sábado, 27 de outubro de 2012

O TELESCÓPIO ESPACIAL "HUBBLE"




Telescópio Hubble


O TELESCÓPIO ESPACIAL "HUBBLE"

Prof. Renato Las Casas (29/06/98)

fonte: http://www.observatorio.ufmg.br/hubble.htm

      Imaginado nos anos 40, projetado e construído nos anos 70 e 80 e em funcionamento desde 1990, o Telescópio Espacial "Hubble" está revolucionando a Astronomia, representando nos dias de hoje aquilo que a luneta de Galileo representou no século XVII. O Observatório Astronômico da Serra da Piedade vem acompanhando o trabalho do "Hubble" e nos primeiro sábados de cada mês, dia em que o observatório é aberto ao público, vem sistematicamente apresentando as mais significativas descobertas do "Hubble" no mês anterior.

A MAIS ANTIGA DAS CIÊNCIAS
      Astronomia e Matemática são as mais antigas das ciências e foram fundamentais na formação e no desenvolvimento das civilizações. Foi observando a repetitividade das posições das estrelas no céu, por exemplo, que as mais antigas civilizações descobriram as épocas certas para efetuarem as plantações necessárias às suas manutenções. Na antiguidade o conhecimento astronômico evoluiu de forma a muitas vezes surpreender o estudioso contemporâneo. Em 273 antes de Cristo, por exemplo, um grego de nome Erastóstenes, com base em conhecimentos astronômicos, não apenas sabia que a Terra é esférica como foi capaz de medir a sua circunferência e errou muito pouco nessa medida. Erastóstenes mediu 39.690 km, enquanto hoje sabemos ser esse 40.057 km.

A LUNETA DE GALILEO
      Nunca, entretanto, a Astronomia havia evoluído tanto em tão pouco tempo, quando do advento da luneta de Galileo. Lentes para ajudar idosos ou jovens com problemas nas vistas em suas leituras já eram conhecidas na Europa desde o século XIII. A primeira combinação de lentes em um instrumento "tipo telescópio" foi feita na Holanda, em 1608, destinada à melhor observação de óperas. No ano seguinte Galileo Galilei tendo tomado conhecimento desse invento, modificou-o, tendo para isso de construir ele próprio as suas lentes. Estava assim inventada a sua famosa luneta. Com ela, imediatamente, Galileo descobriu que a Lua tinha montanhas, vales e crateras; que o Sol tinha manchas; que Vênus tinha fases como a Lua; etc. Foi com base em suas descobertas com a sua Luneta que Galileo pode afirmar que os planetas giravam em torno do Sol e não em torno da Terra.

A IMPORTÂNCIA DO HUBBLE
      A grande importância do Telescópio Espacial Hubble (nome dado em homenagem ao astrônomo norte-americano Edwin Powell Hubble que viveu de 1889 a 1953) está no fato de ele estar colocado no espaço, fora da atmosfera da Terra. A luz dos astros para chegar a ele não precisa passar por nossa atmosfera. Toda informação que obtemos de um astro está na luz que vem deles. A atmosfera sempre "some" com parte dessa informação e é por isso que os observatórios astronômicos profissionais sempre são construídos em locais bem altos. Mesmo assim um telescópio "de solo" somente conseguirá momentaneamente uma resolução de imagem superior a 1,0 segundo de arco, isso em condições atmosféricas extremamente adequadas à observação. Com essa resolução somos capazes de ver uma bola de futebol a 51,5 km de distância. A resolução do Hubble é cerca de 10 vezes melhor, ou seja, de 0,1 segundo de arco. Com essa resolução e com a ajuda de  técnicas de reduções fotográficas feitas por computador, podemos distinguir separadamente objetos suficientemente brilhantes a até menos de dois metros de distância um do outro, como os dois faróis de um carro que estivesse na Lua.

COMO É O HUBBLE
      A "potência" de um telescópio está na quantidade de luz que ele pode receber instantaneamente de um objeto. Quanto maior o diâmetro de um telescópio, maior a sua "potência". O Hubble é um telescópio refletor (seu elemento óptico principal é um espelho) com 2,40 metros de diâmetro. Se fosse um telescópio de solo ele seria considerado de porte médio. (Os 2 maiores telescópios do mundo estão no observatório de Mauna Kea no Havaí e têm 10 metros de diâmetro cada. Existem 28 telescópios maiores que o Hubble, espalhados pelo mundo, em funcionamento.) Mais que um telescópio, o Hubble é um verdadeiro observatório espacial, contendo instrumentação necessária a vários tipos de observação. (Contém 3 câmeras, 1 detector astrométrico e 2 espectrógrafos). Além de fotografar os objetos e medir com grande precisão suas posições, o Hubble é capaz de "dissecar" em detalhes a luz que vem deles. O Hubble está em uma órbita baixa, a 600 km da superfície da Terra e gasta apenas 95 minutos para dar uma volta completa em torno de nosso planeta. A energia necessária para o seu funcionamento é coletada por 2 painéis solares de 2,4 x 12,1 metros cada. A sua massa é de 11.600 kg.

O HUBBLE TEVE QUE USAR ÓCULOS
      Colocado em órbita em abril/90, logo em seguida foi detetado um grave defeito em sua óptica. O Hubble não era capaz de focar os objetos, principalmente os mais fracos, com a precisão planejada e desejada. Esse defeito foi "diagnosticado" como aberração esférica; uma distorção óptica causada por uma forma incorreta de seu espelho principal. Perto das bordas a curvatura desse espelho estava menor que deveria por uma quantidade cerca de 1/50 da espessura de um fio de cabelo humano. Trocar o espelho seria algo caro e difícil. A solução adotada foi a de projetar uma óptica corretiva para seus instrumentos. Essa óptica foi instalada com grande sucesso em dezembro/93.

