Bibliografia
PASCAL, George. O pensamento de Kant. Petrópolis: vozes, 1985.
- O que conduziu Kant à idéia crítica
não foi a rejeição das conclusões metafísicas, e sim a consciência da incerteza
dessas conclusões, e da fraqueza dos argumentos em que assentavam. P. 29.
- Nas declarações do próprio Kant, foi
a leitura de Hume que lhe fez compreender a necessidade de repensar toda a
metafísica.
Confesso abertamente haver sido a advertência
de David Hume que, já la vão muitos anos, pela primeira vez me despertou de meu
sono dogmático e incutiu a minha pesquisa no domínio da filosofia especulativa,
orientação inteiramente diferente (Prolegomenos, prefácio, trad. De A. P de
Carvalho, com. Edit. Nasc., SP, 1959, p. 28).
(p. 29-30)
- A noção de crítica não se trata,
evidentemente, de fazer o processo da razão assim como o faria uma crítica
cética e destrutiva. Trata-se de um exame critico da razão, isto é, de um exame
crítico que tem por fim – e tal é o sentido etimológico da palavra crítica – de
discernir ou distinguir o que a razão pode fazer e o que é incapaz de fazer. A
preocupação crítica consiste, essencialmente, em não se dizer mais do que se
sabe. Tal fora a preocupação de Sócrates, cuja ironia visava dissipar as
aparências de um saber falso. Tal fora também a preocupação de Descartes, que
tencionava chegar a verdade pela duvida. P. 32
- “não
entendo com isso uma crítica dos livros e dos sistemas, mas a da faculdade da
razão como tal, em relação a todos os conhecimentos a que esta possa aspirar
independentemente de toda experiência e, por conseguinte, a decisão sobre a
possibilidade ou impossibilidade de uma metafísica em si, bem como a
determinação tanto das fontes quanto dos limites da mesma; e tudo isso a partir
de princípios.” P. 33.
- o método kantiano denominar-se
método reflexivo. Com efeito, é refletindo sobre os conhecimentos racionais que
nós possuímos, que Kant tentará obter uma idéia precisa da própria natureza da
razão. E a reflexão nada mais é senão aquele movimento pelo qual o sujeito, a
partir de suas próprias operações, se volta sobre si mesmo. A análise reflexiva
está, pois, ligada à idéia crítica. P. 33.
- a metafísica procura estender o
nosso conhecimento a domínios situados para alem da experiência, o que equivale
a dizer que as noções metafísicas, são noções a priori, e como tais conduziram
a todas as contradições do dogmatismo. P. 35.
- quando Galileu ou Torricelli, em
lugar de se guiarem docilmente pela experiência, acumulando observações esparsas,
começaram a interrogar a natureza segundo as exigências da razão, logrando
assim descobrir-lhes as leis, eles se deram conta de que “a razão não percebe
senão aquilo que ela mesma produz segundo seu próprio objeto”. P. 35.
- a revolução copernicana de Kant é a
substituição, em teoria do conhecimento, de uma hipótese idealista à hipótese
realista. P. 36.
- o realismo admite que uma realidade
nos é dada, quer seja de ordem sensível (para os empiristas) , ou de ordem
inteligível (para os racionalistas), e que o nosso conhecimento deve modelar-se
sobre essa realidade. Conhecer nessa hipótese significa registrar o real, e o
espírito é meramente passivo. P. 36.
- já o idealismo supõe ao contrário,
que o espírito intervém ativamente na elaboração do conhecimento, e que o real,
para nós, é resultado de uma construção. O objeto, tal como o conhecemos, é, em
parte, obra nossa e, por conseguinte, podemos conhecer a priori, em relação a
todo objeto, os característicos que ele recebe de toda a nossa faculdade cognitiva.
“não conhecemos a priori nas coisas senão
a quilo que nós mesmos nelas colocamos”. P. 36.
- importa precisar, agora, a própria
noção de a priori, e para tantos a que distinguir, em nosso conhecimento dos
objetos, duas classes de elementos: os que dependem do próprio objeto e
constituem a matéria do conhecimento; e os que dependem do sujeito, e constituem
a forma do conhecimento. P. 36.
