SOBRE
A CONSEQÜÊNCIA OU CADEIA DE IMAGINAÇÕES
Cadeia
dos pensamentos não-orientados – Cadeia dos pensamentos regulados – Lembrança –
Prudência – Sinais – Conjectura do tempo passado
- Entendo por conseqüência, ou cadeia de
pensamento, a sucessão de um pensamento a outro, que se denomina, para se
distinguir do discurso em palavras, discurso mental. (P.
26).
O discurso mental ocorre quando os
pensamentos se sucedem continuamente. É dessa maneia que se dá a distinção entre
o concreto e o abstrato no que diz respeito ao discurso.
- Assim como não temos uma imaginação da
qual não tenhamos tido antes uma sensação, na sua totalidade ou em parte, do
mesmo modo não temos ligação de uma imaginação a outra se não tivermos tido previamente
o mesmo nas nossas sensações. A razão disto é a seguinte: todas as ilusões são
movimentos interiores, vestígios daqueles que foram produzidos nas sensações;
aqueles movimentos que imediatamente se sucedem uns aos outros na sensação continuam
também juntos depois da sensação. (P. 26).
A imaginação é sempre posterior à
sensação. Só podemos imaginar coisas se tivermos sido previamente afetados por
elas. Para que possa haver uma ligação entre as imaginações, é preciso que as
sensações que o individuo experimenta também passe por um processo de
articulação, caso contrário, não haverá não poderá haver harmonia, ou conexão
das mesmas. Depois das sensações há uma continuidade dos movimentos que as
geraram.
- Diz-se que os pensamentos vagueiam e
parecem impertinentes uns aos outros [...] o homem pode, muitas vezes, perceber
o seu curso e a dependência de um pensamento em relação a outro. (P.
27).
Essa
dependência de um pensamento em relação a outro, explica-se pelo fato de que
ele (pensamento) é sempre resultado de um processo que resulta da relação dos
objetos com os indivíduos onde, dado o movimento exterior, esses passam a ser
atingidos por aqueles.
- A impressão feita por aquelas coisas
que desejamos, ou receamos, é forte e permanente, ou, quando cessa por algum
momento, é de rápido retorno. [...] Do desejo surge o pensamento de algum meio
que vimos produzir algo semelhante àquilo que almejamos [...]. (P.
27).
A sensação é mais forte por aquilo
que se deseja ou se receia. É do desejo pela posse de algo, que vem o
pensamento dos meios, ou tudo aquilo que pode contribuir para o alcance da
coisa desejada. (P. 27).
- [...] em todas as nossas ações devemos
olhar muitas vezes para aquilo que queremos ter, pois desse modo concentramos o
nosso pensamento na forma de atingir o objetivo. (P.
27).
O pensamento deve ser guiado na
direção daquilo a que se pretende alcançar. Nesse sentido, o próprio pensamento
é meio, que articula ou calcula os caminhos necessários a aquisição de
benefícios individuais.
- De duas espécies é a cadeia de pensamentos
regulados: uma, quando a partir de um efeito imaginado, procuramos as causas ou
meios que os produziram, e esta espécie é comum ao homem e a todos os animais;
a outra é quando, imaginando seja o que for, procuramos todos os possíveis efeitos
que podem por intermédio dessa coisa ser produzidos ou, em outras palavras,
imaginamos o que podemos fazer com ela, quando a tivermos. Desta espécie só
tenho visto indícios nos homens, pois se trata de uma curiosidade pouco provável
na natureza de qualquer ser vivo [...]. (P. 28).
As duas espécies de pensamento
estão, portanto, na ordem inversa uma da outra: uma parte dos efeitos para as
causas, e a outras, das causas para os efeitos.
- Algumas vezes o homem deseja conhecer o
motivo de uma ação. Pensa em alguma ação semelhante no passado, e no sequenciamento
delas, passo a passo, supondo que acontecimentos semelhantes se devem seguir a
ações semelhantes. (P. 28).
Há, portanto, uma tendência para a
generalização das causas a partir da observação de acontecimentos passados. Entende-se
a partir dai que existe uma repetição de tanto de causas como de efeitos, ainda
que isso se dê de forma diferente, ou sob um novo aspecto.
- A esse tipo de pensamento se chama previsão,
prudência ou providência, e algumas vezes sabedoria, embora tal conjetura,
devido a dificuldade de observar todas as circunstâncias, seja muito enganosa. Porém
isto é certo: quanto mais experiência das coisas passadas tiver um homem, tanto
mais prudente é, e suas previsões raramente falham. (P. 28-29).
Essa forma de conhecimento que
Hobbes trata ainda hoje é usada em grande medida, entretanto, há falhas nesse
conhecimento que aqui vêm a ser esclarecidas, como, por exemplo, o não poder
observar as circunstâncias em sua totalidade. De qualquer forma, não se pode
desprezar o conhecimento de um homem que se guia pela observação e experiências
passadas.
- O melhor profeta naturalmente é o melhor adivinho,
e o melhor adivinho é aquele mais versado e erudito nas questões que adivinha,
pois tem maior número de sinais pelos quais se guiar. Um sinal é o evento
antecedente do conseqüente, e contrariamente, o conseqüente do antecedente,
quando conseqüências semelhantes foram anteriormente observadas. (P. 29).
A observação é o elemento central
para aquele que busca adivinhar coisas diversas. A observação também é uma característica
da ciência e, principalmente, as ciências planetárias. Nesse sentido, há um a
aproximação entre o comum e o científico.
- No entanto, não é a prudência que
distingue os homens dos animais. Há animais que com um ano observam mais e
alcançam aquilo que é bom para eles de maneira mais prudente do que jamais uma
criança poderia fazer com dez anos. (P. 29).
- Assim como a prudência é uma suposição do
futuro, tirada da experiência dos tempos passados, também há uma suposição das
coisas passadas tiradas de outras coisas, não futuras, mas também passadas.
(P. 29).
Para as coisas as quais não se teve
a oportunidade de experienciá-las supõem-se, por meio da imaginação, causas
oriundas de tempos mais remotos ainda. E nisto aumenta o perigo de se conceber
o que, de fato, não foi concebido, ou seja, inventar, ou acrescentar na
história dos acontecimentos algo que não ocorreu.
- O que imaginarmos será infinito. Portanto,
não existe qualquer idéia ou concepção de algo que possamos denominar infinito.
Nenhum homem pode ter em seu espírito uma imagem de magnitude infinita, nem
conceber uma velocidade infinita, um tempo infinito, ou uma força infinita ou
um poder infinito. Quando dizemos que alguma coisa é infinita, queremos apenas
dizer que não somos capazes de conceber os limites e fronteiras da coisa
designada, não tendo concepção da coisa, mas de nossa própria incapacidade.
(P. 30).
Não
há, portanto, uma negação do infinito, mas de nossa capacidade de concebê-lo. Isso
leva a questionar sobre a segurança dos conhecimentos adquiridos pela
experiência e pela extensão máxima que os sentidos podem alcançar, isto é, até
aonde eles podem chegar.
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