OBJETIVOS
      Os objetivos do Hubble podem ser resumidos como sendo: Investigar corpos celestes pelo estudo de suas composições, características físicas e dinâmica; Observar a estrutura de estrelas e galáxias e estudar suas formação e evolução; Estudar a história e evolução do universo. Para atingir seus objetivos a pesquisa do Hubble é dividida em Galáxias e Aglomerados; Meio Interestelar; Quasares e Núcleos Ativos de Galáxias; Astrofísica Estelar; Populações Estelares e Sistema Solar.


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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

FICHAMENTO DO TEXTO "AS TRANSFORMAÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS, ECONÔMICAS E POLÍTICAS"



Bibliografia
LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, J. Ferreira de, TOSCHI, M. Seabra. Educação escolar: políticas, estruturas e organização. São Paulo: Cortez, 2003. – (Coleção Docência em Formação / coordenação Antonio Joaquim Severino, Selma Garrido Pimenta) 

1.     Revolução tecnológica: impactos e perspectivas. P 59.
Inicialmente, buscaremos compreender em que consistem as transformações técnico-científicas. P 59.
Os estudiosos do assunto mencionam essas transformações com diferentes denominações, tais como Terceira revolução industrial, revolução cientifica, revolução informacional, revolução informática, era digital, sociedade técnico-informacional, sociedade do conhecimento ou, simplesmente, revolução tecnológica. P 59.
Boa parte dos autores leva a crer que as mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais e educacionais decorrem da aceleração das transformações técnico-científicas. P 59.
A ciência e a técnica estariam assumindo o papel de força produtiva em lugar dos trabalhadores, já que seu uso, cada vez mais intenso, faria crescer a produção e diminuiria significativamente o trabalho humano. P 59.
As transformações técnico-científicas resultam da ação humana concreta, ou seja, de interesses econômicos conflitantes que se manifestam no Estado e no Mercado, pólos complementares do jogo capitalista. P 60.
Essas transformações refletem a diversidade e os contrastes da sociedade e, em decorrência, o empreendimento do capital em controlar e explorar as capacidades materiais e humanas de produção e riqueza. P 60.

Uma tríade revolucionária: a energia termonuclear, a microbiologia e a microeletrônico. P 60
Essa tríade aponta em grande parte, os caminhos do conhecimento e as perspectiva do desenvolvimento da humanidade. P 60.
A revolução tecnológica, ou Terceira revolução industrial é marcada, entre outras, pela energia termonuclear. P 60.
A energia termonuclear é responsável pelos avanços da conquista espacial, alem de constituir importantes fontes de alternativa de energia. Seu uso no sec. XX esteve em grande parte a serviço da moderna técnica de guerra, trazendo graves conseqüências e grandes riscos. P 60-61.

Revoluções científicas e tecnológicas da modernidade. P 61.
(do século XVIII ao século XXI)
PRIMEIRA REVOLUÇÃO CINTÍFICA E TECNOLÓGICA. P 61.
(segunda metade do século XVIII)
- Nasce na Inglaterra, vinculada ao processo de industrialização, substituição e produção artesanal pela fábrica. P 61
- Caracteriza-se pela evolução da tecnologia aplicada à produção de mercadorias, pela fabricação do ferro como matéria prima, pela invenção do tear e pela substituição da força humana pela energia e maquina a vapor, criando as condições objetivas de passagem de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial. P 61.
SEGUNDA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA. P 61
(segunda metade do século XIX)
- Caracteriza-se pelo surgimento do aço, da energia elétrica, do petróleo e da indústria química e pelo desenvolvimento e pelo desenvolvimento dos meios de transportes e comunicação. P 61.
- Intensifica ainda mais a divisão técnica do trabalho, ao mesmo tempo em que promove sua padronização e desqualificação. P 62.
- Faz surgir as escolas industriais e profissionalizantes (escolas técnicas), bem como o operário-padrão. P 62.
TERCEIRA REVOLUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA. P 62.
(segunda metade do século XX)
- Tem por base, sobretudo, a microeletrônica, a cibernética, a tecnotrônica, a microbiologia, a biotecnologia, a engenharia genética, as novas formas de energia, a robótica, a informática, a química fina, a produção de sintéticos, as fibras óticas, os chips. P 62
- Acelera e aperfeiçoa os meios de transporte e as comunicações. P 62.
- torna a gestão e a organização do trabalho mais flexíveis e integradas globalmente. P 62.
A revolução da microbiologia é responsável, também, por grandes avanços e perigos para a vida humana e do planeta. De um lado, o conhecimento genético dos seres vivos permite a produção de plantas e de animais melhorados para o combate à fome e à desnutrição etc. De outro, há o risco de produção artificial de seres vivos. P 63.
A revolução da microeletrônica, por sua vez, é que mais facilmente pode ser sentida e percebida. Estamos rodeados de suas manifestações no cotidiano, mediante: a) objeto de uso pessoal, como agendas eletrônicas, calculadoras, etc.; b) utensílios domésticos, como geladeiras, televisores etc.; c) serviços gerais – terminais bancários de auto-atendimento, jogos eletrônicos etc. [...] essas manifestações, bem como a introdução de permanentes artefatos no cotidiano de vida das pessoas, vem promovendo alterações nas necessidades, nos hábitos, nos costumes, na formação de habilidades cognitivas e até na compreensão da realidade (realidade virtual). P 63.
A vedete dessa revolução é, certamente, o computador. Para muitos ele constitui a maior invenção do século já que seu fascínio, seu aperfeiçoamento e sua utilização não parecem ter limites. P 63.
O computador tem ainda em seu favor o fato de ter se tornado sinônimo de modernização, de eficiência e de aumento da produtividade em um mundo cada vez mais competitivo e globalizado. P 64.
No mundo inteiro, vem decrescendo o trabalho humano na agricultura, em razão do processo de “tecnologização” e da modernidade da produção. [...] por isso, os trabalhadores do campo tornam-se, em grande parte, desnecessários ao processo de produção capitalista, sendo substituídos pelas ciências e pelas técnicas. Assim, enquanto a revolução tecnológica cria as condições para o aumento da produção de alimentos e para a grande diminuição do trabalho manual-assalariado, agrava-se o problema do desemprego no campo, como demonstra o MST. P 64.
No campo da indústria, as modificações do processo de produção são ainda mais lentos. A microeletrônica é responsável pela informatização e automação das fabricas, especialmente da indústria automobilística. P 65.
A microeletrônica permite: a) um aumento da produção em tempo menor; b) a eliminação de postos de trabalho; c) maior flexibilidade e controle do processo de produção e do trabalho; d) o barateamento e a melhoria da qualidade dos produtos e serviços. P 65.
 Provavelmente, os maiores efeitos dessa revolução sejam a crescente eliminação do trabalho humano na produção e nos serviços pelo uso da robótica e da informatização. P 65.
O crescimento do setor de serviço associa-se: a) à transferência da riqueza gerada com ganhos de produtividade na agricultura e na indústria; b) ao aumento do consumo; c) à generalização da competição; d) à terceirização patrocinada pela empresas; e) à diminuição do emprego na agricultura e na indústria; f) ao aumento da demanda por serviços em áreas como lazer e educação. P 66.
No setor de serviço, também vem se alterando o perfil de qualificação dos trabalhadores, em razão das reformulações das atividades e da incorporação das novas tecnologias, formas e técnicas de organização do trabalho. P 66.

