SOBRE A RAZÃO E A CIÊNCIA
O que é a razão – Definição de razão –
Onde está a reta razão – O uso da razão – Do erro e do absurdo – Causas do
absurdo – Ciência – Prudência e sapiência, e diferença entre ambas – sinais da
ciência
- Raciocinando alguém, nada mais faz do que
conceber uma soma total, a partir da adição de parcelas, ou conceber um resto a
partir da subtração de uma soma por outra [...]. (p. 39).
Aqui
já se percebe que como, em Hobbes, a razão se liga ao calculo, tal como na
matemática, por exemplo.
- Os escritores de política adicionam em
conjunto pactos para descobrir os deveres dos homens. Os juristas somam leis
fatos para descobrir o que é certo e é errado nas ações dos homens privados. [...]
seja em que matéria for que houver lugar
para a adição e para subtração, há também lugar para a razão. Onde aqueles não
tiverem o seu lugar, também a razão nada tem a fazer. (p. 39).
Hobbes
assinala, portanto, que razão e calculo caminham juntos mantendo, por conseguintes
uma relação inseparável.
- Razão
[...] nada mais é do que cálculo, isto é, adição e subtração das conseqüências
de nomes gerais estabelecidos para marcar e significar nossos pensamentos. [...] marcar quando calculamos para nós
próprios, e significar quando demonstramos ou aprovamos nossos cálculos para os
outros homens. (p. 39).
Aqui Hobbes demonstra bem claramente o sue
conceito de razão, algo que anteriormente ele já vinha demonstrando
indiretamente. Para ele, a razão é calculadora, dado que tem a função de
calcular seja por meio das palavras, tal como se pode ver na lógica, ou por
meio de números, como se pode observar na matemática. Quando esse cálculo é
para o próprio sujeito que calcula, diz-se que a razão marca. Quando, porém,
esse cálculo visa demonstrar ou provar os o que se calculou para outra pessoa,
diz-se que ele serve para significar. (p. 39).
- [...]
quando há controvérsia a propósito de um cálculo as partes têm de, por acordo
mútuo, recorre a uma razão certa, à razão de algum arbitro, ou juiz, a cuja
sentença se submetem, a menos que sua controvérsia se desfaça e permaneça indecisa por falta de uma razão
certa constituída pela natureza. (p. 40).
Neste
ponto, Hobbes já chama a atenção para a figura do rei soberano, que é tido como
referência para a resolução de problemas que os indivíduos por si mesmos não
conseguem chegar a um consenso. A esse soberano todos os súditos se submetem
enquanto houver divergência entre eles. Como juiz constituído pela vontade de
todos, a última palavra é dada, então pelo rei.
- O uso e finalidade da razão não é descobrir
a soma e a verdade de uma, ou várias conseqüências, afastadas das primeiras
definições, e das estabelecidas significações de nomes, mas começar por estas e
seguir de uma conseqüência para outra. (p. 40).
A
razão deve tomar como ponto de partida, portanto, a definição e a significação
dos nomes.
- [...] o erro é apenas uma ilusão, ao
presumir que algo aconteceu, ou está para acontecer, acerca do que, muito
embora não tivesse acontecido, não existe, contudo, nenhuma impossibilidade
aparente. (p. 41).
O
erro significa, portanto, uma não correspondência à determinadas expectativas.
- Os homens todos, por natureza, raciocinam de
forma semelhante, e bem, quando têm bons princípios. (p. 43).
Ter
bons princípios é o que faz com que haja semelhança de raciocínio entre os
homens.
- [...] a razão não nasce conosco como a
sensação e a memória, nem é adquirida apenas pela experiência, como a
prudência, mas obtida com esforço, primeiro por meio de uma adequada imposição
de nomes, e em segundo lugar por intermédio de um método bom e ordenado de
passar dos elementos, que são nomes, a asserções feitas por conexão de um deles
com o outro, e daí para os silogismos, que são as conexões de uma asserção com
outra, até chegar ao conhecimento de todas as conseqüências de nomes referentes
ao assunto em questão. A isso os homens chamam ciência. [...] a ciência é o
conhecimento das conseqüências [...]. (p. 43).
A
razão, em Hobbes, não se trata de algo inato, mas algo que se adquire a partir
das experiências que o indivíduo vai realizando no seu processo de
desenvolvimento enquanto ser vivo. Um bom método para o alcance da razão se
torna algo indispensável. O ponto de partida ruma a esse empreendimento é
constituído pela imposição de nomes que o individuo deve colocar nas coisas
marcando assim a sua definição, bem como o seu significado. O objetivo de tudo
isso é a aquisição do conhecimento, ou ciência das coisas.
- [...] as crianças não são dotadas de razão
nenhuma até que atinjam o uso da linguagem, mas são denominadas seres racionais
devido a aparente possibilidade de terem o uso da razão na sua devida altura.
(p. 43).
Hobbes
postula que o que torna possível o alcance da razão é a linguagem. Somente por
meio desta é que homem pode alcançar aquela.
- [...]
a luz dos espíritos humanos são as palavras claras, meridianas, mas
primeiramente limpas por meio de exatas definições e purgadas de toda
ambigüidade. A razão é o passo, o
aumento da ciência o caminho, e o beneficio da humanidade é o fim. De outro
lado, as metáforas e as palavras ambíguas e destituídas de sentido são como
ignes fatui, e raciocinar com elas é o mesmo que perambular entre inúmeros
absurdos. (p. 44).
Percebe-se
a insistência de Hobbes em defender que o ponto de partida rumo a aquisição do
conhecimento verdadeiro, consiste na previa definição das palavras. É
justamente essa clareza de definição que guia o espírito humano na busca pela
ciência. A razão e a ciência são coisas diferentes, entretanto, é por meio de
uma que se chega ao alcance da outras. O percurso é este: por meio da linguagem
se chega à razão e por meio dessa, que consiste no estabelecimento de
definições e significações precisas para as palavras, é que se chega ao alcance
da ciência.
- Uns
certos e infalíveis, outros incertos, assim são os sinais da ciência. Certos
quando aquele que aspira à ciência de alguma coisa sabe ensinar a matéria, isto
é, demonstrar sua verdade de maneira perspícua a alguém. Incertos quando apenas alguns eventos
particulares correspondem à sua pretensão e em muitas ocasiões se revelam da
maneira que ele diz que deviam acontecer. (p. 44).
Há,
portanto, dois sinais da ciência: os falíveis e os infalíveis. Os primeiros
consistem na demonstração correta daquilo a que se pretende ensinar. Os
segundos são aqueles que se realizam apenas parcialmente, isto é, em certos
aspectos.
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