- conhecer é da forma a uma matéria e
a matéria é claro que é a posteriori, e a forma é a priori. Com efeito, a matéria
do conhecimento é variável de um objeto a outro, visto depender do objeto; mas
a forma, sendo imposta ao objeto pelo sujeito seria reencontrada
invariavelmente em todos os objetos por todos os sujeitos. P. 36.
- existem pois conhecimentos a priori
e conhecimentos a posteriori. Com efeito, de todo objeto a ser conhecido, nós
sabemos a priori que será conforme as formas que o espírito lhe impõe no ato de
conhecer; do contrário, não conheceríamos. E o que é mais dispomos de um
critério infalível para distinguir esses conhecimentos a priori dos
conhecimentos a posteriori; a priori é toda proposição universal e necessária.
“a necessidade e a universalidade
rigorosa são, pois, indicações certas de um conhecimento a priori, e ademais,
são inseparáveis”. P.37.
- a experiência nos permite constatar
que uma realidade nos é dada de tal ou tal maneira; mas não nos diz por que ela
nos é dada assim, e não de outra maneira; por isso a experiência não pode dar
origem senão a proposições contingentes. Uma proposição necessária – isto é,
uma proposição cujo contrário é impossível – não pode basear-se senão nas leis
da razão. “a experiência nos ensina que
uma coisa é isto ou aquilo, mas não que tal coisa pode ser de outro modo”.
P. 37.
- se nos ativermos à experiência, não
poderemos enunciar proposições universais; a nossa certeza, com efeito, limita-se
aos casos que podemos constatar, e só por um processo totalmente arbitrário
poderíamos passar de uma afirmação geral válida para a maioria dos casos a uma
afirmação universal Válida para todos os casos: “a universalidade empírica não
passa de uma extensão arbitrária de valor”. P. 37.
- portanto a razão é a fonte única de
proposições universais e absolutamente necessárias. E inversamente não haveria
proposições universais e necessárias, isto é, a priori, se a razão não fosse,
por si mesma, fonte do conhecimento. P. 37.
- os conhecimentos da matemática e da
física são verdadeiramente conhecimentos de modos a porem de acordo os
espíritos, coisas que as proposições metafísicas não conseguem. Para se
compreender essa diferença, mister se faz, distinguir os juízos analíticos dos
juízos sintéticos.
ANALÍTICO: é o juízo que se limita a explanar um conceito, a analisar-lhe o
conteúdo, sem fazer apelo a qualquer elemento novo; o predicado nesse caso é
extraído do sujeito por simples analise.
SINTÉTICO: ao
contrário, é um juízo cujo predicado acrescenta alguma coisa ao conceito do
sujeito. Já não se trata de uma simples análise do sujeito, pela qual se
descobrisse um predicado, mas de uma verdadeira síntese de um sujeito e de um
predicado. P.38.
- todo
juízo de experiência é sintético, porque a experiência nos ensina a acrescentar
certos atributos aos nossos conceitos. Os juízos analíticos, ao invés, são a
priori, pois não há nenhuma necessidade de recorrer à experiência. Para
determinar o que penso num dado conceito. P. 38.
- por
forma devem entender-se os quadros universais e necessários através dos quais o
espírito humano percebe o mundo; são como outros tantos óculos sem os quias
nada conseguiríamos ver. P. 40.
- “o objeto é aquilo em cujo conceito se
encontra reunida a multiplicidade de uma intuição dada.” P. 41.
- as
formas a priori da sensibilidade, ou intuições puras são o espaço e o tempo.
Quer dizer: espaço e tempo são os modos próprios ou característicos pelos quais
o espírito vê ou percebe as coisas; são os quadros ou moldes universais e
necessários nos quais se inserem as intuições empíricas (cores, sabores,
sentimentos etc.). P. 41.
- o
espaço é a forma do sentido externo, e a forma do sentido interno:
necessariamente percebemos as coisas no espaço, e o nosso estado de alma no
tempo. P. 41.