Um destaque: a revolução informacional
Essa revolução tem por base um espantoso e contínuo avanço das telecomunicações, dos meios de comunicação e das novas tecnologias da informação. Tais avanços tornam o mundo pequeno d interconectado por vários meios, sugerindo-nos a idéia de que vivemos em uma aldeia global. P 66.
A internet é uma das estrelas principais dessa fase da revolução informacional, pois interliga milhares de computadores, ou melhor, de usuários a um imenso e crescente banco de informações, permitindo-lhes navegar pelo mundo por meios de microcomputadores. P 67.
Com maior ou menor acesso, no entanto, as novas tecnologias da informação e os diferentes meios de comunicação estão presentes nos espaços sociais ou incorporados ao cotidiano de vida das pessoas. P 67
As mídias também vêm sentindo o impacto da revolução da microeletrônica e do processo de informatização. P 67.
De maneira geral, os veículos jornalísticos informatizam-se e distribuem as informações por diferentes meios, criando redes de informação on-line que conseguem juntar texto, som e imagem. P 68.

Caracterizam ainda a revolução informacional
a)     O surgimento de uma linguagem comunicacional (já é comum também a utilização de uma linguagem digital, sobretudo, entre os jovens). P 68.
b)     Os diferentes mecanismos de informação digital, de acesso à informação e de pesquisas e ligações entre matérias sempre atualizadas e qualificadas. P 68.
c)     As novas possibilidades de entretenimento e educação. P 68.
d)     O acúmulo de informações e as infindáveis condições de armazenamentos. P 69.
Uma característica importante da revolução informacional diz respeito ao papel central da informação na sociedade pós-mercantil ou pós-industrial e seu tratamento. P 69.
A revolução informacional está, portanto, na base de uma nova forma de divisão social e de exclusão: de um lado, os que têm o monopólio do pensamento, ou melhor, da informação; de outro, os excluídos desse exercício. P 69.
Essa informação de massa é, portanto, dominada pelo mercado capitalista, que a torna insignificante e pobre de conteúdo, mas determinante na criação das condições objetivas atuais de formação de uma cultura de massa mundial e de globalização do capital. P 70.

2.     Globalização e exclusão social. P 70.
CAPITALISMO: aspectos gerais
CONCEITUAÇÃO
Denominação do modo de produção em que o capital, sob suas deferentes formas, é o principal meio de produção. Tem como princípio organizador a relação assaltado-capital e como contradição básica a relação produção social-apropriação privada. P 71
ORIGEM (do século XV ao XVIII). P 71
Difusão das transações monetárias no interior do feudalismo. P 71
Crescimento do mercado mercantil e do comercio exterior – mercantilismo. P 71.
CARACTERISTICAS
- Apropriação por parte do capitalista do valor produzido pelo trabalhador para alem do trabalho necessário à subsistência. P 71.
- Existência de um mercado em que a força de trabalho é comprada e vendida livremente. P 71.
- concorrência entre capitais, forçando o capitalista a adotar novas técnicas e praticas científico – tecnológicas em busca do crescimento e do lucro. P 71
- Tendência à concentração de capitais nas grandes empresas. Etc.
PERIODIZAÇÃO DO CAPITALISMO
O amadurecimento das contradições internas do capitalismo produz etapas, fazes, ou estágios de adaptação. As diferencias entre as etapas do capitalismo verificam-se, sobretudo, no grau em que a produção, em sentido amplo, está socializada. Grosso modo, apresentam-se quatro etapas. P 71.
a)     Capitalismo concorrencial – século XVIII e início do século XIX. (etapa também chamada de primeira revolução industrial, fase industria, capitalismo competitivo, fase do capital mercantil). P 72.
b)     Capitalismo monopolista – século XIX e início do século XX. (etapa chamada também de imperialismo dos monopólios, segunda revolução industrial). P 72.
c)     Capitalismo monopolista de Estado – século XX (pós-segunda guerra mundial). (etapa chamada também de Estado benfeitor, Estado beneficiário, Estado de bem-estar social, capitalismo de estado, neoliberalismo social-democrata). P 73.
d)     Capitalismo concorrencial global – século XX (inicio da década de 80). (etapa chamada também de pós-capitalismo, economia de mercado, capitalismo flexível, neoliberalismo de mercado, terceira revolução industrial. P 73.

