribui para a
formação de uma humanidade mais humanizada.
No
que concerne aos conteúdos, Lorieri alude que
Os
conteúdos da filosofia são temáticas que se apresentam na forma de certas
perguntas e para as quais há diversas respostas, algumas das quais presentes
com mais força no cultural de cada época histórica. Essas temáticas precisam
estar sempre sendo examinadas, avaliadas e, eventualmente, reelaboradas ou
mesmo substituídas.[16]
Obviamente,
o objeto de estudo das ciências humanas é o próprio humano, ou coisas
estritamente relacionadas com ele. É importante lembrar que a mudança, em
sentido geral, é um dos aspectos característicos dessa ciência, assim como de
todas as outras. É com base nisso que o autor chama atenção para o fato, ou a
necessidade de se revisar sempre os temas com os quais se trabalha no ensino
fundamental. O objetivo, da filosofia nesse nível de ensino parece ser,
portanto, “a busca do desenvolvimento do pensamento reflexivo, rigoroso,
profundo abrangente e criativo”. [17]
Os
temas sugeridos por Lorieri são, portanto, a Antropologia filosófica, onde se
estudaria enfaticamente o homem; a Ontologia filosófica, onde se enfatizariam
questões referentes ao mundo; Teoria do conhecimento; Axiologia; Estética e,
por fim, a Lógica, haja vista, essa última, caracterizar-se como sendo o objeto
da filosofia. Para que esses temas sejam bem repassados é necessário que haja
um envolvimento da turma com os mesmo. Esse envolvimento, dos alunos com os
temas é justamente o aquilo que marca, certamente, o início do processo do
filosofar. Nesse sentido, o professor cumpre com um papel primordial, na medida
em que auxilia eficazmente os alunos fazendo as devidas intervenções. De acordo
com o autor,
O
educador deve saber identificar as habilidades que estão sendo exigidas em cada
situação, identificar seu emprego e ser capaz de oferecer mediação educacional
no sentido de estimular o desenvolvimento delas e seu emprego cada vez mais
competente.
De
que os esforços, as interrogações, as curiosidades, dentre outras, dos alunos
são fundamentais para o exercício do filosofar, disso ninguém pode duvidar.
Entretanto, a própria formação do professor aparece aqui nesse contexto como
algo relevante para a realização, a formação, ou construção da sociedade que se
almeja, o mundo que se quer alcançar.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Este
trabalho teve como objetivo primeiro refletir sobre a filosofia no sistema
fundamental de ensino, à luz de Lorieri. Foi visto, então, como a filosofia
pode contribuir para a construção de uma educação melhor. Procurou-se demonstrar
que a filosofia possui uma maneira própria de proceder pela qual ela se
distingue das demais formas de conhecimento. Foi mostrado como e por onde o
professor de filosofia deve proceder em sua tão importante missão. Percebeu-se
também que a filosofia não esgota as questões suscitadas, mas – buscando
resposta e, muitas vezes, encontrando-as – abre caminhos para que as
investigações continuem
Após
todas as reflexões adotadas para a constituição da pesquisa, pode-se dizer que
os fins a que esta se propôs perseguir, foram, sem sombra de dúvida,
alcançados. A pesquisa objetivou, dentre outras pretensões, demonstrar a
importância do ensino da filosofia no ensino fundamental.
ABSTRACT
This work has the intention to reflect on the practice of teaching with respect to the teaching of philosophy in elementary school. The basis on which to erect this research will be thinking of Mark Anthony Lorieri educator who advocates the teaching of philosophy as a need of basic education. Accordingly, it will seek to demonstrate that an author of the concerns is the fact that he is careful not to delay the initiation of children and youth in the teaching of philosophy. This, however, is only a partial aspect of another larger concern which affects not miss the moment essential to the exercise of philosophy, in which children and young people raise questions and interrogate varied. Search will show that working with the philosophy that level of education appears, therefore, as a necessity, or - tell by the way - a propitious opportunity to respond to questions asked by children and young people, once they have the right to their responses. That moment can certainly be understood as an initial stage of learning where it should exploit to the maximum reflection of the student, you instigate the argument, take him to criticize, among others.
Keywords: Education - Philosophy - Elementary - Children - Adolescents.
REFERÊNCIA
LORIERI, Marcos Antônio. Filosofia no ensino fundamental.
São Paulo: Cortez, 2002. (coleção docência em filosofia)
KOHAN, W. Omar, LEAL,
Bernardino, RIBEIRO, Álvaro. Filosofia
na escola pública. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
GEYER, Clóvis. A Pequena Grande Marília. Ed. 7.