- um
conhecimento é transcendental quando concerne à nossa maneira de conhecer a
priori os objetos. P. 43.
- na introdução
da primeira edição da Crítica da Razão Pura, lia-se a definição seguinte: “chamo
transcendental a todo conhecimento que se ocupa, não propriamente com objetos,
mas, em geral, com a nossa maneira de conhecer objetos, enquanto esta deve ser
possível a priori”. P. 43.
-
transcendental se opõe a empírico. P. 43.
- “por
idéia entendo um conceito racional necessário, ao qual não pode corresponder nenhum
objeto dado pelos sentidos. P. 44.
- contra o empirismo, Kant afirma que: “intuições sem conceitos são cegas”.
P. 45.
- contra o racionalismo Kant afirma que: “pensamentos sem conteúdos são vazios”.
P. 46.
-
“àquilo que no fenômeno, corresponde à sem sensação eu chamo de matéria do
fenômeno; mas ao que faz com que o múltiplo do fenômeno possa ser organizado em
certas relações, chamo de forma do fenômeno. P. 49.
- o
espaço e o tempo, com efeito, são as formas em cujo interior se ordena a
multiplicidade conhecida pela sensação. P. 50.
- o
espaço é a forma do “sentido exterior”
propriedade que tem nosso espírito de nos representar objetos como existentes
fora de nós;
- o
tempo é a forma do “sentido íntimo” propriedade que tem nosso espírito de
perceber-si a si mesmo intuitivamente, ou, com mais exatidão, o que equivale a
dizer que todo objeto fora de nós situa-se no tempo. É por meios de relações
espaciais que nós representamos os objetos externos, e é por meio de relações temporais
que nós representamos os estados internos ao que se deve acrescentar que “o
tempo não pode ser intuído exteriormente, assim como o espaço não pode ser como
algo sem nós”. P. 50-51.
- Kant mostra que o espaço e o tempo dependem
unicamente da forma de nossa intuição, da constituição subjetiva de nosso
espírito. P. 51.
- o
espaço não pode ser um conceito formado a partir da experiência exterior, visto
como, ao contrário, toda experiência exterior supõe o espaço. P. 51.
- o
espaço é a priori, por que a sua representação é a própria condição da
possibilidade dos fenômenos. Com efeito, pode-se conceber um espaço em que não
houvesse objeto algum, mas não se pode perceber um objeto fora do espaço. P.
51.
- “o
espaço é uma representação necessária a priori, que serve de fundamento a todas
as intuições exteriores”. P. 52.
- o
espaço só pode ser uma intuição, visto conter em si uma multidão infinita de
representações, o que seria impossível se fosse um conceito, que é apenas a
representação do caráter comum de uma multidão infinita de representações
possíveis. P. 52.
- “o tempo não é apenas um conceito empírico
extraído de alguma experiência”. P. 55.
- “o
tempo é uma representação necessária que serve de fundamento a todas as
intuições”. P. 55.
- os
fenômenos podem desaparece, não, porém, o próprio tempo. Tudo se passa no
tempo, mas o tempo não passa. O tempo é, pois, dado a priori. P. 55.
- não
se podem conceber tempos diferentes senão como partes de um mesmo tempo. P. 55.
- dizer
que nós conhecemos as coisas assim como nos aparece, e não como são em si
mesmas, não é dizer que as coisas que conhecemos sejam meras aparências. P. 58.
- “o
fenômeno é algo que não se encontra no objeto em si mesmo, mas sempre na
relação do objeto ao sujeito, e que é inseparável da representação do primeiro”.
P. 59.
- para
todo conhecimento se exige que os conceitos se tornem sensíveis, juntando-lhes
o objeto dado na intuição, e as
intuições se tornem conceitos inteligíveis, submetendo-as a conceitos.
Sensibilidade e entendimento são, assim, igualmente necessários; na verdade são
inseparáveis. Cada uma das duas faculdades nada é sem a outra: “nenhuma dessas
propriedades é preferível à outra. Sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria
dado, e sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdos são
vazios; intuições sem conceitos são cegas”. P. 60.