Aceleração, integração e reestruturação capitalista
O capitalismo lançou-se no final do século XX, em um acelerado processo de reestruturação e integração econômica, que compreende o progresso técnico-científico em áreas como telecomunicações e informática, a privatização de amplos setores de bens e serviços produzidos pelos Estados, a busca de eficiência e competitividade, etc. [...] Esse processo de aceleração, integração e reestruturação capitalista vem sendo chamado de globalização, ou melhor, de mundialização. P 74.
A globalização é visível, por exemplo, no processo de entrelaçamento da economia mundial, por meio de mercados comuns, blocos econômicos, como a União Européia (EU), o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (NAFTA), o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), entre outros. P 74.
A globalização pressupõe, por isso, a submissão a uma racionalidade econômica baseada no mercado global competitivo e auto-regulável. P 75.
 A globalização é mais fortemente sentida em manifestações como:
A)    Produtos, capitais e tecnologia sem identidade nacional. P 75.
B)    Automação, informatização e terceirização da produção. P 75.
C)   Demissões, desemprego, subempregos. P 76.
D)   Diminuição dos salários e do poder sindical. P 76.
E)    Desqualificação do Estado e minimização das políticas publicas. P 76.
Globalização dos mercados: inclusão ou exclusão?
Embora o termo globalização possa sugerir a idéia de inclusão de todos os países, regiões e pessoas que se adequarem aos novos padrões de desenvolvimento capitalista, o que se percebe, de modo geral, é a lógica da exclusão da maioria (pessoas, países e regiões), que ocorre porque essa etapa do capitalismo é orientada pela ideologia do mercado livre. P 76.
Esse processo ocorre, em grande parte, graças à atuação das corporações mundiais ou transnacionais como Mitsubishi, Mitsui, General Motors, Ford, Volkswagen, Renault, Shell e outras, que atuam praticamente em todos os países. P 76-77.
A globalização da produção passa a redefinir a geografia do mercado de trabalho mundial. As corporações mundiais buscam lugares, condições de produção e de consumo que sejam favoráveis às elevadas taxas lucro, especialmente mão-de-obra qualificada e barata, mercado consumidor emergente, pouca ou nenhuma regulamentação do Estado para as relações de trabalho e fraca presença do movimento sindical. P 79.
As questões que se impões, então, são: que fazer com as pessoas estruturalmente desempregadas? Como redistribuir renda nacional em um tempo-espaço em que se apregoa e se impõe a minimização do Estado, a perda de substância real das democracias, a ampliação do mercado e a obsessão com o crescimento acordado com os interesses de acumulação do capital? P 79.

Globalização do poder: o estado e nova ordem mundial
A abertura econômica e a crescente limitação dos poderes do Estado nacionais têm como extensão a ampliação da autonomia do mercado mundial, a interdependência econômica e o aumento do poder transnacional. P 81.
As corporações transnacionais e as instâncias superiores de concentração de poder são cada vez mais constituintes, ordenadoras e controladoras da nova ordem mundial. P 82.

3.     Neoliberalismo: o mercado como princípio fundador, unificador e auto-regulador da sociedade
É possível dizer que o capitalismo/liberalismo vem assumindo duas posições clássicas que se revezam uma concorrencial e outra estatizante. P 84.
As duas posições ou macro tendência (concorrência e estatização) vêm orientando historicamente os projetos de sociedade capitalista-liberal, de educação e de seleção dos indivíduos. P 84.
A concorrência, cuja preocupação central é liberdade econômica define-se nas seguintes características: livre concorrência e o fortalecimento da iniciativa privada, com a competitividade, a eficiência e a qualidade de serviços e produtos; a sociedade aberta e a educação para o desenvolvimento em atendimento às demandas e às exigências dom mercado; a formação das elites intelectuais; a seleção dos melhores, baseadas em critérios naturais de aptidões e capacidades. P 84.
A segunda tendência, a estatizante, apresenta características cuja preocupação central é de conteúdo igualitarista-social, com o objetivo de: efetivar uma economia de mercado planejada e administrada pelo Estado; promover políticas publicas do bem-estar sócia (capitalismo social); permitir o desenvolvimento mais igualitário das aptidões e das capacidades,sobretudo por meio  da educação e da seleção dos indivíduos baseada em critérios mais  naturais. P 84.
O desenvolvimento das duas macrotendências leva-nos, ainda a perceber a existência histórica de dois paradigmas de condução de projetos diferenciados de modernização capitalista-liberal: o paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade e o paradigma da igualdade. P 84-85.
Com o auxilio dos dois paradigmas, o liberalismo tem demonstrado capacidade de adaptar-se, de incorpora-se e de mudar de significado em cada momento próprio do desenvolvimento do capitalismo, expressando sempre uma visão de mundo que ordene e mantenha a sociedade capitalista com uma realidade definitiva que se aperfeiçoa para o bem comum. P 85.
Embora pareçam antagônicos em alguns momentos históricos, os dois paradigma tem basicamente a mesma origem e, na essência, semelhantes germes constitutivos. Os germes constitutivos dos paradigmas da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade são percebidos com maior visibilidade no iluminismo, no liberalismo clássico (com J. Locke e A. Smith), no liberalismo conservador e no positivismo, enquanto os constitutivos do paradigma da igualdade estão mais presentes no iluminismo, no liberalismo clássico (com J-J Rousseau) e na revolução francesa. P 85.