Florianópolis: Sophos, 2009.
[1] LORIERI, Marcos Antônio. Filosofia
no ensino fundamental. São
Paulo: Cortez, 2002. p. 13.
[2] Id. Ibidem, p. 35.
[3] Id. Ibidem, p. 34.
[4] Id. Ibidem, P. 36.
[5] Id. Ibidem, P. 35.
[6] Id. Ibidem, p. 35.
[7] Id. Ibidem, p. 37.
[8] Id. Ibidem, p. 37.
[9] Id. Ibidem, p.38.
[10] Id. Ibidem, p. 38
[11] Id. Ibidem, p. 39.
[12] Id. Ibidem, p. 39.
[13] Id. Ibidem, p. 41.
[14] Id. Ibidem, p. 42.
[15] Id. Ibidem, p. 44.
[16] Id. Ibidem, p. 51.
[17] Id. Ibidem, p. 53.
A CRISE DA ÉTICA CONTEMPORÂNEA NO PENSAMENTO DE ALASDAIR MACINTYRE E A PROPOSTA DE RETORNO A ARISTÓTELES: UM DUELO COM HABERMAS
Trabalho apresentado na ocasião do
XI Encontro Humanístico da UFMA
FÁBIO COIMBRA
Instituição: Universidade Federal do
Maranhão
Titulação: Graduando
Endereço: Rua São Pantaleão, 168,
centro, São Luís-Ma
Telefone: (98) 32316666 – (98) 81477904
E-mail: antaresf84@yahoo.com.br
RESUMO
A
pesquisa em questão discorre sobre a crise da ética contemporânea no pensamento
de MacIntyre fazendo um contraponto com o pensamento de Habermas. O objetivo a
que se aspira aqui consiste em esclarecer que os dois filósofos têm projetos de
pesquisa diferenciados, e especificar quais são esses projetos. Se por um lado
MacIntyre – diagnosticando o problema ético da contemporaneidade – propõe um
retorno às tradições morais de pesquisa racional como remédio para os males da
ética moderna e contemporânea, por outro Habermas, cujo pensamento se insere no
contexto da virada lingüística do século XX, propõe a ética do discurso como
meio para a construção de uma sociedade eticamente melhor na medida em que o
paradigma da comunicação representa, por excelência, a possibilidade através da
qual os indivíduos podem chegar a um consenso. A hipótese aqui levantada é a de
que ambos os projetos possuem relevância para a compreensão da ética e da moral
moderna, sendo, portanto, descabido exaltar um em detrimento do outro.
Palavras-chave:
MacIntyre
– Habermas – Tradição – Linguagem – Pesquisa
1.
MACINTYRE
E A PROPOSTA DE RETORNO AS TRADIÇÃO
Em sua análise da sociedade
moderna e contemporânea, herdeira da tradição iluminista, MacIntyre se depara
com uma crise de valores éticos, históricos e culturais. Nesse contexto, a sua
intenção consiste primordialmente numa busca do entendimento desse fenômeno
para, em seguida, pensar a solução mais viável possível para a solução desse
problema. Cumpre ressaltar que o que norteia o pensamento desse filósofo é a
proposta de retorno às tradições morais de pesquisa racional, especificamente a
tradição aristotélica. A proposta de retorno a Aristóteles se deve ao fato de
que MacIntyre vê nesse filósofo a conjugação perfeita da tríade virtude – ética – racionalidade. No
estagirita, há uma complementação desses elementos um por parte do outro numa
relação indissociável. Na modernidade, uma das razões para a crise ética que ai
se instala se deve, principalmente, em decorrência da cisão entre esses ideais
(virtude, ética e racionalidade).
Em principio, MacIntyre se
dá conta de que o problema decorrente do rompimento entre a modernidade,
iniciada pelos ideais iluministas, e a tradição de pensamento antigo e medieval,
se deve, sobretudo, ao abandono dos ideais éticos, tão valorizados no contexto
das tradições, as quais possuem seus próprios padrões de racionalidade que, à
sua vez, implicam num tipo de progresso que ela (tradição) faz. Do progresso
que as tradições fazem, também resulta o acréscimo de confiança nelas,
sobretudo, quando elas dão conta de solucionar as questões que lhes são postas.
É no sentido do uso fragmentado dos ideais tradicionais que MacIntyre se dá
conta de que a modernidade e a tradição têm projetos de pesquisa diferentes. E
a partir daí percebe que os problemas da contemporaneidade, que decorrem dessa
cisão, podem ser solucionados caso haja uma retomada dos elementos tradicionais
de pesquisa racional. E é justamente essa a razão pela qual ele propõe o
retorno à tradição.