- a
lógica transcendental é, pois uma lógica das formas do entendimento enquanto
estas são constitutivas da experiência. P. 61.
- o
entendimento é uma faculdade cognitiva não-sensível, isto é, uma faculdade de
conhecer por meio de conceitos. P. 63.
- “o
entendimento em geral pode ser representado como uma faculdade de julgar”.
P. 63.
-
pode-se dizer, pois, que pensar é julgar, quer dizer, estabelecer relações
entre representações, reduzi-las à unidade. P. 63.
-
categorias são condições subjetivas do pensamento. P. 66.
- toda
ligação é um ato de entendimento, pois os dados sensíveis, em si mesmos, são
pura multiplicidade. P. 67.
-
podemos chamar de síntese ao ato pelo qual o entendimento efetua uma ligação
numa multiplicidade dada. P. 67-68.
- toda
análise supõe uma síntese previa: o entendimento não pode separar senão aquilo
que previamente ligou. P. 68.
- o
conceito de ligar implica o conceito de unidade; não se pode conceber uma
ligação de elementos múltiplos, amenos que se conceba esta multiplicidade como
uma unidade: “a ligação é a representação da unidade sintética do múltiplo. P.
68.
-
conceber um objeto é reduzir à unidade e à identidade à multiplicidade e a
diversidade das aparências: “o objeto é aquilo em cujo conceito se
unifica o múltiplo de uma intuição dada”. P. 69.
- as
categorias são efetivamente as condições sem as quais não poderíamos conhecer
um objeto, isto é, que elas se referem necessariamente e a priori a objetos de
experiências, pois, é somente por meio delas que um objeto de experiência pode
ser pensado. P. 70.
- “a
categoria não tem outro uso, para o conhecimento das coisas, senão o de
aplicar-se a objetos de experiência”. P. 71.
-
pensar um objeto, e conhecer um objeto, não é, pois, a mesma coisa. Para o
conhecimento, com efeito, requerem-se dois elementos: primeiro, o conceito,
pelo qual, em geral, um objeto é pensado (a categoria) e, segundo, a intuição
pela qual ele é dado. P. 72.
- todo
conhecimento supõe intuições e conceitos; assim se justifica a celebre fórmula,
já citada mais acima: “intuições sem conceitos são cegas; conceitos sem matéria
são vazios”. Retomando a comparação evocada a propósito das intuições puras, diremos:
se o espírito é como um olho, a que as formas a priori servem de óculos, o olho
nada mais vê senão através dos seus óculos; sem estes, ele é cego, mas os
óculos só lhe sevem para ver o que é exterior a eles. P. 72.
- o
principio supremo de todos os juízos sintéticos é, pois: que todo objeto está
sujeito às condições necessárias da unidade sintética do múltiplo da intuição
no seio de uma experiência possível. P. 76.
-
princípios do entendimento ou princípios a priori são as proposições que não
derivam da experiência e as quais, todavia, toda experiência deve conformar-se,
sob pena de não ser, para nós, algo que possamos conhecer. P. 76.
- “todas
as intuições são grandezas extensivas”. P. 77.
- Kant
chama extensiva à grandeza onde a representação das partes torna possível a
representação do todo. P. 77.
- as
categorias da qualidade correspondem às antecipações da percepção que se
enunciam assim: “em todos os Fenômenos, o real que é um objeto de sensação, tem
uma grandeza intensiva, isto é, um grau”. P. 78.
- por
grandeza intensiva deve entender-se um grau de influência sobre os sentidos, e
por antecipação, um juízo que fazemos sobre os objetos da experiência, anteriormente
à nossa percepção dos mesmos. P.
- as
analogias da experiência correspondem às categorias da relação, tem como
principio geral: a experiência só é possível pela representação de uma ligação
necessária das percepções e das aplicações particulares a cada categoria. P.
78.
- aqui
já não se trata de axiomas, nem de antecipações, pois o que está em jogo não é
a própria natureza dos fenômenos, mas a sua própria existência no tempo. As
analogias não passam de regras que determinam as relações entre os fenômenos
num tempo [...]. P. 78.