O paradigma da igualdade
O paradigma da igualdade (na ótica liberal), ou melhor, da igualdade de oportunidade, não surge de uma hora para outra. Nasce com o ideal de isonomia do gregos , reaparece com o vigor revolucionário do iluminismo, é assumido como questão central no pensamento de Rousseau, como princípio básico na concorrente democracia da revolução francesa e como meta a ser alcançada pela ação governamental do novo liberalismo/social –liberalismo, após a segunda guerra mundial. P 90.
A tradição liberal democrática, igualitarista, desde cedo, adotou o estatismo como forma de assegurar a existência da sociedade livre, mediante certa igualdade nas condições materiais de existência. P 90.
O ideal democrático-igualitarista só se efetivou mais concretamente com a fase do capitalismo monopolista de Estado (novo liberalismo/social-liberalismo), sobretudo no período que vai de 1945 a 1973 (fordismo e keinesianismo). Trata-se de período por certa fé no paradigma da igualdade. P 90.
A modernização econômica capitalista pós-Segunda Guerra Mundial, que requer maior socialização do consumo para o desenvolvimento econômico, depositou maior confiança na educação em vista das mudanças na economia e no mercado de trabalho. A formação de sistemas nacionais de educação e expansão do ensino, nesse período, surgiram por decorrência. A igualdade de acesso tem sido perseguida em todos os graus e modalidades de ensino. P 91.
Os defensores do liberalismo social acreditavam que, por meio da universalização do ensino, seria possível estabelecer as condições de instituição da sociedade democrática, moderna, cientifica, industrial e plenamente desenvolvida. A ampliação quantitativa do acesso à educação garantiria a igualdade de oportunidade, o máximo do desenvolvimento individual e a adaptação social de cada um conforme sua inteligência e capacidade. P 91.
Embora o capitalismo ocorra tardiamente no Brasil – sobretudo a partir da revolução de 30, com o processo de industrialização e de urbanização –, é possível perceber, no contexto da era Vargas (1930-1945) e depois com a ideologia do desenvolvimento e do nacionalismo populista (1945-1964), as marcas do movimento mundial do capitalismo monopolista de Estado e do social-liberalismo/novo liberalismo. P 91-92.
O estado brasileiro no período de 1930 a 1964, expandiu-se, afim de nacionalizar e desenvolver a economia brasileira, particularmente a industrialização, por meio da substituição das importações. [...] De maneira geral no período populista ampliaram-se os direitos sociais, econômicos e políticos dos cidadãos, em que pesem os sinuosos caminhos de construção da democracia no País, nesse período. P 92.

O paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade
O paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade teve sua origem, a rigor, na gênese do modo de produção capitalista e, conseqüentemente, no modo de vida liberal-burguês. O processo produtivo capitalista,desde seu inicio, acentuou a relevância da iniciativa privada no sistema produtor de mercadorias, em contraposição ao modo de produção feudal e às excessivas interferências, regulamentação e centralização exercitadas pelo Estado absolutista no setor econômico. P 92.
O modo de produção capitalista requereu, inicialmente, u mercado livre (auto-regulável) em uma sociedade aberta, em que prevaleceria a livre competição. P 92.
Eficiência e qualidade são condições para a sobrevivência e a lucratividade no mercado competitivo. P 93.
O paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade vem servindo, também para reordenar a ação do Estado, limitando, quase sempre, seu raio de ação em torno de políticas públicas. P 93.
Como se julga o Estado falido e incompetente para gerir a educação resolve-se transferi-la para a iniciativa privada, que, naturalmente, busca a eficiência e a qualidade. P 93.
Igualdade de acesso ou universalização do ensino em todos os níveis e qualidade de ensino ou universalização da qualidade aparecem como antítese. P 93.
A expansão da educação e do conhecimento, necessário ao capital e à sociedade tecnológica globalizada, apóia-se em conceitos como modernização, diversidade, flexibilidade, competitividade, excelência, desempenho, eficiência, descentralização, integração, autonomia, equidade, etc. p 94.
Os defensores do neoliberalismo de mercado, no campo da educação, julgam que a expansão educacional, ocorrida a partir da segunda guerra mundial, embalada pelo paradigma da igualdade, conseguiu promover certa mobilidade social por algum tempo, mas pouco contribui para desenvolvimento econômico. Houve também crescente perda da qualidade de ensino, demonstrada, por exemplo, em altas taxas de reprovação e de evasão. P 95.  

Neoliberalismo e educação: reformas e políticas educacionais de ajuste
No tocante à educação, a orientação política do neoliberalismo de mercado evidencia, ideologicamente, um discurso de crise e de fracasso da escola publica, como decorrência da incapacidade administrativa e financeira de o Estado gerir o bem comum. A necessidade de reestruturação da escola pública advoga a iniciativa da privada, regida pelas leis de mercado. Desse modo, o papel do Estado é relegado a segundo plano, ao mesmo tempo que se valorizam os métodos e os papel da iniciativa privada no desenvolvimento e no progresso individual  e social. p 101.
O estado na perspectiva neoliberal de mercado, vem desobrigando-se paulatinamente da educação publica. Nessa metamorfose, deixa de demonstra até mesmo o interesse na implementação da escola única que destaca os princípios de universalidade, laicidade e obrigatoriedade do ensino. P 102-103.
As relações entre capital e trabalho e entre trabalho e educação alteram-se profundamente, acirrando a contradição educar-explorar. P 103.
Essa nova abordagem da educação apóia-se em um conceito positivista de ciência neutra e objetiva. Conhecer, nessa perspectiva, observar, descrever, medir, explicar e prever os fatos livres de julgamento de valor, ou de ideologia. P 104.
A certeza a exatidão e a utilidade do conhecimento são os critérios da cientificidade e da racionalidade instrumental positivista posto à disposição do novo paradigma produtivo. P 104.
Nesse mesmo contexto aparecem as universidade públicas ameaçadas e em permanente crise. Faltam recursos de toda ordem para garantir sua funcionalidade. O discurso neoliberal de mercado questiona até mesmo a relevância social delas, ao mesmo tempo que vincula sua autonomia à questão do autofinanciamento e da privatização, como única forma de sair da crise e alcançar competitividade, racionalidade, qualidade e eficiência. P 104-105.
Restaria às universidades, como estratégia de sobrevivência, a opção de se atrelarem ao novo processo produtivo, com o objetivo de gerarem conhecimentos científico-tecnológicos necessários à competitividade das empresas no mercado global e formarem indivíduos mais adaptados às condições de vida profissional presente neste novo tempo. P 105.
Diante do exposto, verifica-se que a atual configuração estrutural e educacional, no plano mundial, impõe novos desafios e um novo discurso ao setor educacional. P 105.