Dado que MacIntyre vê em Aristóteles
a referência fundamental da ética e do modelo de racionalidade tradicional,
ele, então, defende uma retomada da ética aristotélica que preza pelas virtudes,
as quais passam a constituir um tema fundamental no seu pensamento. É
importante assinalar que na conjuntura do pensamento de MacIntyre, a virtude
não deve ser concebida como algo linear no sentido de não sofrer nenhuma
modificação do meio, ou do conjunto dos acontecimentos próprios de um contexto
social. Pelo contrário, ela está – diga-se de passagem – estritamente
relacionada com a mentalidade da época, e muda na medida em que a mentalidade e
os acontecimentos mudam também. Assim, por exemplo, no período clássico a
virtude era definida na polis. Nesse período (clássico), com as transformações
que vieram a ocorrer, ocorreu também uma mudança nas virtudes. É importante
também lembrar que a virtude muda de um lugar para outro. Por exemplo, se em
Atenas a virtude do cidadão era a educação, em Esparta vai ser a disposição e
robustez do indivíduo para a guerra. Ou seja, a virtude dos indivíduos de uma
determinada época está em constante harmonia com os ideais, ou objetivos que a
sua sociedade se põe a perseguir, e que como tais constituem, ou representam a
totalidade do projeto dessa sociedade.
Outro ponto de destaque no
contexto da reflexão de MacIntyre sobre as virtudes é a noção de virtude como telos. Significa isto que a virtude deve
ser pensada como meio. Entretanto, como medial, a virtude deve ser meio apenas
para a escolha das ações retas, escolhas essas que devem ser próprias dos
agentes virtuosos. Nesse sentido, agir virtuosamente pode até ser entendido
como agir pelas paixões, mas, somente se essas forem educadas pela razão, isto
é, pela própria virtude por intermédio da qual se dá a escolha racional.
Percebe-se aqui que agir virtuosamente é agir baseado na razão. Em suma, pode
se conceber em MacIntyre as virtudes como sendo as qualidades imprescindíveis
que viabilizam ao indivíduo o alcance de determinadas metas.
Outra questão relevante à
compreensão do pensamento de MacIntyre em matéria do que aqui está sendo
tratado diz respeito à complementaridade que há entre virtude e lei, as quais se
configuram no pensamento desse autor como constitutivos parciais de uma
determinada sociedade. Nesse contexto se dá também a reflexão sobre a justiça,
cuja virtude vem a lume como critério necessário para a aplicação da lei. Nesse
sentido, a função da virtude consiste na superação dos males, sobretudo
daqueles que corrompem as instituições, as quais, uma vez corrompida, se tornam
corruptoras. Cumpre ressaltar que a corrupção das instituições é, por excelência,
causa dos vícios, e jamais das virtudes. Daí a necessidade de se conservar
estas e banir aquelas (as ações viciosas). Desse modo, em MacIntyre, há uma
precedência da virtude. Ou seja, a virtude é a primeira exigência para a
construção de boas instituições que, sendo boas, podem constituir uma sociedade
sadia. Assim, o conjunto das praticas em sua integridade requer o exercício da
virtude. É importante assinalar que a falta de justiça não corrompe apenas as
instituições, mas, também as tradições. Logo, é a prática das virtudes que
equilibra as relações entre as tradições e as instituições. Na ausência desse
princípio (virtude), essa relação tende a certa tensão. Às dificuldades daí
decorrentes se adiciona os conflitos de uma tradição com outra tradição. Ao
conjunto, ou à soma desses problemas se diz que constitui assim os conflitos externos
de uma determinada tradição. Uma das razões desses conflitos externos decorre
do fato de que toda tradição está sempre em contradição com alguma coisa. Alem
desses, há também os conflitos internos das tradições. Entretanto, cumpre
ressaltar que tanto os conflitos externos, quanto os internos não constituem,
por si só, razões suficientes para que o abandono à tradição venha a ocorrer.
Pois, uma tradição (de pesquisa racional) é também um paradigma, ao qual não há
como se abandonar se não há outro para se assumir.
Uma terceira questão
fundamental à compreensão da crise ética da contemporaneidade em MacIntyre diz
respeito à perda da historicidade que ainda estava presente na ética anterior
(aristotélica), perda essa que se deveu, especificamente, ao advento da
modernidade. E é justamente nesse aspecto que no pensamento do filósofo a moral
moderna estava fadada à falência. E isso constituía diretamente um reforço à
proposta de retorno a Aristóteles.