-
possível é aquilo que pode ser. P. 81.
- o
idealismo dogmático de Berkeley declara ser impossível a existência de objetos
exteriores no espaço. O idealismo problemático de Descartes sustenta, apenas,
que a existência dos objetos no espaço é indemonstrável e que não podemos ter
outra certeza, salvo a de nossa própria existência. P. 82.
- para
refutar essa tese é preciso mostra que a própria experiência interior só é
possível sob a condição de experiência exterior. Kant enuncia o teorema
seguinte: “a simples consciência, mas empiricamente determinada, de minha própria
consciência prova a existência de objetos exteriores no espaço e fora de mim”.
P. 82.
- “o
que
chamo númeno não dever, pois, ser entendido senão em sentido negativo”.
P. 85.
- o
númeno é aquilo que sou incapaz de conhecer, visto que possuo apenas intuições
sensíveis, mas nenhuma intuição intelectual. Mas o númeno é também aquilo que
me impede de contentar-me com a experiência, com o sensível; o fato de a
intuição ser única para nós, não significa que as coisas em si mesmas estejam
sujeitas às condições da intuição sensível: "nosso entendimento recebe
assim uma extensão negativa; que dizer: não é ele que é limitado pela
sensibilidade, mas ao contrário é ele que a limita chamando de númeno as coisas
em si.” P. 85.
- a
dialética é uma lógica da aparência, em oposição à analítica, que é uma lógica
da verdade. P. 86.
- todo
nosso conhecimento começa pelos sentidos, donde passa ao entendimento para
terminar na razão, acima da qual nada há em nós de mais elevado para elaborar a
matéria da intuição e reduzi-la a mais alta unidade do pensamento. P. 87.
- se o
entendimento pode ser definido como a faculdade de reduzir os fenômenos à
unidade por meio de regras, a razão é a faculdade de reduzir à unidade as
regras do entendimento sob certos princípios. P. 87.
- “por
idéia entendo um conceito necessária da razão a que não se pode dar um objeto
congruente nos sentidos”. P. 88.
- o
conceito é uma ligação do múltiplo dado numa intuição sensível. P. 88.
- a PSICOLOGIA RACIONAL pretende fazer-nos
conhecer a natureza do sujeito. Suas proposições determinam a alma do ponto de
vista das relações: a alma é uma substancia pensante; [...] a existência da
alma é mais certa que do corpo. P. 90.
- a
psicologia racional por definição não pode apoiar-se em nenhuma experiência,
isto é, em nenhuma determinação do sentido íntimo. P. 91.
- “o
mundo tem um começo no tempo, e é também limitado no espaço”. P. 93.
- Kant
distingue no homem um caráter empírico e um caráter inteligível. Pelo caráter
empírico fazemos parte da natureza, e os nossos atos estão sujeitos ao
determinismo universal; pelo caráter inteligível, escapamos ao mundo dos
fenômenos e somos livres. P. 98.
- não é
em relação à necessidade, mas em relação à liberdade que devemos julgar os
nossos atos, e é assim que, de fato, os julgamos. P. 98.
- uma
mentira, por exemplo, sempre aparecerá como necessária se levarmos em conta os
antecedentes do individuo que mente as circunstâncias do ato, etc. ainda assim
o mentiroso é objeto de censura. P. 98.
- esta
censura se funda numa lei da razão, considerando-se a razão como uma causa que
poderia e deveria ter determinado a conduta do homem, independentemente de
todas as condições empíricas indicadas. P. 98.
- o
ideal é o ser individual, conforme a idéia; assim, a sabedoria é uma idéia, o
sábio é um ideal. P. 99.
- o que
importa é somente a regra pela qual o homem pauta sua ação. P. 114.
- não é
o objeto que desejo atingir que faz o valor moral do meu ato, mas a razão pela
qual quero atingir. P. 114.
- o
dever é a necessidade de cumprir uma ação por respeito à lei. P. 114.
- é,
pois, somente a representação da lei num ser racional, que pode determinar a
boa vontade. P. 115.
- a
obediência à lei deve independer do conteúdo da lei. P. 115.