   

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

HERMENÊUTICA: DA GÊNESE À REFORMA PROTESTANTE



RESUMO
O intuito deste artigo é fazer uma abordagem histórica da Hermenêutica estendendo-se dos gregos com sua maneira própria de interpretação, até o período no qual veio a lume a reforma protestante. Nesta pesquisa ilustraremos como se deu o processo evolutivo da Hermenêutica dentro daquilo que constitui a proposta do tema. Para isso, partir-se-á do princípio de que a Hermenêutica realmente diz respeito à arte de interpretar. Como objetivo geral, tem-se, portanto, a busca pela compreensão da Hermenêutica fazendo uma viagem histórica mergulhando no seu passado para insurgir-se no seu presente. Como objetivo específico tem-se a proposta de analisá-la a partir de diversos ângulos e pontos de vista diferente que, simultaneamente se interpenetram formando um todo que visualiza o mesmo alvo.
Palavras-chaves: Hermenêutica – Linguagem – pensamento – Renascimento

ABSTRACT                                    
The purpose of this article is to make a historical approach to Hermeneutics extending from the Greeks with their own way of interpretation, until the period came to light in which the Protestant Reformation. In this study illustrate how the evolutionary process took place within the Hermeneutics of what constitutes the proposal of the topic. To do so, since it will be assumed that the Hermeneutics really relates to the art of acting. As a general objective, there is therefore the search for understanding of historical hermeneutics making a diving trip in the past to rise up in your present. The specific goal has been proposed to analyze it from different angles and different points of view that both are intertwined to form a whole which sees the same target.
Keywords: Hermeneutics - Language - thinking – Renaissance
  
  1. INTRODUÇÃO                                                             
O trabalho a ser desenvolvido aborda como tema: Hermenêutica: da gênese à reforma protestante. Este artigo tem como proposta, a partir de uma reflexão histórica, demonstrar como se deu o processo de evolução da hermenêutica num recinto de mutação constante passando por tumultuosas situações até ascender a um nível de aperfeiçoamento tal como se observa hoje. Como formas de enriquecimento desta pesquisa serão analisadas sucintamente obras e autores diversos, de relevância fundamental para o progresso desta investigação. Um desses autores, excelentemente renomado, é o alemão Schileiermarcher.
Este trabalho não tem como escopo exaurir todos os conhecimentos concernentes à hermenêutica em sua totalidade, haja vista a extensão e complexidade do assunto, mas quer sim dar um passo fundamental rumo a essa direção.

2. HERMENÊUTICA: INTERPRETAÇÃO DO SENTIDO DAS PALAVRAS E LINGUAGEM

Tradicionalmente, a hermenêutica foi pensada e definida como a arte da interpretação, o que não estava longe de ser uma verdade. Entretanto, para fins de esclarecimento se tornam importantes, aqui, alguns questionamentos que – como convites à reflexão – ganham pertinência à evolução da pesquisa à medida que contribuem para a cogitação a cerca da temática proposta. Sendo assim, poder-se-á levantar as seguintes indagações: o que de fato vem a ser a Hermenêutica? Como se faz uma interpretação? O que se deve levar em conta no ato de interpretar? O que define a Hermenêutica de hoje em relação a do passado?

Interpretar é explicar, esclarecer; dar o significa de vocábulo, atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair de frase, sentença ou norma tudo o que na mesma se contem. Pode-se procurar e definir a significação de conceitos e intenções, fatos e indícios; porque tudo se interpreta; inclusive o silencio[1]


O intérprete é, portanto, aquele que deve ter total afinidade com a coisa interpretada; que detém sólidos conhecimentos da língua a que interpreta, bem como intimidade com as pessoas de cujos gestos e ações, por ele, são esclarecidos. Outra exigência do intérprete (em se tratando de Hermenêutica) é a de que ele saiba reproduzir aquilo que passou do interior para o exterior; o que isso significa; que valor comporta etc. Tudo isso já é suficiente para mostrar que a função de intérprete não é tão simples, como de repente se possa imaginar. Nesse sentido a Hermenêutica se torna complexa, e a aplicação de regras para determinar o sentido correto das coisas interpretadas, faz-se necessário para que haja harmonia e logicidade. Caso contrário, a diversidade de interpretação sem um segmento lógico poderá facilmente conduzir ao caos, o que conseqüentemente, levará a um distanciamento do verdadeiro sentido e originalidade do objeto interpretado. “O interprete é o renovador inteligente e cauto e o seu trabalho rejuvenesce e fecunda a formula prematuramente decrépita.”[2]
Não se pode concluir como errônea a opinião daqueles que professam que a hermenêutica é, de fato, a arte da interpretação, e, sobretudo, da interpretação do sentido das palavras. Em geral, a razão pela entende-se a hermenêutica como arte de interpretar é histórica, tendo o seu início com os gregos, especialmente a partir da mitologia.

O termo Hermenêutica provem do grego Hemeneuein, que significa declarar, anunciar, interpretar ou traduzir [...] não é improvável que a palavra derive de Hermes, o mensageiro dos deuses, o que daria ao termo uma dimensão sagrada na medida em que o relacionava com a compreensão da palavra divina.[3]


Observa-se, portanto, que na raiz da Hermenêutica já está implicada a concepção do divino e, desse modo, sua ligação com os textos sagrados. O mensageiro, como é sabido, é aquele que traz ou leva uma mensagem de um ser para outro. Assim Hermes só poderia transmitir a mensagem dos deuses por meio do dizer. Daí se concebe que o mensageiro, além de condutor da mensagem, é também aquele que faz uso da fala a fim de transmitir aquilo que ouviu. O problema que aqui vem à tona consiste em saber se, de fato, há entendimento ou não por parte daqueles que são o destinatário da mensagem. Considerando que nem sempre se entende ao que se houve falar, surge então a necessidade da explicação daquilo que é dito para que todos tomem conhecimento claro do que ouvem.  Levando em conta a diversidade lingüista, bem como a própria distinção dos homens entre si no que diz respeito ao conhecimento e, por conseguinte, à cultura intelectual, de modo que enquanto alguns gozam de muito entendimento, outros gozam de pouco, a grande questão que se coloca é a necessidade da tradução da mensagem do original para as particularidades a fim de favorecer a assimilação e o entendimento. Nesse sentido, o mensageiro é, portanto, aquele encarregado de uma tripla função: anunciar, explicar e traduzir.