Pode-se dizer, em suma, que é
a partir da crítica ao iluminismo [quando do seu fracasso] que MacIntyre opera sua
critica a modernidade. E é pela via da crítica à modernidade, que ele se volta
para as tradições morais de pesquisa racional, como lugar possível onde a
racionalidade dos fins pode encontrar o seu lugar sem ser dissolvida pela
instrumentalidade de uma vontade arbitrária, tal como a partir do iluminismo.
Nesse contexto, pode-se dizer que MacIntyre centra, parcialmente, a sua tese na
análise do fracasso do projeto iluminista de uma ética autônoma, fracasso esse que
se deveu, sobretudo, ao abandono dos ideais tradicionais de pesquisa racional
que incorporavam – simultaneamente à racionalidade – a ética, a prática das
virtudes e a historicidade. Ou seja, com o iluminismo houve uma cisão,
especificamente, entre ética e racionalidade, seguindo-se essa e abandonando-se
aquela. Nesse sentido, MacIntyre propõe uma retomada da ética aristotélica das
virtudes como solução possível para o problema ético da contemporaneidade. Aqui
cabe destacar que na concepção aristotélica, a virtude só era possível a partir
de uma determinada forma de vida. Nesse contexto, o filósofo propõe uma ética
como fim. Na visão de MacIntyre, a idéia de virtude como telos, já que em Aristóteles há uma teleologia, só poderá subsistir
a partir de uma comunidade que assegure aos seus próprios membros papeis
compreensíveis no âmbito de pesquisa racional. Assim, pode-se argumentar que o
que caracteriza a ética de MacIntyre é o fato de que, primeiro, ele faz um diagnostico
da modernidade e da contemporaneidade nas quais vê uma desordem em se tratando
de teorias e práticas morais, desordem essa que resulta como herança do
fracasso do projeto iluminista; e, segundo, dada essa diagnosticação, ele se
pretende, então, como médico do cenário cultural e ético moderno e contemporâneo.
E, como médico, o seu medicamento é um retorno a ética das virtudes tal como em
Aristóteles. Ou seja, MacIntyre está propondo um retorno às tradições morais de
pesquisa racional, especificamente a tradição aristotélica.
2.
A
PERSPECTIVA HABERMASIANA
Em princípio, pode-se dizer
que o que define a ética contemporânea pensada por Habermas, é a rejeição dos
referencias históricos até então fundamentos para o pensamento ético. Esses
referenciais, que se constituem em uma tríade, deixada na lateral pelo pensador
alemão, são – segundo Jacqueline Russ – primeiro, “a ciência como ideologia
[...]; o discurso como ‘modernista’ [...]; e a metafísica [...]”. [1]
Essa rejeição a esses referenciais históricos, como a metafísica, demarca com
clareza o conflito entre Habermas e outros pensadores como, por exemplo,
MacIntyre, o qual defende um retorno à tradição como cura para os males éticos
da contemporaneidade. Na concepção de Habermas, não há nenhuma necessidade de
se usar a metafísica como fundamentos para a ética contemporânea.
Cumpre aqui salientar que o
entendimento do pensamento habermasiano, no que diz respeito ao assunto
tratado, só pode ocorrer com o máximo de clareza possível na medida em que se
considera e se entende também o universo da filosofia contemporânea marcada por
seus problemas e complexidades. A abordagem ética de Habermas está situada no
contexto da virada lingüística do século XX. A compreensão desse evento,
juntamente com a totalidade dos problemas que ela suscita, é que constituem,
portanto, a chave para a compreensão do pensamento ético desse autor. Nesse
contexto, a lingüística e, portanto, o mundo da linguagem, constitui o pano de
fundo fundamental sob o qual se destacará grande parte (ou talvez a maior
parte) dos problemas filosóficos dessa época. Embora a virada lingüística tenha
se dado somente no século XX, a linguagem, como tal, já se constituía como
fundamento da filosofia no século XIX. A importância da linguagem, nesse sentido,
reside no fato de que é ela que diz ou determina o que as coisas são. Portanto,
pode-se dizer que o universo fundamental no qual se desenvolve o pensamento
ético de Habermas é o da filosofia da linguagem. É nesse contexto que ele situa
a ética no campo do discurso e da comunicação, não perdendo de vista a racionalidade,
sendo essa a razão pela qual ele vai falar de uma racionalidade comunicativa. Com
a abordagem Habermasiana, a comunicação ocupa lugar de destaque no cerne da
contemporaneidade. E é ancorado no
protótipo da linguagem que Habermas recusa o retorno aos pressupostos
filosófico-históricos, como a metafísica. Ou seja, em Habermas o que norteia a
ética é o paradigma da comunicação. Uma das características da comunicação é
que ela visa ao diálogo entre os sujeitos. Esse diálogo também se traduz na
decifração de signos que se expressam na comunicação por meio da linguagem.