- é,
por conseguinte, a simples conformidade com a lei em geral que constitui o
princípio de uma boa vontade. P. 115.
-
quando se trata de valor moral, o que importa não são as ações exteriores que
se vêem, mas os princípios internos da ação que não se vêem. P. 117.
- a
vontade, com efeito, é a faculdade de agir segundo certas regras. P.
119.
- há um
conflito entre a razão e a sensibilidade na determinação da vontade. A vontade
não obedece a razão salvo se for constrangida por ela, e não naturalmente como
o faria se fosse pura. É por esse motivo que as leis da razão se apresentam
como mandamentos, como imperativos. P. 120.
- [...]
podem distinguir duas classes de imperativos: os imperativos hipotéticos e os
imperativos categóricos. Aqueles nos apresentam uma ação como necessária para
alcançar certo fim. Estes nos propõem uma ação como necessária em si mesma,
incondicionalmente. P. 120.
- a
habilidade dita regra, a prudência da conselhos, a moralidade impõe mandamentos
ou leis. P. 120.
-
Rousseau entendia por república um estado em que o “o povo, submisso às leis deve ser o autor das mesmas”. (O Contrato
Social). P. 125.
- a
ação é moral quando é conforme a legislação que unicamente torna possível um
reino dos fins. P. 125.
- o que,
afinal, torna uma vontade boa? É absolutamente boa uma vontade que não pode
ser má, portanto, aquela vontade, cuja máxima, quando convertida em lei
universal, não pode jamais contradizer-se a si mesma. P. 126.
- a lei
moral não teria sentido se o homem não fosse livre, e é isso o que se costuma
exprimir com as palavras. Essa lei moral ,se existe, deve ser formulada assim:
“age de modo tal que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo
como princípio de uma legislação universal. P. 129.
- “a
autonomia da vontade é o princípio único de todas as leis morais e dos deveres
[...]. P. 130.
- o
principio da moralidade é a independência da vontade em relação a todo objeto
desejado, isto é, de toda matéria da lei, e a possibilidade da mesma vontade
para determinar-se pela simples forma da lei. P. 130.
- o
sentido de respeito é, pois, o efeito positivo da lei moral considerada como
princípio determinante da nossa vontade. P. 135.
- só há
respeito onde há luta ou esforço em demanda do bem. P 136.
- a
liberdade pratica, diz Kant, “é a independência da vontade em relação a toda
outra lei que não seja a lei moral. P. 137.
- assim
se explica o arrependimento: sejam quais forem as circunstancias que me
impeliram a proceder mal, sempre me julgo responsável pelo mal que pratiquei.
P. 138.
- as
duas grandes escolas morais da antiguidade, a estóica e a epicurista, adotaram
o principio comum da identidade da felicidade com a virtude, mas divergiram no
modo de concebê-la: “o epicurismo dizia: ter consciência de sua máxima como
conduzente à felicidade, eis o que é a virtude; o estoicismo: ter consciência
de sua virtude, eis a felicidade”. P. 140.
- a
felicidade é a condição de um ser racional no mundo, para o qual no curso inteiro
de sua existência, tudo transcorre consoante aos seus desejos e suas vontades.
P. 142.
- a
felicidade supõe o acordo entre a ordem da natureza, os desejos do homem e a
lei moral. P. 142.
- “a
lei moral não é propriamente a doutrina que nos mostra como devemos tornar-nos
felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade. Somente quando a
isso se adicionar a religião, sobreviverá também a esperança de participarmos
um dia da felicidade na medida em que tenhamos tratado de não sermos indignos
dela. P. 143.
- o
homem não pode ser moral, ou por outra, realizar o bem supremo, a menos que
seja livre. P. 143.
- o bem
supremo só é possível na suposição da imortalidade da alma. P. 143.
- a
virtude exige, antes de mais nada, o domínio de si. P. 146.
- a
virtude pressupõe necessariamente, a apatia. P. 146.
- “o
princípio moral segundo o qual o dizer a verdade é um dever, se for tomada
absoluta e isoladamente, tornaria impossível toda a sociedade.