Hermes seria então aquele que trazia uma <<mensagem>> o que nos remete para três usos possíveis da noção de Hermenêutica: o dizer, o explicar e o traduzir [...] Nos três casos há algo de diferente, de estranho e de separado no tempo, no espaço ou na experiência, que se torna familiar, presente e compreensível; há algo que requer representação, explicação ou tradução e que é, de certo modo, tornado compreensível, interpretado.[4]


Desse modo, percebe-se que a função anunciadora de Hermes é uma função dotada de carências e necessidades, cuja supressão se torna condição necessária indispensável para o surgimento da hermenêutica. A primeira dessas necessidades cabe ressaltar, é a da linguagem oral, passível de percepção, sobretudo, nas sagradas escrituras onde a voz alta se tona fundamental para o ouvinte.
Que, em princípio, a Hermenêutica estava voltada à compreensão e interpretação das sagras escrituras, ninguém disso pode duvidar. Pode se pensar até mesmo que ela nasce justamente com essa proposta na medida em que a mensagem dos desuses precisava de um interprete. Não obstante, a evolução dos acontecimentos no decorrer da história foi aos poucos impondo algumas mudanças necessárias. Desse modo, a Hermenêutica, comungando dessas mudanças, vai gradativamente se transformando na medida em que essa transformação se fazia necessária. Sendo assim, uma das primeiras mutações ocorridas na Hermenêutica foi sofrida no que diz respeito à semântica.


O termo compreensão começou ele mesmo a ser encarado como um problema que interessava resolve, a ponto da questão não se colocar apenas em relação à das escrituras, ou de outros textos, mas havendo antes a necessidade de elucidar o que era compreender na sua essência, isto é, as condições e os limites em que este se exercia.[5] 


Ou seja, diante dos problemas ou dificuldades que surgiram, parecia haver certa mudança no sentido do caráter inicial. Aqui parece desencadear-se, portanto, um processo de orientação filológica, onde a preocupação se volta para um estudo semântico e lingüístico. Ora se essa orientação da Hermenêutica para a filologia se deu, especialmente, a partir da necessidade de uma compreensão semântica dos termos ou das palavras no contexto de sua determinada origem, ou língua, “vai ser, então, a partir da evolução e disseminação do cristianismo que essas transformações vão se desenvolver e se alterar levando em conta, sobretudo, a necessidade de conciliação do antigo com o novo testamento. Aqui é importante chamar a atenção para o fato de que entre o antigo e o novo testamento há um abismo muito grande no que diz respeito à linguagem. Enquanto a linguagem do novo testamento, por si mesma, está mais próxima da compreensão por ser uma linguagem, diga-se de passagem, menos enigmática, a do antigo testamento na medida em que consta de metáforas em demasia dificulta a compreensão, sobretudo quando não se tem nenhuma certeza de muitos acontecimentos que metaforicamente estão relatados. No período patrístico, com Santo Agostinho, doutor da igreja, surge a hermenêutica cristã, que se tornou fundamental em toda a idade media.[6] Com a restrição da Hermenêutica no campo da teologia, a grande questão que daí deriva consiste essencialmente em saber como se devem compreender corretamente as sagradas escrituras[7]
Diante dessa realidade, no que diz respeito à hermenêutica, entendida enquanto arte de interpretar, a evolução natural dos acontecimentos, da sociedade e da humanidade como no todo, acompanhada pelo progresso das ciências que gradativamente vão ganhando espaço, foi aos poucos fazendo com que aquelas antigas e medievais formas de explicação e interpretação fossem passo a passo enfraquecendo. A continuidade, portanto, desses moldes arcaicos de interpretação já não tinham mais força. Já não se podia mais insistir no pensamento e na continuidade da hermenêutica a partir dos protótipos da antiguidade e, sobretudo, da idade media, pois,

As interpretações durante este período da humanidade foram as mais diversas e absurdas. Tanto judeus quanto cristãos estavam inteiramente envolvidos, cada qual no seu ponto central, logicamente. Após esse período de negro, em que a humanidade permeou a ignorância, onde tudo, ou quase tudo se vinculava ao pensamento divino, surgiram os renascentistas, enfatizando a razão humana em detrimento aos princípios religiosos. [8]


Dada a superação desse momento “turbulento” da antiguidade, surge então o renascimento. Com este, a Hermenêutica é repensada e ganha, portanto, uma nova configuração.
O surgimento da Hermenêutica moderna coincide especialmente com aquele momento da humanidade que teve como pretensão primordial a construção da autonomia do sujeito a partir da elevação da razão (que passa a ser o distintivo fundamental do renascimento) em detrimento da fé (caractere principal do período anterior, ou seja, medieval). Com o renascimento, buscou-se construir um homem mais racional e independente da religião. Cumpre ressaltar que no processo de aquisição da autonomia é necessário que o sujeito enquanto criação se afaste do seu criador, afim de que (enquanto sujeito) tome ciência daquilo que ele, de fato, é. Foi justamente o que aconteceu no renascimento. Esse período marca, destarte, o advento da cultura antropocêntrica.
Nesse momento de desconstrução e reconstrução, de ruptura e linearidade, de descontinuidade e continuidade, o renascimento vai significar o abandono do antigo e a busca pelo novo.[9]    