Cumpre ressaltar também que
Habermas é crítico da mentalidade positivista de inspiração kantiana. Essa
crítica do filósofo reside no fato dele não conceber as normas como a priori à consciência dos membros de
uma determinada sociedade, tal como ocorre em Kant. O que Habermas propõe, em
contraposição, é que as normas sejam construídas no seio da sociedade por meio,
exclusivamente, da racionalidade discursiva. Ou seja, a instituição das normas
deve ser precedida pelo diálogo entre os integrantes de um determinado grupo. A
tendência do diálogo é chegar a um consenso, o qual se traduz em normas que,
não obstante, se universalizam. É dessa maneira, portanto, que se dá a
instituição das normas via capacidade discursiva. É também desse modo que
Habermas parece postular uma dissolução da oposição entre moralidade e
legalidade. A moralidade, que pertence à esfera do Estado, não pode está em
oposição à legalidade porque o que é legal é, agora, fruto de um consenso entre
os membros do Estado. Portanto, se a moral é a maneira como o Estado se
organiza para administrar a conduta dos indivíduos – ao contrário da ética que
é individual e está ligada a princípios de conduta pessoa –, esses (os
indivíduos) à sua vez, participam dessa organização por meio do discurso. É
nesse sentido que Habermas fala da ética do discurso, ou seja, um universo onde
tudo está ligado à comunicação, à linguagem. A linguagem – que serve para o
entendimento – por sua vez, só se dá numa relação interpessoal, discursiva e de
consciência. Como tal ela representa o único meio pelo qual os indivíduos podem
chegar ao consenso sem o uso da violência. Ou seja, somente a fala – ou em
termos habermasiano, o agir comunicativo – pode gerar o consenso isento de
coação. A linguagem também representa a própria condição de possibilidade da
racionalidade, dado que é por meio dela (linguagem) que se pode expressar o
pensamento que é, por excelência, a atividade da razão, embora nem todo
pensamento seja racional. Portanto, na ética habermasiana nada depende de uma
razão pré-estabelecida. Pelo contrário, tudo é construído gradativamente por
meio da linguagem, ou seja, do discurso.
Outra questão relevante que
merece destaque é a relação entre Direito e Moral. A Moral, em Habermas, está
associada ao Direito. Essa relação se dá pelo fato de que enquanto o Direito
determina as normas (mas, passando antes pela via discursiva para chegar a um
consenso), a moral caracteriza a ação do Estado para, a partir de tais normas,
reger o funcionamento da sociedade. Nesse contexto, o princípio moral também
opera na constituição interna de uma determinada argumentação. E nesse sentido,
para Habermas, direito e moral se desenvolve num viés congenial. E desse modo,
a relação entre ambos se torna relevante.
ABSTRACT
The research in
question talks about the
crisis of ethics in contemporary thought MacIntyre
making a contrast
with the thinking of Habermas. The goal aspired to here
is to clarify that the philosophers
have two different research projects, and specify what those projects. On
the one hand MacIntyre - the ethical problem of diagnosing contemporary - proposes a return to moral
traditions of rational inquiry
as a remedy for the ills of modern and contemporary ethics, Habermas on the other, whose
thinking is in the context of the
linguistic turn of the twentieth century,
discourse ethics proposes as a means for building a better society
ethically as it represents
the paradigm of communication par excellence, the possibility through
which individuals can reach a consensus. The
hypothesis raised is that both
projects have relevance to
the understanding of ethics and modern morality, therefore, inappropriate to
exalt one over
the other.
Keywords: MacIntyre - Habermas
- Tradition - language – Research
REFERÊNCIA
CARVALHO,
Helder Buenos Aires de. Asladair
MacIntyre e a proposta de retorno às tradições morais de pesquisa racional. In:
OLIVEIRA, Manfredo Araujo de (Org.) Correntes
fundamentais da ética contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2000.
RUSS,
Jacqueline. Pensamento ético
contemporâneo. São Paulo: Paulus, 1999. In: Studium São Basílio Magno: Instituto de Filosofia, Ética II,
Curitiba, 2007.
HABERMAS,
Jürgen. Consciência moral e agir
comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1989. In: Studium São Basílio Magno: Instituto de
Filosofia, Ética II, Curitiba, 2007.
[1] Cf. Russ, Jacqueline. Pensamento ético contemporâneo. São
Paulo: Paulus, 1999. In: Studium São
Basílio Magno: Instituto de Filosofia, Ética II, Curitiba, 2007. p. 143.
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