É um
dever dizer a verdade. O conceito de dever é inseparável do conceito de
direito. Um dever é aquilo que corresponde em um ser aos direitos de outro.
Onde não há nenhum direito não há deveres. Por conseguinte dizer a verdade é um
dever, mas somente com relação àqueles que têm direito a verdade. Nenhum homem,
porem, tem direito a verdade que prejudica os outros. P. 150.
- “mentira:
é uma declaração intenciona não verdadeira feita a outro homem, e não há
necessidade de acrescentar que deva prejudicar outra pessoa, como exigem os
juristas na definição que delam expressam”. P. 150.
- “ser
verídico em todas as declarações é um sagrado mandamento da razão”. P. 151.
- “a
veracidade é um dever que deve ser considerado a base de todos os outros
deveres a serem fundados num contrato”. P. 151.
- “o
direito nunca deve ser adaptado à política, mas a política é que deve sempre
ajustar-se ao direito. P. 153.
- Kant
distingue três faculdades essenciais na alma humana: a faculdade cognitiva, o
sentimento do agrado e do desagrado, e a faculdade apetitiva. P. 157.
- “o
gosto é a faculdade de julgar um objeto ou um modo de representação mediante um
agrado ou um desagrado, sem qualquer interesse, o objeto de um tal agrado
chama-se belo”. P. 160.
- “é bom
aquilo que através da razão agrada por simples conceito”. P 161.
- “belo
é o representado como objeto de uma satisfação universal e sem conceito”.
P. 161.
- é
belo aquilo que é reconhecido sem conceito como objeto de uma satisfação
necessária. P. 164.
Analítica do sublime
-“chamamos
sublime ao que é grande absolutamente”. P. 166.
- ou
ainda: “sublime é aquilo que, pelo fato mesmo de se poder concebê-lo, demonstra
uma faculdade do espírito que transcende toda medida dos sentidos”. P.
166.
- a
razão concebe o absoluto quando, aos olhos da imaginação na ordem da natureza
tudo é relativo. P. 167.
- há
sublimidade na medida em que nos sentimos capazes de sobrepujar a natureza,
tanto em nós como fora de nós. P. 168.
- para
se poder falar de um fim verdadeiramente natural, é preciso que a coisa seja
causa e efeito de si mesma, em outras palavras, a harmonia que se pode
encontrar na natureza é dos seres orgânicos: “as coisa, enquanto fins naturais
são seres organizados.” P. 172.
- “um
produto organizado na natureza é um produto em que tudo é fim e meio,
reciprocamente”. P. 173.
- o mal
se origina de um conflito entre a sensibilidade e a razão. Mais exatamente, ele
é fruto de um desequilíbrio, de uma inversão da ordem moral dos motivos. P 179.
- o
homem é mau quando subordina a lei moral aos motivos da sensibilidade.
P. 179.
-
antepor as paixões à razão: eis o mal. Este mal é radical, pelo fato de
perverter o fundamento de todas as máximas de nossas ações e por ser
inexterminável. P. 179-180.
- Adão
pecou quando, na máxima de sua ação, subordinou a lei aos impulsos sensíveis; e
isso com liberdade. É o que a escritura quer exprimir quando mostra Adão e Eva
sucumbidos. P. 180.
- a
formação moral do homem não deve começar pela melhoria dos costumes, mas pela
reforma de mentalidade e pela fundação de um caráter. P. 181.
-
reforma interior e uma saída do mal e um ingresso no bem; é a deposição do
homem velho e o revestimento do novo. [...] Kant define a religião de um ponto
de vista subjetivo como “o conhecimento de todos os nossos deveres como
mandamentos divinos.” P. 184.
- para
Kant, superstição religiosa é a loucura de crer que, pelos atos religiosos do
culto, se possa fazer algo pela própria justificação perante Deus. P. 189.
- “os
alunos devem ir à escola não para aprender pensamento, mas para aprender a
pensar e a conduzir-se. Isto é, fazer da lucidez uma virtude e da recusa de
enganar-se um meio de sabedoria”. P. 191.
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