Sem a velha e conhecida segurança dada pela igreja, e por seus ‘homens’ de Deus, a humanidade procura unicamente a si mesmo, na alto-certeza do sujeito pensante, uma base segura, e um ponto de partida para o conhecimento filosófico. A hermenêutica dessa época preocupa-se com a correta utilização da palavra e da língua.[10]


Se, por um lado, o renascimento favoreceu aos homens tornarem-se autônomos, por outro, introduziu entre eles a necessidade de relação mútua na medida em que eles passam a procurar entre si um “porto seguro” capaz de nortear sues pensamentos, seus conhecimentos e até mesmo suas ações. Isso de algum modo desembocou num problema mais amplo, a saber, o problema da linguagem, ou até mesmo a relação entre ela e o pensamento, uma vez que vai ser somente por meio dela que aquele vai se exteriorizado e, portanto, manifestado. Schileiermarcher, por exemplo, vai mostrar como essa relação se torna inextrincável. Para tanto, ele parte do princípio da relatividade do pensamento, considerando que se o pensamento é relativo, o saber também não escapa a isso. Como a interpretação gramatical “é arte de encontrar o sentido determinado pela linguagem[11]", essa, por sua vez, vai ser a válvula de escape por onde o pensamento se dá a conhecer, desse modo, ela se tornará, por excelência a fonte dessa relatividade. Opondo-se à concepção de que a explicação existe por si mesma, Schileiermarcher compreende que ela (compreensão), na verdade, resulta de uma combinação de pensamentos daqueles que falam com aqueles que escutam. Sendo assim, a compreensão se torna metódica e a aquisição do saber exige, acima de tudo, esforço, cuidado e disciplina.
O problema da linguagem na Hermenêutica tende a se intensificar de modo especial com a reforma protestante que apregoava que “todos os fiéis deveriam ter acesso ao termo escrito em linguagem comum” [12], o que fez com que a hermenêutica se voltasse à questão filológica e lingüística. O objetivo disso era fazer com que o povo pudesse lê e interpretar a sagrada escritura de modo que o sentindo literal e histórico captado pelo autor humano fosse o sentido divino.

A reforma reclama o regresso à verdade do texto, à autenticidade da mensagem divina, bem como a abolição definitiva das adulterações e obstáculos erguidos pela autoridade católico-romana para impedir a comunicação entre os fiéis e Deus.[13]


A reforma, portanto, entendeu que a tradição católica funcionava como uma espécie de bloqueio que impedia o contato entre Deus e os fiéis. Era necessário, portanto, tornar essa passagem livre para todos aqueles que a isso pretendessem. Daí, a liberdade de interpretação. O próprio regresso á verdade do texto, já introduz a noção da necessidade do uso da leitura. Desse modo, a autenticidade da significação passa a ser objeto de busca constante da hermenêutica.

3.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como pretensão primeira discorrer a cerca da trajetória histórica da hermenêutica partindo de sua origem – que se deu com os gregos, como, de fato, foi mostrado – e passando pela idade média para alcançar o renascimento.
O intuito primordial era de encerrar a discussão logo que se chegasse ao período renascentista. Entretanto, a diversificação das fontes introduziu alguns conceitos e reflexões que, com o evoluir da pesquisa, tornou-se necessário estendê-la até a reforma protestante. Cumpre ressaltar que esse pequeno prolongamento em nada enfraqueceu a pesquisa, pelo contrário, enriqueceu-a mais ainda.
Uma das reflexões cruciais desta pesquisa convém lembrar, foi aquela que disse respeito à inseparabilidade entre o pensamento e a linguagem, à luz de Schileiermarcher. Ainda em se tratando desse autor, outro ponto relevante foi a noção de que a linguagem constitui a fonte da relatividade do saber, uma vez que ela expressa o pensamento, que também, é relativo.
No que diz respeito à origem, percebeu-se que a hermenêutica nasceu atrelada ao ideal de tradução, explicação e interpretação da mensagem divina. Nesse período e em grande parte da idade media instala-se um caos na medida em que as disputas religiosas entram em cena, como por exemplo, judaísmo e o cristianismo.
Em suma, percebeu-se que com o renascimento a hermenêutica foi reconfigurada e redimensionada, ao mesmo tempo em que surgiram novas exigências, sobretudo, a partir da reforma protestante que, diga-se de passagem, foi herdeira direta do renascimento.     

REFERÊNCIAS

HELENO, José Manuel Morgado. Hermenêutica e Ontologia em Paul Ricoeur. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001.
<http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2725.pdf>. Acesso em: 04 de maio de 2010.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. (Coleção Pensamento e Filosofia)
PIRES, Maria João. Teologia e o poder da palavra: o desafio renascentista.
SCHLEIERMACHER, Friedrich D. E. Hermenêutica: Arte e Técnica da Interpretação. Trad. Celso Reni Braida. Bragança Paulista: Editora universitária São Francisco, 2003.



[1] Cf. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. P. 9.
[2] Cf. ibidem, P. 12.
[3] Cf. HELENO, José Manuel Morgado. Hermenêutica e Ontologia em Paul Ricoeur. Porto Alegre: Instituto Piaget, 2001. P. 44-45.
[4] Cf. ibidem, P. 45.
[5] Cf. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. P. 46.
[6] Cf. Id. Ibidem, P. 46.
[7] Cf. Id. Ibidem, P. 46.
[8] Disponível em: http://www.professorallan.com.br/UserFiles/Arquivo/Artigo/artigo_prof_fabio_sombrio_hermeneutica.pdf
[9] Cf. Idem.
[10] Cf. ibidem.
[11] SCHLEIERMACHER, Friedrich D. E. Hermenêutica: Arte e Técnica da Interpretação. Trad. Celso Reni Braida. Bragança Paulista: Editora universitária São Francisco, 2003. P. 70. Outras reflexões sobre esse autor que aqui não aparecem com referência foram extraídas de fichamento de conteúdos assimilados em sala de aula.
[12] Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2725.pdf
[13] Cf. Ibidem.

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